Cerrado
FAREWELL
Vai morrendo assim! Morrendo a cada dia
Assim! de um vazio assim!
A força, tácita e fria
Fria! silenciando tu e eu, olhos calados
Esvaindo dos meus os teus beijos gelados
E numa hora assim! Um assim! E assim não quisera
Tudo acaba, tal o bucólico fim da primavera
Sonhos, inspiração, rasgando o fundamento
Flores pelo chão, solidão, o som do vento
A alma apertada em um canto despencada...
E, aqui no peito... medos, quimera em retirada
Nós dois... e, entre nós dois, o austero adeus
Decompondo os desejos meus e os teus...
Eu, com o coração retalhado, - tão ocupado
De ti, e no desespero, de não mais ter-ti do lado
amarguradamente,
Me vejo com sentimento tão ardente
Estes que um dia foi nosso!
E eu afastando! E afastando... posso! não posso!
A noite, o dia, a doce poesia, num troço
E tão solitário, em um palpitar de despedida
Despeço de ti, e me ponho de partida!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2019, junho
São Paulo
Olavobilaquiando
Sou…
A flor da pele transpirando emoção
A mão que fuça a doce ilusão
Uma duradoura paixão...
Sou...
A noite que se faz dia
A madrugada de pura revelia
A chegada, a partida, fantasia
Sou o olhar estendido
Sou o coração partido
Sou alma de uno sentido
Sem hora nem lugar...
Sou um eterno amar!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
07’39”, 04/06/2013
cerrado goiano
OUVIR POESIA
Ora (direis) ouvir poesias! Exato,
Loucura! E vos direi, no entanto,
Que, da alegria ou de um pranto
Está lá, falante, no seu abstrato
E dialogamos vário, sem espanto
Porquanto, eu e ela um só retrato
Cintilante. Cheio de enigma e fato
Porém, em cada estrofe o encanto
Direis agora: tresloucado caro!
Que falas com poesia? Que razão
Tem o que indaga, neste amparo?
Aí vos direi: - amai pra entendê-las
Pois só quem ama pode ter emoção
E assim tagarelar-lhe sob as estrelas...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
08/11/2018, 05’30”
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
CONTRIÇÃO (soneto)
Às vezes, uma saudade me silencia
Nesta solidão e um vazio que ando.
Sofro e cismo, no cerrado, quando
As lembranças do mar são teimosia
Dores e saudades sufoquei calando
Desespera!... uma explosão, todavia
Ah! Como eu quisera, uma outra via
Porém, sorte, é fator não um mando
Percebo que naufraguei na solitude
Revolto, neste princípio de velhice
Choro e rio, brado, farsa ou atitude
As venturas que não tive por asnice
Meu remorso, o que viver não pude
E os amores, o amor que não disse!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, novembro
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
A MOCIDADE
A mocidade é tal qual a flor do ipê
Vigorosa, e na secura resplandece
Tudo pode, é formosa, sonha e crê
E suas inquietudes não lhe apetece
É a idade da beleza a sua mercê:
O presente não lhe traz estresse
E o futuro pouco ou de nada vê
O que lhe importa é a tua messe
Ousada, domina e brilha ao vento
Na desventura tem nenhum receio
Pois, é facilmente o esquecimento
Porém, o senhor tempo, tão voraz
Qual a flor do ipê, de frágil esteio
Cai ao chão, de um destino fugaz
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
QUEIRA
Olha-me! O teu amor sincero, venerando
Entra-me o peito, como uma doce razão
De brando e suave, sentimento, entrando
No meu viver, fazendo laços no coração
Fale-me! Só de amor e de amor, quando
Falas, deixando cálidos tino na emoção
E aos toques, carícias, no tocar radiando
O bem nobre que só traz pródiga afeição
Olhe-me! Fale-me então! Multiplicando
Sempre, sempre com ternura galanteia
Agora, agora com o cuidado que cintila
E enquanto me flamejas de ti, forjando
Em seu fulgor, o sabor da carícia cheia
