Cidade

Cerca de 3355 frases e pensamentos: Cidade

Já nos veneraram. Lembra-se? Eles se sacrificavam por nós. Hoje tem um nome diferente, mas ainda somos importantes para as pessoas desta cidade.

Inserida por pensador

O cavaleiro

No deserto de uma cidade...
Um cavaleiro surgiu...
Dominando o baio a cavalgar...
Veio ao meu encontro...
Queria um novo amor encontrar...

Lamentou comigo...
Um amor perdido...
Mas que por ele...
Não foi esquecido...

Silenciosamente dissipou minha escuridão...
Trouxe consigo alegria...
Plantou flores em meu coração...

Suas palavras galantes...
Me soavam como verdade...
Jovem de sorriso encantador...
Verdadeiro em tudo o que sente...

Sei apenas que às vezes estremeço...
E se um dia...
Eu tiver que pagar por meus pecados...
A esse cavaleiro...
Me entregarei com desejo...

Não tenho a intenção...
De resistir a condenação...

Livre é o cavaleiro...
E livre também é minha alma...
Nos caminhos da vida...
E de onde busco a certeza...
Não há vento, fogo ou espada...
Eu o amarei e o seguirei pelas estradas...

Sandro Paschoal Nogueira

Belo Horizonte...


Sinto orgulho de minha mineiridade
Que faz vibrar em meu peito o ardor
Da emoção de ver florir nos jardins
De minha emoção, honra e paixão


A cidade que nasci, se acende em mim
Na beleza de cada canto, cada esquina
E são nos jardins, parques e lagoas
Que reside um pouco que muito ensina


Meu querer não se resume a cuidar-te
Vai além... atravessa matas e montanhas
Sigo confiante, passando veredas e bela fonte
Encantos do verde vivo de um Belo Horizonte

Inserida por mucio_bruck

Não basta que Joinville ostente o título de 'Cidade das Flores', é preciso que ela seja a 'Cidade das Flores' de fato.

Inserida por carlos_alberto_hang

O lamento da Cidade.

Ôh! Esses muros que brotaram.
Eles saltaram da terra e foram crescendo. Crescendo... criaram farpas sobre eles! Olha: agora são arames! Não! São elétricos.
Por todos os lados e em todos os lugares. Vejo somente prisões?
Cadê? Onde está a minha Goiânia?
Aquela cidade em que cresci com as pessoas vendo as casas? As pessoas nas varandas. Os jardins rosados. Com cheiro de jasmim?
Onde estão as praças floridas e as fontes jorrantes? As crianças cheias de esperança, correndo ou em velocípedes... tão lindas! Nos seus rostinhos havia esperança.
Aos olhos de quarenta centímetros de altura, hoje tem tela branca.
Onde estão os cumprimentos? E os lugares que se chegavam?
A cidade virou um muro.
E dentro de cada fortaleza vivem pessoas. De magoadas, ficaram amargas!
A cidade não é mais minha. Nem eu pertenço a ela.
Goiânia hoje é cinza e espelhada. Mas não se vê nos reflexos. Porque a imagem é indigesta.
Ela deixou de ter a Rua 20 com a Casa do Dr Vigiano.
Mataram a Amoreira. Mataram as lembranças.
Nem sei se sou de Goiânia. Ou ele que nunca foi de mim.
Hoje é um Centro, onde eu tenho medo de caminhar.
É uma ausência de cor. Numa ironia sarcástica frente ao Sol.
Ao invés de brilhar. Goiânia consome a luz.
Não. Não é uma cidade feita para nós os seres humanos.
Transformaram Goiânia para os carros.
De nossa terra... a um culto à vaidade.
Deparei-me assustada! Eu deixei de amar.
Quando aconteceu?
Como foi?
Não sei explicar!
Quando os espigões iam subindo. As pessoas ficaram mais egoístas.
E eu vi gerações apagadas pelo materialismo. Sozinhos e tristes. Nossos sonhos se apagaram de luz natural amarela para luz branca.
O asfalto queima. Demonstra uma Anhanguera com o significado de seu nome. Ela arde nossa pele ao andar. Existe uma gaiola no meio dela. Uma falta de sombra.
Existe povos desencontrados dentro da minha encantadora ilusão. Mais educados querem ostentar. Os mais pobres ficavam marginalizados na periferia. Hoje a periferia da periferia é para os ricos encarcerados em seus feudos de medo.
Muda-se de lugar. Mas não muda-se a mentalidade.
O que mais de valor podemos dar? Dinheiro? Não! Dedicar nossos talentos e espalhar conhecimento. De que me adianta este altar de vaidade? Se somos todos perenes nesta Terra?
Há um clamor! Um choro que perpassa os nossos olhos e aceitamos como “natural”. Este lamento é a exposição não de uma cidade. Mas de nossas crenças. O que fizemos com Goiânia?
E minha linda cidade... Princesa adornada com lindos arcos deitados no meio do Cerrado.
Com pulseiras de flores e brincos de fontes.
Passou a ser um triste vazio. Um abandono escuro.
Na minha memória.
Uma dor no meu coração.
Uma repugnância ao horror do progresso sem amor.
Fizemos Goiânia. Lutamos no meio do nada por ela. Matamos a bela sonhada pelo jovem Atílio. Porque não soubemos cuidar da cidade para nós ao invés de para mim.
Hoje, ela mostra-se amarga. Ela chora e nós sofremos.
E para os mais jovens... começa a diáspora!

