Frases sobre Educação Escolar
COMPREENSÃO,INSTRUMENTO DA PEDAGOGIA
O filme inglês Iris (EUA, 2002), dirigido por Richard Eyre, aborda uma das mais importantes qualidades do caráter: a compreensão. Esta é uma palavra utilizada para determinar a capacidade de perceber completamente, com perfeito domínio intelectual, uma pessoa, uma coisa ou um assunto. Mas compreensão também significa a faculdade de possuir um espírito de complacência, indulgência ou simpatia para com as dificuldades de uma pessoa, percebendo os obstáculos que venham a suceder com alguém. A compreensão ajuda a conviver melhor.
Quantos casos há de alunos que desistem por fatores externos à sala de aula. Tantas razões existem e são desconhecidas para que um aluno não consiga aprender. Bloqueios que nascem de uma educação castradora ou sem afeto. Medo de errar, medo de não ter inteligência, medo de ser rejeitado, medo de não dar certo. O educador compreensivo conhece seu aluno para ajudá-lo. Pais compreensivos compreendem as diferenças entre os filhos e aceitam os caminhos que cada um opta trilhar segundo os impulsos das escolhas nascidas da reflexão. Talvez o que possam fazer é ajudar a refletir. Pais compreensivos não exigem que os filhos vivam os sonhos não realizados por eles. A projeção da felicidade não é felicidade. Daí a assertiva sartreana de que "o inferno são os outros", isto porque cada um projeta no outro a própria realização. E o resultado será a infelicidade para toda a gente.
Professores compreensivos conseguem entender que a aprendizagem é múltipla, e que cada um aprende de uma forma diversa. E mais: têm a humildade de mudar a estratégia para que os alunos que estejam à margem, por qualquer motivo, sintam-se integrados.
A compreensão faz com que casais que se educam mutuamente entendam que príncipes e princesas existem na ficção e alimentam os sonhos, mas que, na prática, são todos mortais, com as imperfeições e as idiossincrasias que marcam o ser humano. Imperfeições que desafiam. Os compreensivos se completam e por isso se respeitam e conseguem conviver em harmonia.
ESCOLA POSSÍVEL
Vinda de uma instituição aberta para receber crianças, jovens e adultos necessitados de apoio e de autoconfiança para descobrir seus talentos, a escola que estamos construindo não é mera transmissora de informações. O Programa Escola da Família - que abre a unidade escolar todos os fins de semana para a comunidade e que completou dois anos - surgiu para mostrar que isso é possível. Já se podem verificar alterações expressivas na comunidade escolar e, por extensão, na sociedade. Dentre elas, a redução da evasão escolar no estado de São Paulo: da 1 à 4 série - Ciclo I do Ensino Fundamental - 0,7%, o índice mais baixo do Brasil; o número de adolescentes e adultos que freqüenta o Programa de Educação de Jovens e Adultos (EJA) que, no Ensino Médio, passou de 30 mil alunos, em 1995, para 481 mil, em 2005. A qualidade da educação, como um todo, tem recebido pareceres muito favoráveis. É o que mostram os resultados do Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) e do Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp). Para além da educação, os índices de violência registrados nas escolas e vizinhanças caíram em até 81%. Acreditamos que devemos tudo isso à apreensão do conceito de pertencimento por parte da população. Em outras palavras: a escola é da comunidade e a comunidade tem de se apropriar dela. E é essencial que todos caminhem nessa direção: pais, professores, diretores, funcionários, voluntários, jovens universitários que têm a possibilidade de estudar, como bolsistas, e trabalhar como monitores do programa. É desse modo que a educação dá a sua resposta à crise de valores que enfrentamos. Não pode ser diferente quando há o respaldo de um governante que elege a educação como prioridade - o que exige muito mais recursos do que discursos.
Publicado no jornal O Globo
ENSINO FUNDAMENTAL
Em grande parte do país, por exemplo, os alunos permanecem menos de 4 horas por dia na escola. Se aumentássemos o tempo dos aprendizes no ambiente escolar, certamente o processo de aquisição de conhecimento e desenvolvimento de habilidades seria mais explorado e melhor aproveitado por professores e alunos. Além disso, esse período mais extenso nas salas de aula representaria 1 ou 2 anos a mais de escolaridade. Isso significa maior contato com professores, bibliotecas, laboratórios, espaços esportivos e culturais. Na rede estadual de ensino de São Paulo, os alunos têm seis horas/aula por dia, o que equivale a 30 horas semanais. Já o ensino fundamental tem um total de 27 horas/aula por semana. Isto repercute - juntamente com outros fatores - em ganhos positivos no que diz respeito ao aumento de conteúdo adquirido e no maior desenvolvimento de competências. Os jovens têm a oportunidade de ler mais, ampliar seu poder de argumentação, sua capacidade de reflexão, seu pensamento lógico, sua sensibilidade. Tudo isso pelo fato de poderem estabelecer vínculos mais estreitos com professores, livros, debates, discussões, programas e projetos que instigam a criatividade e o talento. Um outro aspecto interessante é a universalização da educação infantil, que compreende alunos na faixa etária dos 4 aos 6 anos. Uma vez alcançada essa meta, não há porque se falar em ampliação do ensino fundamental. Até porque o aluno ficará 3 anos na educação infantil, 8 anos no ensino fundamental e 3 anos no ensino médio - tempo suficiente para prepará-lo para novos vôos. Tendo garantido esse acesso, resta unir esforços em torno da qualidade que depende de investimento, valorização do magistério, formação continuada dos docentes. O Governo do estado elegeu a educação como uma de suas prioridades. Como diz o governador Geraldo Alckmin: "Prioridade não pode ser discurso. Tem de ser recurso". Prova disso é que são investidos mais de R$ 100 milhões todos os anos em capacitação de professores. Além disso, até o final do ano, 100% das escolas estaduais terão laboratórios de informática. Essas são apenas algumas medidas que podem fazer a diferença. Todos somos talentosos, mas é preciso que a vida nos propicie oportunidades para desenvolver numerosas habilidades. Caso contrário, corremos o risco de passar longe do jogo social, perdendo a chance de ser navegadores e desbravadores para permanecer à margem, fitando, absortos, o curso do rio. Perderemos a chance de apreciar a beleza da travessia.
Publicado no Diário de S. Paulo
FILOSOFIA NO CURRÍCULO ESCOLAR
Muitos foram os debates, questionamentos, textos e diálogos relativos à importância da Filosofia como instrumento capaz de auxiliar o indivíduo em sua formação integral. Formação ampliada pelo exercício ininterrupto do pensamento, da análise e da reflexão proporcionadas por aquela que pode ser vista como a mãe de todas as ciências. Um verdadeiro portal por onde irrompem os raios luminosos da consciência criativa, do exercício de cidadania, da paixão pelo saber. É possível estudar Filosofia por meio de múltiplas formas e caminhos. Pelo caminho histórico, que passa pela Grécia Antiga, pelo teocentrismo medieval, pelos ousados pensadores renascentistas e modernos e, por fim, por intermédio da investigação dos problemas do mundo contemporâneo e da complexidade da chamada Era Pós-Moderna. Também é possível estudá-la por temas. Lembremos que a Filosofia percorre as sendas da lógica, da ética, da estética, da política, da física e da metafísica. Ela nos permite uma compreensão mais ampla sobre o belo e seus significados, encontrados amiúde nas esculturas, pinturas, peças teatrais, poesias e músicas. Da mesma forma, é uma ciência que aumenta nosso campo de visão em relação à difícil - mas ao mesmo tempo instigante - arte da convivência em sociedade. Também nos ensina sobre a solidão, sobre os meandros do nosso próprio "eu" e sobre o modo como devemos estar inseridos no "nós". O "nós" que configura as relações com o outro e com o mundo em que vivemos. É a Filosofia quem nos convida, ainda, a um entendimento menos superficial a respeito da moral, da ética e do modo como transitamos entre os conjuntos de regras, condutas ou padrões sociais. É também ela que lança luzes sobre o indivíduo, a sociedade e as diversas maneiras em que ocorre a profícua interação entre um e outro. Na Filosofia se originam e se apóiam, ainda, as discussões de poder e de Estado, bem como os fundamentos ideológicos que definem a vida e as obras de governantes e governados. A proliferação ininterrupta dos veículos de comunicação de massa tornou possível, ainda, estudar Filosofia pelos textos e intertextos de artigos e reportagens de jornais e revistas, bem como pelos programas televisivos e filmes representativos da sétima arte. Textos e imagens que trazem em seu cerne informações que propiciam a contextualização e o diálogo intercambiante das várias facetas do conhecimento. Facetas que se mesclam a ponto de poderem ser traduzidas - e percebidas - apenas por aqueles cujo discernimento e capacidade crítica foram devidamente estimulados ao longo de sua trajetória educacional, de sua formação cultural. O mundo é uma grande escola. E o aprendizado não pode ficar restrito à sala de aula. Quanto mais aberto for o horizonte do aprendiz, mais saboroso será o tempo que haverá de envolvê-lo no exame minucioso de temas essenciais às gerações vindouras. Ao instituir o aumento da carga horária no Ensino Médio e ao incluir a Filosofia como disciplina obrigatória no currículo (depois de uma ampla consulta à rede pública), o governador Geraldo Alckmin mostra que está em sintonia com as necessidades mais prementes da História. Mostra, ainda, que a educação prossegue sendo uma de suas prioridades. É importante ressaltar que a inserção da Filosofia no currículo escolar é um passo a mais... Um passo que vem complementar a valorização da arte e também da prática esportiva nas escolas, ocorridas após as mudanças positivas implementadas na disciplina de Educação Física. Mudanças que trazem o respaldo milenar dos filósofos gregos. Sábios educadores que diziam que sem esporte e sem arte não se forma um cidadão. Acreditamos que não se pode negligenciar a formação dos jovens. Não se pode permitir que sejam utilizados como massa de manobra. Muito ao contrário: cabe a nós, educadores, auxiliá-los na construção de sua autonomia, ensinando-os a caminhar com pés próprios, e demonstrar, por meio de exemplos, que é necessário valorizar os sonhos e ter coragem para realizá-los. Por tudo isso, aos professores que trabalharão com Filosofia na rede estadual de ensino deixamos aqui o nosso respeito e a certeza de que atuarão não apenas como facilitadores desse conhecimento, mas como instigadores, problematizadores, semeadores de idéias. Mestres que, temos certeza, já sabem que é o respeito às múltiplas opiniões e olhares que talha os jovens para a aventura da vida. A nau do conhecimento precisa de timoneiros aptos a executar viagens determinantes ao progresso, ao avanço, às descobertas. Condutores que sejam companheiros, corajosos e afetivos. Que a Filosofia nos sirva de norte nessa jornada. Uma boa viagem a todos!
