Coleção pessoal de aliinerosa
Porque as crianças envelhecem
eu envelheço também
mas só o corpo
a alma
ainda é de criança teimosa
que se diverte
incansavelmente
e reclama
quando já é hora de parar
é como se o tempo não passasse
é como se ele não importasse
porque a verdade é que
o tempo
só existe para os adultos.
Às vezes eu me esqueço que a
terra e a raíz têm familiaridade
com a força da natureza e que
embaixo de qualquer concreto
existe uma infinidade de terra vermelha
poderosíssima
da cor do sangue que
corre em minhas veias
sob a pele
Às vezes eu me esqueço da importância
da história viva dos pés
da trajetória dos passos até o
destino almejado
afinal um caminho só é caminho
se alguém passar por ele
senão será sempre
só mais um pedaço de chão
A chuva chegou ressabiada
numa postura sem alarde
delicada em seu cair
gotas finas que
encharcam a terra
em suas miudezas
enchem os rios
de mansinho
até o que é calmo
virar ferocidade
e o som que não se ouvia
se expandir em melodia.
Sob o céu da
minha boca
há um oceano
na garganta
Quando dia
sinto o seu sal
Quando noite
sinto sua falta .
Quando me canso de mim
fujo para os versos que
encobrem o meu eu
mas tem dias que eles
são muito pequenos
tamanha imensidão.
Domingo à vista:
De manhã
cheiro de café
De tarde
gosto de saudade
De noite
toque de insônia
De madrugada
silêncio ensurdecedor
E sinto a segunda-feira
se aproximando com
uma segunda chance.
Aos versos mudos
que cutucam a
minha existência
Às palavras estrondosas
que implodem os
meus raros silêncios
Aos poemas voláteis
que estruturam o
meu corpo ereto:
gratidão
ao que descontrola
o meu controle.
Sempre que posso
corto volta desse seu
olhar que me atravessa
pois aprendi
tardiamente
que mesmo que eu já tenha
passado por um caminho
não significa que eu o conheça.
Moro no interior
sempre morei
No externo
cada um vive em um mundo
No interno
vive um mundo em cada um.