Inserida por breno_bertioga

Minha terra é o lugar que me acolheu.

Inserida por EdielRibeiro

O gringo no Café Central.

Assim meu pai me contou, enquanto ria; a história de um gringo no Café Central.

Era lá pelas bandas do final dos anos cinquenta, um gringo muito chique, metido à besta, resolveu vir à Goiânia para ganhar dinheiro. Mas como todo inglês que se preze, fez um curso de Português com um erudito de Portugal. E como todo homem prevenido, trouxe o professor com ele até o Rio de Janeiro.


Três meses de viagem, o tal inglês hospedou-se no Grande Hotel.
E hotel você já sabe... pagando bem... eles entendem até língua de cachorro! Lá eles ensinaram que um homem de “porte” como ele, deveria ir ao Café Central para fazer contatos.


O homem se ajeitou. Colocou seu terno escuro, completinho. Até com colete e gravata com broche. Chapéu preto e sapato escuro. Tudo na risca de giz, fresquinho; para Londres. Saiu o cândido, rumo ao Café Central, a pé. Sentindo-se!


Eram três da tarde, onde passava, os homens de chapéu branco olhavam para ele e o cumprimentavam. Logo, o gringo percebeu que talvez teria que ouvir com mais cuidado os cumprimentos porque os fonemas saiam todos iguais numa palavra só:


_Bastard! Boatard!


Quanto mais as pessoas o cumprimentavam, mais calor ele sentia. Era o meio de setembro.


E... depois de encharcado de suor. O homem chega no aglomerado de pessoas, na esquina da Avenida Anhanguera com a Rua 7, que era o Café Central.


Adentrando o gringo; meu pai, mocinho do Lyceu, que estava de fora do estabelecimento; olhou de soslaio aquele branco de dar dó. Preto riscado, empoeirado, com uma mistura de perfume e um “certo cheirinho”.


Lá dentro, ninguém olhou para o homem. Todos absortos na sua própria conversa, em negociações. Um burburinho entre comerciantes de tudo. Conforme o recomendado pelo funcionário do Grande Hotel, o inglês foi de pronto ao balcão.


Avistou um atendente, que abriu um sorriso quando olhou outro homem que chegou de terno de linho branco e botas de cano alto. Sem cerimônia, o intruso sentou-se no banco que, para o inglês era dele. Depois do susto, resignado diante de sua ansiedade, o protagonista acomodou-se ao lado do homem e pôs-se a observar.


_ Bastardeee Tiaozim! Que vaicê ogi?
_ Bastardiii! Demaisdaconta! Dissempri!
_Intão-tá!


O atendente virou-se todo feliz para trás e pegou um cestinha com pão-de-queijo e uma xícara de café. Voltou-se ao moço.


Nisso, o inglês vendo a cena, já começava a sentir um certo frio na barriga. Pois não compreendia nada do que eles falavam. Fitava-os atentamente. Agora, nosso fidalgo, sentia-se um mero protagonista.


