Coleção pessoal de AdrianaMoulin

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Excêntrica? Não...(!)
Sou esquisita mesmo.
Sensitiva demais.
Forte demais.
Tudo muito!

Há um sopro de vida leve
que me inunda de saudade,
uma palavra suave
que me remete a um passado
doce e distante

Um cheiro, uma casa, uma fruta
uma parreira de uvas
um pé de jabuticaba

Biscoitos de polvilho sobre a mesa,
as sobremesas daquele caderno
de folhas amareladas...
Nossa casa.

Hoje o céu tinha lua...
Não era o perigeu,
mas era lua cheia
e linda!
Foi de ti que me lembrei
(não poderia ser de outro jeito)

Fiquei olhando a lua, olhando,
olhando...
E ela falou pra mim: esquece!

Conversei com a lua
(coisa de gente doida)
e ela insistiu: esquece!

Aí eu disse a ela:
pede outra coisa!
Ela respondeu: adormece...

Eu já experimentei outras vidas,
já vivi muitas luas

Hoje, mais uma vez Mutante
Minguante ou Nova-mente Cheia,
a Lua,
admiro-a como se fosse
a primeira vez

Encantadora Lua...
A mesma que Luzia em minhas
outras vidas.

AMORTECEDORES

“Amor tece dores”
mas também
alegrias e flores...

Amor é poesia
linda...
Mesmo quando torta
marginal e ao acaso.

Berço é algo que não se vende nem se compra. Ele tem valor, mas não tem preço; não costuma ser entregue em alguns endereços...
É coisa de criação, índole, coração e alma. Às vezes dribla o DNA, embaralha as suas fitas e se engana. Não tem nada a ver com contas bancárias, habilidades diversas ou diplomas.
Ter berço é saber respeitar o outro; é ter o dom de ouvir, falar e calar na hora certa; é se fazer presente quando necessário; é ser discreto, desprovido de preconceito, caridoso sem alarde e grato sempre.
É ser autêntico sem ferir o outro e humilde para enxergar os próprios defeitos; é ser verdadeiro e fiel aos amigos em qualquer situação e em todos os momentos...
É sentir-se bem em todos os lugares, com todas as pessoas, sem perder a identidade.
É a melhor herança que os pais podem deixar aos seus filhos.
Isso é nascer em Berço de Ouro!
O resto... é ouro de tolo.

FERA
Assim sou eu
Bela donzela
Vestida de Bela
No corpo de Fera
A esperar o tempo passar

Estou a me fazer
De Fera
Bela Donzela
Que é o que faz de mim
A tarantela da vida

Queria, sim, ser Fera
Vestida de Bela
E esquecer a donzela
Que um dia eu fui

Porque nasci Fera...

Esqueço então
Todas as mazelas
E viro o que sou:
Bicho do mato
Onça que avança
Leoa que mata
Cobra que aperta
E depois nada quer...
“Sou fera, sou bicho
Sou anjo
E sou e sou mulher.”

RETRATO DA SAUDADE

Ao meu querido Jonas Ribeiro

E então
viramos fotografia
pendurada na parede,
papel que desbota
com o tempo,
lembranças que o vento
embaralha e esquece...

Agora você é história
pra ser contada torta
e pelo avesso
(como são quase todas as histórias)

Não há mais festas, vinhos
e danças,
broas de milho que você
comia feito criança

Despediram-se de mim o riso solto,
irreverente, sem juízo
e a alegria inocente
de alguém que pensei
-viveria para sempre!

Sim, eu me calo
sempre que não vejo mais
razão nas palavras

Calo a alma, o coração
e a mente

Viro semente que germina
sem ser notada.

(Adriana Moulin)

Hoje fiz de Paris
a cidade da minha vida,
e estávamos juntos...
Beijei a sua boca tanto e tanto
que você brigou comigo,
mas não ligo

Porque hoje eu já fui a Paris
e você estava comigo!
(Adriana Moulin)

Se eu nascer de novo, meu Deus,
tire-me de vez o juízo
e faça-me novamente poeta!
De resto eu nada peço...

Não há liberdade
mais afortunada
que entregar-se à vida
fantasiando
e brincando de palavras.

Gente que não gosta de carnaval:
eu.me.mim.comigo.

Sem a arte
somos vozes que calam
ouvidos moucos
olhos envoltos
em brumas

Longe da arte
somos metades...
versos vagando
em círculos
(caminhos)
que levam
a lugar nenhum

Com a arte
somos
inteiros
somos verdades.

POETAS NUS

E o que é desnudar o linho
se eu desabotoo
o teu colarinho
e te exponho a alma?

Poeta, poeta...
Quando escrevemos
os nossos versos
ousamos sair nus
pelas ruas afora...

Somos turistas na vida,
vivemos de emoções
e das mais cruas paixões

Levem-nos a sério,
mas nem tanto...
Somos seres vestidos de letras,
espíritos envoltos em palavras.
Somos feitos de dramas,
versos, risos e lágrimas.

A vida é efêmera
e isso é tudo.
O resto são as paixões
extremas
e os poemas
que a gente inventa
pra sobreviver.