Publicado no jornal Correio Popular
MENSAGEM PARA O MAGISTÉRIO
A função mais importante do professor é gerenciar sonhos. Mas nesse mister a amplitude da tarefa é maior que isso: instigar obreiros, fazedores, estimular a inspiração que leva ao domínio do sonhar e do realizar. Iniciativas em torno desse conceito é que constituem os elementos essenciais para o aprendizado, e que levam a criança e o jovem a aprender a ser, a conviver, a conhecer, a fazer. São atitudes que permeiam todas as tradicionais disciplinas, porque o aluno não pode ser um repetidor de fórmulas decoradas. Tem que ser um cidadão, um humanista. Por isso, o ato de ensinar requer um grande respeito pelos jovens, pelos seus desejos e pelas suas expectativas. Até porque essas crianças e adolescentes não são nossos filhos, como pontificou o grande poeta Khalil Gibran, mas são "os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma". Para concretizar essa compreensão do universo do magistério, os professores têm, de seu lado, a vocação e a dedicação, e pelo lado da instituição estadual, o apoio que merecem para serem os viabilizadores da vivência ensino-aprendizagem. A capacitação é prioridade. Porque o professor quer e precisa estar atualizado para levar a efeito a nobre tarefa do magistério. Ferramentas importantíssimas para a capacitação de professores foram disponibilizadas. Entre os professores efetivos, não há um sequer sem diploma universitário ou em vias de obtê-lo. Os quase 7.000 que ainda não tinham cursado universidade já receberam esse benefício do Estado, que agora auxilia também as Prefeituras municipais a darem a mesma formação aos seus professores. Dando mais um passo, o governador Geraldo Alckmin autorizou a concessão de bolsa mestrado para inicialmente 2.000 professores da rede pública estadual. É a concretização do sonho da evolução na carreira acadêmica. A Rede do Saber, pólo de divulgação de conhecimento em total sintonia com a era informacional, tem em funcionamento 104 centros de capacitação de videoconferência, e impressiona por sua produtividade e modernidade. A Teia do Saber e os cursos presenciais asseguram o direito indistinto e democrático de todos os professores de se capacitarem. E além disso, já é grande o grupo de professores estudando em outros países, em universidades parceiras. Só o Banco Santander Banespa está enviando mais de 100 professores para um estágio orientado na Universidade de Salamanca. São iniciativas que propiciam a professores que jamais saíram de sua microrregião natal a oportunidade de vivenciar outras realidades, experienciar outras culturas, tomar contato com avanços tecnológicos e didáticos que serão úteis no seu cotidiano profissional e na sua vida pessoal. E que professor não se tornará melhor quando aprimora o seu conhecimento, a sua sensibilidade para as coisas do mundo e a sua capacidade de compreender? O concurso público para quase 50.000 cargos foi mais um progresso na melhoria da carreira pública. E, recentemente, a aprovação de alterações da Lei Complementar 836, que instituiu o plano de carreira, vencimentos e salários para os integrantes do Quadro do Magistério da Secretaria da Educação, reajustando o salário de todos os professores e funcionários. Nesse universo estão incluídos os aposentados, um grupo de profissionais que hoje repousa da faina diária, mas que durante anos e anos prestou à sociedade o imprescindível serviço de estimular sonhos e de promover realizações. Já que o futuro começa hoje, o professor também quer e precisa ter qualidade de vida. Que se traduz em mais segurança nas escolas, com o programa de segurança escolar. E que se traduz na grande revolução educacional desta gestão, que é o Programa Escola da Família. Locais onde antes nada existia contam agora com a escola como grande centro comunitário de atividades sociais, artísticas e culturais. A comunidade foi para a escola, para todas as 5.306 escolas, como deve ser, e passou a acompanhar os seus filhos e filhas, e a fazer parte do dia-a-dia pedagógico dessas crianças e desses jovens, praticando e exercendo a cidadania nos espaços escolares, transformados em centros de convivência. Esse conjunto de iniciativas mostra o que podemos celebrar neste dia 15 de outubro. Mas, certamente, quem tem mais a celebrar são os alunos, filhos e filhas da ânsia da vida por si mesma, e que através de nós, professores, se lançam como flechas rumo ao infinito. Com certeza toda a comunidade está agradecendo aos professores pelo respeito e pela dedicação que seus filhos recebem, e cujos frutos serão colhidos ao longo de toda a vida. A vocês, queridos professores, mestres na arte de amar, regentes de orquestras em busca de afinação, condutores de sonhos, está endereçada esta mensagem. Vocês são os realizadores. Merecem, portanto, todo o nosso carinho, nesse dia em que o milagre do aprendizado resplandece nas milhares de salas de aula, como em cada manhã.