O moço trouxe o café, colocou para o jovem ao lado e com um bule de leite numa mão, perguntou:


_ Poçopô?
_ Pó-pô!


Ele colocou um pouco. O rapaz deu um gole e o atendente olhou para o inglês. Tudo pareceu em câmera lenta. Nisso, o homem já não suava de calor, mas frio de nervoso. Olhou atentamente para a boca do atendente tentado decifrar o que ele falava: _ Êita língua difícil! Ainda tem que mudar?


O atendente meio que receoso que talvez o homem muito que arrumado estivesse a passar mal. Fitou-o esperando uma resposta, quando o nosso insigne ia responder...suspirou aliviado! O garçom voltou-se para o moço de branco.


_ Tiaozim pó-pô mais?
_ Mais é clar-que-sim!
Colocou mais café na xícara e voltou com o “indigesto dialeto”:
_ Quémais?
_ Pó-pô!
Colocou mais.
_ Pó-pô-mais?
_ Pó-pô-mais!
_ Tá bãmassim?
_Num tá-não! Pó-pô-mais!


Nosso excelso ficou mais apreensivo. Compreendeu que o homem nativo, negou, afirmou para negar. E como se não bastasse, terminou afirmando novamente em imperativo! E o atendente nem achou ruim. Parece que agora ele sentia sua gravata muito apertada e sua boca extremamente seca.


De repente, o atendente olha para ele e faz uma pergunta. Assustado o ingles respondeu:


_I would like to a cup of tea and a glass of water, please. _ traduzindo: “Eu gostaria de tomar uma xícara de chá e um copo de água, por favor.” _ Of course! One moment please. _ traduzindo: Claro! Um momentim, por favor!


E não era que o garçom falava o Inglês!


O problema é que o inglês não sabia nada de Goianês. Êita sô! Tem base um troço desses?


Nerisírley Barreira do Nascimento 2018.

Inserida por breno_bertioga

“Toda cidade brasileira tem esgoto prejudicial, são as câmeras de vereadores e as prefeituras.”

Giovane Silva Santos

Inserida por giovanesilvasantos1

O caririzeiro carrega consigo
Na sua simples singularidade
A honestidade e o ombro amigo
A pura e verdadeira sinceridade
Este é o Brasil que eu quero
Com orgulho e muito esmero
Estou de volta a minha cidade.


*Rosan Rangel - (15 de abril de 2018)

Inserida por RosanRangel

Nós construímos esta cidade. Construímos os prédios, as estradas. Então trouxeram as máquinas. Não pelo lucro. Fizeram isso para nos expulsar. Porque as pessoas normais sempre nos odiaram. Só que faziam isso sorrindo.

Inserida por pensador

CIDADE GRANDE, GRANDE CORRERIA
A cidade tá cheia de carros, cheia de motos e bicicletas.
Mas não há ninguém aqui, mais ninguém quer me ouvir.
A cidade tá cheia de cinza e com um pouco de flores nas Janelas.
Mas não há ninguém para a flor regar, ninguém viu que a flor morreu.
A cidade tá cheia, está cheia de gente com pressa.

