Cerrado
POÉTICA POESIA
O meu romantismo na quantia
Seja trovando só, sem escolher
Com o amor pouco no conviver
Venha do afeto, agrado e fantasia
A esses versos leia quem quiser
Chore, esbraveje, ou até sorria
Mas não me venha com ironia
Prover, sem da paixão ter saber
A outros a chance de o prazer
Tem, e que seja de harmonia
Pra não ser de tristura ao ler
E assim, a magia seja pro dia
O encanto na noite então ter
Numa variegada poética poesia
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30 de março de 2020 - Cerrado goiano
copyright © Todos os direitos reservados
Se copiar citar a autoria – Luciano Spagnol
ABANDONO (soneto)
Silêncio mudo, rente ao meu lado
Como uma melancolia a sussurrar
Há cem mil sensações a me olhar
E o pensamento vagando isolado
Tanto abraço desesperado, atado
Na imensidão do tempo sem lugar
E inspiração rútila a me abandonar
Todos os dias aqui no árido cerrado
É a solidão, cega, áspera e tão fria
E a nossa vida ficando mais breve
E as nossas mãos sem afável valia
A hora passa, e cobra a quem deve
São as horas que sentencia a poesia
O efêmero, tal a rapidez descreve...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30 de março de 2020 - Cerrado goiano
JUVENTUDE (soneto)
Lembras-te, poesia, quando, era só alegria
Ao fim do dia, o pôr do sol mais que luzidio
Era arrepio na alma, e a satisfação persistia
E em teus versos canto de juventude no cio
Tudo era ingênuo, melodioso e de fantasia
Felizes, ambos, íamos trovando o desafio
Fio a fio, nas venturas com a boa teimosia
Ecoando em nós o inato recato de ter brio
Tudo era longo, e o agora mais duradouro
O azul do céu num infinito da imaginação
E o amanhã no amanhã, um novo tesouro
E em nosso olhar, aquela tão mágica visão
De que tudo é possível no sonhar vindouro
E o mundo seguia mundo sem preocupação
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
31/03/2020, 14’27” - Cerrado goiano
AMOR DE POETA
De um lado, o sentimento, do outro lado
O fado, pelado, cru, desnudo de fantasia
O sonho no beiral do lampejo debruçado
Na alva, na lua, e no entardecer do dia
Se fala de afetos, lasso fica o seu agrado
É que a paixão o cega, e o pranto o guia
Nas sofrências que tatuam o seu passado
Cada verso dilacerado, senhora a poesia
Intenso. Emoção vaza em cada trova sua
Sem defesa, intacta, e de total entrega
Do silêncio, a ternura no estro profundo
Em frente as sensações, a tua alma nua
Onde a mais ingênua imaginação navega
O árduo amor, dos Poetas deste mundo!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
01/04/2020, 07’12” - Cerrado goiano
BREU PROFUNDO (soneto)
Em cada estrela no céu a palpitar
Na imensidão do breu profundo
Me sinto agora em outro mundo
Quase sem ruído, tudo a silenciar
Noite. De um negror moribundo
O veto proceloso na greta a uivar
E o sonho sem ter como sonhar
As horas mais lentas no segundo
E a voz da solidão no abandono
Que nas sombras se escondem
Azoado, sinto o hálito do sono
Minha alma tal como um refém
Devaneia na saudade sem abono
Na escureza velando por alguém
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
01/04/2020, 19’29” - Cerrado goiano
Brás
No centrão da terra da garoa
De janelas para a rua
Velhos na praça, atoa
Casarões no tempo tatua
Desta ou aquela pessoa
A história... e a vida continua
Os moleques descalço o pé
De juventude nua
O boteco de seu Josepe
De outrora, tão fugaz!
O ambulante vende leque
A italianada em cartaz
Nas cantinas, nos bares
Aqui é o Brás!
Terra de todos os lugares...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
02/04/2020, 12’58” – Brás, São Paulo
Revinda
Vim morrer em Araguari
Cidade sorriso, eterna
Que a mocidade é daqui
E o meu berço governa
Em uma banda a revinda
Na outra a fonte fraterna
Entre ambas a falta ainda
De a história que hiberna
E sinto, sinto: ganas nuas
O sentimento na berlinda
A ternura vagar pelas ruas
E rir. Antes que tudo finda
Vim morrer, no aceitar vim
Cá para as bandas das gerais
Vim. Outrora chama por mim
E, e por fim, não chama mais...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03/04/2020, 08’01” – Cerrado mineiro
ESTÁ A AMAR (soneto)
O amor não é somente
Uma poesia a se compor
São versos dum sedutor
No coração em semente
Cresce no desejo, é sabor
Mais que o simplesmente
Que o propósito da gente
Mais que ser um rimador
Tem na trova algo maior
Que a rima nunca mente
E o cheiro de prosa no ar
Na inspiração cortês vetor
Uma composição diferente
Ao poeta que está a amar...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03/04/2020, 16’24” – Cerrado mineiro
SONETO OCULTO
Tua poesia veio a mim. Donde viera?
Que canto? Que harmonia? Encanto
Rima doce: - tão sossegada quimera
De leve compasso verso sacrossanto
Inspiração de furiosa paixão sincera
Magnetizando os meus olhos, tanto
Em cada estrofe, que o ledor espera
A todo a leitura, e a todo o recanto
Ai! eu nunca mais consegui esquecer
A fleuma das trovas que ali exalava
E em cada linha o sentimento eleito
E a emoção subiu ao peito sem conter
Os suspiros, que cada verso provocava
Ah! versar: terno, amoroso e perfeito!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
03/04/2020, 22’32” – Cerrado mineiro
Encontro
Inspiração, agarrei-te
Pelo cangote da poesia
E, contigo, nesse deleite
Ri, chorei, e na ousadia
Dei ao meu eu devaneio
Que a imaginação fantasia
E os versos, dela recheio...
