Coleção pessoal de AdilsonSantana
Quando ela volta
Lá vem ela sorrateira…
Matreira silenciosa
Acreditei que de mim já te tivesses esquecido
Após tantos anos em que caminhaste amparada em mim
Ou, antes seria, eu amparado em ti? Nunca saberemos.
Hoje sentir-te aqui dentro de mim traz tudo de volta
Mal não seria que fosse apenas o passado envolto em sonho
Mas, tu não! Chegas completa e desnuda-me.
Traz-me todo nosso passado desfeito escrito no belo
Envolto em toda nossa amargura do dia em que resolvestes partir
E eu aqui, ainda hoje, anos depois vivendo de pós, sonhando por nós
Qual será o tempo que de mim tu desistirás, eterna amargura?
Tomai os fantasmas de mim em outros amantes que chegam
O tempo cansado me fez. Triste caminho em busca de nada… vagueio
Não sei descrever a partida, talvez teu desenho
Á partir da foto que passada, detenho, retenho e vejo teus olhos
Quando ainda me tomavam na cumplicidade única dos que amam
Ainda que com medo
Assim é meu amor. Não dói, não faz mal relembrar
Reviver!...
Saíste de mim, mas não te levaste completo
Não dói reviver, porque nosso amor
Embora ferido
Por nós, nunca foi envenenado
Talvez por isso, ainda hoje, contigo converso a sós
No silêncio amargo da minha tumultuosa solidão
Adilson Santana
Porque Sonho
Toda noite que espero teu abraço
E tu chegas no silêncio do meu sono
O teu braço me acolhe, me enlaço
Teu silêncio diz que sempre ficarás
E em mim…
Nasce o instante mais tranquilo do meu sono
Porque sonho que um dia chegarás
Minha cama está vazia, só por hoje
Porque sei que amanhã tu voltarás
Porque sonho
Serei teu eternamente
No meu leito, no meu dia, no meu pranto
Serei teu na solidão, e também no abandono
Porque sonho o amanhã
Em teu cansaço, pra ser teu eu morrerei
Toda noite
No abraço que acorda o meu desejo
Serei teu de madrugada
Porque sonho que teu braço me aperta
No silêncio em nossa cama
É meu sonho te tomando
Sem palavras, sem promessas
Só dois corpos se entregando
Porque sonho
Até mesmo de manhã quando acordo
E constato que você na minha vida
Se mantém dentro de mim
Teu desenho, ganha vida toda noite…
Porque sonho todo tempo com você
Arq. Biblioteca Nacional de Lisboa
De partes mortas em mim
O vazio em mim
Ensurdece, me emudece
Queria voltar a ser oceano
Sentir nascer em meu peito
Todo o fulgor de outrora
Perder o meu corpo em bocas sem nome
Que minha carne anseia o profano
Mundano, devasso…Inteiro.
Bebeis noutro corpo meu medo
Meu peito está seco
Meu coração hoje pulsa por vício
No fundo de mim, me guardo do limbo
Nefasto de mim, sou assim
Hoje em mim a vida pousou no deserto
O ar é vazio
Em vão meu peito avança pró nada
Estou só
Morri e não vi
Senti uma parte de mim
Que partiu, me deixou
Acabou…
Eu sigo sentindo o vazio em mim
A perda em mim, ensurdece
Emudece...
O ar é vazio
Estou só no deserto de mim
(Adilson Santana) (Matheus o Navegante Ferido) Arq. Biblioteca Nacional de Lisboa . Portugal
Carta a Matheus
Preciso dizer-te que és um ser enigmático, e talvez isso me prenda, me leve a querer
descobrir algo mais desse teu mundo.
Gosto de estar ao teu lado, sentir tua pele, ouvir tua voz firme e ter a certeza que sempre
acordarás a meu lado.
Essa tua forma fria, quase distante de tudo, para mim não passa de fuga, de algo que
queres esconder de ti mesmo.
Queres ser aquilo que não és. Tu és o homem que me encanta, que me faz sorrir, me faz
crer e querer continuar.
Preciso que saibas que podes sempre contar comigo, preciso dizer que também tenho
medos, muitos medos; talvez os mesmos que tu, talvez outros.
Possivelmente outros medos. Por isso também algo em ti, me dá a certeza de que
poderei continuar…
Sei que devo deixar-te partir, mas também sei que devo dizer que gostaria muito que te
entregasses e ficasses comigo só mais um pouco.
Até amanhã talvez, ou depois de amanhã, ou depois do depois…
“Não me espere amanhã, não mais chame por mim – Preciso partir, navegar sempre
em frente, rumo a linha que traça o distante horizonte, seguir a viagem em busca do
meu próprio Eu”
Matheus Navegador
Autor (Adilson Santana) Arquivo na Biblioteca Nacional de Lisboa
ISBN: 978-989-96825-0-4
QUERIA SER COMO UM RIO
Queria tanto beber em meu pranto, está seco, já não sei nem mesmo chorar...