Inserida por LeticiaSalgado

Os homens buscam a verdade através de sua razão natural, buscam através dela iluminar suas trevas, assim como as luzes artificiais de suas cidades iluminam a noite. A razão natural, assim como essas luzes artificiais iluminam muito mal, tanto a escuridão da noite como escuridão dos homens, essas luzes ofuscam mais que iluminam, pois os dispersam, fazendo com que olhem somente para baixo, onde ficam os brilhos ofuscantes dessas lâmpadas que não os permite olhar por sobre suas cabeças, onde estão as belas luminares dos céus, que mesmo à tamanha distância conseguem ser percebidas e inspirar tantos pensamentos. A curta extensão das luzes criadas com o artifício de nossa razão, por sua vez, demonstram também a curta extensão da razão humana, que assim como essas luzes não chegam muito longe, e de como são imperfeitas as criações que dela provém. Aceitar a escuridão natural é o mesmo que enxergar a debilidade de nossa razão, é dar lugar a luz natural, que devido a perfeição de sua fonte possui maior capacidade de conduzirmos à verdade. As estrelas no céu iluminam na medida certa, para que predominem ainda as trevas da noite, e exista o contraste, entre a ausência da luz e sua presença, da escuridão natural dos homens e da claridade absoluta de Deus. A ausência de luzes artificiais na cidade dos homens os tornariam desejosos do belo espetáculo dos astros que se manifesta nos céus noturnos, nos fazendo olhar para o alto, a comtemplar as luzes que nos levam para mais perto da verdadeira beleza, e da verdadeira luz. Mas ao não aceitar a escuridão natural, não podem os homens ver a negritude e cegueira natural de sua razão, do contrário, querem extinguir a noite ao criar suas próprias luzes, confiando em sua própria razão, e julgando auto iluminar-se e procuram assim criar o seu próprio dia. Quanto mais aumenta a claridade da cidade dos homens mais ofuscados estes ficam, tanto mais confiantes de si mesmos, tornam-se a cada dia mais cegos, por acreditar que tornaram suas trevas em luz, suas noites em dia. Ainda que se multipliquem todas as lâmpadas noturnas dos homens, a verdadeira luz se faz presente, e demostra sua grandeza e esplendor ao raiar do dia, onde nem mesmo todas as luzes da cidade dos homens juntas é capaz de se comparar à luz do astro-rei que ilumina toda a terra, que como um representante da grandiosidade e claridade absoluta de Deus, revela a superioridade e perfeição de seu Ser, Em contraste com a pobreza e pequenez de nossa razão, do alcance de sua luz e das miseráveis luzes da cidade dos homens. A verdade de Deus inunda a terra e as consciências dos homens, como o sol que apaga, e se sobressai, a toda artificialidade da luz que vem da razão humana.

Inserida por pensadordalua

Estudamos numa escola de trouxas, moramos numa cidade de trouxas, que todo verão atrai hordas de trouxas do mundo inteiro que se reúnem para se sentirem menos trouxas.

Inserida por pensador

⁠Nós, joinvilenses, precisamos urgentemente resgatar a força, garra, determinação, esperança e bravura de nossos imigrantes, se quisermos que a terceira maior cidade do Sul do Brasil prospere como merece.

Inserida por carlos_alberto_hang

⁠Nós temos uma visão para este lugar. Só precisa de sangue jovem, gente como nós, cansada da cidade grande, procurando um recomeço.

Inserida por pensador

⁠Palmas para Palmas
Capital de Tocantins
Para as ruas calmas
Para as praças e jardins
E não é por acaso
Que o mais belo ocaso,
O mais lindo por do sol
É o daqui!

Inserida por silvestre_kuhlmann

⁠[AS ESCRITAS DO TEXTO URBANO - a Cidade como texto]



⁠A aplicabilidade da metáfora da “escrita” à cidade pode incorporar, certamente, diversos sentidos. Existe por exemplo a escrita produzida pelo desenho das ruas, monumentos e habitações - em duas palavras: a escrita arquitetônica de uma cidade. Trata-se de uma escrita sincrônica, que nos fala daqueles que a habitam, e também de uma escrita diacrônica, que nos permite decifrar a “história” da cidade que é lida através dos seus ambientes e da sua materialidade. A cidade em permanente transformação, em muitos casos, vai dispondo e superpondo temporalidades, ao permitir que habitações mais antigas convivam com as mais modernas . Em outros casos, a cidade parece promover um desfile de sucessivas temporalidades, quando deslocamos nossa leitura através de bairros que vão passando de uma materialidade herdada de tempos antigos a uma materialidade mais moderna, nos bairros onde predominam as construções recentes.

É também importante notar que os próprios habitantes reelaboram a escrita de sua cidade permanentemente. Por vezes imperceptível na passagem de um dia a outro, este deslocamento da escrita urbana deixa-se registrar e entrever na longa duração. Os prédios que em uma época eram continentes da riqueza e símbolos do poder, podem passar nesta longa duração a continentes da pobreza e a símbolos da marginalidade. Os casarões do século XIX, que eram habitações de ricos, degeneram-se ou deterioram-se em cortiços, passando a abrigar dezenas de famílias mal acomodadas e a configurar espaço habitacionais marginalizados. Nesta passagem marcada pela deterioração do rico palacete em cortiço miserável, deprecia-se também a imagem externa do bairro e o seu valor imobiliário, de modo que o espaço que um dia configurou uma “área nobre” passa em tempos posteriores a configurar uma zona marginalizada do ponto de vista imobiliário.

