Cerrado
Enquanto tem quem se ache
num mundo dos apache,
eu apenas poeto.
Não sou objeto.
E nesta cena,
sinto.
Pena.
Luciano Spagnol
Maio, 2016
Cerrado goiano
Ponto final
Nas decepções não use reticências
Nas intercalações separe com vírgulas
Tenha parênteses nas ruins aparências
Pois a oração da vida depende de ser leal
Interrogando, exclamando, nas eloquências
Para que não se tenha dúvida no ponto final...
Luciano Spagnol
2016, maio, 09
Cerrado goiano
E Lá Se Vai o Tempo
E lá se vai o tempo
Sem tempo de ir
Querendo ficar no tempo
Sentado no meio fio sem sair
E lá se vai o tempo
O tempo onde perdura o amor
No coração ao sol e ao relento
Em canção e nunca amador
E lá se vai o tempo
Com carapuça de sonhador
O tempo é todo o tempo
O meu e o teu tempo, inventor
E lá se vai o tempo
De fado, de dor, de felicidade
O tempo dono da vitalidade
O tempo dono da eternidade.
E lá se vai o tempo...
Luciano Spagnol
Anápolis, 27/02/2013
14’59”
"E lá se vai o tempo
com horas de sonhador
o tempo é todo o tempo
a quem tem tempo no amor,
e lá se vai o tempo"
(Luciano Spagnol
Poeta do cerrado)
Lamparina...
Tu, ateia luz à lembrança
Gerando cheiro de criança
E fuligem na nostalgia
Evolando memória e poesia
De um tempo que não volta mais
Sentado no silêncio do ontem, das gerais
Tão perto e tão longe, porém
Fazendo a existência ir além
De um dia ter dado partida
Na juventude já perdida
Entre ventos a soprar
A alma pôs-se a chorar
Esta solitária iniquidade
Que arde as cinzas da saudade
Na chama da lamparina
Onde não mais tange a rotina
Luciano Spagnol
Rio, 23/10/2010
19’29”
Versos Para Minha Morte
O tempo na hora, suponho
Traga condolência para o fim
E me cubra com filó e vigonho
Apaziguando os sonhos, enfim...
E nesta batalha vencida, de partida
Levarei os versos para minha morte
Desobrigarei lamentos na despedida
E os deixarei ao contento da sorte
A lágrima fica para os que orem
E os que com minha alma importe
Em cada conta do rosário roguem
Meus pecados, assim suporte
Deus, e que me possa perdoar
Com compaixão, e faça meu transporte
Se desacertei, sempre quis amar
Talvez nesta hora peça aporte
Para o silêncio, para me libertar...
E na rixa do fado, a sorte, da minha morte
Será sem saber como, fico a imaginar.
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
Data indeterminada
fodo da minha morte
o tempo na hora, suponho
me cubra com filó e vigonho
na partida,
desobrigo lamentos na despedida
levarei os versos para minha sorte
lágrimas, aos que comigo importe
e orem aos meus pecados perdoar
sem saber quando, fico a imaginar
o fado da minha morte...
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
Data indeterminada
Silêncio do Poeta
O poeta fala e a alma escuta
Teus versos de palavra bruta
Lapidados pelo sentido absoluto
Com as tuas rimas em tributo
Grifam a inspiração em poema
Nodoados de satisfação, dilema
Que teu silêncio inteiro trova
Teus amores, alegra, tua alcova
E quando emudece, se acoita
Nas sobras das estrelas afoita
Versejando os teus lamentos
Lamentando teus sentimentos
Com quimeras de um profeta
Nas falas do silêncio do poeta
E no alarido e silêncio em disputa
O poeta cala e fala e a alma escuta
21/10/2015, 21’22”
(Horário de verão)
Cerrado goiano
Poeta
O poeta fala e a alma escuta
Teus versos de palavra bruta
Facetados na rima absoluta
Que no poema a vida tributa
A inspiração quimera e labuta
No alarido e silêncio em disputa
O poeta cala e a alma executa
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
Dialética
Não contesto a alegria de viver
É emoção que contagia
Quando a simplicidade se vê
E no simples põe magia
É logico que a vida é boa
Olha ao lado toda a energia
Quando se elege a salutar pessoa
Os amigos de amizade e parceria
Amo e tenho tudo para ser feliz
Sei. Eu é que preciso de melhoria
Sou este alguém, um triste aprendiz
07’44”, 03/10/2015
Cerrado goiano
Parafraseando Vinício de Moraes.
"Amo e tenho de tudo para ser feliz
Sei. Eu é que preciso de melhorias
Sou este poeta, um triste aprendiz"
Luciano Spagnol
Cerrado goiano
maio, 2016
Precisamos de mãos abertas para liberdade
De mãos postas contemplando em oração
De mãos que não se esquecem da dignidade
De mãos que erram, e pedem o perdão
De mãos dadas com o amor, a fraternidade
Mãos por mãos, ao irmão...
(Luciano Spagnol)
Ato de Contrição
Perdão! Se fiz sem fazer
Omiti e testemunhei ver
Adormeci sem acudir
Atendi e sucumbi
As esperanças esvaídas
Os abraços nas partidas
Olhares almejados ao leu
Receptivos cingir réu
Janelas fechadas ao sol
Negativas ao crisol
Falar mais que ouvir
Olhar mais que sentir
Sorrisos que malogrei
Brados que valorizei
Remissão! Reto do coração!
Neste meu ato de contrição.
Luciano Spagnol
00’01”, 08/04/2013
Pausa
A saudade em mim fez pausa
Ficou em silêncio, está muda
Não sofro mais por sua causa
Não vou mais buscar tua ajuda
Hoje fiz um intervalo no poetar
Solitário. Pois tenho companhia
Das estrelas que me fazem viajar
Da poesia meu remo na travessia
Larguei tudo. Tento só harmonia
Simetria em cada verso, cada rima
No sorrir busco a sorte em parceria
Caneta e papel riscado com estima
Hoje fiz interrupção nas lágrimas
Gota d’água somente as do céu
Não mais ficarei chorando lástimas
Pois o amor da solidão não é réu
Luciano Spagnol
23/10/2015, 08’31”
Cerrado goiano
Ensaios
Nos ensaios de ausentar-me de ti
O meu poetar só falou desta dor
Chorou nas rimas e assim escrevi
Poemas que só falam deste amor
É amor que se compara com flor
Não se esquece do teu perfume
Uma vez cheirado vira o teu odor
Aromatizando a paixão em lume
Às vezes no silêncio eu te ouço
Então aí vejo como é difícil lutar
Pra que eu saia deste calabouço
Olho o retrato, lembro o teu sabor
E a saudade de te me põe louco
Adoçados nestes versos de amor
Luciano Spagnol
20 de maio, 2016
Cerrado goiano
Saudades de mim
Levantei hoje com saudades de mim
Pelo tempo veloz eu fui ultrapassado
Já nem sei mais se é começo ou fim
Nesta rota de caminho cascalhado
Sigo em direção ao plano horizonte
Pois o por do sol me leva ao cerrado
O mais interessante é que virou fonte
Nela tento do menino ordenhar o fado
Assim aí eu possa ultrapassar a ponte
Do labirinto acidentado que hoje sinto
Nesta de buscar mais cor onde eu for
O cinza empoeirado me tornou absinto
Me pôs nu nos desejos de ser sonhador
E nas recordações arranquei o estopim
Pra atar na minh'alma os cacos do amor
E tirar da memória às saudades de mim
Luciano Spagnol
20 de maio, 2016
Cerrado goiano
Estou com medo de ter sonhado demais
e de menos ter me perdido nos "ais"
dos sulcados guias do meu árido fado
assim, ter destendido a sorte no cerrado...
Chorar
Lágrima é uma palavra vertida
Que nada contém sua saída
Na despedida é sofrida
Na impacto é ouvida
Na ausência é presença
Na saudade é sentença
Por isto, a lágrima é salgada
Amarga a alma em enxurrada
Numa cruel tempestade de dor
Coadjuvante na falta do amor
É plangor dos olhos a berrar
É nuvem que nos faz chorar...
Luciano Spagnol
Maio, 2016, Cerrado goiano
Nenhum som é mais bonito que o do abraço. Ele ressoa a proteção do laço, e pronuncia "paz e bem" nos braços.