Publicado no jornal Folha de S. Paulo
Nova Febem: educação, recuperação e liberdade
" (...) Liberdade - essa palavra que o sonho humano alimenta:/que não há ninguém que explique,/ e ninguém que não entenda!/". Esses belíssimos versos extraídos do Romanceiro da Inconfidência, de Cecília Meireles, são perfeitos para ilustrar o novo conceito de recuperação de adolescentes em conflito com a lei atendidos pela Febem. Trata-se de uma proposta ousada, moderna, fundamentada na expansão de unidades de semiliberdade, administradas pelo Governo do Estado, em parceria com entidades não-governamentais, dando início a um sistema de co-gestão. Um exemplo disso é a recente inauguração do Espaço Educacional Profissionalizante da Febem, que já está funcionando desde o último dia 15, no prédio do antigo presídio do Hipódromo. Nessa unidade caberão à Febem as atribuições pertinentes ao Estado: dirigir e supervisionar todo o funcionamento de contenção dos adolescentes. Já a organização parceira da entidade, o Instituto Mamãe - Associação de Assistência à Criança Santamarense, contará com o apoio de um conselho gestor e irá desenvolver as atividades pedagógicas voltadas à ressocialização do jovem. O novo prédio tem capacidade para atender, inicialmente, 200 alunos. Para o segundo semestre, a previsão é ampliar esse número, de modo que 400 adolescentes tenham acesso aos benefícios do Espaço Educacional. É preciso ressaltar que os primeiros 40 aprendizes serão escolhidos dentro da Unidade de Semiliberdade Inicial, que abriga adolescentes que nunca haviam passado pela Febem e que receberam a semiliberdade como primeira medida determinada pelo Judiciário. A principal diferença entre essa unidade e as demais é que o adolescente receberá um atendimento ainda mais completo, sob a forma de aulas do ensino regulamentar (Fundamental e Médio) e também dos cursos profissionalizantes - panificação, estética, manutenção de computadores, gráfica -, perfazendo oito horas de estudos, no período diurno. Ao final do dia, os estudantes devem retornar para casa. Nas outras unidades de semiliberdade, o processo ocorre de forma inversa. Os jovens ficam fora o dia todo para trabalhar e estudar e retornam para a Febem à noite. Outra novidade capaz de revolucionar positivamente a vida desses jovens diz respeito à Orientação do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), instituição que irá propiciar aos adolescentes ensinamentos e informações indispensáveis sobre empreendedorismo e visão de negócios, qualificações oportunas à juventude do século XXI. O projeto encerra, ainda, outro aspecto inovador e essencial à ressocialização desses meninos: todos poderão prestar serviços à comunidade local, vendendo pães e consertando aparelhos eletrônicos a um custo bem menor do que aquele oferecido pelo mercado. Estamos convictos de que os adolescentes podem ser totalmente recuperados, desde que recebam oportunidades concretas de aprendizado, crescimento e desenvolvimento de seus talentos, habilidades e competências. A cada dia, os profissionais da Secretaria de Estado da Educação e das unidades da Febem se surpreendem com a determinação e a vontade de superar limites demonstradas por esses adolescentes nas oficinas pedagógicas, profissionalizantes e culturais que acontecem de forma simultânea em todas as nossas unidades. Que esses jovens do Espaço Educacional e Profissionalizante também nos surpreendam, da mesma forma que as moças e rapazes de outras unidades da Febem. Adolescentes que mudaram o rumo da sua história e que, por isso mesmo, já têm emprego garantido em grandes empresas e instituições como o Empório Ravioli, o Mc Donald's, o Mister Sheik, o COC e a própria Secretaria de Estado da Educação. Jovens que despertaram para a arte e que nos comovem em suas apresentações de canto, teatro e música instrumental Nossa proposta inovadora tem o aval do mestre Anísio Teixeira, que em seu texto Por Que Escola Nova? sabiamente afirmou: "À medida que formos mais livres, que abrangermos em nosso coração e em nossa inteligência mais coisas, que ganharmos critérios mais finos de compreensão, nessa medida nos sentiremos maiores e mais felizes. A finalidade da educação se confunde com a finalidade da vida". Esse é o lema que norteia o novo conceito da Febem. E você é nosso convidado para conhecer as unidades, assistir às apresentações dos aprendizes e, principalmente, compartilhar do sonho de construir, pedra por pedra, as bases da fundação dessa nova geração. Uma geração composta por seres humanos que, um dia, erraram - como todos nós erramos -, mas que souberam fazer disso uma grande lição e uma ponte para a conquista da dignidade.
Publicado no Jornal da Tarde
Um aprendizado contínuo
"Digo: o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia". A frase magistral, extraída da obra Grande Sertão: Veredas, do mestre João Guimarães Rosa, encerra uma série de conceitos, idéias e sugestões capazes de nos arrebatar por dias seguidos, tamanho o seu impacto e a sua densidade. Como quase tudo que o autor de Sagarana escreveu, ela exerce nos leitores um fascínio quase hipnótico, justamente porque representa uma síntese rara que une poesia e filosofia, convidando-nos à reflexão e também à apreciação estética. Ela nos leva a pensar sobre as experiências que vamos acumulando durante a vida e o modo como elas ajudam a moldar nosso caráter, nossa personalidade, nosso jeito singular de ser, de existir no mundo. Nossa convergência ou divergência dos valores, da ética, da moral. Guimarães Rosa parecia mesmo possuir a chave que abre a porta dos mais diversos mistérios que regem a aventura humana. Não foi à toa que, quando de sua morte, o poeta Carlos Drummond de Andrade escreveu para ele o poema "Um chamado João", em que, de forma sábia, questionava a melhor maneira de definir o criador de Riobaldo e Diadorim: "Embaixador do reino/ que há por trás dos reinos,/dos poderes, das/ supostas fórmulas/ do abracadabra, sésamo?/". O poeta de Itabira acertara mais uma vez. Assim como ele próprio o era, há artistas, escritores e pensadores que nos instigam, com suas obras, a encontrar o caminho do meio-termo, do equilíbrio entre a razão e a emoção. Um caminho que nos leva a apreender a magia do real. Um real muitas vezes invadido, enriquecido e incrementado pelas vias do imaginário. Esse imaginário tomado pela percepção aguçada que adquirimos por intermédio de suas histórias, de sua lógica primorosa, de seus sentimentos, de suas emoções. A leitura e o conhecimento são, por assim dizer, as pedras fundamentais das construções que originamos em nossa passagem na Terra. Ambos nos possibilitam, ainda, integrar os mais variados rincões espácio-temporais. Sentimos, por exemplo, um gosto doce de eternidade quando lemos estes versos de "Evocação ao Recife", de Manuel Bandeira: "Recife... /Rua da União.../ A casa de meu avô.../ Nunca pensei que ela acabasse!/Tudo lá parecia impregnado de eternidade/ Recife.../. Rosa, Drummond e Bandeira nos mostram que os grandes artistas e pensadores nos capacitam para uma jornada que mescla as lembranças do passado e a compreensão do presente, perfazendo vias que, comumente, podem nos transportar às paisagens tão sonhadas para o nosso futuro. Três tempos que, juntos, propiciam descobertas fantásticas. O conhecimento que transmitem por intermédio de seus textos e de sua arte nos impulsiona a seguir veredas especiais e a sair das cavernas escuras da ignorância. Foi assim, também, com os filósofos gregos, dentre eles, Aristóteles, que no livro Ética a Nicômaco desenvolveu um verdadeiro tratado sobre a arte do bem-viver. A obra do preceptor de Alexandre, o Grande, foi escrita especialmente para mostrar a Nicômaco, filho de Aristóteles, as direções mais adequadas a tomar para uma vida pautada pela ética, sustentada pela tolerância, pelo respeito aos seus semelhantes, pelo cultivo da amizade e do amor. Escrito há mais de dois mil anos, o texto é cada vez mais atual e necessário. Neste início de século XXI, seria maravilhoso se todos tivessem a oportunidade de se debruçar sobre essa obra magnânima. Foi pensando nisso que apostamos na idéia de realizar trabalhos que divulguem e propaguem idéias fundamentadas nesse livro de Aristóteles, utilizando, no entanto, linguagens e exemplos mais próximos da nossa realidade. É nossa esperança contribuir para que todos, principalmente os mais jovens, despertem para a apreciação de textos mais reflexivos e para a leitura de temas relevantes. Trata-se de uma tentativa de traduzir de forma mais contemporânea os caminhos inicialmente indicados por Aristóteles para a felicidade, para a prática do bem, para o apego à justiça e à sua propagação, para as atitudes moderadas, para a sapiência em concretizar as melhores escolhas, em conhecer e praticar as virtudes mais nobres, em valer-se da razão e do coração, em cultivar o amor e, principalmente, ser feliz. Sabemos que não existem fórmulas prontas ou tampouco mapas que apontem o passo a passo para a edificação de uma vida digna e honrada. Entretanto, temos convicção de que o conhecimento é o único passaporte capaz de levar as pessoas a uma postura verdadeiramente ética e a atitudes condizentes com as sugestões do filósofo grego, que dizia: "Toda a arte e toda a indagação, assim como toda ação e todo o propósito, visam a algum bem". Esse é o nosso maior desejo: fazer o bem para os que buscam compreender um pouco mais sobre o seu norte e sobre as bússolas que podem conduzi-los pelo grande Sertão que é a vida. Acreditamos na grandeza dessa jornada, sobretudo porque temos o respaldo do mestre Rosa, embaixador de todos os reinos, quando afirmou, pela boca da personagem Riobaldo: "Sertão. Sabe o senhor: sertão é onde o pensamento da gente se forma mais forte do que o poder do lugar (...) O sertão é do tamanho do mundo". Que o nosso mundo e as nossas fronteiras possam se expandir, sempre, pela estrada verdejante da ética.
