Cerrado
cerrado sol de verão
Ardente ao ser feito no verão
Fumegante mago bailarino
Astro rei, que é imensidão
Que floresce no céu a pino
Sol, mais que uma canção...
É poeta, poesia, no céu divino.
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2018
Brasília, DF.
Nenhum som é mais bonito, que ao se pronunciar: - um abraço!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
cerrado goiano
DoDia e DaNoite
DoDia o sol ruboresce
no cerrado torto, desigual
DaNoite o céu estrelece
e os sonhos num ritual...
Banha-se o rosto na bica
fria, da madrugada DoDia
Estórias já são DaNoite, futrica
pois, é o tempo em travessia.
DaNoite e ou DoDia, a poesia plica.
E segui a sina...
© Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
31 de maio, 2018
Cerrado goiano
A TRISTURA
Iracundo, de má sorte, rubicundo
No cerrado, rabisca dor na escrita
Brada gemidos na secura maldita
Erigindo um cântico corcundo
Imundo, profundo e tão desdita
A mágoa verte gosto moribundo
A cólera vinga no fado furibundo
Poetizando a lágrima anafrodita
E nesse fecundo olhar em febre
Rasga o peito tal caçada lebre
Uivando agrura sem candura
Nas minhas profundezas, pesar
A trava alma no sereno a chorar
E a ventura rimando com tristura
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Início de agosto de 2018
Cerrado goiano
CHACAL
Ó Cerrado! ó velho de bravura!
Ó cruel e implacável vastidão!
Que propina solidão ao coração
E ao silêncio lágrimas mistura!
Pois a melancolia, onde é chão
Abre em secura, arde a tristura
Na quietude tal duma sepultura
A dor viva de um atroz bordão!
Tal o contraste! agridoce figura
Aridez, e flores na contramão
De saudades no vazio em jura!
Ó Natureza! Ó Divina criação
Alegria e tristeza em conjuntura
Nasce a privação e brota a ilusão...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
início de setembro, 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
DESEJO
O silêncio que brada, desnorteado
No cerrado, que a chorar me vejo,
O peito na dor que sofre, separado
Do outrora, na saudade me protejo.
Não me basta saber do passado,
Se, se amei ou fui amado; desejo
Mais que afeto simples e sagrado,
Quero olhar, laço e um doce beijo.
Ao coração que tolera, só ousadia
Não me acanha: pois maior baixeza
Não há que paixão sem ter o calor;
É a justa ambição que eleva a poesia
Ser poeta sempre e, na sua pureza,
Deixar seus versos cheios de amor.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
20 de setembro, 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
VELHO GOIÁS
Olha os ipês no cerrado, mais belos
Do que as da estação da chuvarada
Tão antigos, tanto mais belos, nada
mais magnificante... e tão singelos!
Os brancos, os rosas e os amarelos
Nos galhos, a cantiga da passarada
E o frágil das flores no chão arriada
É o velho Goiás nos seus paralelos
Toca o berrante, boiadeiro e boiada
Carro de boi, os seus causos e viola
Assim, assim vão todos pela estrada
No suor da terra a mão do capataz
Cidade grande e também a aldeola
É o espírito do chão do velho Goiás...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
CREPÚSCULO NO CERRADO
Na tarde do cerrado, rubra o horizonte
Pulsa, nos arbustos de galhos tortuosos
O fim do dia. Em cheiros tão saborosos
No crepúsculo tropical, de poética fonte
Tudo, entre rútilos, vermelhes fragosos
Raspando a luz no seu total desmonte
Gerando sombras e enigmática ponte
No breu, vozeando coros lamentosos
A lua, se apresenta com seu alvo manto
Cercada no céu por um véu de casimira
Desenhando o anoitecer com ternura...
Dentre todas as criaturas, meu espanto
Por tão dadivoso encanto, que se expira
No fugaz beijo, inicia a noite, tão escura.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Outubro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
FRIO (cerrado)
Quem o contentar dirá destas noites de frio?
Corre no cerrado de galho a galho, arrepio
Dum vento seco e bravio. E eu, aqui tão só
Em queixas caladas, calafrios, é de dar dó
Recolhido na tristeza do invernado cerrado
Cheio de solidão, de silêncio e de pecado...
Que corrosiva saudade! Esquisita e estranha
Uma está lembrança forjada na entranha
Do inverno, caída de outrem, fluindo amargor
Onde, em sombrio sonho, eu vivendo a dor
Sem querer, na ingratidão, com indiferença
No vazio da retidão, da ilusão e da crença
Que acirrado frio, sem piedade, ofensivo
Que me faz reclusivo, neste cárcere cativo
Insano, em vão, duma melancolia lodaçal
Que braveja, me abraça e me faz tão mal...
Por que, pra um devaneador esta paragem
Que ouriça, e é tão deslocada de coragem?
Ah! quem pode me dizer pra que assim veio?
Se está tortura é passageira, assim, eu creio.
E a minha miséria aberta, escorre pelo olhar
Receio... e mais gelado fica em mim o pesar.
