Coleção pessoal de alicehott
A vida é sobre refletir.
E refletir é sobre se ver.
Sobre olhar seu reflexo e refletir de volta refletindo sobre sua reflexão.
Quem largar esse ciclo primeiro, morre.
E morte em vida é a pior que há, mas o morto não sabe disso.
Ele não reflete.
Porque não somos números
E também não somos o resultado.
Resultado é o valor final,
Calculado quando a equação já morreu.
Enquanto vivos, somos equação.
Somos o processo.
Um tributo à Terapia
(Em homenagem à todos os meus preciosos traumas )
Não é difícil explicar o que somos.
Podemos nos entender tão exatamente como a matemática fundamental,
Talvez, um tanto menos racional.
Nós podemos nos ver como números.
Sim, números: algarismos primitivos da matemática.
E variados, cada indivíduo com seu número e valor.
Mas somos dinâmicos, não nascemos e morremos sendo o mesmo número.
E é aqui que a sociedade se perde.
Para aumentar seu número, algumas pessoas tentam comprar valores,
Maquiar seus sinais, mudar seus zeros de lugar,
Andar com suas vírgulas ou, nos casos mais desesperados,
Tentam te convencer que aquele ‘menos’ é ‘mais’.
Isso tudo é uma grande ilusão.
Não podemos mudar quem somos deste jeito.
Faz isso quem não se conhece, ou seja, quem não sabe se contar.
Quem aprende a contar, descobre que, apesar de vermos números,
Nós não somos os números.
Por trás do que vemos, cada um de nós, na verdade, é uma equação.
Os números são os fatos da vida.
Números em definição, são entidades matemáticas, ou seja, estão fora de nosso controle.
Não podemos escolher os números que a vida vai nos apresentar.
Eles aparecem e ponto.
Negativos, positivos, altos e baixos.
Vivemos numa tentativa válida (e saudável) de evitar alguns números,
Mas sabemos que, de forma geral, não podemos controlá-los.
Sim, somos vulneráveis AOS números.
Pois é importante lembrá-lo: nós não somos números,
Nós somos equações.
E, equações que somos, nosso controle está na livre escolha sobre a operação.
Podemos dividir, subtrair, somar ou multiplicar os números que a vida nos dá.
É aí que está o poder.
E aprender a contar inclui, além de saber fazer as operações
Ser apto a fazer a melhor escolha para sua equação,
Afinal, um parêntese no lugar certo pode ser salvar seu resultado.
Porque além de números também não somos o resultado.
Resultado é o valor final, calculado quando a equação já morreu.
Enquanto vivos, somos equação.
Somos o processo.
Somos uma conta inacabada de números que ainda nos estão sendo dados.
Se fôssemos palavras, seríamos verbos sendo conjugados no gerúndio,
Mas em matemática, conjugamos o valor assumindo ser o que ainda não se é.
Porque somos um “X”, indefinido e variável, calculado em função {do que nos acontece}.
Não existe conta certa ou errada porque, de novo, nós não somos resultados.
O número que vemos é apenas uma parcial da equação que somos.
Não nos define em nada.
Pelo menos não deveria.
É ilusório.
A conta ainda não foi concluída.
Não importa o número que alguém apresente hoje,
Se amanhã a vida lhe der um zero é possível esperar que nada mude
Ou que isso simplesmente zere toda sua equação.
Um enorme zero.
Mas, momentâneo.
Porque a conta ainda está sendo feita.
E, nós não somos resultados, lembra? Somos a conta.
Até porquê, números, por si só, não representam nada.
São algarismos.
É preciso um contexto para interpretá-los.
Um 10 pode ser bom, sendo a nota com máximo de 10,
Mas pode ser 1 desastre sendo o máximo de 100.
Sem contexto, não podemos saber o real valor dos números.
Nem o dos nossos, nem os dos outros.
Porque o valor dos números está na conta.
E só saberemos nosso valor real, nosso número final,
Quando interpretarem nossa equação.
Sendo assim = aprenda a (se) contar.
Alice Hott
Me Aliciando
(Uma carta para a Alice de 7 anos, escrita por mim mesma 30 anos depois)
Minha Alice, minha filha pequena,
Desejo que seus olhos verdes tão vivos
Vejam beleza de uma forma plena.
