Coleção pessoal de Acirdacruzcamargo

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Esse anedotário repetido, a que foi relegada a análise do processo histórico em toda a sua complexidade, deriva, em grande parte, de uma historiografia vesga e ideologicamente interessada, que ocupa o espaço dos compêndios "adotados" e vive nas aulas, mesmo, e talvez principalmente, no nível dito superior. Essa resistência a reconhecer a República como resultado de um profundo processo de mudança, de uma necessidade histórica, é a forma que assume, normalmente, o disfarce de uma posição reacionária. É a forma de resistência à mudança, de maneira generalizada, a aversão às alterações atuais, contemporâneas, de que o País necessita.
A República: uma revisão histórica

⁠É simples decorrência da confusão metodológica, quanto à interpretação do processo histórico, comum no Brasil, abrangendo autores da categoria daquele inicialmente citado, a análise que fazem, e que ele faz, dos eventos de novembro de 1889. É a tese da República por acidente, que vive da repetição. O autor referido escreve, a certa altura do seu volume sobre o fim da monarquia brasileira, que ela foi aqui "dissolvida abruptamente", acrescentando o detalhe que isso se deu "por efeito de um movimento sedicioso que, segundo a primeira intenção de seu chefe, visava apenas a mudar o gabinete, mas acabará deitando por terra a Monarquia". Adiante, volta a colocar o problema nos mesmos termos: "Quando, ao proclamar-se a República, a massa da população, tomada de surpresa pelo acontecimento, se mostra alheia ou indiferente a princípio, Pelotas, que pertence, aliás, à velha linhagem de soldados cuja origem data dos tempos coloniais, acha injustificável a omissão das camadas populares e vê nisto o mal de origem do novo regime. Em realidade, a República é obra exclusiva do exército, ou mais precisamente, da guarnição da Corte, embora seja apresentada, também, como da armada, que não teve parte na mudança das instituições e em nome do povo que a tudo assistiu 'bestializado"
A República: uma revisão histórica

⁠A República é a forma que assume, no Brasil, o processo de avanço das relações capitalistas, pois, quando, pára esse avanço, vai eliminando a geração colonial que o impedia. Para isso é que ocorrem as reformas, entre as quais a do mercado de trabalho se destaca. Daí por diante, nas áreas em que as relações capitalistas se desenvolvem, cresce o mercado de trabalho, isto é, o trabalho assalariado amplia seu espaço.
A República: uma revisão histórica

⁠A proclamação da República aconteceu assim, segundo o texto à página 244: "A esta voz, o velho cabo-de-guerra, que se achava doente, levantou-se indignado e pôs-se à frente das tropas para DERRUBAR O MINISTÉRIO". O grifo é do autor: significa que Deodoro não queria proclamar a República, que, assim, resultaria de simples acidente, tese cujo sentido é inequívoco. Na maioria de seus elementos, aliás, a cátedra de História representa o último reduto monarquista em nosso país.
História e materialismo histórico no Brasil

⁠A proclamação da República é situada conforme o modelo estabelecido pelo anedotário: "Deodoro, por fim, depois de manifestadas as suas preocupações, acabou por declarar: 'Venha, pois, a República', e fez um gesto de quem lava as mãos" (pág. 310). Assim, a queda da monarquia é caracterizada como acidental e resultante do humor ácido de um chefe militar
História e materialismo histórico no Brasil

⁠Sabemos bem que as grandes angústias do homem do homem provem do medo, o mais antigo dos nossos inimigos, o inimigo permanente: é o medo que faz o homem temer as mudanças, ainda quando as reconhece como inevitáveis; o medo faz criminosos, algozes, torturadores, quando os homens são pequenos; e profetas, heróis, mártires, quando os homens são grandes; leva, também, a uma tendência à acomodação que se caracteriza muito pelo horror à agitação, ao debate, à controvérsia, à divergência. Ora, a cultura está estreitamente ligada a tudo isso, à agitação, ao debate, à controvérsia, à divergência. Se estudarmos a História, mestra da vida, como escreveu alguém, e a citação é lapalissada inevitável, verificaremos, embora com aborrecimento de muitos, que as épocas fecundas não foram as épocas de calmaria, mas a de agitação

⁠José Pedro Costa cometera o crime gravíssimo de ser meu amigo; alguns amigos, e até alguns parentes meus, pagaram por isso. E o fato representa amostra mínima e isolada de imundice política que dominava agora.

⁠Só quem perdeu, um dia, a liberdade, pode avaliar quanto ela vale.

⁠... Carlos Medeiros da Silva, Miguel Seabra Fagundes e Hermes Lima, três luminares do Direito Brasileiro, cada um com o seu traço peculiar, a sua personalidade, mas todos mestres do seu ofício... mestres que fundaram o Direito aqui, os primeiros que souberam fundir o universal com o particular, aquilo que nos proveio da herança romana, através dos séculos, com as alterações por eles introduzidas, e aquilo que resultou de experiência ou de necessidade específicamente brasileiras
A OFENSIVA REACIONÁRIA

⁠Isso repousa na crença no poder normativo da inteligência, e esse poder é uma ilusão. Decorre, aliás, da tradição aristocrática da cultura, que supõe deverem os não-cultos submeter-se, naturalmente, ao governo tutelar dos cultos, para que a sociedade seja harmônica - A OFENSIVA REACIONÁRIA

