Cerrado
Poema ateu
Escondido no breu
Da madrugada
No fundo do meu eu
O corpo cala
Dormente acende o seu
Espírito, na lembrança que fala
Que um dia sofreu
Sofre, e ainda a nostalgia embala
Na noite, de um poema ateu
Que disfarça, clandestino
A saudade que um dia valeu
E hoje apenas brado peregrino
Poeminha para flor
Flor são flores
São primavera
De todas as cores
Haste da quimera
Falam de amores
Amor as venera
A flor tão bela!
Maçã em receita
Nada mais tentador que maçã do amor
Com canela tem cheiro de beijo
Nas tortas saliva gosto com fulgor
Assada derrete e da desejo
Maçã tão bela e de delicada flor
Na salada traz o seu azedume
Tem vermelha ou verde na cor
Inconfundível é o seu perfume
Enigmático é o seu lado pecador
Como réu se tornou incólume
Uma por dia evita o doutor
Numa simples mordida é revelação
E te leva na vida ser longevo
Na culinária de distinta sensação
Maçã por maçã que aqui escrevo
Vilã dos contos, símbolo da sedução
Eterno fruto da paixão
Chapéu de palha
Debaixo do chapéu de palha
Na aba da saudade, lembrança
Na copa rezas de acerto e falha
Da vida, nunca sem esperança
Este chapéu de palha, roceiro
Que não larga do caipira berço
Sempre riscando o fado roteiro
E na fé aduzindo trilha e terço
Chapéu de palha, cultor matuto
Do caboclo do cerrado, do chão
Do vento árido e do pó enxuto
Que traz o sal e feito ao coração
Tal chapéu de palha, tão original
Que compõe o poetar de emoção
Canta o sertão na sua arte capital
Trajando a alma capiau de tradição
(Chapéu de palha, remate vital!)
Sem rumo, louco, afortunado
Desatinado e cheio de muafo
Da vida, vivo para ser amado
Quero da loucura ser inventado
O amor na sua incerteza
Tem que ter laço
No olhar abraço
Que some ilusão
Que some espaço
Que some paixão
A existência é um caracol
De curvas e lombadas
Tem o breu da lua e o brilho do sol
Sobe e desce e algumas paradas
Neste cordel,
Amor tem que ter no farnel
Perda do pai
Dezoito horas. Quem me acode?
Partiu no enigma da crença
Os dias se tornaram como pode
As noites lembranças como sentença
No mistério
Na aceitação
No cemitério
Oração
Eternidade
Saudade!
Mais que agrado
Como é bom ter satisfação
Tornar a alegria na lembrança
Lembrar dia a dia a emoção
Emocionar com está aliança
Chorar de prazer e paixão
Estar apaixonado nesta usança
Usar como regra está recordação
Recordar no viver está dança
Dançar no ritmo do coração
Amar e ser amado com confiança
Como é bom ter está adição
Mais que agrado. Bonança.
Viver
A quem não tem olhos para ver
Inerte é a visão do seu destino
Na ilusão é que tem alegria de viver
Vivo quem arrisca ser peregrino
Só assim a vida vale a pena
Onde o mundo não é pequenino
E o amor o script de uma real cena
E com toda a desaventurança
É tão bom um dia de cada vez
O renovo é a brida da esperança
Nada é perene, tem sempre um talvez
Adverso
Eu trago loucuras na lucidez
A poesia é a minha variedade
Inquieto translado timidez
Com palavras de venustidade
Trovando o amor exagerado
Do desalento da soledade
Me apego fácil ao ser amado
Mais fácil saio desta comodidade
Amo mais do que sou capaz
Tenho mais do que a prioridade
Se nos versos eu sou um audaz
No sentimento pura lealdade
Sou um eterno amador fugaz
Na inconstância tranquilidade
Um adverso com fragilidade, assaz
Vai e vem
O pêndulo do relógio no vai e vem
É o tempo em sua marcha
Segundos minutos horas... Vai além
Onde não se pode usar a borracha
Esqueça o que já foi ontem
A torneira aberta já se fechou
Sorriso a infelicidade não contêm
Se apegue a fé que nos apura, amém!
Olhe ao redor a complexidade da natureza
vai além!
Respire o pôr do sol gratuita beleza
nos convém!
De que vale o glória da esperteza
não seja refém!
Um olhar amigo só nós traz grandeza
ainda bem!
É preciso aprender que fomos e seremos
basta saber que não nos pertencemos
e ao caminharmos outros sucederemos
é preciso não esquecer nada, o amor teremos.
Basta ser!
O Sonho
Sonhar com as cinzas do passado
fenecem a felicidade do presente
no jazigo da chance do renovado
opondo o novo de surgir novamente
Sonhe com aquilo que quiser
com a dor se assim vier
com o sorriso doce e forte
com a tristeza ou a sorte
sem medo, sonhe, peça aporte
O contentamento está na diversidade
na luta dos que buscam a fraternidade
no olhar de tentar sempre acreditar
que é possível amar, recomeçar
num simples gesto, nos abraços
na mão que afaga o embaraço...
(Nunca em vão daqueles que nos dão laços)
De cá pra lá, de lá pra cá
Do lado de cá, fico a observar
Do lado de lá, a segredar
Qual vista está a imaginar
Do lado de cá, emoção
Do lado de lá, suposição
No valer à pena a paixão
Do lado de cá, sintonia
Do lado de lá, à revelia
Em ter sonho ou magia
Do lado de cá, decisão
Do lado de lá, imaginação
Desenhando pura ilusão
Do lado de cá, rima e poesia
Do lado de lá, só fantasia
Quando o gosto é agonia
Do lado de cá, solidão
Do lado de lá, chavão
Se socorro pede o coração
Do lado de cá, o amor trará
Do lado de lá, onde estará?
(Nesta gangorra...)
De cá pra lá, de lá pra cá...