Cidadão
A mordomia das coisas terrenas outorgadas pelo Eterno nos estimula a reproduzir o mesmo comportamento em todas as nossas relações.
A razão de tanto excursões quanto incursões precisarem ser planejadas é que se não forem, faltará mantimento ao longo do caminho.
A bagagem intelectual não tem a ver com a quantidade de conhecimento que adentra ao intelecto, mas o quanto dele sai processado e útil, seja para o hoje ou para o amanhã.
Todo conhecimento adquirido serve apenas a três tipos de uso: a prática (aplicação), o aperfeiçoamento (pesquisa) e o ensino (compartilhamento). Fora disso, o conhecimento é inútil.
A abundância da oferta nos faz confortáveis. É na escassez que se conhece todo o potencial ou a ausência dele.
As conquistas se tornam reais quando se escolhe multiplicar a coragem, somar esforços, subtrair o medo, dividir os resultados e elevar à potência a relevância.
Cordões umbilicais familiares não cortados impedem a constituição de um novo núcleo autônomo familiar.
É impossível barrar o processo, mas é possível acelerá-lo quando já se passou pelo caminho uma vez.
RECEITA DE INSUCESSO
Comigo disseram
que eu não era transparente
então me joguei,
deixei conhecer minha mente,
o resultado foi uma
paixão delinquente.
Comigo disseram
que eu era intenso
e precisava a barba aparar,
o resultado foi um
afastamento crescente.
Comigo disseram
que eu não era independente,
mas logo que fui
o resultado foi ver
a outra com um adolescente.
Comigo disseram
que eu fui "ok"
outra vez que fui "bem",
mas a ausência de replay
me diz que ela mente.
Comigo disseram
que gelo eu precisava dar,
mas me cortei no gelo
e tive como resultado
um coração ardente.
Comigo disseram,
e várias vezes disseram,
que me amavam,
mas que amor é esse
que hoje alcança,
amanhã apunhala?
Que hoje sente,
amanhã é ausente?
Que não está comigo
e sim com outro em minha frente?
Comigo disseram,
várias vezes disseram,
que eu não namorava
e que estava perdendo tempo.
Mas como namorar
se a cada paixão eu errava
e paciência ninguém tinha
para um pirralho louco,
carente e sem exemplo em casa?
Comigo disseram
que a receita era ter carro,
não adiantou ter nem usar,
todas hoje têm namorado.
Comigo disseram
que a receita era ser trabalhador,
mas engraçado que trabalho,
trabalho e trabalho,
mas não tem ninguém
ao meu lado.
Comigo disseram
que minhas mãos
não deviam ser lisas,
perguntei-me:
que tipo de atração é essa
que se preocupa com a mão
e não com a vida?
Comigo disseram
que eu não devia expor a dor
deveria omitir parte do que sou,
ora, ora, me senti desgraçado
por não poder ser transparente
com quem estava ao meu lado.
Comigo me disseram
que eu era formal demais
para estar ao seu lado,
isso me feriu pra caramba,
ora pois eu descobria não servir
pra ser seu namorado.
Comigo disseram
que eu precisava dar atenção,
carinho, presente e devoção.
Mas eu desafio alguém
a somar as viagens, ligações,
e tempo à disposição
e mesmo assim
tudo acabou por outra razão.
Comigo disseram:
escolha alguém da sua igreja.
Conheci, me aproximei e me feri
porque o que faz a pessoa
não é estar ali,
o que faz a pessoa é crer
e nunca desistir,
é disposição para amar
e também para servir,
coisa que é difícil encontrar
por alguém que está ali.
Comigo disseram:
você precisa aprender
a pôr tudo na mesma moeda,
você precisa aprender
que tudo tem retorno,
você precisa aprender
que eu não sou brinquedo.
Neste momento, descansei
como quem é abatido por um tiro,
afinal que soldado ferido
não sentiria descanso
ao finalmente acabar com a dor
de um coração partido?
INTENSA E DESCALIBRADA
Garota, mulher,
tão feminina,
sabe o que quer.
Sonha em Medicina,
até alucina,
mas tem medo do que vier.
Acho que em ti,
por mais bela
que seja sua fé,
reside a desesperança
ou aflição
da falta de uma autoestima
calibrada sobre quem é.
Ora você duvida,
ora você confia,
gosta de ser crítica,
tem a intensidade que quiser.
Às vezes até chora
se de TPM estiver.
Aos poucos se conhecendo
você irá desenvolver
uma imagem melhor
sobre quem, de fato, é.
Assim, certamente, encontrará
alegria e tranquilidade
mesmo no caos
de decidir o que quiser.
Você chama de vida adulta
as responsabilidades
que virá a ter.
Mas te digo:
logo hoje, responsável
e adulta, é você, mulher.
Talvez eu devesse,
ou talvez não,
me alongar neste poema
ou rimas,
chame do que quiser.
Às vezes eu só quero
dizer pra você
que tenho alegria em
dizer algo pra você:
Seu jeito imponente,
louco ou maluco,
descalibrado,
inocente e desconfiado,
doce e amargurado,
sensível e descontrolado,
controverso e desalienado,
é um jeito lindo
de ver alguém
sendo ela mesma.
Que sua viagem seja boa,
e seus dias sejam terríveis,
para que você perceba
sua força e riqueza,
capaz de enfrentar
até mesmo a natureza,
mesmo em condições de tristeza.
E assim, percebendo isso,
saiba esperar, confiar e acreditar
que tudo é possível,
até mesmo sonhar e realizar.
Que você fique com o abraço
que jamais te dei
e que é provável,
nunca vou te dar.
Ficarei com teus olhos,
sua intensidade e seu falar,
passarás, passarás.
Mas neste momento específico
durarás, durarás.
CLICHÊS vs TRAGÉDIAS
Sou shakesperiano assumido,
prefiro as tragédias aos clichês.
Gosto de entender que há realidade
em tudo que é belo,
e que há aprendizado
em tudo que é feio.
Sou romântico progressista assumido,
prefiro a devoção ao autocuidado.
Gosto de fazer existir histórias
onde só havia ilusão,
gosto de ver luz
no meio da escuridão.
Deveria eu assumir as tragédias
e então reproduzí-las?
Ou inspirar-me em clichês do cinema,
em histórias não vividas?
Prefiro viver uma história de cada vez,
um sentimento de cada vez,
para que quando a hora enfim chegar
haja tanta realidade que já não se sabe
se é uma tragédia ou um clichê.