Coisas Novas
Na Espanha, por exemplo, já há um grupo de periodistas (jornalistas) digitais, que têm uma organização de trabalho diferente daquela dos jornalistas de meios impressos. Os jornalistas digitais não são uma categoria que digita, que trabalha com computador simplesmente, porque isso
os jornalistas de meios impressos também podem fazer, mas uma categoria
que só publica matérias e artigos em meios de comunicação virtuais. Seria
melhor chamá-los de periodistas virtuais, mas por algum motivo escolheram o
nome “digitais”. Eles podem ser contactados pelo e - mail:
gpd@aleph.pangea.org.
Pensamos em categorias de seres humanos diferentes, não biologicamente, mas profissionalmente, e quando as avaliamos em nível profissional, a questão política imediatamente aparece. Um grupo de profissionais digitais dá origem a outros. E este é o primeiro passo para que
haja sindicatos virtuais, para atender a empregados virtuais.
As noções de cidadania e de ser humano ficam confusas com a influência dessas novas tecnologias de comunicação, pois há uma vontade de que a máquina exerça a cidadania e de que o robô seja cidadão, coisas que,
politicamente, são impossíveis de acontecer.
O pensamento cartesiano, ao qual estamos arraigados e que diz respeito ao mundo das predicações, isto é, ao mundo dominado pelo poderio verbal, pelo pensamento linear subordinado e irremediavelmente estático e ao qual interessa uma história contada com princípio, meio e fim, é provavelmente o principal entrave para a compreensão do pensar analógico, porque esse diz respeito a um mundo em ação, a um mundo em que se conjuga no gerúndio, e ao qual dizem respeito as estruturas que acabam por
gerar significados.
No vazio da imagem, o olhar contemporâneo encontra um refúgio
para sua acomodação, um olhar repousa procurando exílio político, e na cor e
na sombra da imagem o ser humano se personifica como parte de um todo
planetário ao qual, na sua totalidade, ele não pertence somente em partes. As
novas tecnologias podem estar servindo mais como uma necessidade de
vaidade, mais como um acessório na vida cotidiana do ser humano do que
como parte essencial.
O grande desafio não é analisar o rosto de Narciso redesenhado nas novas tecnologias de comunicação. Devemos ir mais longe e buscar a análise de porque precisamos sempre da imagem de Narciso no espaço comunicacional e na vida, porque o ser humano busca sempre atingir o inatingível, até para que possamos, dessa maneira, analisar os reflexos políticos vistos neste estudo.
Portanto, como não conhecemos o que é o original de Deus, tentamos buscar esse original num homem inventado, num homem de ficção, e a busca da perfeição se faz a partir da realização dos ritos nos campos da
política, religião, arte e cultura e, mais tarde, nos meios de comunicação.
Na busca da imagem perfeita e bela da figura Narciso, o ser humano passa a se reconhecer no mundo redesenhado e virtualmente tatuado, mas esse argumento político de buscar a perfeição no ídolo da
globalização pode levá-lo, por meio dos meios eletrônicos da comunicação, a
se tornar politicamente abstrato e ingressar num processo de coisificação,
transformando-o em um objeto do próprio prazer de se ver.
O pior é que, depois do aparecimento das novas tecnologias de comunicação, corremos o risco de que não haja também seres humanos de verdade, não no sentido físico - biológico - não me refiro a criações de “ciborgs” pela técnica -, mas num sentido psicológico de existir e pensar,
porque as pessoas estão sendo virtualmente idealizadas por imagens criadas e não reais.
A televisão, por exemplo, personificou o cidadão, plastificou-o dentro da sua tela, e dentro de uma modernidade imagética desintegrou sua cidadania verdadeira, porque o cidadão hoje não é o que ele pensa, mas o
que ele vê.
Nesse universo geograficamente redesenhado, as tecnologias
satisfazem o atual desejo por interações diferentes em escala e intensidade.
Os seres humanos se conhecem por uma conexão da máquina.
Pode-se dizer que hoje a tecnologia e a ciência influenciam a criação, a produção e a difusão de uma obra de arte. Elas criam novas mídias (desde a fotografia e cinema até invenções mais recentes, como vídeo,
fotocopiadoras e computadores)
Inspiram artistas por meios de novas
possibilidades de manipulação e alteração de imagens originais ou apropriadas
da mídia e da cultura popular, aumentando assim o vocabulário visual artístico.
Possibilitam o uso sinérgico do som, texto e imagem e a difusão e reprodução
da obra em tempo real, permitindo assim ao artista o entendimento e a
incorporação de outras disciplinas e métodos no seu trabalho.
As novas tecnologias de comunicação reforçam o crescimento das práticas do neoliberalismo; ajudam as estratégias neoliberais a avançar na sociedade, pois a conjugação de seus recursos técnicos em nível mundial mexe também com as sociedades locais, e os medias fazem isso não circunstancialmente, mas decisivamente na esfera pública: as novas
tecnologias de comunicação integram o plano de atuação política internacional para a desintegração de um plano de projetos nacionais.
A linguagem imperialista dos meios para se exercer esta cidadania virtual pode esfumaçar a própria questão da democracia, como já
vimos em capitulo anterior sobre o sindicato virtual, que por exemplo, não mobilizaria massa nenhuma.
Pensar e sentir fazem parte de uma suposta democracia que podemos chamar de verdadeira. Toda manipulação do que seja pensar falsifica a democracia.
Os meios de comunicação, por tornarem o pensamento do ser humano passivo, estão transformando a democracia, há muito tempo, em mais do que representativa somente, estão tornando-a manipulativa.
Excesso de informações não quer dizer que todas as pessoas têm condições
individuais e sociais de adquirir conhecimento com essas informações. E
mais: é uma grande mentira sedentária que informação gera riquezas e que através dessas riquezas as classes sociais subalternas vão se tornar emergentes.
Votar em um computador não melhorou nossa forma de escolha em relação aos nossos representantes políticos, somente tornou mais veloz a apuração do processo eleitoral.
Não há cérebro eletrônico, a não ser no nome
que se dá à forma usada metaforicamente, na linguagem das literaturas atuais, que estudam novas tecnologias e temas relacionados ao assunto.