Cigarra

Cerca de 64 frases e pensamentos: Cigarra

casca oca
a cigarra
cantou-se toda

a cigarra anuncia
o incêndio de uma rosa
vermelhíssima

a cigarra... ouvi:
nada revela em seu canto
que ela vai morrer

Trégua de vidro:
o canto da cigarra
perfura rochas.

Por seco e calmo ódio, quero isso mesmo, este silêncio feito de calor que a cigarra rude torna sensível. Sensível? Não se sente nada.
Senão esta dura falta de ópio que amenize. Quero que isto que é intolerável continue porque quero a eternidade.

Clarice Lispector
Uma aprendizagem ou O livro dos prazeres. Rio de Janeiro: Rocco, 1998.

Formigas na porta
carregam o corpo
da cigarra morta.

A cigarra canta
o anúncio de sua morte -
formigas na contra-dança.

Ao cair da tarde
apenas uma cigarra -
Companheiras mortas.

A alma é uma cigarra. Há na vida um momento em que uma voz nos diz que chegou a hora de uma grande metamorfose; é preciso abandonar o que sempre fomos para nos tornarmos outra coisa: “Cigarra! Morre e transforma-te! Saia da escuridão da terra. Voa pelo espaço vazio!”

"A cigarra subterrânea começou a sonhar sonhos de ar livre e voos. Saiu da terra. Sua casca não era mais capaz de suportar a vida que crescia dentro dela. Arrebentou. E dela surgiu um outro ser, alado, pneumático. Nós, seres humanos, somos como as cigarras. Só que nossas cascas são feitas com palavras."

CIGARRA

Diamante. Vidraça.
Arisca, áspera asa risca
o ar. E brilha. E passa.


CHUVA DE PRIMAVERA

Vê como se atraem
nos fios os pingos frios!
E juntam-se. E caem.


OUTUBRO

Cessou o aguaceiro.
Há bolhas novas nas folhas
do velho salgueiro.


O HAIKAI

Lava, escorre, agita
A areia. E, enfim, na bateia
Fica uma pepita.


NOTURNO

Na cidade, a lua:
a jóia branca que bóia
na lama da rua.


HORA DE TER SAUDADE

Houve aquele tempo...
(E agora, que a chuva chora,
ouve aquele tempo!)


OS ANDAIMES

Na gaiola cheia
(pedreiros e carpinteiros)
o dia gorjeia.


QUIRIRI

Calor. Nos tapetes
tranqüilos da noite, os grilos
fincam alfinetes.

A Cigarra e a Formiga

Num belo dia inverno as formigas estavam tendo o maior trabalho para secar suas reservas de comidas. Depois de uma chuvarada, os grãos tinham ficado molhados. De repente aparece uma cigarra:
– Por favor, formiguinhas, me deem um pouco de comida!
As formigas pararam de trabalhar, coisas que era contra seus princípios, e perguntaram:
– Mas por quê? O que você fez durante o verão? Por acaso não se lembrou de guardar comida para o inverno?
Falou a cigarra:
– Para falar a verdade, não tive tempo. Passei o verão todo cantando!
Falaram as formigas:
– Bom... Se você passou o verão todo cantando, que tal passar o inverno dançando?
E voltaram para o trabalho dando risadas.

Moral da história:
Os preguiçosos colhem o que merecem.

Cantar... cantar...
sem amarras.
O tempo não tarda,
e a morte não poupa
nem os passarinhos
e as cigarras.

Paz em vez de violência
Neste mundo necessitado de amor.
Compaixão, misericórdia entre
Os irmãos, que sejamos recíprocos,
Assim como o dia com a natureza,
O sol com as plantas.
Que sejamos unidos como as formigas
A trabalharem juntas.
Que tenhamos paciência
Para com as cigarras,
Que cantam em plena manhã,
A nos despertar.

Cheiro de terra molhada, por onde passou a cigarra prevenida que a chuva anunciou. Gota por gota, a tocar o tapete da vida, mais parece uma sinfonia para o deleite do que as nossas almas estão a escutar. E como lágrimas do céu, a substituir as nossas, vem riscando os mais lindos quadros pintados pela natureza que, gentilmente, agradece retribuindo com o renascer de novas paisagens, perceptíveis até para os que anseiam por uma breve partida dessa água tão divina.

Com o meu trabalho de Formiga, kkk
Cigarra, imbecil, kkkk
Um dia, kkkkkkkkkjkkkkkkkkkkkkkkk

Vou pagar, pra você cantar!!!

A CIGARRA

Cigarra,
Canto efêmero,
Que desaparece
No vôo
das borboletas
Policromas!

Se dependesse da cigarra, as formigas cortariam folhas para brincar de asa-delta e paraquedas.

Cigarra cantora

segue rumo ao infinito —

Tão breve passagem

(en)canto

no cerrado canta a cigarra
quer o (en)canto dum par...

canta, numa tal algazarra
até o teu peito estourar...

e neste som de guitarra
baila, seduz, sem parar...

de carência ou garra
a cigarra quer casar...

é sofrença ou farra
ou carma a carregar?

neste mantra se agarra
até a lua raiar...

é fanfarra
é verão à anunciar...

então, canta cigarra
a vida tem de continuar!

© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
outubro de 2019
Cerrado goiano