Queira! o cortês amor que d’alma destila
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
NO TEMPO
Sou o eu que marcha, que andeja
Princípio, sou fim, poesia agarrida
Levo o plural: a tristura e a peleja
As vaidades, e os alardes da vida
O tempo passa, repassa, ou seja
Corre, e nesta ventura, a medida
Pra cada hora: a fé, assim esteja
Os anos no muito na sua torcida
Vou levando acertos e os danos
Vou levando o tudo e o instante
O amanhã a extensão dos anos
Ninguém pode evitar o talvez
Assim, que tudo seja vibrante
E o amor, o primordial da vez!!!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
ANDOU
Como quisesse alegre ser, deixando
O queixume rotativo, zunindo a hora
O tédio, ao bafejo sequioso da aurora
Do cerrado, dentro de ti, comandando
Estranho querer, no peito te cortando:
Melancolia, silêncio, a paz indo a fora
Que te cala, maltrata e também chora
E chora... saudades então recordando
E logo, uma imaginação, compungida
Te perseguindo, surge como senhora
Dos teus sonhos, torturando a razão
Assim queixosa minha alma perdida
Andei largo instante, sem ir embora
E agora, o tempo antigo, é oposição!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
11, novembro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
VERSOS TATUADOS
Corpo do soneto, em versos tatuados
A poesia em delírio, e a mão a poetar
Impulso que pulsa, sonhos sonhados
E vida, em cada estrofe o vário estar:
Do beijo, do laço, desejos desejados
A fé ao nosso lado ajoelhada no altar
Ah! e o amor nos corações acordados
Em perfumes que nos fazem embalar
A inspiração: - messe e dádiva, tributo
Pra alma, semeando e colhendo fruto
Hóstia da ideia em purgação. Pensar!
E assim, saudades: - dolorosa rama
Que pelos versos, chora e derrama:
Quimeras e sorte, na pele a versejar!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, novembro
Cerrado goiano
UMA ROSA
Uma rosa é uma rosa
De uma beleza caprichosa
De um perfume em prosa
É comunhão, é jóia preciosa
Uma rosa faz sedução
Em ramalhete e ou botão
É fecho para o coração
Dengosa, alicia a emoção
Tão fugaz em sua real vida
A rosa flor se faz em despedida
Majestosa, torna-se flor despida
Uma rosa sempre uma rosa. Garrida!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2014, fevereiro
Cerrado goiano
E o ano assim termina,
outra vez, afoito, que a vida promove.
É o tempo em sua sina.
Que seja então, e do bem se prove...
O novo floresce, o velho declina.
Vai-se 2018, vem-se 2019!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
28 de dezembro, 2018
SÓ
Eu, que o destino pândego impeliu à vida
Moldando- me com forjas de imprecação
Este que de má sorte na criação, nascida
Apenas para ao peito dar dor ao coração...
De flagelo em flagelo tem a poesia ferida
Sem fidelidade no caminho, outra direção
Sangra, rasga, na tranquilidade retorcida
Dos acasos servidos, os sons da solidão
Silêncio nas madrugadas, noites de luto!
Dias embatucados, me vejo em desalinho
Alma acabrunhada, de triste e vago olhar;
E, no horizonte do cerrado árido e bruto
E, talvez há de estar, no sempre: sozinho!
Sem o amor, sem tu, a chorar, a suspirar...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
09/04/2019
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
Ao Coração na Sofrença
Ao coração na sofrença, dilacerado
Em silêncio, no exílio, que aqui chora
Assim me vejo, no sertão do cerrado
Separado, onde o amor foi embora...
Suspira e lamenta, pra ser consolado
Não me basta saber do desejo agora
Da ilusão de ter um poema delicado
Não me basta saber da perdida hora
E se fui amado, não me basta saber
Não me basta o afeto puro e sagrado
Ter o sabor do beijo e, assim alentar!
