Cidadão
A abundância da oferta nos faz confortáveis. É na escassez que se conhece todo o potencial ou a ausência dele.
As conquistas se tornam reais quando se escolhe multiplicar a coragem, somar esforços, subtrair o medo, dividir os resultados e elevar à potência a relevância.
Cordões umbilicais familiares não cortados impedem a constituição de um novo núcleo autônomo familiar.
É impossível barrar o processo, mas é possível acelerá-lo quando já se passou pelo caminho uma vez.
RECEITA DE INSUCESSO
Comigo disseram
que eu não era transparente
então me joguei,
deixei conhecer minha mente,
o resultado foi uma
paixão delinquente.
Comigo disseram
que eu era intenso
e precisava a barba aparar,
o resultado foi um
afastamento crescente.
Comigo disseram
que eu não era independente,
mas logo que fui
o resultado foi ver
a outra com um adolescente.
Comigo disseram
que eu fui "ok"
outra vez que fui "bem",
mas a ausência de replay
me diz que ela mente.
Comigo disseram
que gelo eu precisava dar,
mas me cortei no gelo
e tive como resultado
um coração ardente.
Comigo disseram,
e várias vezes disseram,
que me amavam,
mas que amor é esse
que hoje alcança,
amanhã apunhala?
Que hoje sente,
amanhã é ausente?
Que não está comigo
e sim com outro em minha frente?
Comigo disseram,
várias vezes disseram,
que eu não namorava
e que estava perdendo tempo.
Mas como namorar
se a cada paixão eu errava
e paciência ninguém tinha
para um pirralho louco,
carente e sem exemplo em casa?
Comigo disseram
que a receita era ter carro,
não adiantou ter nem usar,
todas hoje têm namorado.
Comigo disseram
que a receita era ser trabalhador,
mas engraçado que trabalho,
trabalho e trabalho,
mas não tem ninguém
ao meu lado.
Comigo disseram
que minhas mãos
não deviam ser lisas,
perguntei-me:
que tipo de atração é essa
que se preocupa com a mão
e não com a vida?
Comigo disseram
que eu não devia expor a dor
deveria omitir parte do que sou,
ora, ora, me senti desgraçado
por não poder ser transparente
com quem estava ao meu lado.
Comigo me disseram
que eu era formal demais
para estar ao seu lado,
isso me feriu pra caramba,
ora pois eu descobria não servir
pra ser seu namorado.
Comigo disseram
que eu precisava dar atenção,
carinho, presente e devoção.
Mas eu desafio alguém
a somar as viagens, ligações,
e tempo à disposição
e mesmo assim
tudo acabou por outra razão.
Comigo disseram:
escolha alguém da sua igreja.
Conheci, me aproximei e me feri
porque o que faz a pessoa
não é estar ali,
o que faz a pessoa é crer
e nunca desistir,
é disposição para amar
e também para servir,
coisa que é difícil encontrar
por alguém que está ali.
Comigo disseram:
você precisa aprender
a pôr tudo na mesma moeda,
você precisa aprender
que tudo tem retorno,
você precisa aprender
que eu não sou brinquedo.
Neste momento, descansei
como quem é abatido por um tiro,
afinal que soldado ferido
não sentiria descanso
ao finalmente acabar com a dor
de um coração partido?
INTENSA E DESCALIBRADA
Garota, mulher,
tão feminina,
sabe o que quer.
Sonha em Medicina,
até alucina,
mas tem medo do que vier.
Acho que em ti,
por mais bela
que seja sua fé,
reside a desesperança
ou aflição
da falta de uma autoestima
calibrada sobre quem é.
Ora você duvida,
ora você confia,
gosta de ser crítica,
tem a intensidade que quiser.
Às vezes até chora
se de TPM estiver.
Aos poucos se conhecendo
você irá desenvolver
uma imagem melhor
sobre quem, de fato, é.
Assim, certamente, encontrará
alegria e tranquilidade
mesmo no caos
de decidir o que quiser.
Você chama de vida adulta
as responsabilidades
que virá a ter.