Publicado no Jornal do Commercio
Por uma educação poética
Em seu poema "Belo Belo", publicado na obra Lira dos cinqüent'anos, o poeta Manuel Bandeira dispara: "Não quero amar,/Não quero ser amado./Não quero combater,/Não quero ser soldado/. - Quero a delícia de poder sentir as coisas mais simples/. Por meio do discurso dessa autoridade incontestável da seara das letras, impregnado de uma sabedoria que a maioria de nós busca alcançar, nos sentimos propensos a refletir sobre a grandeza existente nas coisas singelas e a forma como elas conduzem nossos corações e mentes para o caminho do que é realmente importante à existência humana. Possibilitar essa visão apurada da vida é contribuir para o entendimento de que a felicidade é composta pelas ações e sensações presentes nas coisas mais corriqueiras. Esse aprendizado deve ser, ou pelo menos deveria, um dos objetivos primeiros da educação. Nas disciplinas do currículo regular, na abordagem dos temas transversais, nas numerosas atividades que devem configurar o ano letivo das escolas - semanas culturais, gincanas, passeios, comemorações cívicas -, é necessário que os educadores propiciem aos seus aprendizes a consciência do que é o bem, o bom e o belo. Até porque essa tríade, capaz de dotar o espírito e a mente humana do viço e da energia essenciais à edificação de ideais nobres, cria um círculo virtuoso fundamental à convivência social pacífica, ao desenvolvimento do caráter ético e ao fortalecimento de valores como: honestidade, lealdade, respeito, civilidade, fraternidade, solidariedade e senso de justiça. Essas e tantas outras percepções e virtudes provêm do aprendizado adquirido na família e também das influências recebidas pelo meio. É aí que entra o papel da escola e o trabalho sensível dos educadores. Mestres são também maestros. Regentes cuja missão é ensinar aos músicos/aprendizes a ler as partituras da vida equilibrando razão e emoção, competência técnica e amor. Para isso, há que se despertar os educandos para o singelo, para a verdade e para a beleza essencial de todas as coisas. Em seus versos irretocáveis, Manuel Bandeira sintetiza parte dos conceitos filosóficos descritos por Platão a respeito do belo, tanto em seu texto Fedro, quanto em República. No primeiro, o filósofo nos diz: " (...) na beleza e no amor que ela suscita, o homem encontra o ponto de partida para a recordação ou a contemplação das substâncias ideais". Já em sua República, Platão compara o bem ao Sol, que dá aos objetos não apenas a possibilidade de serem vistos, como também a de serem gerados, de crescerem e de nutrir-se. O pensamento filosófico e a poesia não oferecem mapas ou guias para a felicidade. Muito melhor do que isso, apontam caminhos para que possamos ter o prazer de encontrá-la pelos nossos próprios esforços. Assim deve ocorrer também com a educação, cujo compromisso maior precisa ser o de proporcionar escolhas, opções de rota, além de fornecer aos seres em formação os instrumentos básicos para as suas jornadas pessoais. Mestres e aprendizes têm de compartilhar a fascinante aventura da troca e da descoberta, de modo que, juntos, ampliem a capacidade de olhar as paisagens da vida com os olhos de ver... Carlos Drummond de Andrade - outro mestre sagrado da poesia - já falava sobre isso em seu belíssimo poema "A flor e a náusea", do livro A rosa do povo: "Uma flor nasceu na rua!/(...)Uma flor ainda desbotada/ilude a polícia, rompe o asfalto./Façam completo silêncio, paralisem os negócios,/garanto que uma flor nasceu./(...)É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o ódio/." Essa visão privilegiada dos poeta, dos grandes visionários e filósofos tem de estar no cerne das propostas educacionais. Seja nas instituições de ensino superior, seja nas escolas da rede pública ou privada, nos colégios da periferia, quiosques, cabanas e ocas em que a educação transcende as carências de infra-estrutura física e material e se dá por meio do altruísmo de milhares de mestres que habitam os mais variados rincões do País.... É preciso utilizar uma pedagogia que revele o bom, o bem e o belo em sua essência primeva. No ensaio "Inquietudes na poesia de Drummond", do livro Vários Escritos, o professor Antonio Candido discorre sobre o que chama de "função redentora da poesia". É esse o alerta e o norte necessário à educação de excelência. No dia-a-dia da sala de aula, no vaivém do processo ensino-aprendizagem, no ritmo alucinante da busca pelo saber, é necessário encontrar um tempo para ler, reler e resgatar, enfim, os dizeres dos grandes filósofos e poetas, de modo que possamos nos educar e educar aos demais para olhar o asfalto e, ainda assim, poder enxergar a flor.
Publicado na Folha de S. Paulo
Educar é um ato de coragem e afeto
Desde as mais remotas civilizações, a convivência social foi um grande desafio. Mulheres e homens, crianças e velhos, cada um à sua maneira tentou ao longo dos tempos percorrer os caminhos da sabedoria para encontrar a tão sonhada felicidade. O ser humano é social, não vive sem o outro e, sem o outro, não consegue ser feliz. Nesse instigante espectro, podemos reconhecer a grandeza divina - somos mais de cinco bilhões de pessoas, e somos únicos. Não há duas pessoas iguais. Sonhos, medos, alegrias, desesperanças... Vida. Nesse mosaico fascinante é que se percebe a importância e a grandeza da arte de educar. Educar é um ato de cumplicidade, de troca, de amor. Educar é ato de vida, o caminho e o encontro da felicidade. Educar é arquitetar e construir o futuro, é o abnegado ofício de plantar e colher. O grande desafio da sociedade contemporânea está aí: educar! Garantir, pelo conhecimento, a liberdade e o desenvolvimento dos povos. O problema econômico mundial passa pela educação. Povo educado tem mais higiene, consequentemente mais saúde. Povo educado trabalha melhor, portanto tem mais produtividade. Ou seja, com bons níveis educacionais se gasta menos, se ganha mais. É comum termos contato com relevantes dados do mundo informacional, a revolução tecnológica, o progresso científico, os avanços da engenharia genética e outras espetaculares façanhas conquistadas pela mente humana. A máquina alcançou patamares impressionantes, é verdade. Entretanto, o ser humano chegou ao macro e ao microcosmos, mas, não chegou ao essencial. Se as viagens entre países e continentes ficaram mais rápidas e seguras, a viagem ao interior humano ainda é penosa, complexa e rara. Em pleno Século XXI ainda se fala em discriminação, preconceito, isolamento racial, social, econômico. Na vivência da era digital, ficção literária e cinematográfica, a violência não cedeu espaços à paz, a tão desejada paz entre mulheres e homens. Assim, podemos afirmar que a educação é um ato de coragem e afeto. Coragem, porque não será a máquina ou o computador que substituirão o maestro da orquestra, o regente do processo de saber, a essência da educação: o professor. Nesse contexto, a educação torna-se ainda mais importante. Afeto, porque educar é um ato de amor ao próximo e a si mesmo. Quem educa não apenas ensina como, permanentemente, aprende. Crescem ambos os que estão envolvidos nesse diálogo, o mestre e o aprendiz. Porque se confundem na mesma pessoa, na troca de conhecimento. Na evolução pelo saber. No equilíbrio do amar e ser amado, do dar e receber. No universo cada vez mais competitivo que ora vivemos, coube à escola também acumular a tarefa da educação como forma de preparar para a vida, como um todo. Construir homens e mulheres capazes de não apenas viver, mas, principalmente, entender a vida e participar dela de forma intensa. Gente que, pelo saber, exerça a liberdade com responsabilidade e saiba defender os seus direitos; verdadeiros cidadãos. Por tudo isso, o papel do professor tornou-se ainda mais importante. O ato de ensinar, de aprender e, junto com os alunos, descobrir novos e maiores horizontes passou a exigir ainda maior empenho e dedicação. No mundo globalizado, para que o professor consiga cumprir o seu compromisso de preparar de forma ampla para a vida cada um de seus alunos, é preciso ter em mente mais do que um bom projeto pedagógico, um bom aparato didático - é indispensável ter coragem e dar afeto. Nesse sentido, mais do que nunca, faz-se indispensável a valorização do professor. É primordial que, além da consistente formação acadêmica e prática, o professor possa ter acesso a constantes programas de atualização e desenvolvimento profissional, participe do projeto de educação do qual será o agente e, claro, seja remunerado com dignidade e tratado com respeito. O aprendizado transcende os muros da escola, ultrapassa os limites dos graus de formação, é necessidade constante de todos, professores e alunos, dentro e fora da instituição. Eis o grande desafio da sociedade e dos governos: desenvolver uma Educação substantiva. A escola deve ser um espaço sagrado, no qual a convivência seja prazerosa. É o sonho e a realidade que se misturam na nobre missão de construir uma sociedade iluminada. A revolução da Educação é a revolução da humanidade. Colheita de uma semeadura corajosa e competente. Luz que poderá fazer germinar uma geração sem preconceitos e discriminações; com menos violência e apatia. A revelação do melhor, a essência do bem, o encontro da felicidade.
