Coleção pessoal de Alepmoreira

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⁠Eu preciso falar sobre o luto
O luto não advém só da morte de alguém. O luto acontece a cada fim do dia que você perdeu uma oportunidade. Acontece em cada encerramento de ciclos que ficaram para trás. O luto acontece com o término de uma amizade, um namoro ou um casamento. Acontece quando você sente que não vai dar para começar de novo.
A vida é preenchida diariamente com todas essas situações, incluindo a primeira.
Todo dia alguém perde.
E perde sozinho.
Por maior que seja o número de pessoas que estejam se solidarizando com a sua dor, não existe no mundo quem vai senti-la por você e como você.
O que eu quero dizer com isso, é que a todo instante estamos passando por algo que um dia vai chegar ao fim, e a gente só costuma notar o valor disso tudo depois que acaba.
O ser humano já se convenceu de que nada é eterno mas recusa a se lembrar que talvez possa ser breve demais.
A vida é instante. É passageira e assim como o tempo que ocupa, é presente.
Isso é tudo o que temos.

Minha alma tem o peso da luz. Tem o peso da música. Tem o peso da palavra nunca dita, prestes quem sabe a ser dita. Tem o peso de uma lembrança. Tem o peso de uma saudade. Tem o peso de um olhar. Pesa como pesa uma ausência. E a lágrima que não se chorou. Tem o imaterial peso da solidão no meio de outros.

Alivia a minha alma, faze com que eu sinta que Tua mão está dada à minha, faze com que eu sinta que a morte não existe porque na verdade já estamos na eternidade, faze com que eu sinta que amar é não morrer, que a entrega de si mesmo não significa a morte, faze com que eu sinta uma alegria modesta e diária, faze com que eu não Te indague demais, porque a resposta seria tão misteriosa quanto a pergunta, faze com que me lembre de que também não há explicação porque um filho quer o beijo de sua mãe e no entanto ele quer e no entanto o beijo é perfeito, faze com que eu receba o mundo sem receio, pois para esse mundo incompreensível eu fui criada e eu mesma também incompreensível, então é que há uma conexão entre esse mistério do mundo e o nosso, mas essa conexão não é clara para nós enquanto quisermos entendê-la, abençoa-me para eu viva com alegria o pão que eu como, o sono que durmo, faze com que eu tenha caridade por mim mesma, pois senão não poderei sentir que Deus me amou, faze com que eu perca o pudor de desejar que na hora de minha morte haja uma mão humana amada para apertar a minha, amém.

Amar dói tanto que você fica humilde e olha de verdade para o mundo, mas ao mesmo tempo fica gigante e sente a dor da humanidade inteira. Amar dói tanto que não dói mais, como toda dor que de tão insuportável produz anestesia própria.

Eu descobri que tentar não ser ingênua é a nossa maior ingenuidade, eu descobri que ser inteira não me dá medo porque ser inteira já é ser muito corajosa.

Aprendi que quem nasce só sentimentos nunca conseguirá ser leve, meio termo, café com leite. Nem dará certo com gente assim. Quem nasce só sentimentos, na verdade, tende a ser solitário. Ama demais e se entrega demais, é lei. Mas no fim da noite sempre vai correr pro canto do quarto querendo entender o sentido de tudo ou sofrendo demais por tudo. Gente que sente demais tem a necessidade não assumida por drama. Nada é bom quando está bom. Não há nenhuma felicidade que não possa ser questionada. Gente que sente demais sempre espera coisas ruins de coisas boas, porque é isso que aprenderam desde cedo. Mas entram no barco naufragando do mesmo jeito. Encaram o precipício e pulam sem pensar duas vezes. Porque, no fim de tudo, por mais que se negue, vale a pena. Sentir vale a pena e é um ato de pura coragem. Quando se sente demais, o tombo é maior, a felicidade é quase uma overdose e a tristeza é do tamanho do mundo. Tudo é bonito e triste. Tudo é sentido dez vezes mais forte e algumas vezes, nem se sabe qual é o sentimento. A dor da felicidade ou a felicidade da dor, por exemplo. Só quem sente verdadeiramente entende isso. Ou melhor, sente isso. Entender não é um privilégio pra quem sente, é tudo questão de tato. Dói ser feliz por medo da felicidade acabar e às vezes a tristeza é confortável porque não se tem mais nada a perder. É uma bagunça. Gente que sente tudo à flor da pele é uma bagunça daquelas. São as pessoas mais tristes e mais felizes que se pode ter. São as mais bonitas de se ver também. A dor que se tem quando sente demais é sempre poética. O peso que se tem que levar para o resto da vida por ser assim, não. Mas aprendi também que quando se carrega algo tão grande assim dentro de si mesmo, eventualmente você acaba aprendendo a lidar e aceitar toda a confusão, porque muito peso nas costas te ensina a levar a bagagem direito.