Uma prosa alheia, uma penitencia escondida
Se é só o frio, por que esta insânia homicida?...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
14 de julho de 2019
00’17”, Cerrado goiano
Olavobilaquiando
pálpebras
(de manhã)
pro cerrado abro a janela
vejo o horizonte, audaz
as nuvens içam sua vela
à noite as fecho, usual
a lua fica lá fora
o céu ruborizado, colossal
estrelado, avança a hora...
durmo neste ritual!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
24 de setembro de 2019
Araguari, Triângulo Mineiro
(en)canto
no cerrado canta a cigarra
quer o (en)canto dum par...
canta, numa tal algazarra
até o teu peito estourar...
e neste som de guitarra
baila, seduz, sem parar...
de carência ou garra
a cigarra quer casar...
é sofrença ou farra
ou carma a carregar?
neste mantra se agarra
até a lua raiar...
é fanfarra
é verão à anunciar...
então, canta cigarra
a vida tem de continuar!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
outubro de 2019
Cerrado goiano
bioma
me encanta o reino do cerrado
onde cresce o diverso na diversidade
o pôr do sol que é encantado
num pique esconde na luminosidade
(no horizonte)
e nesta magia viva de vivacidade
és dourado, é ponte, é fonte, é cerrado
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
lombeira
passa lento a lentidão
devagar que dá canseira
o vento sopra mansidão
no cerrado dá lobeira
pasmaceira de vidão...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
SONETO DE INVERNO
Frio, uma taça de vinho, face em rubor
No cerrado ivernado pouco se aquece
Um calor de momento, o vinho oferece
E a alma valesse neste desfrutar maior
Arrepio no corpo, do apego se apetece
Pra esquentar a noite, tornar-se ardor
Acalorando o alento do clima ofensor
Tal é perfeito, também, o afeto tece
E na estação de monocromática cor
De paixões, de misto sabor, aparece
Os mistérios, os desejos, os sentidos
Assim, embolados nas lareiras, o amor
Regado de vontades, no olhar floresce
Pra no solstício de novo serem acolhidos
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano
SONETO DO IPÊ
O cerrado se prepara para a primavera
No chão cascalhado, a florada anuncia
Os ipês amarelos ornando de luz o dia
E o horizonte se vestindo de quimera
Sai o inverno, setembro, vem a ventania
E mal surgia, e caem sem assim quisera
Em implacável jornada, acatando a era
Atapetando o chão de matizada magia
E neste, veste e despe, a beleza gera
Espanto da sina acirrada em tirania
Do ipê ser algoz na sua pouco espera
No processo que penaliza a flor fugidia
Em ser uma desgarrada na atmosfera
Faz-se o prosseguir a vida em romaria
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano
ESPERTINA (soneto)
O cerrado está frio, lenta é a hora
É tarde da noite, o vento na vidraça
Pendulando o tempo, tudo demora
E o relógio, em letargia não passa
A espertina virou no dormir escora
Tento escrever, mas a ideia está lassa
A vigília do olhar não quer ir embora
Viro, e reviro no liso lençol de cassa
Dormir? O sono no sono faz ronda
O frio na minha alma faz monda
E o adormecer em nada me abraça
Que insônia! O sino da igreja já badala
O galo da vizinha o canto já embala
E o sol pela janela a noite ameaça!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Julho, 2016
Cerrado goiano
MANACÁ DA SERRA NO CERRADO (soneto)
Plantei um manacá no cerrado
Para o chão ressecado florescer
Em flores bicolores, a irromper
Matizando o árido cascalhado
Já não me sinto só, o alvorecer
Tem um doce aroma de agrado
Com jeito de bafejo tão airado
Que abraçam todo o meu ser
O manacá da serra no cerrado
Trova com o vento um verter
Poético, se fazendo admirado
Árvore em flor, a transcender
O vazio num ato contemplado
Balsamizando os dias de prazer
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto, de 2016
Cerrado goiano
CHOROSO SONETO
Daqui deste rincão do cerrado
Quisera de a saudade apartar
Mas os ventos só põem a chiar
Quimeras percas no passado
Não sou um poeta de chorar
Mas choro um choro calado
Amiúde e assim comportado
Paliando soluços no poetar
Tão menos viver pontificado
No sofrer, brado, quero voar
Lanço meu olhar ao ilimitado
E pelo ar vai o desejo represado
Liberando as fontes do amar
Livres e do suspiro desgarrado
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
NOVEMBRO, soneto no cerrado
A nuvem de chuva, está prenha
A lua na noite longa enche de luz
Novembro, aos ventos ordenha
Amareladas folhas que nos seduz
Meditação, finados aos pés da Cruz
O colorido pelo seco cerrado grenha
As floreadas pelos arbustos brenha
Trovoadas, relâmpagos no sertão truz
Águas agitadas, o mês da saudade
Num véu dançante... Vem novembro!
Linhas de poema e prosa, fertilidade
Décimo primeiro, antecede dezembro
Em ti é possível notar a instabilidade:
Fogo e água, da transição é membro
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
novembro de 2016
Cerrado goiano
Sussurro
Dê-me as sombras oh, cálido cerrado
Das que as poucas nuvens sombrinha
Chore árido orvalho mesmo que forçado
Em um cadinho de brisa, nesta tardinha
- olha que é um sussurro abafado
Dê-me alívio com o rústico vento
Que aspiram as poeiras dos galhos
Em suspiros e frescor em rebento
Foiçando o calor em brandos atalhos
- olha que é um sussurro de alento
Dê-me da tua sequiosa suavidade
Desafogando o peito deste mormaço
- olha que nem peço chuva - raridade
- olha que é um sussurro e cansaço
Nesta seca sufocação, por caridade...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Abril, 2016
Cerrado goiano