Publicado no Jornal A Tribuna - Santos
O poder de fogo da educação
Algumas palavras têm o poder de trazer consigo uma imensa carga de sentimentos, emoções, expectativas, sonhos, desejos e quereres. São, a um só tempo, misto de poesia, de filosofia, de arte... Expressá-las e professá-las pode significar a mudança, a transformação, a transcendência. A junção de suas sílabas tem uma força capaz de mudar o mundo e, em casos extremos, funciona como um artifício bélico do bem, utilizado pelos desbravadores de novos tempos e pelos descobridores de novos caminhos. São armas que injetam ânimo, coragem, sensibilidade, talento. Dessa forma, podemos definir o amplo leque de sentidos e potencialidades da palavra educação, cuja beleza está em desvendar novos amanhãs e promissores horizontes. A todos nós, educadores, foi concedida a oportunidade de contribuir para promovê-la, transmitindo e propagando o desejo pelo conhecimento. Colaboramos para a criação de realidades mais belas e mais condizentes com os nossos sonhos. Faz parte da natureza humana querer sempre o melhor. Buscar a evolução, o desafio, a superação de limites. Façanhas impossíveis sem a educação como fundamento e passaporte. Ciente da grandiosidade dessa missão e de tudo o que ela pode proporcionar, o governo do Estado de São Paulo, por meio da Secretaria de Estado da Educação, tem trabalhado para fazer da rede estadual de ensino uma ponte capaz de levar nossos 6 milhões de alunos à aquisição de saberes, de competências e de habilidades capazes de torná-los cidadãos críticos e conscientes, aptos à construção de um futuro erguido sobre os pilares da infinita capacidade humana (que deve ser desenvolvida, incentivada e constantemente aguçada). Nossos programas, projetos e ações têm o objetivo primeiro de despertar mentes e corações para o prazer do aprendizado, da revelação, da epifania que caracterizam o fascinante processo da descoberta. Está sob nossa responsabilidade formar atores sociais talentosos, com maturidade intelectual e emocional suficiente para alcançar não apenas o sucesso profissional, mas a felicidade plena, em todos os aspectos de suas vidas. Todos os nossos alunos compõem um complexo contingente educacional, mas, ao mesmo tempo em que formam um grupo, uma coletividade, são também seres únicos, dotados de histórias de vida singulares, ricas e de natureza incomparável. São meninos e meninas, crianças e jovens provenientes das mais diversas realidades e origens. Muitos vivenciam uma infância e uma adolescência repleta de amor, de cuidado, de atenção e de incentivo de suas famílias. Outros, no entanto, sobrevivem a duras penas numa atmosfera densa, pesada, em nada parecida com o que deveria ser o aconchego e a proteção de um lar estruturado. São desprovidos dos referenciais mais básicos e têm por alimento da alma apenas a esperança depositada em dias melhores. Felizes ou apenas esperançosos têm, como todos nós, carências, problemas, alegrias, vontades, medos, posturas e os mais heterogêneos sonhos. Some-se a isso o fato de estarem atravessando uma fase de formação, de intenso aprendizado, de dúvidas, de questionamentos, de buscas incansáveis... Têm o privilégio, e também a grande responsabilidade, de ter todo um futuro pela frente. Nesse sentido, nossas políticas públicas educacionais levam em consideração, em primeiro lugar, as necessidades mais básicas desses cidadãos do futuro: a compreensão, o respeito por suas diferenças, por seus valores e pela história pessoal de cada um.O desempenho, o sucesso e a ampliação do potencial dos aprendizes dependem de nossa sensibilidade para vê-los como seres humanos e não apenas como números registrados nas listas de chamada. Por meio dessa prática, nós, educadores, poderemos ter a chance de ir além e de também aprender com nossos educandos. Sem essa troca essencial, estamos condenados a perder o brilho, a seiva, o norte... Educar é, sobretudo, nunca deixar de aprender e de acreditar. O primeiro passo para fazer da educação uma possibilidade real para todos já foi dado na medida em que promovemos a universalização do ensino. Os números mais recentes apontam um total de 99% de crianças freqüentando a escola no Estado de São Paulo. Uma vez garantido o acesso aos bancos escolares, nossos esforços convergem diretamente para as melhorias nas condições de aprendizagem - decorrentes do reflexo direto da mudança de filosofia da cultura escolar. Agora, singramos os mares de forma mais habilidosa porque navegamos com um lema comum a todas as nossas rotas: "todo professor é capaz de ensinar, todo aluno é capaz de aprender". E o inverso é absolutamente verdadeiro. Um lema que nos faz respeitar, por exemplo, o ritmo próprio de aprendizado e de assimilação de conteúdos de cada estudante. Um direito do indivíduo que vinha sendo relegado, mas que ganhou força com a implantação, em janeiro de 98, do regime de progressão continuada da aprendizagem, que possibilita o avanço contínuo dos alunos ao longo do percurso escolar, organizando o Ensino Fundamental em dois ciclos de quatro anos cada. Para ampliar os benefícios dessa prática aos estudantes de níveis mais avançados, adotamos a flexibilização do currículo no ensino médio, permitindo a matrícula por disciplina e evitando que o aluno refaça componentes nos quais foi bem-sucedido. Nessa viagem de importância histórica, a sociedade civil organizada tem sido nossa grande companheira. Empresas, igrejas, ONGs, universidades, entidades e associações variadas têm contribuído para que nossos alunos e professores desfrutem uma formação intelectual, física e emocional sólida, com direito ao esporte, à cultura, ao lazer, à arte, à profissionalização, à saúde e, enfim, à conquista de uma vida melhor. Juntos, temos viabilizado a capacitação constante dos educadores por meio de cursos, palestras, teleconferências e congressos. Em dezembro, por exemplo, presenciamos a formatura de 7 mil professores pelo programa PEC - Formação Universitária , programa de educação continuada, cujo objetivo é fornecer aos professores efetivos no ensino da 1ª à 4ª série, com formação de nível médio, de mais de 2 mil escolas de ensino fundamental do Estado, a oportunidade de formação em nível superior fornecida pela USP, Unesp e PUC-SP. Em todas as capacitações, encontros, visitas às escolas e conversas com os representantes da categoria, sempre ressaltamos a importância da aliança entre o aperfeiçoamento técnico do professor e a solidificação de uma postura afetiva em sala de aula. Queremos que nossos aprendizes enxerguem no mestre um exemplo a ser seguido, um amigo com quem possam contar e não uma autoridade acima do bem e do mal. Nas escolas, muitos programas e projetos têm favorecido essa prática mais afetiva e integrada. Os alunos sentem-se incentivados a participar, a descobrir e a mostrar seus talentos. Por isso, é fundamental que a comunidade do entorno escolar e da sociedade como um todo prestigie os eventos constantemente promovidos pelos estabelecimentos de ensino. Foi o que a secretaria - juntamente com a população que transitava pelo Centro de São Paulo - fez durante o mês de dezembro de 2002. Nossos funcionários uniam-se aos populares, sempre ao meio-dia, na Praça da República, para prestigiar os corais natalinos de dezenas de escolas estaduais provenientes das mais diversas regiões do Estado. O programa dos corais nas escolas, bem como aqueles ligados à música clássica, ao teatro, ao cinema, à criação de bandas e fanfarras, à preservação do meio ambiente, ao exercício dos direitos e deveres do cidadão - fortalecimento e reativação dos grêmios, campanhas comunitárias, combate às drogas e à violência, etc. - têm propiciado uma revolução verdadeiramente positiva na vida dos estudantes. Programas como Parceiros do Futuro, Comunidade Presente, Prevenção Também se Ensina, Escola em Parceria, Mutirão da Cidadania e Programa Profissão estão, na verdade, plantando sementes e oferecendo não só para São Paulo, mas para todo o Brasil, a chance de ter, num futuro breve, uma colheita digna dos anseios e do trabalho de todo o seu povo. Que as nossas palavras, corroboradas - e impregnadas - pela verdade impressa em nossas ações, possam colaborar para a discussão, para o debate e para a reflexão em torno dessa educação afetiva e eficaz. Uma educação que privilegia a criação de gerações mais capacitadas, tanto para contribuir para o desenvolvimento e o progresso da ciência quanto para desfrutar todos os seus benefícios. Uma educação que oriente e funcione como a bússola que desvenda as infinitas maneiras de navegar, com sucesso, pelos mares da vida.
