Cidadão
DESFECHO IDEAL
Nem tudo é como eu queria
e isso me dá nervos
porque às vezes dói e dói muito,
nada sai como eu queria.
Por isso, me peguei pensando:
não seria o caso de desenhar
um desfecho ideal para aquele dia?
Já pensei de imediato e lembrei:
se sobre livros eu não tivesse
conversado aquele dia,
hoje essa dor eu não sentiria.
Se sobre sua faculdade
eu sequer tivesse te perguntado
seu descrédito hoje eu não teria.
Se naquele lanche eu não tivesse ido
certamente esse meu mau humor de hoje
nem sequer se manifestaria.
Percebi, no entanto, que meu desfecho ideal
é apenas um mundaréu antagonista,
um sem-número de experiências não vividas,
um poço de expectativas não postas à prova.
Concluo, então: sou quem sou
porque os desfechos não foram ideais,
antes, foram reais.
ABRAÇO APERTADO
Tá em falta no mercado,
na pandemia está proibido,
só se produz pra estocar.
Mesmo em falta,
anda bem desvalorizado,
já que muitas vezes
ele foi negociado como porta de entrada
de um golpe lascado.
Abraço apertado é que nem café:
só serve quente e na hora.
É também que nem sorvete:
derrete fácil quando demora.
Não existe coração humano que resista
a um coração abraçando o peito
de forma bem apertada
com braços reforçando o ato.
DESESPERO DE DOMINGO
Tem dias que parece que estou
Sempre tão sozinho
Tem dias que você não aparece
E não fala comigo
Me sinto invadido
Pela sua falta
E pela sensação ruim
De não te ter comigo
E só ser mais um amigo
Que você esquece assim
Eu sei, sou complicado de amar
Mas você também não colabora
Toda vez que me tem nas mãos
Me faz ir embora
Eu queria muito ficar
Eu queria muito te amar
Eu queria muito completar
essa nossa história
Vem me amar
Bate o interfone
Sobe as escadas
Grita por meu nome
Basta me procurar
Você tem meu telefone
Sabe onde me encontrar
E sabe o meu nome
DESPEDIDA
Hoje tu vai embora.
Mas fica no meu coração.
Um dia vou te ver.
Outro dia te levar.
Certo dia vou casar.
Em casa vamos ficar.
Te levo contigo,
Me leva contigo,
E nós levaremos
Pra sempre, o amor.
CORES DO DIA
Se formos dividir o mundo, será:
as que enxergam e as que veem.
Há gente que vê com os olhos,
outros, impossibilitados, com o tato.
Mas há também os que enxergam,
estes podem usar os olhos ou tato,
mas todos usam o coração.
Pessoas que apenas veem
são cinzentos, tudo está como filme
em escala de cinza, é tedioso.
Pessoas que enxergam
são coloridas, brilham como filme
de animação infantil.
Ora, menina, seu coração
enxerga as cores do dia,
mas agora você apenas está vendo:
o dia passar, a noite chegar,
os sonhos ruirem e o tempo avançar.
Em que lugar está a menina
que não se esconde num sorriso falso,
onde está a menina que sonha
mesmo com os pés descalços?
Insisto que se responda,
a mim já respondi:
essa menina está no coração
que enxergava o azul das nuvens,
o cinza do asfalto, o verde da melancia,
o branco da igreja, o vermelho da vida.
Não é o cidadão comum quem sequestra direitos desse cidadão comum, mas sim aqueles que hoje dizem defender esses mesmos direitos, o que é bastante suspeito ou falso. É apenas estratégia para não terem suas posições privilegiadas ameaçadas!
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Toda situação traumática gera convicções firmes. A manutenção ou alteração das convicções depende de novas experiências similares.