Este ‘deslocamento social do espaço’ também acaba por se constituir em uma forma de escrita que pode ser decifrada. As motivações para este deslocamento podem ser lidas pelo historiador: a história da deterioração de um bairro pode revelar a mudança de um eixo econômico ou cultural, uma reorientação no tecido urbano que tornou periférico o que foi um dia central ou um ponto de passagem importante. Ou, ao contrário, pode ocorrer o inverso: um bairro antes periférico ou secundarizado no tecido funcional urbano torna-se, subitamente, valorizado pela construção de um centro cultural, pela instalação de uma fábrica, por uma mudança propícia no eixo viário, pela abertura de uma estação de metrô, ou por diversos fatos de redefinição urbana. .Enfim, de múltiplas maneiras o próprio espaço e a materialidade de uma cidade se convertem em narradores da sua história.



[trecho extraído de BARROS, José D'Assunção. Cidade e História. Petrópolis: Editora Vozes, 2007, p.42-43]

Inserida por joseassun

⁠[A CIDADE COMO TEXTO]


Entre as diversas metáforas operacionais que favorecem a compreensão da cidade a partir de novos ângulos, uma imagem que permitiu uma renovação radical nos estudos dos fenômenos urbanos foi a da “cidade como texto”. Esta imagem ergue-se sobre a contribuição dos estudos semióticos para a compreensão do fenômeno urbano, sobretudo a partir do século XX. Segundo esta perspectiva, a cidade pode ser também encarada como um ‘texto’, e o seu leitor privilegiado seria o habitante (ou o visitante) que se desloca através da cidade - seja nas suas atividades cotidianas para o caso do habitante já estabelecido, seja nas atividades excepcionais, para o caso dos turistas e também do habitante que se desloca para um espaço que lhe é pouco habitual no interior de sua própria cidade. Em seu deslocamento, e em sua assimilação da paisagem urbana através de um olhar específico, este citadino estaria permanentemente sintonizado com um gesto de decifrar a cidade, como um leitor que decifra um texto ou uma escrita.



[trecho extraído de BARROS, José D'Assunção. Cidade e História. Petrópolis: Editora Vozes, 2007, p.40].

Inserida por joseassun

⁠⁠[O CAMINHANTE E O TEXTO URBANO]


Ao caminhar pela cidade, cada pedestre apropria-se de um sistema topográfico (de maneira análoga ao modo como um locutor apropria-se da língua que irá utilizar), e ao mesmo tempo realiza este sistema topográfico em uma trajetória específica (como o falante que, ao enunciar a palavra, realiza sonoramente a língua). Por fim, ao caminhar em um universo urbano onde muitos outros caminham, o pedestre insere-se em uma rede de discursos - em um sistema polifônico de enunciados, partilhado por diversas vozes que interagem entre si (como se dá com os locutores que se colocam em uma rede de comunicações, tendo-se na mais simples ‘conversa’ um dos exemplos mais evidentes).

Enfim, se existe um sistema urbano - com a sua materialidade e com as suas formas, com as suas possibilidades e os seus interditos, com as suas avenidas e muros, com os seus espaços de comunicação e os seus recantos de segregação, com os seus códigos de trânsito - existem também os modos de usar este sistema. A metáfora linguística do universo urbano aqui se sofistica: existe a língua a ser decifrada (o texto ou o contexto urbano), mas existe também o modo como os falantes (os pedestres e habitantes urbanos) utilizam e atualizam esta língua, inclusive criando dentro deste mesmo sistema de língua as suas comunidades linguísticas particulares (dentro da cidade existem inúmeros guetos, inúmeros saberes, inúmeras maneiras de circular na cidade e de se apropriar dos vários objetos urbanos que são partilhadas por grupos distintos de indivíduos)


]trecho extraído de BARROS, José D'Assunção. Cidade e História. Petrópolis: Editora Vozes, 2007, p.43-44 ].

Inserida por joseassun

⁠Deus me livre uma mulher nesta cidade esperar qualquer coisa de um homem.

Inserida por pensador