Publicado na Gazeta Lemense
Volta às aulas: aprendizagem, ficção e vida real
Aos sete anos de idade, o menino está tenso, preocupado e repleto de expectativas sobre o seu primeiro dia de aula. A recepção na escola não é das melhores, porém, as sensações da má experiência vivenciada pelo garoto Moncho conseguem ser rapidamente dissipadas graças à habilidade, à generosidade e à extrema dedicação de seu professor, o velho mestre Don Gregorio. Os dois personagens protagonizam o belíssimo drama espanhol A Língua das Mariposas (1999), filme dirigido por José Luís Cuerda, que narra de maneira delicada as fascinantes possibilidades do processo ensino/aprendizagem, com ênfase na cumplicidade entre professor e aluno. A trama tem como pano de fundo a ascensão do regime militar espanhol e as conseqüências desse processo em uma pequena cidade daquele país, representada por uma população atemorizada e desprovida de mecanismos para exercer e/ou apoiar a resistência então praticada por um pequeno grupo de opositores ao sistema opressor, do qual fazia parte o professor Don Gregorio. O cinema, mais uma vez, nos oferece condições para que possamos refletir e analisar a nossa própria realidade, independentemente das diferenças históricas e culturais experimentadas pelos espectadores em seus países de origem. A essência das relações humanas, os sentimentos, os temores, os erros e acertos das personagens da trama sempre nos ensinam algo. No caso da obra em questão, tentaremos, aqui no Estado de São Paulo, reproduzir, neste dia 10 de fevereiro, primeiro dia de aula na rede estadual de ensino, um pouco da poesia e da beleza transmitidas pelo filme de Cuerda no que diz respeito à prática educativa e à relação educador/educando. Realizaremos uma experiência singular, que pretende fortalecer significativamente a parceria entre escola e comunidade, uma das principais metas da Secretaria de Estado da Educação para 2003. Neste primeiro dia de aula, pais, mães, irmãos e amigos dos estudantes são os nossos convidados para essa verdadeira festa educacional, que reúne cerca de seis milhões de alunos, em mais de seis mil estabelecimentos de ensino. Pensando na grandiosidade que envolve esse evento, as escolas organizaram uma recepção calorosa, cujo objetivo é tornar esta data uma experiência positivamente inesquecível para educadores, educandos e comunidade. O roteiro inovador dessa nova história da educação será escrito de forma concomitante por educadores, funcionários das unidades educacionais, alunos e toda a população que vive no entorno das escolas. Nossos convidados poderão conhecer as instalações dos prédios escolares, seus profissionais e o projeto pedagógico adotado nas unidades. A programação inclui ainda atividades como vivências e sensibilizações. A idéia é reforçar em todos os participantes a consciência de que a escola é um centro de luz, um lugar que recebe e que propaga saberes, conhecimentos, aprendizados, descobertas... O século 21 exige uma escola em constante transformação, como é a própria vida. Uma escola pulsante, que instigue o aluno a ser um desbravador, um criador, um inventor do seu próprio caminho. Nesse contexto, a participação ativa da sociedade na escola é essencial. Ela será o elo entre os educandos e o mundo à sua volta, auxiliando na criação de um ensino cada vez mais comprometido com a resolução dos problemas enfrentados pela comunidade. Assim, os alunos poderão exercer papéis sociais de destaque enquanto ainda estiverem em processo de formação, o que contribuirá para o seu crescimento emocional e intelectual, originando gerações muito mais críticas e conscientes de sua cidadania. Governo e sociedade devem unir esforços no sentido de oferecer um ensino de qualidade às crianças e jovens que representarão o capital intelectual do país e que fortalecerão, cada vez mais, o espírito democrático e todos os seus valores. Em seu livro Gramática da Fantasia, o educador italiano Gianni Rodari nos oferece uma síntese perfeita da importância dessa questão, quando nos lembra que a principal disciplina em todas as escolas deveria ser justamente "a realidade, abordada por todos os pontos de vista, a começar da realidade primeira, a comunidade escolar (...). Em uma escola desse tipo, a criança não é mais uma 'consumidora' de cultura e de valores, mas uma criadora e produtora de valores e cultura". Que nesse retorno às aulas todos possamos refletir sobre isso e, mais importante, contribuir para tornar esse conceito uma realidade. Nesse sentido, estamos esperando a presença de todos vocês, pais, mães, irmãos, amigos e demais representantes da comunidade na escola neste dia 10, dando início a um novo e instigante aprendizado para todos.
Publicado na Folha de S.Paulo
A revolução da rede
"A boa educação é moeda de ouro, em toda parte tem valor." A afirmação, proferida há séculos pelo padre Antônio Vieira, parece adquirir, a cada dia, um significado ainda mais contundente e atual. Isso se deve ao fato de estarmos vivenciando uma época sem precedentes na História. Um período tão complexo quanto fascinante porque oferece - na mesma proporção - um sem-número de possibilidades e de incertezas. Em meio a esse quadro inacabado que esboça um futuro nebuloso, quem não dispõe de um ensino de qualidade torna-se um sério candidato à exclusão social gradativa. Explica-se: não há mais lugar para amadores na galeria do século 21. Nesse sentido, é papel das três esferas do Governo e de todos os segmentos da sociedade civil organizada mobilizarem-se para propiciar uma educação de excelência às nossas crianças e jovens. Para que isso ocorra, os investimentos no setor precisam ter caráter prioritário e, em paralelo, deve haver a ampliação e o aprimoramento de parcerias entre escolas, empresas, fundações, ONGs e outras instituições. A participação efetiva dos pais e da comunidade do entorno escolar nas unidades educacionais é outro ponto importante desse processo, bem como a concentração de esforços por parte dos educadores e demais atores sociais em torno da concepção e da implementação dessa educação eficaz e cidadã. Juntas, essas ações irão possibilitar a devida formação do capital intelectual brasileiro, constituído pelas novas gerações a partir do desenvolvimento de suas habilidades cognitivas, sociais e emocionais. Trata-se de instrumentalizar esses jovens para que elevem o Brasil a uma posição de destaque no cenário competitivo e globalizado do novo milênio. Trata-se de orientá-los para o resgate dos valores essenciais à vida em sociedade, de forma que a paz e a fraternidade imperem no lugar da violência, da intolerância e dos conflitos generalizados. Trata-se de capacitá-los para o exercício pleno de sua consciência crítica. Por tudo isso, a Secretaria de Estado da Educação tem organizado uma série de ações, projetos e programas que viabilizam a discussão, o debate e a reflexão sobre os mecanismos que irão estruturar esta educação modelar que desejamos instituir em todas as escolas da rede estadual de ensino. Um exemplo ocorreu entre os dias 26 e 29 de novembro, quando reunimos vários setores da sociedade no evento denominado Semana de Estudos "A Escola de Nossos Sonhos". Esse debate inicial deu origem ao Fórum Permanente "A Escola de Nossos Sonhos" e ao Fórum Regional "Parceiros da Escola". O primeiro pretende aglutinar, num único espaço, setores da sociedade que possam colaborar para a reflexão relativa ao aprimoramento da escola pública, o segundo ficará a cargo das regiões administrativas do Estado, juntamente com as 89 diretorias regionais de ensino. A intenção é que seja produzido um documento com propostas e análises das ações da Secretaria de Estado da Educação e que apontem soluções concretas para a construção dessa Escola-Cidadã. O primeiro passo para esse processo de discussão conjunta foi dado por meio das palestras, teleconferências e encontros que já vêm sendo realizados pela Secretaria com o objetivo de lançar um olhar crítico para o setor e buscar alternativas para os problemas de uma rede com mais de 6 milhões de alunos. Temos pela frente um grande desafio: fazer do Brasil uma nação ainda mais soberana e condizente com a fortaleza que é o seu povo. São Paulo, como sempre, pode e deve ser a locomotiva que nos conduzirá em direção a esse novo horizonte que se descortina. Nossa filosofia de trabalho é pautada no diálogo, na troca de experiências e na constante avaliação e análise de nossas ações pela sociedade. Cremos ser essa postura não apenas uma exigência, mas um benefício proporcionado pelo exercício democrático. O Governo Geraldo Alckmin defende esses princípios e os solidifica na medida em que assumiu um compromisso fundamentado nos pilares do desenvolvimento, da educação, da prestação de serviço e da solidariedade. Convidamos toda a sociedade a participar ativamente dessa proposta imprescindível ao crescimento de São Paulo e do Brasil. Vamos dar o exemplo e unir forças. Esse é o melhor ensinamento que podemos deixar aos que irão nos suceder. Sêneca, o filósofo, já atentava para isso quando disse: "Longo é o caminho do ensino por meio de teorias; breve e eficaz por meio de exemplos". Que todos tenhamos a sabedoria para apreender a grandeza dessa lição.