Começando este passeio por você mesma, caçula,
Que eles vejam como é belo teu sorriso em cena.
Que eles te vejam a cachear seus dourados cachos
Aceitando que cada curva é um charme seu,
Neste corpo que deve ser amado e aceito,
Como ele sempre mereceu.
Corpo que é (e sempre será) sua verdadeira casa
Corpo que tudo sente e sentindo extravasa
Corpo que se deforma quando é odiado,
Mas a ti acolhe, mesmo que tão rechaçado.
Desejo que tua dança encontre os mais belos ritmos,
Que gire sempre que precisar girar.
Que te conduza firme até que ache um bom parceiro,
Para que girem juntos, como um verdadeiro par.
Que aprenda que passos para trás são parte da coreografia
E que, de forma nenhuma você deve temê-los,
Só dá dois pra frente quem teve a coragem
De um pra trás ter ido sem medo.
Desejo que você entenda o quanto antes
Que passos servem para dançar.
Pois passos retos que não se balançam
Só se apressam para um final alcançar.
E a vida, caçula, é um caminho curto,
Cujo destino certo é a morte.
Viver é achar a beleza da dança
Viver girando, sem sul e sem norte.
Siga leve: dois pra frente, um pra trás e um giro.
Não pare nem por um instante.
Se se perder: use a dança como um retiro
Se se achar: dois pra frente um pra trás, só dance.
Sem passos pra trás ou sem giros,
Você caminha reto para a morte.
Sem leveza, sua dança, sem vida,
Sem criatividade, seu traço mais forte!
Passos pra trás são erros importantes
Que nos obrigam a sair do lugar.
Não podes querer dar os dois passos pra frente,
Sem antes aprenderes bem a errar.
Giros são recomeços que te fazem
Ver sua paisagem mudar.
Cuidado! Alguns podem te tirar do chão,
Já outros, te fazem o cabelo ventar.
Mas todos precisam de fé e coragem,
Até quando girando você precisar
De uma mão que te encerre a viagem
E sem com isso teu ritmo mudar.
Desejo que saibas ver na sua dança, a vida
E que na sua vida, vejas a arte
Que te percebas como uma exímia bailarina
E que ache música em toda parte.
Eu sei da dor que carrega os seus choros,
Te vi sair de mim repleta de adrenalina,
E por ser tão diferente de tudo e de todos
Me assustou por ser exageradamente assim: genuína.
Mas saiba que és amada, não importa o passo,
Que és livre para voar solta no próprio vento,
Mas sempre que quiser dançar num abraço,
Tens em mim, tua mãe, pertencimento.
Desejo que sejas competente para qualquer música dançar,
Mas que tenhas sensibilidade para a tua própria também criar.
Que tenha sempre em teus pés leveza
E quando dançares pelo ar, sutileza.
Confiança o bastante para quando forte ventar,
Sentar teus pés no chão, pousar.
Desejo que dance com tudo que sentir no coração,
Que dance com flor, letra, pena ou ilusão
Girando, girando com sua emoção
Ou pousando e parando calçando a razão.
Mas tem um acessório que não te desejo, pequena,
Um “presente” passado de geração a geração,
Que pesa e aperta, não nos deixa dançar,
Este acessório é a culpa, e esta, a ti eu me recuso a dar.
Te liberto da condenação que viemos todas vivendo
Remoendo culpas, isto é tudo que aprendemos.
Já muitas de nós perdemos a música e paramos de dançar...
Andando reto na vida, para tudo mais rápido passar.
Sinto muito não ter podido contigo ensaiar
Tua dança tão preciosa quando começaste a balançar
É que em mim já não tocava música para te mostrar
Como é que eu dançava antes da culpa me aleijar.
Me perdoa, pequena, por não ter conseguido te falar,
Que você é amada mesmo quando o que sentias era o meu rejeitar.
É que a vida, pouco a pouco, me deixou pesada,
E mesmo eu querendo contigo dançar,
Dei dois giros, fiquei tonta, e sem querer parei no ar.
Caí direto na armadilha da culpa,
Aquela que julga sem nunca bailar,
Te tirei do seu prumo, nunca te ensinando a ser amada...
Ou a si mesmo se amar...
Alice Hott