Um rio inteiro podia cair, inundar por completo esse meu mundo deserto
Não sei bem de onde vem, é lá bem do fundo e dói tanto o meu peito vazio
Destruir é sempre mais fácil que reconstruir,
descer é mais simples que subir
Meu coração é forte, aguenta a pressão,
Mas não sou eu, eu sou vago, sou triste
Sou só.
Caminhos mil eu andei, atravessei desertos fantásticos na escuridão extrema
Me dei por completo, traí, confiei, busquei um jeito de não ser vazio
Aqui dentro o meu peito
Como dói o vazio, corrói mais que ácido
Me entrego a tortura de mim, meu peito me cala
Queria tanto poder ser abrigo, um canto qualquer, não quero ter paz
Nasci no inferno, em trevas profundas,
Eu quero ver luz, não sinto meu corpo, só tenho alma e vazia
Explode meu peito, nasci como um deus, agora sou homem, ando na vida
Cansado de tanto assim ter vivido,
Caindo sempre de canto em canto, de vida em vida...
Trazendo sempre a dor profunda, que faz de mim conhecimento
Queria tanto cair como um rio, o mar secou, a vida é árida
Tudo o que é belo não me pertence, nasci um deus
Que seja então eu deus de mim, que seja eu meu próprio pai
Eu vejo o mundo, mas não é meu, terá sido um dia?
Ando aqui e nem é por mim, eu nada sei, eu tudo sinto
Que venha o pai, que me resgate, que me dê vida, que seja eu um rio inteiro
Que seja pranto, mas que seja algo que não seja assim...
Assim me dói tanto.
Viver num mundo que não é meu, eu ando aqui, mas nem é por mim´
Foi sempre assim, nasci assim, nasci um deus, sem pai para mim
Queria tanto fazer sair aqui do meu peito o mundo inteiro
Para quê lucidez de uma vida, se ela atormenta?
Eu queria o canto do mundo, um canto lindo, um canto calmo
Queria ser rio, queria inundar o meu mundo inteiro
Queria ser louco, queria ser livre, queria partir, sair daqui
Que venha o Pai, que me consuma, que eu já não sou mais dono de mim
Eu nunca fui, eu fui sempre assim, nasci vazio
Nasci um deus
Sem pai para mim
Queria ser como rio, nascer numa fonte, descer pelo monte
Por campos verdes andar, ser forte corrente, e bem lá na frente, voltar a ser mar
Inundar o abismo, o vazio de mim, poder no meu tempo evaporar
Subir lá pró alto, meu peito abrir, livrar o tormento
Queria chorar, chorar forte pranto, vir lá do alto
Tomar as entranhas da terra, subir a montanha, ressurgir numa fonte
Queria ser como um rio, por vezes tranquilo, mansinho
No tempo fugaz, trazer na corrente do meu pensamento
Somente um conto do vale encantado, ter sido por mim
O mundo criado.
Não sei, sou assim, sou meu próprio destino
Eu sou o meu canto, não, não vejo meu pranto
Porque no meu mundo, eu sou deus de mim.
(Adilson Santana) (Queria Ser Como um Rio)
ISBN: 9789898080790 - Arquivo. Biblioteca Nacional de Lisboa - Portugal
SEMPRE TE ESPERAREI
Guardado em meu peito, ficou o meu desencanto
Problemas e crises profundas
Sobrevivi, á espera que ele voltasse
Passou o tempo, eis que ele não veio
A vida seguiu sem sentido, numa espera infindável
Assim como o amor que vivemos, de promessas e juras eternas
Problemas e crises profundas
Resisti á espera dum sonho passado
que a mim não voltou, e só desalento deixou
Talvez um dia eu caia, e quando pra cima conseguir novamente olhar
Possa ter a consolação, te ver tuas mãos me buscar, levantar…
A mim ele disse que voltaria, porém não chegou
E meu coração, esperou, esperou sem cansar
Ele disse, não chore, e meu coração confiou, se alegrou
Problemas e crises profundas
Meu coração superou
O tempo passou e ele nunca voltou
O meu desencanto, trago guardado no peito
O tempo passou
Caí, me feri
Mas meu coração, nunca desesperou
Acreditou que um dia, tu ias chegar…
(Adilson Santana) (Sempre te Esperarei) Arquivo - Biblioteca Nacional de Lisboa - Portugal
ISBN: 9789896364601
Ao olhar para atrás e ver as marcas dos meus passos pintadas no quadro do tempo, constato que obtive o necessário para fazer esta grande travessia. Viver, chegar lá à frente, parar e poder dizer. Nasci todas as vezes que me permiti. Aventurei-me. Pisei firme no solo e, mesmo que por vezes ferido, desbravei mundos, caminhei por vezes só, atravessei desertos fantásticos, temi, chorei e sorri, e hoje aqui sigo confiante no futuro desconhecido imerso num imenso universo onde tenho, ainda, muito para descobrir.
(Adilson Santana)
ISBN: 9789899682535 Arquivo. Biblioteca Nacional de Lisboa - Portugal