Publicado no Diário do Grande ABC
A descendência de Cervantes
Professor. Uma palavra de traduções diversas que encerra significados tão numerosos quanto belos. Um termo apropriado àqueles que acreditam na grandiosidade da doação, do altruísmo e da capacidade de despertar outros seres humanos para a aventura ímpar do aprendizado e da transcendência. Neste dia 15 de outubro, é importante refletir sobre esse profissional, que dedica sua vida à propagação de saberes. Saberes que possibilitam aos aprendizes ultrapassar fronteiras, superar obstáculos e articular estratégias que os conduzem em direção à realização de seus sonhos. Cheios de uma poesia própria, ousam desafiar o renomado poeta Vinícius de Moraes, na medida em que vivem e preconizam um amor imortal - posto que não é chama, contrariando o famoso verso do "Soneto da Fidelidade". Quantos milhões de professores terão o Brasil e o mundo? O que seria da sociedade sem a participação efetiva e compromissada desses homens e mulheres? Educadores que, todos os dias, somam, multiplicam e dividem tudo o que têm de mais precioso com centenas de crianças e jovens. Discípulos que assimilam, às vezes sem se dar conta, a essência do verbo compartilhar. Nas salas de aula do mundo, mestres e aprendizes ensaiam um balé sincrônico e ritmado, embalados pela musicalidade do amor, do conhecimento, do afeto, do respeito, dos sorrisos e dos olhares de confiança mútua. Educandos devem nutrir por seus professores um sentimento de admiração que inspire o respeito. Nessa relação, não deve haver lugar para o autoritarismo e para o medo, coreografias incompatíveis com o espetáculo majestoso da vida. Educadores... Como recompensá-los por tudo que nos proporcionam? Como agradecer-lhes da forma que merecem? E, principalmente: como retribuir sua força e seu exemplo seguro e altivo nos momentos em que fraquejamos e pensamos em desistir de tudo? Como resgatar sua auto-estima, cada vez mais abalada por este mundo que privilegia os bens materiais em detrimento de valores como a ética, a fraternidade, a justiça e o amor ao próximo? Como devolver aos professores o seu lugar de destaque na sociedade? Sejamos sinceros: não temos todas as respostas e nem tampouco pretendemos posar de donos da verdade, mas esta homenagem tem o intuito de propiciar aos leitores uma reflexão sobre essas pessoas iluminadas que nos presentearam com as condições para obter o alimento do corpo e do espírito. Uma reflexão sobre os nossos mestres e o papel imprescindível que desempenham em nossas vidas. Seres raros que vivem sob os signos diversos, mas complementares, da paixão e da razão. Exemplos de vida que nos transmitem lições essenciais à construção de nossas histórias. É esse o perfil da grande maioria dos educadores - crianças crescidas que, tal qual Peter Pan, se recusam a deixar de sonhar. E prosseguem incansáveis, dia após dia, capacitando seus alunos rumo à descoberta de suas potencialidades e talentos. Dia após dia, contribuindo para formação de personalidades e de cidadãos que transitem apenas pelo caminho do bem. Espécies encantadas como foi um dos mestres que tive na vida: professor André Franco Montoro, um jovem eterno que, mesmo tendo completado 60 anos de magistério, entrava para dar aula com o entusiasmo de um iniciante. A paixão de Franco Montoro era conhecida por muitos. A maioria de nossos educadores é constituída por heróis anônimos que lutam, muitas vezes, empunhando apenas o giz e a boa vontade. Heróis que atravessam a seca, os igarapés ou mesmo o trânsito alucinante das metrópoles com o objetivo único de semear idéias, honestidade, honradez, boa vontade, oportunidades, ideais, criatividade e autoconfiança. Professores são descendentes diretos da linhagem onírica criada por Cervantes em seu Dom Quixote. Sonhadores e idealistas que pairam muito acima de ideologias políticas, filosóficas ou religiosas. Preferem se ocupar com questões maiores: levam a vida a professar a educação e tudo de positivo que ela representa. Que, nesta data comemorativa e sempre, saibamos reconhecer seu valor e devolver-lhe a dignidade luzidia de um passado recente, mas que já traz muitas saudades.
Publicado na Folha de S.Paulo
A importância do professor
Valorizar o professor. Capacitá-lo para o exercício pleno de suas atividades como educador. Proporcionar-lhe os instrumentos necessários à sua função primordial: lapidar diamantes. Hoje, esses são os objetivos principais da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Em outras palavras: entendemos o professor como a figura mais importante do processo educativo, em todas as suas esferas. Cabe ao mestre a incumbência de ensinar, orientar, estimular e incentivar crianças e jovens a descobrir suas potencialidades. É uma tarefa nobre e gratificante, mas que exige um esforço e um empenho ininterruptos. Sem o educador seria impossível conceber a sociedade e sua contínua evolução cultural e científica. Afinal, todas as áreas do conhecimento humano dependem do professor para serem apreendidas com eficácia e colocadas em prática com competência e habilidade. A palavra professor vem do latim professore, cujo significado é: aquele que professa ou ensina uma ciência, uma arte, uma técnica, uma disciplina. Mas para que isso aconteça, o professor deve instigar o aluno. Levá-lo à dúvida, à inquietação, à contestação, ao questionamento. A transmissão do saber precisa ser estimulante e prazerosa. Há que se estabelecer entre os mestres e seus aprendizes uma relação de troca porque ensinar também é, antes de tudo, aprender. Educar é um missão que guarda em si um mundo repleto de possibilidades. Entre elas, a capacidade de despertar no outro um sem-número de qualidades adormecidas. Na Grécia Antiga, Sócrates já nos mostrou o caminho com a sua maiêutica. Sem a provocação, sem o questionamento, sem a inquietação, sem as perguntas incessantes do mestre não ocorrerá esse processo pedagógico socrático em que se multiplicam as perguntas a fim de obter um conceito a respeito do objeto em questão. Sem a maiêutica não é possível haver a parturição das idéias. Não se adquire o conhecimento, a sabedoria. Machado de Assis, no clássico Dom Casmurro, mais precisamente no Capítulo 9, nos brinda com sua poesia, ironia e irreverência quando compara a vida e os personagens que a compõem a uma ópera. Vamos pedir licença ao grande gênio da nossa Literatura para utilizar essa metáfora no universo específico da sala de aula. Quem dentre os alunos será o maestro que irá reger os personagens do espetáculo da existência? Quem será barítono, soprano, contralto, tenor? Quem irá optar por conceber a cenografia? Quem será o diretor? Quem será o figurinista? Quem irá compor o coro? Quem serão os bailarinos? Bem, o professor pode até imaginar os rumos que serão seguidos pelos seus alunos, mas isso não é sua tarefa principal. Cabe aos educadores conceder às crianças e jovens o direito de escolha, a partir do momento em que aprenderão sobre a importância de todos os personagens da ópera, inclusive os que optam por ficar nos bastidores. A nobreza do magistério reside justamente na capacidade de transmitir aos aprendizes a beleza e a grandiosidade dessa magnífica experiência que é a vida. Temos por meta preparar o professor para o exercício de uma profissão cada vez mais essencial à formação do ser humano. Por isso estamos realizando capacitações, palestras, teleconferências e seminários. No último mês de maio, por exemplo, reunimos cerca de mil educadores das 89 regionais de ensino do Estado em capacitação realizada no Interior de São Paulo. A idéia é transformá-los em multiplicadores de informação em suas localidades de origem. Acreditamos ser possível conceder ao educador o que lhe é de direito: o respeito de todos e o orgulho por ser quem traz à tona o que as pessoas têm de mais sublime. O professor, para nós, é a alma da educação e a espinha dorsal da sociedade. Sem ela, torna-se impossível adquirir o equilíbrio, a força e a vitalidade necessária para fazer do Brasil um país comprometido com a formação de seus cidadãos. Um país cuja nação será consciente e intelectualmente capaz de construir as bases sólidas que sustentarão os sonhos das novas gerações.