Delirei passo a passo
E tão pouco sabia
Que ali seria laço
Que a alma quisera
Ter como compasso
E a cada trova, nova era
De colher cada meu pedaço
Que vivia em espera
Em segredo no coração
Assim, então, achei-te
Ó poesia, Divina criação
E para cada afeite
Uma emotiva razão!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04/04/2020, 07’37” – Cerrado mineiro
Não quero só sonhar
nem quero ser sonhador
Não quero só amar
nem quero ser amador
nesta mixórdia:
- O que quero está ao alcance do olhar, simples, encantador. Misericórdia.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04/04/2016
Paráfrase Manoel Bandeira
Embate
À volta de incerta inspiração
Ocupei as minhas mãos.
.... e foi a poesia sua combinação!
Brinquei de poetar a vida
Só por tê-la.
Ai! como é incontida
Misteriosa e bela
Cheia de medida!
Em rima discreta, branda
Fui poetando, fui poetando
O que a emoção manda...
E, o que o fado me foi dando
Talvez fiquei devendo à poesia
Um canto de delírio, trovando
Ou talvez mais alegria!
Quiçá! Uns versos amando.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
04/04/2020, 17’52” – Cerrado goiano
COBRA CEGA (soneto)
Era a saudade, saudade crua que vela
A solidão. Com a impostura do pranto
Que sente falta, partida em um canto
Do coração, que se veste da dor dela
Era a lembrança! Curvada na janela
A esperar que se quebre o encanto
E no horizonte desanuvie do manto
Da noite vazia, e se torne leve e bela
Era a angústia com a sua tristura cada
Era o seu silêncio e o seu tempo lasso
O desespero na negrura da madrugada
Que brincam, com o desanimo crasso
De olhos vendados, e a ventura atada
De cobra cega com o prazer escasso...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
05/04/2020, 15’11” – Cerrado goiano
Poema perfumado
O meu poetar anda na ilusão
Mesmo assim, ele vai além
Sofrência? Não. Por onde for
Nas rimas do seu amor
És poesia, senso, refém!
Não o tenho pra mais ninguém (só você)
Tentaram detê-lo na saudade
Mas abri-lhe a porta do bem
Na trova solitária, humildade
Porém, nas tuas linhas, sonhos
E aquela romântica vontade
Me fez ter temores medonhos
De um amor com felicidade....
Ai! a lembrança! - dor doída
Ai! Tu! - memória prazerosa
Que acalma a alma sofrida
E perfuma a vida com rosa! ...
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
15/04/2020 – Cerrado goiano
AME PRIMEIRO (soneto)
Quem quiser ter poesia, que ame primeiro
O poetar onde, total, caiba na haste da flor
Ai dos que trovam, e dele não é por inteiro
Se apartam das quimeras e do afável amor
Os versos sorriem, enfim, ao ser certeiro
No peito do poeta que está um amador
No sonho passageiro, da ilusão é herdeiro
O bardo romântico, um eterno sonhador
Ai de quem, gerando-os, nada lhes trouxer
Ai dos que tem o dom e não tem o afeto
Hão de ali perder-te o que a emoção quer
Aí, no silêncio do senso um rimar inquieto
Coração sofredor e da ventura sem saber
Então, redigi solidão no corpo do soneto!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
19/04/2020, 06’37” – Cerrado goiano
[...]saudade é a poesia do tempo... que nos versos de amor, compôs melodia em nossa vida... e que agora o silêncio é quem recita nas nossas lembranças.
COVID (soneto)
Madrugada. Silêncio. A agonia
A treva no aflito recolhimento
A ânsia dum outro momento
Sacode a quietude da poesia
Deveras outro sentimento
Numa contaminação do dia
E então outro tempo teria
Nova era, novo nascimento
A voz de Deus Pai grita
E a das almas responde
Nesta labareda infinita
No peito o medo esconde
Num ruído saído da escrita
Dispersos, filhos de Eva... pra onde?
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
Maio, 2020- Cerrado goiano
Ser-se Poeta
Ser-se poeta é ser-se sentimental
( - ou mais do que piegas talvez...)
É pôr-se no romantismo especial
E ter a sofrência nunca em escassez
É devanear sem arrecadar nada
Consciente da redoma lhe posta
Nos versos da poesia traçada
Estar sempre em busca de resposta
É saber rir e chorar sem por nome
Ter no olhar um querer por alguém
Um amor que sempre lhe consome
E uma trateia que o leva para além...
É enredar com perfume a dor
E acha-la formosa e humana
Porque lhe faz eterno amador
Com sensações de rara porcelana
Ser-se poeta é ser-se sonhador!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
15/05/2020, Triângulo Mineiro
abajur
mesmo estando escuro
havia aquele abajur
mesmo sem poesia
havia o lusco fusco da lua
iluminando o teu olhar que luzia
na inspiração, com rima nua
poetando o que não dizia
a paixão... e onde era sua
a minha vontade, o meu amor
hoje, solitário pela rua
os meus versos sem sabor
vai... chora... calado
por onde for
e o abajur apagado...
aí que dor!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
16/05/2020, Triângulo Mineiro