Coleção pessoal de AgostinhodeHipona2
"Pragmatismo e idealismo são o anverso e o reverso da moeda da imprudência. Em contrapartida, a prudência – "recta ratio agibilium" – não descamba nem em abstratismos inócuos nem em ativismos rasteiros".
"O escrúpulo exagerado tem sempre como pano de fundo um ideal de perfeição irrealizável. A pessoa propõe a si mesma uma meta sublime, um projeto que, na prática, não pode efetivar-se e acaba por sucumbir ao sentimento de inferioridade, a cada derrota que a vida lhe impõe. Daí ao estado de tristeza patológica, chamado por alguns de “depressão”, é um pulo.
Esta espiral psíquica descendente pode acarretar um sem-número de dramas humanos, quer por carência, quer por excesso de força vital do indivíduo chegado a tão triste situação: da psicopatia astênica, muito semelhante à realidade que os medievais chamavam de “pusilanimidade”, àquilo a que Adler deu o nome de “ideal de divindade”, atitude para Santo Tomás de Aquino muito próxima à da soberba. Neste último caso, o sujeito se propõe objetivos que, a cumprirem-se, fariam dele uma espécie de semideus virtuosíssimo. Como isto é impossível, para evitar a frustração ele hipertrofia os próprios méritos – consciente ou subconscientemente – e vive de alimentar a auto-estima com mentiras.
O mencionado Adler dizia, num acerto notável, que a ambição desmedida é própria das personalidades neuróticas, atormentadas por não atingirem a perfeição com os seus próprios esforços. Se se trata de ambição espiritual, a coisa acaba por ganhar configuração macabra.
Senso de realismo e um pouco de sã modéstia nas metas de vida; eis, aqui, o primeiro passo para uma pessoa não viver neuroticamente".
"O escravo psicológico não suporta contemplar a liberdade ao seu redor, pois nela enxerga as responsabilidades que não teve coragem de assumir".
"Nos maus, a humana inclinação natural ao bem foi depravada por vícios mais ou menos graves. A partir daí, entenebrecida a inteligência paulatinamente, forma-se uma espiral psíquica cujo vetor é o abismo. Ora, não se espere de alguém neste estado, desgovernado por paixões, vencido de maneira fragorosa pelas próprias debilidades, que enxergue os bens políticos sem cuja custódia pelo poder público tudo numa república vai para o buraco. O rechaço às coisas maléficas no plano político pressupõe percentuais mínimos de sanidade no tecido social, sem o que os cidadãos serão cada vez mais apáticos perante todos os tipos de bens, incapazes de perceber que as leis são preceptivas e proibitivas a um só tempo, ou seja, induzem o bem e castigam o mal.
Nestas ocasiões, é hora de os homens dedicados às coisas do espírito entenderem o seguinte: o ciclo histórico se precipitará inexoravelmente a níveis tenebrosos, e a preservação dos valores trans-históricos será possível somente em alguns guetos, com resultados quase impossíveis de perceber em meio à consumição geral.
Nas épocas em que a maioria tem os olhos vendados, os bons frutos são sempre tardios; só gerações futuras poderão aproveitá-los".
"A tolerância erigida em lei cria exércitos de intolerantes travestidos de democratas, fantasiados de pessoas abertas às diferenças.
Tolerar é ato de benevolência, nunca um direito, razão pela qual a tolerância para com as convicções errôneas jamais pode ser princípio de ação política.
Transformar o tolerável em direito é ir contra a "castidade virginal da verdade", de que falava Santo Hilário de Poitiers.
Quando somos legislativamente obrigados a tolerar o que quer que seja, a sociedade está morta.
A tolerância "absoluta" é liberticídio social. Cedo ou tarde, entroniza a mediocridade nas posições de mando".
"Há certos males perante os quais não se deve reagir de imediato, apenas por instinto de justiça; antecipar a ceifa implica joeirar pessimamente".
"Toda revolução é futurolatria – adoração do futuro, mas não de um qualquer: trata-se do futuro que oscila entre o impossível e o improvável".
"Do medo continuado passa-se ao ódio; do ódio à agonia; da agonia ao desespero; do desespero ao inferno".