Coleção pessoal de alaizaveronica
Queria um pouco de silêncio e os fantasmas da minha imaginação tagarelavam demais. Ando tão perturbada. Aperto no peito, de novo. Tenho lutado contra os meus próprios demônios. E é sempre tão difícil disfarçar as dores. Misturei tristeza com álcool. A TPM atacou, pra piorar. Tudo ao meu redor ficou três vezes mais irritante, as pessoas são tão inconvenientes! Você tá longe de mim e fico sem abraço, fico com saudade, com vontade. Fico só. Seguro para não deixar minha irritação explodir por fora e acabo me estragando por dentro. Sinto dor na coluna, nos ossos, na alma. Massagem nenhuma acalma. Preciso de calma, de cama, de colo. Eu sei, você não tem culpa. O problema é comigo mesmo: sofro de imaginação fértil e não tem remédio que cure.
INSANIDADE
Quinta-feira de chuva; estou sem coragem para levantar. Joguei o colchão no chão da sala, para que ficássemos à vontade. Você está aqui, deitado ao meu lado - estou sobre seu peito, acariciando seu corpo - e posso ouvir sua respiração enquanto dorme. Coloquei música no notebook. John Mayer. Você agora me abraça pelas costas, me envolve em seus braços e entrelaçamos os dedos. Quero namorar com você, sussurro. Sorrio involuntariamente. Minha situação piora a cada dia. Não saio do quarto, porque você está aqui comigo (e ninguém sabe). Vamos à praça, de mãos dadas. Paramos pelo caminho e nos beijamos. Alguém observa; desconheço. Vou até sua casa e conheço sua família. Todos estranham. Notam o sotaque. Fico à vontade - e não chamo palavrão, eu sei me comportar. Tardezinha. Ficamos no sofá, rindo de qualquer coisa. "Acho que você já viu meu rosto". Sim, mas você não acredita. E gosto do que vejo, é perfeito para mim. Te puxo pra perto e te beijo. Rostos colados. Sinto sua mão no meu cabelo agora. Gosto quando você sorri. Me sinto bem com você perto de mim, chego a sentir que somos só nós dois. "Queria que fosse de verdade". "Não deixa de ser verdade". Você sobe em mim - estou sozinha. Agora sinto tua boca na minha. No meu pescoço. Na minha barriga. Fico ofegante. As mãos passeiam pelo meu corpo, enquanto olho nos teus olhos, olho para tua boca. Perco e recupero os sentidos. Permaneço deitada, olhando para o teto. O que você está fazendo agora? Olho para o celular e digito uma mensagem. "Um coração pra você saber que tô pensando em ti". Digito um coração e envio. Saio do quarto e estouro a bolha de ilusão.
Você não parece ser do tipo que vai ao teatro ou escuta um MPB de vez em quando, mas no nosso namoro imaginário, até poemas você recita pra mim. Você nem notou minha presença...
Eu fico te namorando de longe e acho graça quando me pego sorrindo feito boba pensando na gente.
Você decidiu ir embora aos poucos e eu permiti que nos afastássemos sem nenhuma possibilidade de retorno. Eu comprei um caderno novo e nem na última folha dele tem espaço pra eu rabiscar teu nome.
Você já teve lugar em cada canto de um caderno meu, enquanto eu nunca estive presente em nenhuma linha sequer da sua vida. Ainda assim eu te deixei ficar e te ofereci tudo o que eu tinha. Em troca eu só queria que você escutasse aquele texto que eu gostei como uma indireta pro teu coração frio.
Eu ainda quero estar com você aos 80 anos e eu não peço nada além da sua companhia esquentando meus pés no final da noite.
Vejo reflexos da minha inutilidade.
Não carrego nada, além de um vazio.
Minhas metas escapam entre os dedos, meus objetivos se desfazem.
Falta muito?
Já esperei tanto. Mais um ano vem batendo à porta e... Nada.
Continuo aqui, pelos cantos.
Eu tenho ciúmes e gosto. Você tem ciúmes e gosta. E não somos nada. Estamos brincando de amor? Você me pede para sair, ir embora, aproveitar o auge das minhas vinte e uma primaveras e eu insisto em ficar. E aí você gosta que eu fique. Esperança. Acho que é isso que me faz respirar e esperar todos os dias. Por você. Por nós dois. Por um encontro - aqui ou aí (principalmente). E o destino? Não sei o que ele me reserva.
Tuas mãos me seguram
e me rodopiam pelo ar.
Os pés passeiam descalços na areia.
O vento espalha os cabelos
e o perfume.
Sinto a leveza do momento.
Meu coração flutua em direção ao mar.
Nossas risadas ecoam melodia.
A brisa me arrepia.
Teu calor me envolve e aquece.
Nossos lábios selam um acordo:
eu, você e o pôr-do-Sol.