Mas te digo:
logo hoje, responsável
e adulta, é você, mulher.
Talvez eu devesse,
ou talvez não,
me alongar neste poema
ou rimas,
chame do que quiser.
Às vezes eu só quero
dizer pra você
que tenho alegria em
dizer algo pra você:
Seu jeito imponente,
louco ou maluco,
descalibrado,
inocente e desconfiado,
doce e amargurado,
sensível e descontrolado,
controverso e desalienado,
é um jeito lindo
de ver alguém
sendo ela mesma.
Que sua viagem seja boa,
e seus dias sejam terríveis,
para que você perceba
sua força e riqueza,
capaz de enfrentar
até mesmo a natureza,
mesmo em condições de tristeza.
E assim, percebendo isso,
saiba esperar, confiar e acreditar
que tudo é possível,
até mesmo sonhar e realizar.
Que você fique com o abraço
que jamais te dei
e que é provável,
nunca vou te dar.
Ficarei com teus olhos,
sua intensidade e seu falar,
passarás, passarás.
Mas neste momento específico
durarás, durarás.
CLICHÊS vs TRAGÉDIAS
Sou shakesperiano assumido,
prefiro as tragédias aos clichês.
Gosto de entender que há realidade
em tudo que é belo,
e que há aprendizado
em tudo que é feio.
Sou romântico progressista assumido,
prefiro a devoção ao autocuidado.
Gosto de fazer existir histórias
onde só havia ilusão,
gosto de ver luz
no meio da escuridão.
Deveria eu assumir as tragédias
e então reproduzí-las?
Ou inspirar-me em clichês do cinema,
em histórias não vividas?
Prefiro viver uma história de cada vez,
um sentimento de cada vez,
para que quando a hora enfim chegar
haja tanta realidade que já não se sabe
se é uma tragédia ou um clichê.
IDEALIZAÇÃO
Enquanto te ouço pelo celular
não consigo pensar em algo:
tudo que penso é estar ao seu lado.
Enquanto te vejo na rua,
seja passeando ou indo à luta,
meu coração vibra
por você ser tão sua.
Enquanto te sonho numa noite qualquer,
te guardo no peito
como quem sabe o que quer.
Te peço pra Deus:
"Papai, se puder, me traz essa mulher".
Enquanto te escuto,
sua voz alcança meus sentidos
e promove algo sem explicação.
Acho, com certeza, que é
efeito da minha paixão.
Enquanto te penso,
ouço o deslizar de seus dedos na minha pele
e sinto a sua voz ecoando em meu pescoço
com um olhar sempre quente,
quase que um pedido de socorro.
Será que eu sou ausente demais
da realidade contradissente?
Ou será que fui abduzido
pela paixãodelinquente?
Sabe-se-lá o que for,
é com você que me encanto
e quero ir pra todo canto
te chamando de amor.
Aliás, apelido, você já tem tantos:
é furacão, baby, florzinha, meu amor.
Quero mesmo é seu sobrenome
no cartório, na certidão
e nos frutos do nosso amor.
Quero mesmo é você
me batendo, me surrando
só porque gosta de irritar.
Quero eu te estressando
com meu jeito bem chato
de tentar te amar.
DRAMA DO AMOR
Eu sei ser bem louco
quando posso me ser.
Eu sei ser bem ávido
quando consigo te ver.
Eu sei ser bem pálido
quando converso com você.
Eu sei ser idiota
quando risadas quero ter.
Eu também sei ser dramático
o tempo todo do meu ser.
Eu quero ter o seu amor
se em liberdade você me escolher.
Eu quero ser privilegiado
pelo seu beijo conhecer.
Eu quero ser o primeiro
- até quem sabe o último -
pensamento do seu amanhecer.
Eu posso ficar ferido
se você me ignorar.
Eu posso me machucar
se com você eu não falar.
Eu posso até mesmo me calar
se essa condição precisar.
Eu posso ser um filme dramático
se um final feliz puder te dar.
O amor é dramático, eu posso provar
o que ele não é
é incapaz de tudo suportar
para ver dois seres juntos
conhecerem o mar.
