Coisas Novas

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Defendo a ideia de que o que leva a alienação coletiva de uma nação é o medo da exclusão de cada indivíduo que forma esta nação. Os meios de comunicação, como rádio, televisão, internet, ou de arte, como música, dança, cinema e o próprio esporte, como o futebol, são catarses. São
instrumentos que proporcionam algum prazer na vida. Não só no Brasil: hoje o futebol é paixão na Inglaterra, na Espanha e na Itália.

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Em várias partes do mundo e por vários motivos as pessoas procuram entrar em processos de catarse, uma vez que os desenvolvimentos humanos, sociais e políticos não acompanharam o desenvolvimento técnico-científico. Por isto também temos tantos gurus contemporâneos e as pessoas
acreditam em fadas, em anjos, em duendes, porque o desenvolvimento técnico
e industrial não conseguiu tampar os buracos de ordem afetiva e emocional.

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O ser humano se desenvolveu muito tecnologicamente e cientificamente, e pouco abriu-se para as questões da essência humana, do seu eu e do seu ego, descobriu menos sobre sua mente e seu comportamento psicológico do que sobre computadores, e quanto mais ele se aproxima do computador como seu alter-ego, mais seu espelho interior fica embaçado.

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Lembremos, por exemplo, que a crise da Bolsa de Valores (1929) de Nova Iorque, não foi somente uma crise financeira, mas uma crise emocional mundial, como quando o governo Collor tirou o dinheiro da
poupança das pessoas no Brasil; foi uma crise emocional coletiva e nacional.
Teve gente morrendo mais do coração pela emoção do que pela falta do dinheiro propriamente dito.

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Defendo que o povo brasileiro não é ignorante por gostar de futebol e carnaval, mas por outros motivos, pela falta de alfabetização, de
escolaridade, de respeito aos direitos humanos.

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Os alemães cometeram a maior catarse alienatória da história. Quiseram eliminar as diferenças culturais pasteurizando o mundo numa raça só e numa cultura só. A globalização quer eliminar as diferenças aniquilando as comunidades que resistem a sua uniformização e os países periféricos pela falta de modernização tecnológica.

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Assim como os americanos têm o blues e o jazz e o baiseboll, os ingleses o rugby, nós temos futebol e carnaval. É formação cultural e não alienação.

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Grande preconceito aqui no Brasil é dizer que intelectual não possa gostar de time de futebol e de escola de samba, como se fosse reduzir sua maneira de pensar e a sua formação cultural. Pelo contrário, isto tenderia a enriquecer a qualidade e quantidade das informações, tornando-os apreciadores da nossa própria cultura e não colaborando com o seu esvaziamento.

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Não acredito na afirmação de que as novas tecnologias de comunicação trarão mais qualidade de vida e igualdade para as classes sociais, maior participação política ou melhor cobertura democrática; pelo
contrário, creio que as novas tecnologias de comunicação estão muito ligadas
à questão econômica – financeira , e de que toda informação é paga, se não
por via direta da técnica e dos meios, por via indireta do saber para se ter,
entender e criticar.

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Não acredito que as novas tecnologias possam mudar nossa realidade social. Nos países subdesenvolvidos ainda há doenças infantis que nos desenvolvidos já foram eliminadas, e um alto índice de mortalidade
infantil. Então, como acreditar que vamos nos modernizar e ter uma sociedade mais justa por meio das tecnologias de comunicação, se não conseguimos nem sequer através de livros, revistas e jornais formar uma nova geração?

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A infinita variedade dos meios de comunicação é redundante e não propicia o avanço da sociedade para direção alguma; sua influência é sinérgica, é corrompida pela obrigatoriedade de se ter altos índices de
audiência e publicidade.

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Há escolas no Nordeste que não podem instalar um televisor sequer porque não há luz elétrica. Portanto, ter condições de obter
informação e de ser socialmente desenvolvido está ligado à distribuição de renda e não somente ao fato de obter tecnologia de ponta e aparelhos sofisticados de comunicação.

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O país não se torna desenvolvido somente por uma questão de equipamentos eletrônicos e máquinas tecnológicas avançadas. Seria como pensar que o ensino da USP depende da cor do chão e das janelas para ser transmitido, ou da quantidade de frascos que o laboratório de química ou física possam ter.

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O terceiro mundo chega a receber as sobras dos países do primeiro mundo, como televisões educativas a cabo que priorizam programações que levem cultura e saber à todos mas que, por ser a cabo
favorece que o conhecimento se acumule novamente nas mãos de poucos e
faz com que o poder da informação esteja atrelado ao poder econômico.

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Como acontecia durante a revolução industrial, quando não se podiam importar máquinas junto com mão de obras, hoje não se pode importar computadores juntamente com habilidade, criatividade, desenvolvimento cultural e conhecimento acumulado em milhares de anos: o êxodo desta vez não é somente do rural para o urbano, mas da inteligência dita emocional que sabe conjugar diversas habilidades motoras, sensitivas e criativas num lugar
comum de vivência empírica. Portanto não adianta importarmos toda uma variedade de máquinas para aprendermos algo, se a semente da inteligência emocional não estiver preparada para dar frutos. Podemos colocar uma televisão educativa numa favela, mas isso não terá muito sentido se as pessoas não tiverem motivações em suas vidas para assistirem a televisão
educativa.

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Agora, os telespectadores das tevês a cabo podem se isolar de assistir aos problemas sociais do seu país para “estrangeirizar” sua desgraça política com as de outras nações. O vulcão do Japão, tanto quanto o caso Monica Lewinsky e Bill Clinton, podem ser mais um caso social nosso do que
dos outros, e o nosso analfabetismo e nossa desnutrição infantil podem ser
mais fatos sociais dos outros do que de nós mesmos.

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Quando divulgados os fatos de repercussão nacional os mesmos são mostrados de forma pasteurizada, com informações ao gosto do olhar estrangeiro, ou seja, passa-se um pano nos dados relevantes, de modo que suas fontes nacionais sejam manipuladas de fora; sofremos portanto, hoje, a ditadura e a censura do capital estrangeiro.

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Na televisão por assinatura não se pode dizer que tudo é diferente pois, embora haja maior variedade de programações, ela é copiada
a partir de um modelo conhecido da televisão comercial.

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A televisão a cabo é hoje um cadáver perfumado da televisão comercial de ontem. Os programas da tevê convencional com a nova à cabo se misturam, e o que se copia não é só a programação com perfumaria, mas a forma de elaborar o conteúdo da caixa ideológica da programação, como a maquiagem também. Temos programas tão ruins na televisão a cabo hoje quanto tínhamos na tevê comum ontem.

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É como se a televisão convencional fosse uma loja popular, e os
canais fechados, a cabo, as boutiques de comunicação, como as dos “shopping centers”: em ambos os lugares há mercadorias para vender e vitrina para seduzir. A diferença está no público que atende, a marca (emissora, canal) e a forma de transmitir seu marketing
(entretenimento/vitrina).

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