Mais causa ao coração pra não sofrer
É ser na maior pureza, e se maltratado
Se dê ao amor, e assim de novo amar...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
11 de abril de 2019
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
MEUS IMATUROS ANOS
Os meus imaturos anos dia deste
Acarquilhou no tempo, foi embora
Deixando a saudade, vil senhora
Cá no peito, no horizonte celeste
Diversa, macróbia, que cá mora
Alquebrada, da vida quer teste
Se o já é valedouiro a toda hora
Da sabedoria se diz inconteste
E da idade, a acama, cafajeste
Todo que ora não fui sou agora
Troça e ri tal qual a uma peste
E nos desvarios me levo afora
Sem que o sonho me moleste
Pois, a alma é nova, sem outrora...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Março de 2017
Cerrado goiano
Dói
Dói tudo o que já era
Tudo que não mais está
A dor que um dia não quisera
A saudade que permanecerá
O ontem no hoje não se espera
Cada dor doida lacera a poesia
Após o inverno, a primavera
Amanheceu, já é outro dia!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Maio de 2019
Cerrado goiano
paráfrase Fernando Pessoa
EXÍLIO
A saudade que suspira, separada
Do teu cheiro, nos olhos a chorar
Me vejo, com a dor ali estocada
De um coração sufocado a gritar
Não basta saber que pude amar
Nem só a paixão ter sido alada
As amarguras tomaram o lugar
Dos gestos, a alma está talhada
Na ausência, de teus beijos, dor
As desventuras que fazem sofrer
Me consomem neste torto poetar
É um exílio cheio de amargo clamor
Em ter a emoção distante pra valer
Neste silêncio de não poder te tocar.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
18 de maio, de 2018
05’30”, Cerrado goiano.
Eu conto
Cá na minha poesia eu conto contos
Eu conto nas entrelinhas desencontros
Nos sub textos a ficção de reencontros
Eu conto várias buscas de encontros
Conto as dores sem ter descontos
Eu conto os devaneios e confrontos
Faustos atos, reticências e pontos
Os sonhos em forma a serem prontos
Tricotados no amor em prespontos
Cá só não conto segredos de contrapontos
Particulares, os que deixam tontos
Estes só a mim mesmo... Eu conto!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
11'04", 11 de junho, 2012
Rio de Janeiro
Instante
A cada instante do futuro,
Já maduro,
Como viver?
Intensamente,
Consciente,
Ou loucamente.
Seria fácil,
Se não fosse a cobrança,
Sonhos, esperança,
Deste querer sutil,
Que provoca duvidas mil,
Até mesmo assombros,
De cruel responsabilidade,
Que pousada nos ombros,
Nos da finalidade,
Na estrada de perdas e ganhos,
Nos projetando ao derradeiro final,
Já esperado,
Indesejado,
Mas de inevitável realidade,
De transparente verdade.
Só nos resta um caminho,
De lucidez,
Que é sonhar mais uma vez,
Em vestir-se de valor,
Do invólucro o AMOR.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Rio de Janeiro
19/11/2007
Medos
Nebulosa nuvem circunda meu pensamento,
Uma furtiva lágrima escorre pela face,
De repente uma tristeza corroí meu sentimento,
Ao não me sentir a direção de sua inspiração,
De ser personagem na história de seu coração.
Ah! Se eu pudesse expressar toda essa aflição,
De medo,
De angustia,
De sofreguidão,
Entranhadas na carne,
Assombradas pela solidão,
Que traz insônia,
Que tira o sossego,
Provoca dor.
Só porque desejei seu amor,
Seus beijos,
Seu olhar que traz calor,
Seus abraços de desejos,
Por mim,
Para mim,
Sentir, enfim,
Sua empolgação,
Tanto quanto demonstro por ti.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
13/11/2007
Em Você
Encontrei tranqüilidade e calma,
Consolo para a minha solidão,
Acalento aos desejos da alma,
Verdade nas palavras do coração.
Em você...
Os dias amanhecem em euforia,
As tardes são cheias de alegria,
As noites já não são mais frias.
Encontrei você...
Com luz de sonhos e vitalidade,
Com oferta de amor nas mãos,
Com um sorriso que traz realidade,
Com um olhar de candura de uma flor,
Com o corpo cheio de abrasador calor.
Encontrei em você...
A possibilidade de então ter
Deste amor poder viver
Para sempre a ti pertencer
Em você encontrei...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
13/11/2007