Cerrado

Cerca de 4450 frases e pensamentos: Cerrado

VERÃO NO CERRADO

Um vento seco, no sertão ressequido
Mas, o céu está úmido, está aquoso
As nuvens cavalgando no azul vívido
As aves (andorinhas) num voo gostoso...
Pontilhando o céu com o seu colorido lívido
Ao som das cigarras num canto preguiçoso
É o verão dando as caras no cerrado árido...

Luciano Spagnol
Novembro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

ACASO (soneto)

Onde será que o cerrado começa
Ou cá termina as minhas miragens
Será a minha ilusão em mensagens
Ou o começo do fim que cá cessa?

Da saudade fiz pranto e roupagens
Dos sonhos viagens que atravessa
As quimeras na vida sem promessa
Porém, queria era outras paisagens

Como no fado o tempo é remessa
E na pressa se perde as bagagens
Cá fico, e cá minha alma confessa

Quem sabe, cá tenha boas aragens
Tecendo o sertão no quebra cabeça
E o acaso segui pra outras paragens

Luciano Spagnol
Dezembro, 2016
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Sou alma do cerrado, pé no chão, do triângulo, do chapadão... Pão de queijo com café, fogão de lenha, das vilas ricas, arraiais, sou filho de Araguari, das Gerais...

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado

Inserida por LucianoSpagnol

Zarpar

O cerrado é seco, chove pouco
Vou zarpar pro mar
Sem chuva a gente fica louco
As nuvens de lá tem pingos a gotejar
Levarei somente uma camisa
Deixo aqui meu erário, o poetar
Lá vou viver de brisa
Pois aqui brisa não há

Luciano Spagnol
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Não adianta fechar a janela, o sol e a lua estarão lá fora...

Luciano Spagnol
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

Sou eu

Eu sou o desigual do cerrado
torto
árido
de morro lascado
pelo fogo queimado
rebrotado
na menor das chuvas.
Sou descampado
só tenho nas mãos as luvas
que escrevem o traçado
das rimas em melancolia
iguais a do cerrado
poetadas na poesia
de um plebeu.
O cerrado sou eu...

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

SONETO SONHADO

Sonhei que saudade de ti sonhava
Aqui pelas bandas do meu cerrado
Foi tão bom, uma pena ter acabado
Pois nele, sonho, contigo eu estava

Que pena... era um sonho sonhado
De lembranças em que a alma lava
Onde a tua falta na minha ali ficava
Em um silêncio d'um afeto amado

Sonhei hoje contigo, nem imaginava
Ter-ti tão manifesto ali ao meu lado
Num sonho, que nostalgia passava

Queria de ti, não estar desamparado
E sonhar-ti, onde só amor anunciava
Eterno sonho, eternamente no fado...

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro, 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

CHUVA NO CERRADO ( soneto)

Canta chuva, no cerrado, uma cantata
E há, feérico coro no planalto fustigado
De gotas do céu num tilintar animado
Como que um suave retinir de prata

Bendita chuva que ao chão imaculado
Batiza a secura com água que desata
Verdes relvas e fulgor novedio da mata
Num renovo de um frescor empanado

Alvor ideal que desponta na fragata
Do sertão, num úmido beijo desejado
Arejando, generosa, em trínula volata

Ah! Num regozijo do viver denodado
Num delíquio louco, ri-se escarlata
A encantada chuva que cai no cerrado

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro, 04, 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

CERNE (soneto)

Do ventre do cerrado ergui meu gemido
Estrugido duma saudade que me eivava
Furtando o fôlego duma dor que escava
O coração já aturado e um tanto dividido

Da solidão a tramontana reviu-se escrava
No cerne da sofrença no peito desfalecido
Que és de tudo escárnio no fado contido
Grito! Que ao contentamento então trava

Que labareda tal me arde no esquecido
Me remanescendo qual tétrica cadava
E me prostrando na réstia do suprimido?

E, se toda sorte aqui me falhe, és clava
A esperança, dum regresso ainda vivido
Factível, sem os que a quimera forjava...

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro, 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

SOLIDÃO BORRALHEIRA (soneto)

Erma solitária solidão borralheira
Que atulha o cerrado de melancolia
No entardecer encarnado em romaria
Alongando o minuto em hora inteira

Assim só, os sonhos vão pra periferia
A espiar a sofrença além da fronteira
D'alma, caraminholando oca asneira
A crepitar agonia em atroada sombria

O vazio do imenso céu sem cabeira
Nos engole com chilreio e zombaria
Galopando apertura numa carreira

Tétrico encanto da solidão crua e fria
Que do silêncio é a sua mensageira
E que ao coração saudades anuncia!

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

QUIMERAS DOLOROSAS (soneto)

Estou solitário no cerrado sem cores
Nas lembranças tristuras guardadas
No peito vis nostalgias desmaiadas
De sortes desfolhadas e sem flores

As tardes de mesmices requentadas
Que a solidão arrefece aos arredores
Enquanto vão esgarçando as dores
Perdidas saudades hão em toadas

Quantos gemidos, quantos valores
Por estarem dolorosas nas ciladas
Largam as quimeras nos bastidores

E nas presunções alheias, estacadas
Que fazem da condição só temores...
Me vou arrastando entre vergastadas!