Eu vejo a gente se afastando aos poucos e realmente não sei se sinto sua falta ou se é só medo de te perder pra alguém. Eu tenho medo que alguém ocupe um lugar na tua vida que nunca foi meu. Eu tento te tirar da minha mente e gostaria de sair da sua vida, só pra ver você me segurando pelo braço, me pedindo para ficar. Porque não importa qual seja nosso destino, não importa que rumo nossos caminhos vão seguir, eu voltaria para você quantas vezes fossem necessárias.
Eu. Você. No sul. No frio. Com nossos meninos. Nossos livros. Suas matérias. Meus contos. Nossas fotos. Minhas flores no quintal. Nossos cachorros. Meu café. Seu chá. Nada nem ninguém, além de mim, de você. Felicidade nossa. Te espero. Seja meu.
Nossos caminhos nunca serão um só. Um dia se cruzaram, nem sei como, perderam-se por um tempo, e tornaram-se a se juntar. Mas nunca sendo um caminho só. Tento administrar esse sentimento que me impede de seguir adiante, de conhecer mais gente, me envolver com outros. Quero me livrar disso - e ao mesmo tempo não quero. E se me perguntarem, algum dia, como era o amor da minha vida, eu direi: não conheci.
No fundo, é medo de perder. Sempre perco. Perco o que nunca ganhei, o que nunca será meu - por direito?-, mas que, mesmo assim, achei que possuía.
E se, uma hora, a gente sentir saudade?
E se, algum dia, a gente resolve viver tudo de novo?
Acabo de descobrir que o novo me assusta. E o velho também.
Seu nome estava escrito no ticket da minha viagem. Você era meu único destino naquele momento.
Eu ia até você, entregaria beijos embrulhados num lenço perfumado.
E uma caixa com um coração remendado.
Você não me permitiu sair da esquina, quem dirá chegar ao aeroporto?
Voltei para casa. A caixa ficou no caminho - alguém vai encontrar e vai cuidar do que tem dentro, talvez.
E como é de praxe, acabei sozinha na minha cama, coberta por lençois amarrotados, dividindo o espaço com lembranças de quem não vi.
Ainda te tenho. No fundo da alma, no pulsar das têmporas, no sorriso largo, na lágrima tímida. Sei que é tudo vão. Não sei onde tudo isso vai parar, nem eu sei aonde vou. Continuo indo e sorrindo. Continuo errando e te esperando. Pergunto-me por que o destino te trouxe até mim, se não podes ser meu. Mas a gente se completa às vezes. Formamos um quadro bonito, uma história de amor proibido - ainda sem final -, que talvez vire trilogia e adaptação de filme ou só mais um parágrafo num caderno esquecido.
Acho que nós somos o melhor casal que nunca existiu.
Te preciso tanto.
Preciso segurar tuas mãos e acariciá-las.
Desenhar teu rosto com a ponta dos dedos.
Tem tanto de você aqui, que eu te cuido mais que a mim.
Só não me abandona, moço.
E caso decida ir, me avisa com antecedência.
Preciso preparar o coração.
Me promete que vai tentar aparecer no aeroporto na minha próxima viagem.
Me promete que vai tentar aparecer qualquer dia desses.
E aí a gente dança pela sala, iluminada com algumas velas.
Só pra eu sentir teu perfume no pescoço e teu rosto colado no meu.
Me apaixono um pouco mais a cada dia e não sei se vale a pena dizer isso.
Fica comigo agora, me abraça um pouco.
De repente me deu uma vontade de viver de novo tudo o que ainda não vivemos.
É que talvez você tenha sido meu único e grande amor, mesmo sem saber, mesmo sem sentir.
Talvez você seja.
Abraçou-me e deu um beijo em minha testa. Preciso ir, ele disse. "Talvez nos encontremos em alguma esquina da vida, como nos reencontramos ao acaso, como te fiz ficar por uns anos. Saiba que te gosto e te quero, mas agora está na minha hora. Não te esqueças das minhas declarações tímidas nas madrugadas insones, dos nossos beijos acalorados e de nossas mãos sempre entrelaçadas nas calçadas, e ruas, e bosques, e quartos. Te quis como nenhuma outra mais, sabes bem. E qualquer lugar que eu vá, qualquer livro que eu leia, eu sei que meus pensamentos estarão em você. Não importa o que aconteça, tu fostes uma das melhores coisas que já me aconteceu. A vida real me chama e preciso que também sigas teu caminho. Sem mim. Sem fantasia, sem ilusão. Nunca fomos dois, apenas nos inventamos em meio às conversas, em meio aos sorrisos e disfarces. Deixo-te para que sejas livre, e se estiver escrito, um dia seremos. A gente nunca sabe o dia de amanhã.". Meus olhos encheram-se de lágrimas e a maquiagem borrada não me permitiu esconder a dor. Procurei abraços e consolos, mas não havia ninguém disponível para me ouvir. Eu o procurei do outro lado da tela e não o encontrei. E eu achava que conhecia a solidão, até que chegou o dia em que ele resolveu se afastar aos poucos da minha vida.