INTIMIDAÇÃO
Se nem um capotamento,
as madrugadas escuras e frias,
os mendigos e curiosos,
os bandidos e criminosos,
não tive medo de enfrentar,
vou ter medo de
com uma intimidação lidar?
Ora, não.
Pra quem já negociou com bandido
pra não levar seu celular,
pra quem já correu
pra não se deixar roubar,
pra quem já teve arma
pra si apontada,
pra quem já foi embora
e na praça precisou dormir,
pra quem tomou tapa na cara
de quem nunca imaginava,
pra quem ameaça,
pelo celular, recebia,
pra quem várias vezes
teve a bicicleta furtada,
pra quem passou por isso aí
e com tranquilidade
anda pela estrada vazia,
uma intimidação vale pouco
ou quase nada.
Na verdade, o que a intimidação faz
é revelar uma característica oculta
da pessoa que outrora
era ou poderia ser amada.
Embora a Lua reflita pouquíssima luz, é nela que nos deleitamos em observação. Isso diz sobre o nosso gosto pela falsa sensação de perfeição que o distante e inacessível nos apresenta.
Eu poderia começar
Falando sobre terminar
Mas não é sobre isso
É sobre você
Que eu quero falar
Não você que foi
Mas você que ficou
Depois de tudo que passamos
Um passado carregamos
Nossa história é muito linda
Mas difícil de ser vivida
Nossa história é consagrada
Como a mais incalculada
Mas passamos esta vida
Teimando com a vida
E agora, à vista,
Pagamos o preço
De uma história bem vivida
Depois de tudo, veio a saudade
Nesta idade, pensei já não mais existir
Saudade dos beijos, saudade do abraço,
Saudade do corpo e do sorriso
Soldado ferido pela própria arma,
Feriu a companheira no meio da guerra
Tentou reanimá-la, mas se perdeu na selva
E agora a distância é mais que geográfica
Salvou seu coração, mas perdeu a ligação
Aquela ligação, aquela amizade,
Aquela sinceridade, aquele mozinhão
Apelido carinhoso pra pessoa específica
Hoje eu sinto falta até do que não tive
Hoje sinto a vida me cobrando o declive
Hoje sinto você tão longe, tão passiva
Hoje eu queria estar contigo
Ainda que fazer nada fosse o seu prometido
Maratonar filmes, séries, o que seja
Tocar seus pés no meu e me tirar um sorriso
Te massagear e cuidar de você
Te deixar mais macia pra de noite ter conchinha
Te ouvir contando caso e não me deixar dormir
Olhar pro porta-retrato e lembrar do que me faz sorrir
Depois de tudo
Eu sinto você mais madura
Não posso querer te ter comigo
Se fui eu que terminei
Mas também não posso dizer que não tentei
Até mudar eu propus
Largando pra lá a minha vida
Em migalhas eu fiquei
Mas você me disse não
Não com ponto final
Não com adeus
Deus me queira com você no futuro
Pois agora seguir em frente vai ser duro
Eu não quero machucar ninguém
Mas ficar parado também não dá
Tenho que fazer alguma coisa
E ser formado
Pra vencer este passado
E dar um passo
Rumo a um futuro estrelado
Que eu ainda não sei como vai ser
Sem você ao meu lado
Afinal, primeira namorada
Quase esposa
E um término desconcertado
Poderia ter sido melhor
Mas foi, ainda assim, mais do que sonhado
É difícil alcançar o patamar
De um sentimento teimoso e reforçado
Que nunca se abalou
Nem com as tragédias aqui do lado
Mas que agora acabou
Por causa de uma maldita ansiedade
Sobre um diálogo acumulado
De um garoto esforçado
Mas que nunca soube realmente quem ele era
Até ter vocêdo lado.
A docência no ensino profissionalizante precisa dedicar tempo considerável ao desenvolvimento de competências socioemocionais porque o ensino básico falhou nisto.
Todos nós somos quebra-cabeças desmontados, é preciso valorizar quem tenta nos montar, inclusive nós mesmos.