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

CERRADO DUAL (soneto)

O cerrado tem dia de sorrir, e ele sorria
Tem dia de melancolia, e ele entristecia
Porém, também, tem dia de total silêncio
E na quimera dum colossal o vário é cio

É mistério, sequidão, chuva, calor e frio
Deitados sob o céu que provoca arrepio
É a tristura com o espanto da sutil ironia
Que muito desflora, muito recria, poesia

E nesta galeria de tanto, dele o encanto
Da sequidão ao empapado num só canto
Num bale dual, no seu cenário desigual

É o cerrado, das cores e do seu pálido
Soprando no planalto o seu vento cálido
Transmutando a diversidade no plural...

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano

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LOMBEIRA (soneto)

Tardes do cerrado goiano, lombeira
Tão ressequidas, de tão árida vida
Tardes com a sua lentidão parida
De melancolia à sombra da lobeira

Horas benditas, de demora dormida
Que nas horas se faz hora terceira
Tardes de silêncio, tarde feiticeira
Languidez na languidez desmedida

Olhos serrados, sonho sem fronteira
Tarde muda, do tempo, hora vencida
Na imensidão bem além da porteira

E nesta doce pureza a tarde caída
Que poisa hora serena, por inteira
As tardes, tecendo hora perdida...

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

ALVORECE DE NOVO NO CERRADO

Alvorece de novo o alvorecer no cerrado
Em cada manhã nasce um novo amanhecer
Num novo dia, outra vez de novo, a haver
De um renovo do velho pro novo, airado

E nesse amanhecer de um novo romper
Quero ser o novo, e do velho desanuviado
Dos gestos gastos deixá-los no passado
Desabrochando o ser prum novo querer

Assim, nesta festa do novo engrinaldado
Deste cada novo amanhecer... o reviver
Em botão, florescendo, amor engalanado

Então, quero crer, no novo, ao amanhecer
Metamorfoseando a vida no novo denodado
Onde amanhece o novo a nos surpreender

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Janeiro de 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

DESATINO (soneto)

Ó melancolia do cerrado, a paz me tragas
Solidão em convulsão, aflição em rebeldia
Dum silêncio em desespero, e irosa agonia
Ressecando o coração de incautas pragas

Incrédula convicção, escareadas chagas
De ocasos destinos, e emoção tão fria
Do horizonte de colossal tristura sombria
Que rasga o choro em lacrimosas sagas

Ó amargor do peito engasgado na tirania
Duma má sorte, e fatiadas pelas adagas
D'alma ao léu, tal seca folha na ventania

Pra onde vou, nestas brutas azinhagas
Onde caminha a saudade na periferia
Do fatal desatino em pícaras pressagas?

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Fevereiro de 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

FIM DA VOLTA (soneto)

E pelo cerrado eu fui, prosseguia
No coração só saudades e medo
No olhar lembranças em segredo
O vento pálido em prece reluzia

Longínquo o horizonte, romaria
Espesso e truncado o arvoredo
Rasteiro, estava mudo e quedo
Nenhum pio ao derredor ouvia

Parca aragem, alma em degredo
Ferindo-me no silêncio aí eu ia
No peito a dor velava o enredo

Fim da volta, para ti eu partia
As mãos tomando-me um aedo
Tive que aprender nova alegria...

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Fevereiro de 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

SONETO "à l'amour"

O céu do cerrado pode até desabar
O olhar se desviar para outro lado
O coração no silêncio estar calado
Pouco importa, a quem quer amar

Tudo pode, até pode ser denodado
E trilhar o infinito sem se encontrar
Sorrir pra vida ou até mesmo chorar
Se os dias forem só contigo, estado

Os problemas, ah! Não vão importar
Cada um por vez, na poesia poetado
Na solução, ânimo se tem para buscar

Amor, se me ama, me deixe amado
Pois Deus encontra cada um, seu par
Inundando de amor cada apaixonado

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

ASSIM, O CERRADO

O cerrado, quando empoera
Ressequido o vento no ar
Chora seco folhas desespera
No azul do céu a bailar

O horizonte se põe a embaçar
Na miragem da atmosfera
Embaralhando o olhar
Na imensidão em quimera

Ah! Se o frescor assim espera
O tempo de chuva, pra se revelar
Retorcidos galhos esclera
Num cinza a cromatizar

Assim, o cerrado, se gera
Vida diversa, lato lugar
De exótica primavera
Quem te conhece, só amar...

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

SAUDADES SECAS (soneto)

Saudades secas, no cerrado, banham
De lágrimas as lembranças já findas
E assim choram, tristonhas, e choram
Enxugando o soluço em sujas nerindas

Quando entardece as noites revindas
É hora de preces que os céus imploram
Oram de mãos postas, e ali tão pindas
Que tristuras secas, molhadas choram

Ao juntar estas secas dores na oração
Em vão as rezas murcham na emoção
E as saudades bebem fel na cacimba

São nostalgias que vivem de ilusão
Choram, oram, imploram recordação
Se quando no peito esquecer catimba

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol

PRA ALÉM DO CERRADO

Para além do barranco do cerrado
Talvez só a estrada, ou um castelo
Talvez nada além dum olhar singelo
Porém, pouco importa, vou levado

Enquanto vou, aos devaneios velo
E os gestos postos no chão arado
Lavro cada sentimento denodado
Não sei e nem pergunto, só prelo

De que adianta querer qual lado
Se o fado é tão diverso no paralelo
E as curvas reveis no discordado

E para aquilo que não vejo, o belo
Sorriso, a mão do amor, ofertado
Assim, refreio passada com flagelo

Luciano Spagnol
Poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano

Inserida por LucianoSpagnol