Chuva
O Preâmbulo da Chuva
Os meus olhos derramam o preâmbulo da chuva.
As lágrimas que escorrem pelo meu rosto são as chuvas trémulas, são memórias líquidas, naufragadas na alma. Chove em mim um dilúvio de dias, que se desfazem nos galhos das solarengas saudades. As agonizantes horas trazem à tona os cardumes dos verbos, onde se erguem as angústias dos meus caminhos. Os meus olhos choram a chuva arremessada por um oceano de palavras. Chorar a amar é despenhar-se em lágrimas.
"O idiota é uma realidade tão evidente quanto a chuva, e, como ela, cai inexoravelmente no chão. Não vá de encontro a ele nem ao encontro dele; apenas identifique-o e previna-se. De que maneiras? Bem, há várias – e todas passam, nalgum momento, pelo uso profilático do silêncio e das evasivas calculadas".
Se esta chuva não parar
durante esta madrugada,
amanhã não faço nada
e tenho a terra pra cavar.
Se esta chuva não parar
o terreno fica alagado,
e não posso semear
o que não está semeado.
.
Se estou apoquentado
durante esta madrugada,
canto uma letra dum fado
ou um cante à minha enxada.
Esta chuva vem molhada
e promete a boa vida...
Amanhã não faço nada,
nem cuido da minha lida.
Talvez tome uma bebida
enquanto a chuva durar...
Cai a chuva bem caída
e tenho a terra pra cavar.
REMINISCÊNCIA...
(Autoria: Otávio Bernardes)
Chuva...
Quanta chuva – quem sabe –
permeia a sua existência!
Apartamento...
Você possui casa, lote, apartamento...
Bonito – não é mesmo?!
Você é muito feliz!
Talvez nunca pensou nisso!
E a vida segue...
A vida continua...
Estou olhando pela vidraça!
Céu nublado e nuvens carregadas!
Onde estaria eu agora!
Simplesmente eu
e minhas recordações inesquecíveis...
pernósticas... indizíveis...
mas muito humanas...
mas... deveras egocêntricas....
Às vezes, a gente acha que sabe tudo,
inclusive, tudo mesmo...
e acaba se enganando metaforicamente!
No nosso mundo pessoal
existem muitas chuvas...
vários enigmas...
mistério mesmo!
Bastante céu nublado...
turvo... enfadonho...
ensimesmado... filantrópico...
Ainda ontem pensava assim
e estou, de novo, pensando!
Reminiscência! Até quando!
Chuva... apartamento... céu nublado!
"Cuidado com seu guarda-chuva: aonde você chega... ele fica!"
Otávio ABernardes
Gyn, 12 de novembro de 2024.
BARCOS DE PAPEL (soneto)
Na chuva da temporada, pela calçada
A enxurrada era um rio, e o meio fio
O teu leito, com barragem e desafio
Na ingênua diversão da meninada
Bons tempos felizes, farra, mais nada
Ah! Os barcos de papel, inventivo feitio
Cada qual com um sonho e um tal brio
Navegando sem destino, a sua armada
Chuva e vento, aventura e os barquinhos
Tal qual a fado nos mostra os caminhos
E a traçada quimera no destino velejada
Barcos de papel, ah ideais, são poesias
Que nos conduzem nas cheias dos dias
No vem e vai, no balanço, da jornada...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
27/06/2020, 11’05” – Triângulo Mineiro
VENDAVAL EM CANTILENA PROSA
Cai no cerrado, ó chuva, e nos beirados
Sussurrando sons que o apavorar fiança
Em pingos d’água numa enfada dança
Purgando áridas angustias e pecados
Temporal no sertão, e tão agitados
Escoam nas planícies numa pujança
Deitando melancolias numa trança
De saudades e suspiros desolados
Do teu copioso gotejar, o luzidio
Relampejar, eriçando em arrepio
Que agita a tempestade tão furiosa
Troa lá fora, em um agravo vitupério
Estrondeando e envolto em mistério
De um vendaval em cantilena prosa...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30/11/2020, 20’51” – Triângulo Mineiro
QUE SAUDADE...
Que saudade nesta sensação, agora
A chuva range rumorosa na vidraça
O soar do relógio, de hora em hora
A badalar. No ir o tempo não passa
Solidão. Não durmo. Como demora
Essa angustia que na ideia é pirraça
Traça que corrói, e na alma aflora
Fazendo na emoção triste negaça
Eu sei que o pensamento velando
É furioso, e de quando em quando
Vem fluídico e ao cabecear enlaça
Oh falto! E o instante percorrendo
Suspirando, gemendo e, chovendo
Lá fora. E a saudade que não passa! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
10/02/2021, 03’05” – Triângulo Mineiro
CHUVARADA
O cheiro único, acre, tão saboroso
De terra molhada, na chuva dada
No cerrado. É uma oração rezada
Num inconfundível feito saudoso
No terreiro, ventania e chuvarada
O quintal com o seu aroma aquoso
É de um espírito tão maravilhoso
Faz a alma da gente... enxarcada
A infância pisa junto na enxurrada
De chão batido, escorre no meio fio
Aguaça, diversão e risada ensopada
Camarada, chove chuva de motão
Mais desejada, doce e leve no feitio
Aroma tão, da chuvarada no sertão!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
07 janeiro, 2022, 07’30” – Araguari, MG
SAUDADE AJOELHADA
Cá, sob este chão de superfície rude
de pouca chuva, seco, natal morada
meu eu, jaz pra sempre em plenitude
a causa da minha narrativa poetada
Fora-se-me nostálgico a cada parada
e, vãos, os sonhos da terna juventude
aqui, pelas calçadas, firme e devotada
lembranças, de um tempo de virtude
Repousa, cá, em paz sob este sertão
emoções, as recordações, do genuíno
sentimento... suspirados do coração!
E, cada sensação sentida, sussurrada
da alma, mescla com o dobre do sino
da Matriz, pondo a saudade ajoelhada...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
03 abril, 2021, 13’58” – Araguari, MG
- Relacionados
- Frases sobre chuva para encontrar beleza em tempos nublados
- Dias de chuva: frases para transformar cada gota em inspiração
- Frases de chuva abençoada para um dia de paz e renovação
- Poemas de Chuva
- Frases sobre andar na chuva
- Eu Prefiro na Chuva Caminhar
- Frases de chuva e amor para aproveitar o clima a dois