Cerrado
Ir-se
Escandalizo a tal sorte
Afetação cruel e triste
Espera, alma e morte
Do gabo nada existe
Mesmice reescrevo
E o passo aí, passa
Na saudade relevo
Nos olhos fumaça
Nasci pra renascer
Das cinzas ressurgir
Morro e tento viver
Afeito. Outro partir!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, maio
Cerrado goiano
debilidade
inflexível é o tempo, dança
que passa, Maria fumaça
deixando na lembrança
marcando a carcaça...
- tudo fica mais frágil
o ágil perde a esperança
as engrenagens pagam pedágio
e o pouco no mínimo, danos
neste naufrágio, um só adágio:
capengamos! que siga os anos!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
24/10/2019, quinta feira
Cerrado goiano
EU, EU MESMO (soneto)
Eu, nos cansaços, as saudades
quantas as lembranças estilam
que o passado no exato pilam
assim, cheios de passividades
Afinal, tudo no tempo expilam
eu, eu mesmo nas fatuidades
duvidei, imperfeito, vontades
me levaram, na baixa bailam
Pois tudo é eu, sem metades
eu sou eu, e nada anteviram
e do meu eu, sai as verdades
E eu, que no eu, me inspiram
dele um passado, variedades
que do uno eu, “áses” extraíram
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2017, julho
Cerrado goiano
CÉLERE (soneto)
E lá se vai o tempo, portentoso
Onde não vai a lentidão do fado
E de longe, eu distante, saudoso
Envio suspiros daqui do cerrado
Para os teus anos, eu já anoso
A pressa não é, certo ou errado
É tão a sorte no estado zeloso
Rio a baixo no leito apropriado
E, então, pelo espaço untuoso
Desliza cada sonho ali alado
Dando a vida agrado piedoso
Assim, os amores, encantado
Flores dadas, gesto impetuoso
Matizam o gozo ao ser amado
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto de 2017
Cerrado goiano
UM POEMA DE AMOR (soneto)
Onde escrever um poema de amor
Se branco está o papel sem pauta
E é preciso senti-lo sem sugar dor
Falando das partes sem sentir falta
Quero escrever um poema de amor
Rima-lo tal a poesia da luz da ribalta
Com acordes tão suaves de uma flor
E o perfume da cor duma doce flauta
Quero torná-lo cada vez mais viçoso
No silêncio de estar eterno amoroso
Sereno, para a longa noite do mundo
Onde escrever este poema carinhoso
Sentindo circular num verso desejoso
Expressando este tal amor profundo
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto de 2017
Cerrado goiano
ROGO (soneto)
Senhor, Senhor, fugaz passa, e outrora
Sonhei sonhos sonhados, tive fantasia
Como jamais poderia sonhá-lo agora
Algum ter que fora, acervo na poesia
Passou o inverno, primavera e a hora
Passou o verão, também a noite, o dia
E na espera, me perdi no tempo a fora
E na quimera, o querer então persistia
Senhor, o meu poetizar está desnudo
Sem brado, cansado, o coração mudo
E neste vazio torpor, o amor é averso
Nada vem, porém, rude foi o destino
Ele marchou, Senhor, foi com destino
E comigo o desejo do incitador verso
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
07 de outubro, 2017
Cerrado goiano
IPÊ ROSA (soneto)
Cálice róseo de fugaz formosura
Donde vem teu matizado, o tom
Que o árido cerrado te escultura
No agreste, num veludo crepom
Sois volúpia em flor, tal bravura
Doidas da "sequia", audaz dom
Onde catou a tua cor, ó candura
Belo buquê em poema tão bom
Teus segredos ao olhar rouxinol
Em um canto dum verso e prosa
O teu frescor abrigo no avido sol
Ó almas feitas, casta, tal estriga
Copiosas a esvoaçar ipês, rosa
Na savana goiana toada cantiga
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto de 2017
Cerrado goiano
SONETO PARA MARIA DO CARMO
Quando à milícia silente do carecer
Te algema no infortúnio do passado
Pranteando o tempo já desperdiçado
Um olhar ressurge no ardido viver
De tão rara generosidade, e agrado
Pôs-se ouvinte no ato de se oferecer
Derramou palavras a me entorpecer
De carinho, afago, ali tão adequado
Assim, presença amiga no anoitecer
Posso então, dizer, és laço apertado
Tornando o revés doce, não salgado
Maria do Carmo, prima, excelso ser
Ides as perdas, fica o verso versado
Pra ti, expressando o meu obrigado
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
16 de julho
Cerrado goiano
pra prima Maria do Carmo Magalhães
Feliz Ano Novo
e assim no tempo, o passe e repasse
indo e vindo, o velho e o novo, plano
numa magia, de esperança em enlace
desejo a você, amigo, feliz final de ano...
- Que venha de primeira classe!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
SONETO AMEDRONTADO
O medo amedrontado está em mim
Poetando sombras de uma tristura
É um vazio cheio duma vil amargura
Num silêncio: mudo, surdo, sem fim
E neste vácuo sem a essencial figura
Entrajam faltos ornados de serafim
Dum temor com seu satírico festim
Assestando o poetar na ossatura
Então, do medo se alimenta, assim,
Cada vez mais tétrico fica, e procura
Um tal arrimo, sem doçura, carmim
E a ousadia onde fica? E a ternura?
Se o medo no medo, é trampolim!
E o fado sem medo, é vã ventura...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Fevereiro de 2017
Cerrado goiano
FEVEREIRO...
