Clarice Lispector frases sobre Tempo

Haverá um ano em que haverá um mês, em
que haverá uma semana em que haverá um
dia em que haverá uma hora em que haverá
um minuto em que haverá um segundo
e dentro do segundo haverá o não tempo
sagrado da morte transfigurada.

Não pedi coisas demais para não confundir Deus que à meia-noite de Ano-Novo está tão ocupado.

Eu sonho acordada, mesmo como uma mocinha de quinze anos. É o que se chama de sonho estéril. Imagino conversas, imagino situações e cenas – pareço nunca ter tido nenhuma experiência.

A raiva é a minha revolta mais profunda de ser gente? Ser gente me cansa. (...)
Há dias que vivo da raiva de viver.

E todos os dias ficarei tão alegre que incomodarei os outros, o que pouco me importa, já que eu tantas vezes sou incomodada pela alegria superficial e digestiva dos outros.

Minha maior mentira todos os dias: meu sorriso.

E todos os dias ficarei tão alegre que incomodarei os outros.

À duração de minha existência dou uma significação oculta que me ultrapassa. Sou um ser concomitante: reúno em mim o tempo passado, o presente e o futuro, o tempo que lateja no tique-taque dos relógios.

Há tantos anos me perdi de vista que hesito em procurar me encontrar. Estou com medo de começar. Existir me dá às vezes tal taquicardia. Eu tenho tanto medo de ser eu. Sou tão perigoso. Me deram um nome e me alienaram de mim.

Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca.

O tempo tenta sequestrar meu sorriso, mas resisto como uma criança com medo da mãe ao ralar o joelho. Engulo o choro, para não doer mais.

Nós ainda somos moços, podemos perder algum tempo sem perder a vida inteira.

O tempo corre, o tempo é curto: preciso me apressar, mas ao mesmo tempo viver como se esta minha vida fosse eterna.

O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos.

Pois há um tempo de rosas, outro de melões, e não comereis morangos senão na época de morangos.

Se me abandonar, ainda vivo um pouco, o tempo que um passarinho fica no ar sem bater asas, depois caio, caio e morro.

– Ela é tão livre que um dia será presa.
– Presa por quê?
– Por excesso de liberdade.
– Mas essa liberdade é inocente?
– É. Até mesmo ingênua.
– Então por que a prisão?
– Porque a liberdade ofende.

Não entendo, apenas sinto. Tenho medo de um dia entender e deixar de sentir.

Oh, não se assuste muito! Às vezes a gente mata por amor, mas juro que um dia a gente esquece, juro!

Talvez a pergunta vazia fosse apenas para que um dia alguém não viesse a dizer que ela nem ao menos havia perguntado. Por falta de quem lhe respondesse ela mesma parecia se ter respondido: é assim porque é assim.