Publicado no Jornal A Tribuna
Escola para todos
Ele era negro, epiléptico e pobre. Para complicar ainda mais sua trajetória de vida, nasceu no século XIX, em meio à sociedade marcadamente preconceituosa da época. Filho de uma lavadeira açoriana e de um pintor mulato, passou a infância no Morro do Livramento, no Rio de Janeiro. Órfão, foi criado pela madrasta. Freqüentou o curso primário numa escola pública e aprendeu Francês e Latim com amigos da família e com um padre. O mais impressionante nessa história é que, mesmo sob o signo de tamanha dificuldade, reluziu a estrela maior de nossa literatura. Falamos do escritor Joaquim Maria Machado de Assis (1839-1908). Como vimos, o grande mestre das letras nacionais, autor de clássicos como Dom Casmurro e Memórias Póstumas de Brás Cubas, cursou apenas o primário. Na verdade, até bem pouco tempo, era essa a realidade da maioria das crianças nascidas nas classes menos favorecidas economicamente. A história já nos provou que, em nosso país, muitas vezes, a conquista do aprendizado entre nossos escritores geralmente se deveu à figura de um padre ou de um fidalgo que vinham em socorro dos grandes artistas de origem humilde. Foi assim não só com Machado de Assis, mas com outros grandiosos representantes da literatura, para ficarmos apenas na seara das letras. O poeta Cruz e Sousa, filho de escravos, foi acolhido por uma família rica que resolveu educá-lo. Foi quando encontrou os conhecimentos necessários à expressão de sua arte. Lima Barreto, por sua vez, teve auxílio de seu padrinho - um visconde - que o ajudou a concluir o segundo grau. Hoje, o Brasil vive uma outra realidade, muito mais positiva em relação ao acesso das comunidades carentes à escola. Os números divulgados pelo último censo comprovam: os avanços relativos à universalização da educação em nosso país destacam a evolução de toda a rede pública do Brasil. Atualmente, 95% das crianças de 7 a 14 anos estão na escola, diferentemente do que tínhamos em 1991, quando uma em cada quatro crianças pobres estava fora dos estabelecimentos de ensino. Já a taxa de escolarização entre os jovens de 15 a 17 anos passou de 55,3% para 78,8%. Em São Paulo, isso fica ainda mais evidente: 99% das crianças entre 7 e 14 anos de idade estão na escola e o índice de evasão caiu diminuiu brutalmente, permitindo que as crianças e jovens permaneçam nas escolas. Em 1994 a evasão paulista era de 9% para o ensino fundamental e 19% para o médio. Em 2000 caiu para 4,5% e 12% respectivamente, os índices mais baixos do país. De acordo com o CENSO MEC 2001, a evasão caiu ainda mais, isto é, 3,1% para o ensino fundamental e 8,9% para o ensino médio. Os números deixam claro: a escola é, agora, uma possibilidade acessível à maioria esmagadora de nossas crianças, independentemente de cor, gênero, raça, credo ou classe social. É certo que ainda há muito a ser conquistado, mas o primeiro passo já foi dado: a garantia constitucional do direito à educação para todos. Uma das nossas metas é, justamente, seguir à risca o texto que compõe o artigo 205 da Constituição Federal: . A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. A seqüência de nosso projeto educacional será, cada vez mais, aliar quantidade à qualidade, proporcionando a todas as crianças da rede pública de ensino a capacidade necessária ao pleno sucesso de sua vida pessoal e profissional. Temos certeza de que esse é o sonho de todos nós, educadores. Mas, para realizá-lo, é importante lembrarmos que ele se constrói um pouco a cada dia, em cada nova aula, em cada pequeno gesto de respeito e consideração aos educandos. O amor ao que fazemos, seja qual for nossa área de atuação, é o grande responsável pela grandeza de nossa obra e pela beleza de nossa história. O entusiasmo é essencial, sempre. Recordemos as palavras sábias de Balzac, outro mestre da literatura: "O homem começa a morrer na idade em que perde o entusiasmo". Boa semana a todos!
Publicado no Jornal A Tribuna
23 de outubro de 2006
Desafios da educação
É oportuno, neste momento de comemorações do Dia do Professor, compartilhar algumas reflexões sobre a educação.
Houve tempo em que estudar era ser posto à prova, era enfrentar vicissitudes para temperar o espírito, segundo os paradigmas da época. Tratava-se de um combate, que evitava o prazer e valorizava o sacrifício. Todos nos lembramos do relato de Raul Pompéia: "Vais encontrar o mundo, disse-me meu pai, à porta do Ateneu. Coragem para a luta." Também nos lembramos do chefe timbira, de Gonçalves Dias, que diz ao filho: "Coragem, meu filho, que a vida, é luta renhida, viver é lutar."
Provação. Era disto que se tratava a vida e a escola.
Mas a pedagogia avançou. Hoje sabemos que viver é enfrentar, mas não é amargurar; que estudar é buscar, superar, mas não é desesperar. O aprendizado deve ser prazeroso, e este pode ser o desafio mais importante do profissional de educação. Talvez tenha sido Cecília Meirelles quem fez a síntese mais poética do que seja ensinar. Para a doce poeta e educadora, ensinar é "acordar a criatura humana dessa espécie de sonambulismo em que tantos se deixam arrastar. Mostrar-lhes a vida em profundidade. Sem pretensão filosófica ou de salvação - mas por uma contemplação poética afetuosa e participante."
E aí está em que se baseia a educação: afeto e solidariedade. E compreensão. Até para o erro. Edgar Morin costuma dizer que todo conhecimento comporta o risco do erro e da ilusão. Para ele, "o maior erro seria subestimar o problema do erro; a maior ilusão seria subestimar o problema da ilusão."
Em meu livro Educação: a solução está no afeto, falo das três habilidades que acredito que precisam ser desenvolvidas no aprendiz: cognitiva, emocional e social. Quando um aluno erra, o professor preparado corrige, mas não censura, disciplina, mas não ridiculariza, repara, mas não condena. O educador não pode mais assumir o papel de detentor absoluto do conhecimento, embora deva se manter em contínua capacitação. Deve ser mais do que apenas o facilitador da busca do conhecimento pelo aprendiz. Deve ser um instigador. O professor que faz jus ao título de educador estimula a cooperação, porque a palavra que sintetiza o conceito da educação contemporânea é a reciprocidade. Estimula a vivência, a comparação, a análise crítica, o intercâmbio de idéias e de experiências. Tem ou desenvolve habilidade para fazer com que os talentos sejam exteriorizados. E desse modo descobre capacidades e orienta realizações.
Triste é o educador que já não acredita mais na capacidade de aprendizado, que não se debruça para examinar melhor a peculiaridade de cada aprendiz. Este não ensina nem aprende. Porque a educação não é pesar, é prazer.
Em resumo: trabalhar em equipe, resolver problemas, saber ensinar e aprender a ser solidário. Eis o que é ensinar! O mundo da competitividade é o mundo da heterogeneidade. Comparar pessoas diferentes - e não há pessoas iguais - é desestimular a criatividade e a autonomia.
"A melhor aprendizagem ocorre quando o aprendiz assume o comando de seu próprio desenvolvimento em atividades que sejam significativas e lhe despertem o prazer". A frase é do sul-africano Seymour Papert, matemático, professor do Instituto Tecnológico de Massachusetts (MIT) e pai da Inteligência artificial, um dos maiores visionários do uso da tecnologia na educação. Em 1960 já dizia que toda criança deveria ter um computador em sala de aula. Mas a tecnologia sozinha não representa evolução na forma de educar. O computador é ferramenta, é apoio, é máquina, e máquina alguma substitui o professor - este sim, a alma da educação. O professor não pode ser como um disco de memória de computador, apenas um depósito de informação.
Há muitas formas de desenvolver conhecimento, mas o ato de educar só se dá com afeto, só se completa com amor. E a educação se realiza porque, junto com o amor, surge compromisso, respeito, a necessidade de continuar a estudar sempre, de preparar aulas mais participativas.
A educação é, em todas as suas dimensões, um grande desafio. Um desafio que depende em sua maior parte do professor, a quem venho reverenciar nesta data comemorativa. É o professor que fará, com dignidade e respeito - que são, afinal, formas de amor - com que a educação se transforme em puro prazer de viver.
Jornal O Estado de Minas, 09 de outubro de 2006
Uma das coisas que aprendi é que nem sempre as coisas são como a gente quer, que a gente pode dar uma volta na vida, vencer os obstáculos e derrubar as paredes que nos impeça de seguir em frente em busca de nossos sonhos, nunca esquecer o passado e ver que foi por causa dele que possibilitou você chegar onde está hoje.
Supomos que a vida seja como aprender a andar de bicicleta, então, não devemos parar quando nos machucarmos, uma hora ou outra aprenderemos o jeito certo de equilibrá-la.
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