Clarice Lispector Frases de Livros
Dar a mão a alguém sempre foi o que esperei da alegria.
Aliás – descubro eu agora – eu também não faço a menor falta, e até o que escrevo um outro escreveria.
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes da pré-história havia a pré-história da pré-história e havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o quê, mas sei que o universo jamais começou.
Penso que agora terei que pedir licença para morrer um pouco. Com licença – sim? Não demoro. Obrigada.
E eis que de repente eles param e mudos, graves, espantados se olham nos olhos: é que eles sabiam que um dia iriam amar.
A raiva é a minha revolta mais profunda de ser gente? Ser gente me cansa. (...)
Há dias que vivo da raiva de viver.
O amor já está, está sempre. Falta apenas o golpe da graça – que se chama paixão.
Fotografia é o retrato de um côncavo, de uma falta, de uma ausência?
Quando penso no que já vivi me parece que fui deixando meus corpos pelos caminhos.
Nada jamais fora tão acordado como seu corpo sem transpiração e seus olhos-diamantes, e de vibração parada.
E o Deus? Não. Nem mesmo a angústia. O peito vazio, sem contração. Não havia grito.
Ela sentia falta de encontrar-se consigo mesma e sofrer um pouco é um encontro.
Desconfortável. Não me sinto bem. Não sei o que é que há. Mas alguma coisa está errada e dá mal-estar. No entanto estou sendo franca e meu jogo é limpo. Abro o jogo. Só não conto os fatos de minha vida: sou secreta por natureza.
Criava as mais falsas dificuldades para aquela coisa clandestina que era a felicidade.
Se uma pessoa perguntar durante meia hora a palavra "eu", essa pessoa se esquece quem é. Outras podem enlouquecer. É mais seguro não fazer jamais perguntas – porque nunca se atinge o âmago de uma resposta. E porque a resposta traz em si outra pergunta.
Observo em mim mesma as mudanças de estação: eu claramente mudo com elas.
A vida não é de se brincar porque em pleno dia se morre.
O medo me leva ao perigo. E tudo que eu amo é arriscado.
O óbvio é a verdade mais difícil de se enxergar.
Dá-me a tua mão desconhecida, que a vida está me doendo, e não sei como falar – a realidade é delicada demais, só a realidade é delicada, minha irrealidade e minha imaginação são mais pesadas.
Só uma coisa a favor de mim eu posso dizer: nunca feri de propósito. E também me dói quando percebo que feri. Mas tantos defeitos tenho. Sou inquieta, ciumenta, áspera, desesperançosa. Embora amor dentro de mim eu tenha.