⁠"A verdadeira religião não se confina a algum lugar geográfico ou a algum povo. Espalhou-se por toda a Terra, de várias maneiras. Aquele que preenche a imensidade deixou um registro sobre Si mesmo em todas as nações e entre todos os povos debaixo do céu. Cuidado com o espírito da intolerância! pois o preconceito produz a falta de amor, e a falta de amor leva ao juízo descaridoso; e, nessa atitude, um homem pode pensar que está prestando a Deus um serviço quando tortura ou oferece um holocausto com a pessoa a quem sua mente estreita e seu coração duro tem desonrado com o apelido de herege" - Adam Clarke - Citado por Russell Norman Champlin no Antigo Testamento Interpretado Versículo por Versículo, Volume 1, pág. 381)

⁠O Expurgo determinado por Moisés. Esse foi o quarto dos atos drásticos de Moisés, a fim de contrabalancear os mais efeitos da idolatria. Ele lançou mão dos levitas para expurgar o povo de Israel mediante execução em massa, na qual morreram cerca de três mil pessoas. Os Yahwistas executaram os apóstatas. Assim também, através de toda a história religiosa, tomando esses incidentes como exemplos, pessoas religiosas tem-se sentido justificadas por tirar a vida de hereges e apóstatas; mas hereges e apóstatas de acordo com a definição de seus algozes. Quão diferente disso era Jesus! Ele repreendeu os Seus discípulos por quererem imitar Elias. Ver Lucas 9.54-55. Até mesmo nomes honrados, como o de João Calvino, líder reformador, envolvem-se em homicídio por motivos religiosos. Calvino foi responsável por mais de cinquenta execuções dessa natureza. Ver artigo na Enciclopédia de Bíblia, Teologia e Filosofia acerca dele, bem como no Dicionário, o verbete chamado Tolerância. Nos dias do Novo Testamento, homens cristãos tem posto em ação a violência do própria do Antigo Testamento, para desgraça de toda nossa dispensação cristã...

Russell Norman Champlin - Antigo Testamento Interpretado - Volume 1 - pág. 452

A USP "⁠Criada em 1934, como resposta de
um setor da elite paulistana às derrotas políticas de que padecia desde o rearranjo
oligárquico encetado pela Revolução de 1930, a instituição tomou feições imprevistas
face ao recrutamento híbrido de membros de elite em descenso e camadas ascendentes.
Seu rumo foi marcado pelo descompasso do empreendimento face às demandas sociais
da cidade, o que deslocou o objetivo inicial do projeto que visava formar as elites
dirigentes, recuperando o papel de São Paulo nas diretivas, senão do Estado, da vida
moderna nacional em âmbito cultural" - Lidiane Soares Rodrigues - Tese. Comparemos isto com o livro de Nelson Werneck Sodré, História e materialismo histórico no Brasil

⁠Nas Faculdades Estaduais de Ponta Grossa se poderia criar núcleos de comunhão, estudos, espiritualidade e atividade social, como Espírita, Católico, Ortodoxo, Protestante, Evangélico, Umbandistas, diversos outros. Os estudantes poderiam protagonizar estas iniciativas.

⁠“... criação da universidade nova ... De fato a "reforma da universidade" ao concretizar-se, caiu nas mãos das forças conservadoras e contra-revolucionárias no poder. Elas não só esvaziaram a reforma de seu conteúdo democrático e inovador. Castraram-na por completo ... a universidade foi esterilizada politicamente e, diga-se de passagem, com a franca e aberta colaboração de professores e estudantes adeptos ... do regime ditatorial ... O que contribuiu para que ela se convertesse ... na "universidade do silêncio"" - A universidade necessária

O equívoco maior é daquele que busca o poder deste modo: só persegue a expansão do próprio nome e, como diz Canetti, na tentativa perpetuamente renovada de fazer seu nome conhecido, precisa tornar o dos outros, e do Outro ignorado
A UNIVERSIDADE EM QUESTÃO

⁠Dentro da massa acadêmica, constituem as maltas de perseguição ou de fuga. Nelas, um nome definido recebe as honras absolutas. Todos os integrantes da malta se dignificam com a expansão deste nome. Espetáculo tragicômico, os ataques mútuos, nesta luta pela hegemonia do nome, e da fama. Ai de quem não jure pela fala de X ou de Y, nesse plano. Alta traição é não "ano" ou "ista" ... O equívoco maior é daquele que busca o poder deste modo: só persegue a expansão do próprio nome e, como diz Canetti, na tentativa perpetuamente renovada de fazer seu nome conhecido, precisa tornar o dos outros, e do Outro ignorado
A UNIVERSIDADE EM QUESTÃO

⁠Todos os professores e alunos têm o próprio ego como referência absoluta...Pobre de quem imaginar que o âmbito universitário seja diverso de um zoológico espiritual...A ânsia de fazer seu nome singular conhecido e mencionado possibilita a apropriação indébita de ideias alheias, plágios, silêncio sobre pensamentos opostos...
A UNIVERSIDADE EM QUESTÃO

⁠...liberdade para quem, para fazer o quê? Quem, quando, onde, de que modo...
A UNIVERSIDADE EM QUESTÃO

O primeiro ponto resume a lógica tradicional da dominação; assumir, o dominado, a fala do mandante, como se ela brotasse de si mesmo⁠.