Cidade
A Nossa Cidade e bom mora aqui pq aqui tem fe´e tem deus aqui e bom aqui e abecoado por anjos e nossa senhora e deus jesus aqui todas pessoas ja vem aqui e gosto daqui obrigado tem uma cidades linda cheio de anjos aqui deus obrigado ta no coraçao e na nossa cidade viva hoje viva mais viva tudo dia amém.
Eu diria que esta cidade está morrendo, e que minha entrada no festival é a última chance de sobrevivermos como cidade.
Passeio pelas ruas do espinheiro
quero
pelos olhos da cidade
apreciar papoulas
abertas de par em par
para deleite dos cãezinhos
e colares de pérola de maiorca
(a pressa atropela a solidão do homem
que vende pipoca na esquina
o vento do carro
levanta a saia da moça lilás
para felicidade dos operários
já libertos do andaime
e da rigidez das horas)
quero
pelos olhos da cidade
sentir cheiro de pão e de fuligem
de brisa e de cimento
e testemunhar o preciso instante
em que o beija-flor afaga
a papoula aberta de par em par
Nas ruas há também uma quantidade de ruídos equívocos que perpassa. Produziu-se pois uma mudança durante estas últimas semanas. Mas onde? É uma mudança que não se fixa em sítio nenhum. Fui eu que mudei? Se não fui, então foi este quarto, esta cidade, esta natureza; é preciso escolher?
O berro do bueiro
Aquele som estranho dos carros bêbados
descendo a rua acelerados
e eu ali parado
vendo o movimento da madrugada
fria e dura a me espreitar.
E todo aquele ensurdecedor silêncio no ar
e o barulho dos cães latindo sem propósito
e dos galos cantando fora de hora,
enquanto os passos mudos de alguém vira a esquina em sinfônia randômica
e a orquestra da vida noturna aleatória rege o caminhar cuidadoso dos gatos
a espreita dos ratos
e dos ratos a espreita das sobras e restos
nos ralos e bueiros sujos e cinzas da avenida meu Universo.
Na calçada, esperando o caminhão da coleta passar na segunda,
o monte de lixo amontoado na esquina,
sendo revirado por todo mundo -
(cachorro, gato, rato, cavalo, gente...).
Naquela hora, a neblina que baixa sobre a rua
e encobre o plano, aumentando o drama e criando o suspense que nos comove.
Ao fundo, o som dos aviões na pista do aeroporto
aquecendo as turbinas e os motores para a próxima viagem.
De repente o rasgo abrupto
do sopro e do grito afoito
ecoando imaginação afora
e fazendo firulas no ar escuro da madrugada,
o estrondo no céu parecendo trovão
e o deslocamento massivo de ar
que canta melódico sua fúria, enquanto surfa pelo vácuo do éter febril do firmamento.
Isso encanta, mas também assusta.
De repente alguém que grita
e a multidão na praça se alvoroça
e volta a ficar muda e bêbada
e cega e suja e dura e pálida
e surda e débil e bêbada.
E o susto repentino na fala de alguém que reclama alto
e foge rápido, sem destino,
só corre por causa do risco imensurável que impõe-lhe o medo.
Sozinhos, a essa hora, todos estão em alerta por medo do que não se vê:
- O rato corre do gato
- O vento corre no vácuo incerto como o susto do medo
do vazio que traz desassossego
e do incerto que ninguém quer pagar pra ver.
Enquanto dorme o bairro só eu estou acordado...
Olhando para o tempo em silêncio,
para o vazio a minha frente,
auscutando meu coração acelerado,
tomando o último trago,
fumando o penúltimo cigarro
e assistindo de camarote a chegada triunfal do sol, antes do fim.
Appa (pai), hoje (16/08/2020), um ano atrás, nós estaríamos em Espinosa, curtindo toda aquela paisagem, e [a partir de] amanhã nossa vida seria um inferno.
Como não amar essa cidade? Como não ficar fascinado com as portas e janelas que ela sempre deixa aberta para você?