... majestade
verão, folia
fantasia a divindade
mês de alegria
confete e serpentina
batucada na esquina, simpatia
é CARNAVAL, saia da rotina...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
fevereiro 2018
Cerrado goiano
legado
os poemas sempre ficam
são guardamos na emoção
quem escreve os ratificam
na imaginação da inspiração
quem os lê se transformam
e viram parte da narração...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
INVERNO (soneto)
Inverno, gélidas manhãs e noites
Dias curtos, saudades em açoites
Sentimento coroado de melancolia
Acanhamento do sol, nublado dia
Flores embaçadas e transfiguradas
Trovejantes são as luas nas madrugadas
Embaladas pelos ventos e seus uivos
Aos sentimentos, os brilhos ruivos
Quem és, que trêmula o afeto assim
Nos pingos crepitantes do confim
Das estrelas, dos céus e seus querubins
É o convite aos odores enamorados
Aos amores nos lençóis entrelaçados
Calefação a alma, ao amor, apaixonados.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
12 de junho, 22’45”, 2012
Cerrado goiano
Ausência
Hoje eu permitirei que a saudade morra em mim
Os teus olhos, agridoce, me engulam de solidão
Porque nada te poderei dar, senão, está dor sem fim
Exausto me vejo na janela, e o quarto na escuridão
Ao fundo, uma melodia ao som de bandolim
Assim, me sinto na tua lembrança e tu na minha emoção
Não te quero ter por apenas te ter, quero ir além
Porém, cada gesto, palavras, suspiros, a alma em convulsão
Então, não diz nada porque o teu silêncio me convém
Os teus abraços em outros braços enlaçaram
Sinto que estas distante e sem uma tal essência
Eu deixarei... tu irás, e as madrugadas companhias serão
E assim, eu serei e você será... ausência!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2018
Cerrado goiano
SONETO EM REVERENCIA
Evocar o tempo, e nesta saudade em rudez
as lembranças são qual suspiros de tua ida
o silêncio invasor na casa após a tua partida
pra morte, igual, desfolho outonal em palidez
Fatal e transitório, a nossa viveza é vencida
pelo sopro funesto, ao sentimento a viuvez
Julho, agosto, setembro, vai-se mês a mês
ano a ano e outro ano a recordação parida
Da saudade filial, que dói numa dor doída
de renovação amarga e de vil insipidez
que renasce na gelada ausência sofrida
No continuar, o vazio, traz pra alma nudez
chorada na recordação jamais esquecida...
Neste soneto solene: - sua bênção outra vez!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
13 de julho, 2016
Cerrado goiano
morte de meu pai
Naquela madrugada, o seu silêncio escreveu saudades e com ele sua morte trazia...
Acordaste do sonho da vida, e tuas lembranças, nos acolhia.
copyright © Todos os direitos reservados.
Se copiar citar a autoria – Luciano Spagnol
CÉU DO GOIÁS (soneto)
Agiganta as nuvens no alvo encarnado
Do céu do Goiás, da vontade de gritar
O horizonte longínquo tal qual o do mar
Se estende em rede por todo o cerrado
O sol no amanhecer rubra de encantado
Mantém-se altivo após o confidente luar
Desfolhando em quimera pro nosso olhar
Tingindo o entardecer dum avermelhado
No breu da noite a céu se veste estrelado
Cintilando na escuridão e nele a poetizar
Poemas tão singelos num silêncio calado
Então, a alma ao testemunhar, põe a chorar
Um choro portento dum puro e só agrado
Onde o poeta das Gerais aprendeu a amar...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Agosto de 2018
Cerrado goiano
O amor persiste, tudo passa
O ciclo lunar
A saudade a apertar
O medo do obscuro
O pensamento descuro
A solidão a atormentar
A ofensa a machucar
A tempestade que amedronta
A ignorância que afronta
A felicidade em gomos
A diversidade que opomos
A ingenuidade que acredita
O xingamento que irrita
O ato que envergonha
A moral sem vergonha
O desamor que insiste
Tudo passa! O amor persiste…
Então, aos que desconfiaram
Revelo: amei e me amaram!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
03/03/2009
Rio de Janeiro
A SOLIDÃO QUE INQUIETA (soneto)
A solidão que inquieta, pesar repicado
Da distância, que a lamentar me vejo
Não basta o choro por estar separado
São infortúnios do fado que lacrimejo
Tão pouco é saber que sou amado
Nem só querer o teu olhar: o quero
Muito. Este sentimento tão delicado
Onde os versos rimam no teu beijo
São saudades que no peito, consomem
Que não me acanham, e é tal pobreza
Do vazio, por eu não ao teu lado estar
Mas eleva o afeto dum piegas homem
Ser de erros sempre e, na maior pureza
Existir no amador e humanamente amar...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2018, agosto
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
COMPOSTO DE AMOR (soneto)
No eu também, o que em mim vistes
Avultando o encanto, dando portento
Ao próprio feitiço, elogios e fomento
Deveras díspar das que outrora ouvistes
És amor, sem dúvida, paixão. Portanto
Pense nos desencontros que sentistes
Tão secos, ásperos e de causas tristes
Que por mim, eu me derramo em pranto
Amador, me aflige, e é tão medo tanto
Que a dor inventa, tenta, o que não existe
Em tempo algum, pesar sem algum canto
Aí, em lugar de acalmar, a aflição insiste
Não desiste, é dos loucos, sem espanto
Dos amantes, assim, o tal amor consiste
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
15 de agosto de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando