Coisas Novas
A influência dessa mentalidade imediatista das novas tecnologias é de que tudo é vendido, tudo é comprado, e o “Baú da
Felicidade” já não é mais propriedade exclusiva do apresentador de televisão
e empresário brasileiro Sílvio Santos.
Convencem-nos a formar determinadas imagens estéticas: um exemplo é o de que o certo é cultivar a estética de ser magro, bonito e bem sucedido na vida. Dessas imagens saem as figuras vendáveis de Carla Perez,
Lair Ribeiro e “Rambo” (Sylvester Stallone).
Na novela O Rei do Gado (1997) da Rede Globo, uma sem-terra, interpretada pela atriz Patrícia
Pillar, acaba se casando com o proprietário de terras e criador de gados interpretado por Antônio Fagundes. A novela mostrou que, em vez de a sem-terra continuar no
movimento e tentar ganhar uma causa coletiva, era mais fácil pensar em si
própria e se aliar à classe dominante. Esse é o pensamento neoliberal, da
globalização e do capitalismo sem força de atrito, como relata o capítulo “Um computador em cada mesa, em cada casa” do livro de Bill Gates, ou seja, cada um no seu universo particular e não coletivo.
Outras influências das novas tecnologias dos meios de comunicação são as de, sustentar a indústria dos sonhos e da fantasia que o mercado capitalista nos dá e amplia, através do mercado eletrônico, numa comunicação aparelhada em redes.
A tela do computador, os canais das televisões a cabo, com emissoras particularmente especializadas em venda de produtos, serviços e informações estão ampliando o mercado, e o desejo de consumo também.
A máquina TV não só pode ser, como relata Giovanni Sartori, de fazer dormir, porque quando a ligamos à noite nos relaxa a ponto de fecharmos os olhos, mas também aquela que nos fez, em épocas ditatoriais, “dormir de olhos bem abertos”.
No Brasil, a televisão, oscilando entre um período criativo e um período sombrio, foi como um calmante nas massas, também; no período de
ditadura militar, atuou como remédio para fazer dormir longamente, remédio
que se perpetuou por cerca de - duros - 20 anos, mal resolvidos na mente
das pessoas até hoje, porque a ditadura passou, mas a força das imagens na cabeça das pessoas não se apaga tão simplesmente.
A democracia fica sombria e acaba quando as novas tecnologias
de comunicação “modernizam” o autoritarismo, seja nos países islâmicos e
fundamentalistas (como países árabes), ou no racismo que tinha a África do
Sul ou nos regimes ditadores como os da América Latina.
Com a descentralização do poder dentro do próprio poder político,sobra só o totalitarismo das imagens, que convencem com maior facilidade do
que o próprio poder relacionado ao governo.
Os militares envelheceram nossa mentalidade durante esses
longos anos, até deixarem caduca nossa noção de cidadania e nossa
memória e história política.
A Rede Globo soube usar essa “modernização” a seu favor no
regime militar brasileiro, e tinha recursos de sobra acrescidos por um contrato inicial com a Time-Life para investir na modernização gerencial e no
refinamento técnico.
Dentre as prioridades estratégicas dos militares estava a consolidação do vasto território e unificação dos 120 milhões de brasileiros do
censo da época. Torres de microondas foram construídas a cada 60
quilômetros, ligando as principais cidades, de forma que os sinais pudessem chegar a cada canto do país. O poder financeiro da Globo lhe dava condições de alugar a metade das ligações todo tempo
Embora vivendo em regime democrático, os meios de comunicação continuam formando uma sociedade autoritária e continuam submetidos à tutela do Estado.
Em 1969, nasceu a ARPAnet. Os militares achavam que os
Estados Unidos eram muito vulneráveis a um ataque soviético. Naquele tempo,
os computadores eram enormes trambolhos. A rede de defesa foi expandida, já nos anos 70, para os computadores das universidades e centros de pesquisa nos Estados Unidos. Mais tarde, nos anos 80, a Europa entrou em rede e, depois, o Japão. Finalmente, nos anos 90 empresas comerciais foram admitidas e a Internet ganhou, então, suas feições contemporâneas.
Em certo sentido, portanto, as novas tecnologias de comunicação servem para influenciar a redemocratização da sociedade quando quebra monopólios, mesmo que depois outros monopólios
estrangeiros ocupem o lugar. Mas temos que ver que o lugar de origem de domínio do primeiro já não é o mesmo, e pode se modificar pelo fato de não haver estagnação do mesmo poder no mesmo lugar.
No final dos anos 80 e início dos anos 90, a Globo apostava que o
futuro da tevê por assinatura estava na transmissão direta por satélite para
casa - e criou a Globosat. Na mesma época, o grupo Abril, principal
concorrente da Rede Globo na TV por assinatura no sistema de transmissão
por microondas, criou a TVA. Estudos da HBO, TV a cabo dos EUA, diz que o
Brasil tem potencial de mercado superior ao resto da América Latina e pode chegar a 7 milhões de assinantes em cinco anos. Algumas empresas, hoje em poder do Multicanal, foram negociadas por cabeças de gado.
Em julho de 1984, o Departamento Nacional deTelecomunicações (Dentel) liberou o uso das antenas parabólicas sem fins comerciais para pessoas. Daí em diante, o mito pela técnica abriu a
sociedade para adorar a “coisificação” dos equipamentos dos meios de
comunicação, daquilo que eles podem abranger na sua capacidade e
potência de imensidão e pela sua insaciabilidade de abraçar o planeta de uma vez só.
Por que brigar tanto? Talvez esta pergunta seja respondida na observação de que os homens mais poderosos do mundo hoje em dia não são os políticos, mas os homens de comunicação, que não deixam de ser políticos no sentido de influenciarem o comportamento da sociedade.
Os donos dos negócios de comunicação atualmente elegem
políticos, são eles que fazem alterações nos sistemas políticos. Em toda parte
do mundo eles colocam e tiram representantes políticos.
A professora Lúcia Santaella, em “Produção de Linguagem e
Ideologia”, nos fala do uso da ideologia dominante, mostrando que a visão
política de uma sociedade se faz pelos determinantes econômicos, e que a
construção se ergue por elementos de dominação, sendo a própria arquitetura
política um meio de poder.