Tudo que é humano é incerto.

Sobre ser vidraça
Quando se é vidraça o cuidado tem que ser maior porque a sensibilidade é grande. A gente racha quando o impacto é forte e também quebramos, porque não suportamos tudo. Mas quem é vidraça é transparente. Quem é vidraça permite que os outros vejam o que tem por dentro.
Ser forte não tem a ver com sair ileso ou inteiro, tem a ver com juntar os cacos e estar pronto para fazer tudo de novo. Ser vidraça é se permitir confiar, sentir, se entregar e acreditar que alguém saberá cuidar melhor do que tem nas mãos.
Ser vidraça é Ser Humano.

"Ela lhe contou histórias, ele a ensinou a voar... Amavam-se, mas ele não queria crescer..."

Dedução

Não acabarão nunca com o amor,
nem as rusgas,
nem a distância.
Está provado,
pensado,
verificado.
Aqui levanto solene
minha estrofe de mil dedos
e faço o juramento:
Amo
firme,
fiel
e verdadeiramente.

A distância mais longa é aquela entre a cabeça e o coração.

A distância faz ao amor aquilo que o vento faz ao fogo: apaga o pequeno, inflama o grande.

Livre é quem se permite sentir.

Suponho que me entender não é uma questão de inteligência e sim de sentir, de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.

Sou composta por urgências: minhas alegrias são intensas, minhas tristezas, absolutas. Me entupo de ausências, me esvazio de excessos. Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos. Eu caminho, desequilibrada, em cima de uma linha tênue entre a lucidez e a loucura. De ter amigos eu gosto porque preciso de ajuda pra sentir, embora quem se relacione comigo saiba que é por conta-própria e auto-risco. O que tenho de mais obscuro, é o que me ilumina. E a minha lucidez é que é perigosa (como dizia Clarice Lispector). Se eu pudesse me resumir, diria que sou irremediável!

Que a minha intensidade não me impeça de respirar vezenquando, pois suspiro o tempo todo pra encontrar espaço nesse peito que já nem se cabe. Que essas explosões de vida, de beleza e dor me permitam ao menos, por alguns momentos, absorvê-las com tranqüilidade: para que eu consiga dormir sem ter de chorar ou gargalhar até a exaustão, pois sinto falta de apenas lacrimejar ou sorrir sem contrações, descontraída. Que a felicidade não me doa sempre e tanto, a ponto de assustar. Que haja alguma suavidade nos meus olhos diante do cotidiano e que eu não me emocione exageradamente com esta delicadeza. Que eu possa contemplar o mar sem que ele me afogue por completo. Que eu possa olhar o céu imenso e que isso não me aniquile por lucidez extrema. E que quando eu escrever um texto, ao ser publicado, assim, despido de qualquer revisão emocional, dotado apenas da intuição que me foi dada, que encontre a fonte precisa que agasalhe a palavra “palavra”. Que eu não viva só em caixa alta, com esses gritos que arranham silêncios e desgovernam melodias. Que eu saiba dizer sem que isso me machuque demais. Que eu saiba calar sem que isso me provoque uma tagarelice interna inquieta. Que eu possa saber dessa música apenas que ela se comunica com algo em mim, nada mais. Que eu possa morrer de amor e, ainda sim, ser discreta. Que eu possa sentir tristeza sem que ela se aposse de toda a minha alegria. E que, se um dia eu for abandonada pelo amor, não deixe que esse abandono seja para sempre uma companhia.