Frases de Clarice Lispector de reflexão
Quando eu era pequeno pensava que de um momento para outro eu cairia para fora do mundo.
A moralidade. Seria simplório pensar que o problema moral em relação aos outros consiste em agir como se deveria agir, e o problema moral consigo mesmo é conseguir sentir o que se deveria sentir? Sou moral à medida que faço o que devo, e sinto como deveria?
Meu peito estava quente, meu coração pensativo.
– Você tem paz, Clarice?
– Nem pai nem mãe.
– Eu disse “paz”.
– Que estranho, pensei que tivesse dito “pais”. Estava pensando em minha mãe alguns segundos antes. Pensei – mamãe – e então não ouvi mais nada. Paz? Quem é que tem?
Depois que descobri em mim mesma como se pensa, nunca mais pude acreditar no pensamento dos outros.
Será que isto que estou te escrevendo é atrás do pensamento? Raciocínio é que não é. Quem for capaz de raciocinar – o que é terrivelmente difícil – que me acompanhe.
Eu fingi por orgulho que não doía, eu pensava que fingir força era o caminho nobre de um homem e o caminho da própria força. Eu pensava que a força é o material de que o mundo é feito, e era com o mesmo material que eu iria a ele.
Parecia-lhe que havia cometido um crime e que comera um anjo e, porque acreditava, eles existiam.
Se esta história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. Sentir é um fato.
Apenas isso: chove e estou vendo a chuva. Que simplicidade. Nunca pensei que o mundo e eu chegássemos a esse ponto de trigo. A chuva cai não porque está precisando de mim, e eu olho a chuva não porque preciso dela. Mas nós estamos tão juntas como a água da chuva está ligada à chuva. E eu não estou agradecendo nada.
Um meio de obter é não procurar, um meio de ter é o de não pedir e somente acreditar que o silêncio que eu creio em mim é a resposta a meu – a meu mistério.
E poucos suportam perder todas as outras ilusões. Há os que se voluntariam para o amor, pensando que o amor enriquecerá a vida pessoal. É o contrário: amor é finalmente a pobreza. Amor é não ter. Inclusive amor é a desilusão do que se pensava que era amor.
Tão difícil tomar as coisas que haviam nascido bem dentro dos outros e pensá-las.
Às vezes quase aproximava de um pensamento porém jamais o alcançava embora tudo ao redor lhe soprasse o seu começo.
Fiz da língua portuguesa a minha vida interior, o meu pensamento mais íntimo, usei-a para palavras de amor.
Todos nós que escrevemos estamos fazendo do túmulo do pensamento alguma coisa que lhe dê vida.
O mar é impossível de se acreditar. Só o imaginando é que se chega a ver sua realidade.
Escrever pensando em leitor é bobagem. Leitor não existe.
Tão poderosa que imaginava ter escolhido os caminhos antes de neles penetrar – e apenas com o pensamento.
Eu agora sei pensar em nada. Foi uma conquista. Não pensar significa o contato inexprimível com o Nada.