Clarice Lispector Frases de Livros
Em mim qualquer começo de pensamento esbarra logo com a testa.
(...) a mesma mansa loucura que até ontem era o meu modo sadio de caber num sistema. Terei que ter a coragem de usar um coração desprotegido e de ir falando para o nada e para o ninguém? Assim como uma criança pensa para o nada. E correr o risco de ser esmagada pelo acaso.
(...) viver é somente a altura a que posso chegar – meu único nível é viver.
(...) e nem ao menos quero que me seja explicado aquilo que para ser explicado teria que sair de si mesmo. Não quero que me seja explicado o que de novo precisaria da validação humana para ser interpretado.
Não a claridade que nasce de um desejo de beleza e moralismo, como antes mesmo sem saber eu me propunha; mas a claridade natural do que existe, e é essa claridade natural o que me aterroriza.
Embora eu saiba que o horror – o horror sou eu diante das coisas.
O óbvio é muito importante: garante certa veracidade.
Nosso inconsciente é infinito.
Mas eu quero visitas, dizia, elas me distraem da dor terrível.
Minha autocrítica a certas coisas que escrevo, por exemplo, não importa no caso se boas ou más: mas falta a elas chegar àquele ponto em que a dor se mistura à profunda alegria e a alegria chega a ser dolorosa – pois esse ponto é o aguilhão da vida.
Temos construído catedrais, e ficado do lado de fora pois as catedrais que nós mesmos construímos, tememos que sejam armadilhas.
Meu Deus, como o amor impede a morte!
Porque (...) se sendo gente eu consigo ir, por que haveria de perder essa capacidade ao me tornar mais gente?
Eu trocaria uma eternidade de depois da morte pela eternidade enquanto estou viva.
Quanto eu devia ter vivido presa para sentir-me agora mais livre somente por não recear mais a falta de estética...
Nunca soube ver sem logo precisar mais do que ver.
Estou precisando de olhar sem que a cor de meus olhos importe, preciso ficar isenta de mim para ver.
Minha pergunta, se havia, não era: “que sou”, mas “entre quais eu sou”.
Há um mau-gosto na desordem de viver. E mesmo eu nem saberia, se tivesse desejado, transformar esse passo latente em passo real.
Em mim, tudo o que eu superpusera ao inextricável de mim, provavelmente jamais chegara a abafar a atenção que, mais que atenção à vida, era o próprio processo de vida em mim.
Os regulamentos e as leis, era preciso não esquecê-los, é preciso não esquecer que sem os regulamentos e as leis também não haverá a ordem, era preciso não esquecê-los e defendê-los para me defender.