Não sei dizer qual o motivo da tristeza desta cidade, mas acho que as coisas não precisam de motivos para serem tristes.
A Travessia
A travessia é um campo verde em densa mata localizada em meio ao nada, na área rural, protegida pelo breu noturno da roça e recoberta pela bruma da madrugada.
É escura e incerta, feito o medo que nos cerca e que faz tremer as nossas pernas, em razão do frio que corta o corpo nos ventos perenes em rajada e na coragem que de súbito nos faz crer no reencanto de nossa alma, há muito desencantada.
A travessia se estende por todo o caminho ao longo do que se pode alcançar em visagem, lá do alto da encosta que margeia esse lugar o céu é enorme e as estrelas brilham na imensidão do firmamento em um tom azulcintiloprateado capaz de encantar a qualquer um que se prestar a olhar.
Ao mirar o horizonte que se agiganta à nossa frente adquirindo dimensão de infinito, veem-se claramente as constelações estelares em formações que se conta aos milhares ou aos milhões.
Os pontinhos reluzentes, encantadores e extremamente viciantes são minúsculos ao serem observados daqui e ao reluzirem encantam e fazem aflorar os meus mais profundos, sinceros e bonitos sentimentos.
Nesse sítio onde as estrelas abundam no céu, também faz morada a lua, tímida e reservada, a lua dourada que pinta os nossos sonhos de emoção, clareia o mato alto e a copa das árvores em espetáculo digno de aplausos.
Na travessia pelo ponto mais alto da encosta, a experiência de quase todos os dias é um sincero e caloroso abraço da vida, um afago da lua mais bonita que eu já vi e um sentimento que eu nem ouso tentar explicar com palavras. É preciso sentir com o corpo inteiro a poesia que é estar lá enquanto a natureza dá o seu show.
É incontestável a onipresença do graffiti nos ambientes urbanos das grandes metrópoles. Mais do que uma demarcação de território ou uma expressão juvenil inconsequente - o que alguns críticos chamariam de síndrome de Peter Pan - o graffiti é um elemento que revela as feridas da cidade e a dissimulação social, transitando entre o público/privado, o subversivo/serviçal, o legal/ilegal de maneira bravia e admirável.
“Você ama mais o lugar que escolheu para viver, que o lugar que nasceu. Quando você nasce, não escolhe nada, nasce por acaso. Quando escolhe, escolhe por amor.”
A melhor cidade desse mundo
Tem um nome embaraçado
Dadivada por dois rios
Nossos vizinhos de lado
Bem verdade seja dita
A paisagem já foi mais bonita
E os rios mais preservados.
A melhor cidade desse mundo
Não é melhor por perfeição
Tá bem longe disso
Falta saúde, falta educação,
Tem é muito politiqueiro
Bem pouco político verdadeiro
mas é nossa Princesa do Sertão.
A melhor cidade desse mundo
Tem um povo muito vivido
Tem roda de conversa à noite
Tem feirinha com seu atrativo
A água do rio corda gelada
A cadeira na porta da calçada
A família e as brincadeiras de amigos.
A melhor cidade desse mundo
ensinou-me a respeitar a natureza
jogar pião, peteca e bola na rua
Sem ter mania de grandeza
Coisas de cidade do interior
Mas que levo com muito amor
Pois minha raiz é minha riqueza.
A melhor cidade desse mundo
Nos traz mais proximidade
Não tem tecnologia avançada
Mas tem gente de verdade
Que conversa e escuta
Sem modernidade fajuta
Morar nela é felicidade.
A melhor cidade desse mundo
É a que cada um gosta de morar
A minha escolha é Barra do Corda
Se me perco, encontro-me lá
A vida vai passando depressa
Quando me distancio ouço: regressa!
Você sabe que aqui é seu lugar.
O sol da tarde fazia a cidade parecer mágica, pois brilhava através dos plátanos da Avenida Gloucester, mas Harry sabia que tal beleza era apenas superficial.