Cerrado
TALVEZ ILUSÃO, QUANDO SENTI (soneto)
Talvez ilusão, quando senti, mas sentia
Que, ao desânimo da alma nela enleada
Entre a dor, o fôlego, pelos poros subia
Numa preamar de esperança prateada
E eu a via no olhar, olhava-a... Ferroada
Assim em cada raio, aí então eu resistia
E construía degraus nesta dura escada
Mesmo que se risco corria... ou se feria...
Tu, alegria sagrada! E também, capital
Sede das sedes!... que venha por nós
Tal reticências, e não como ponto final
E, ó desejada! E tão buscada, aporte
Como um emaranhado de um retrós
Súbito. Vi que rompe na medida sorte!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Novembro de 2018
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
carnívora
a saudade não nos engana
sua chegada
faminta e soberana
só traz dores gigantes
no vinho carraspana
amantes mais que antes
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
choverando
canta gota do céu corrente
chuverando o chão ressequido
em sonatas vorazmente
canta para o sono embalar
nina com sua água vertente
banhando o cerrado a sonhar
canta a canção das águas
mata a sede inteiramente
e leva contigo as mágoas
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
setembro de 2019
Araguari, Triângulo Mineiro
Poesia do amor
Deixe-me imaginar
Sorrisos no ouvido
Abraço em forma de laço
O calor da tua voz, murmurado
No meu olhar atento, no compasso
Do passo das batidas do coração
Do meu, do seu, onde cada pedaço
Nos faz um todo na emoção...
Deixe-me sonhar, num só traço
Que liga o meu eu a sua paixão.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
fevereiro de 2016 - Cerrado goiano
Fotografia e lembrança
Um dia o hoje será um instante
Perdido nas lembranças do ontem
Os sonhos pareceram distantes
E o passado aquém...
Restaram os perfumes das flores
Da mocidade perdida no tempo
Em confusas paletas de cores
De um fado em seu andamento
Um dia fará falta e vira a solidão
Lá da porta onde vimos a vida passar
Os lamentos nos ouvidos secarão
E a saudade vai nos abraçar...
Um dia seremos fotografia e recordação!
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
fevereiro de 2016 – Cerrado goiano
conjugando o verso
ao poetar versa
num teor sagrado
ao poeta imerso
no versar inspirado
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
21/03/2016 – Cerrado goiano
Abandono
Depois de teu olhar triste
Nada mais se alegrou sem você
A noite se fez dia, quando partiste
E o sol se disfarçou de lua em turnê
O relógio parou naquele momento
Cada segundo de dor era clichê
De saudade, de solidão, de tormento
A poesia ficou sem poeta, à mercê
As ruas sem calçadas, sem pavimento
E a vida, ah a vida ficou sem você
Depois que partiste, olhar triste.
E eu aqui no abandono do porquê.
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado
30/03/2016, 16'33" - Cerrado goiano
Elevação
Chega um tempo, que as prioridades são outras
O beijo na boca, a paixão desmedida, é bom, mas a vida metamorfoseia
Os sacolejos, quedas, subidas, descidas, trazem ouras
Aí o silêncio, a cama redolente, a pegada na areia
São os reais sentidos
E este tempo, traz horas, eternidade
Amenizando os minutos feridos
De desigualdade
Então, só se quer pensamentos perdidos
Um abraço, o ombro simplesmente para chorar
Dando a alma sentimentos sem conflitos
Quietude
Sem dizer nenhum termo
Só querendo solicitude
Tal qual necessita um enfermo
Ter uma presença amiga
Com sorriso, neste momento ermo
O tempo de alguém nos presentear com uma cantiga
Musicando o inesperado
E neste apoio a vida prossiga
Com esperança, e não o sentimento de estar abandonado
Um gesto apenas
Um olhar, que diga, você é amado
Acariciando suas melenas
Ao seu lado
Chega um tempo, que o que vale são as afeições do céu e pouco as terrenas...
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
05/04/2016, 05'30" – Cerrado goiano
SONETO SAUDOSO
Choro, ao pé do leito da saudade
Que invade o corpo sem descanso
Se fazendo de fiel cordeiro manso
E a agrura numa brutal velocidade
E vem me trazer recordações, afeto
Tão apetecida em tempos outrora
Agora na ausência, lerda é a hora
E cruel a minha emoção sem teto
Chorei, choro por esta separação
Neste fado dessa longa despedida
Que partiu a vida daquela posição
Se eu, tenho na sorte malferidos
Aqui sinceramente peço perdão
Movidos nos desfastios vividos
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
06/04/2016, 21'00" – Cerrado goiano
Gostar
Ao falarmos de coração
Vem o amor na fila
À frente, logo ali, a paixão
E todos sem apostila
E nesta expectativa, o par
Ah! Quanto desencontro
Desafios e bailes a bailar
E muito, vários contro
Sonhos? Todavia
Sem meias medidas, intenso
Perder ou ganhar, romaria
Num diverso bem denso
E nesse avesso, o implexo
Onde está o nosso existir
E a ceva do nosso plexo
Dos prelúdios
Lúdicos
Do sonhar
Do apaixonar
Do amar
Entornados pelo ar...
Assim se vive, assim é gostar.
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
07 de abril, 2016 – Cerrado goiano
termo
meus poemas são meus olhos
falam com o juízo do coração
na alma destrancam ferrolhos
enferrujados pela corrosão
dos desprezos e embrulhos
dos enganos da emoção
e mesmo assim,
entre rimas de dor
que escrevo sem fim
teimo nas estórias de amor
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
Abril, 2016 – Rio de Janeiro, RJ
Abjurar
Desejo não mais desejar
Como se fosse corredio
De fácil sentença, aceitar
Só de imaginar dá arrepio
Faz a alma regurgitar
Assombro, melancolia
Na especiaria do amar
Desejar independe do desejo
É cobiça, sede, é frescor
Nunca abjurar o almejo
Pois no desejo se tem amor
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
23'08", 10 de agosto, 2012 – cerrado goiano
Poeminha
Hoje te encontrei na saudade
Nas fotos no tempo amareladas
Que um dia se fez realidade
E as noites dores enrugadas
Eu te encontrei na saudade...
No varal do quintal pendurada
© Luciano Spagnol – poeta do cerrado
09 de maio, 2016 – Cerrado goiano
Minha terra, richiamo
Ah! Quem há de gabar, recordação impotente e escrava
O que o presente diz, o que a saudade escreve?
- Cutucas, sangras, pregadas nas lembranças, e, em breve
Olhas, desfeito em espanto, o que te encantava...
Passou, andou, e é num veloz turbilhão, a ilusão forjava;
Ilusões. Um dia na inocência, hoje já não mais serve,
A forma, e a realidade espessa, a lembrança leve,
De pureza, canduras, numa quimera que voava...
Quem a prosa achará pra poetar o conteúdo?
Ai! Quem há de falar as saudades infinitas
Do ontem? e as ruas que omitem e agiganta?
E o suspiro muda! e o olhar surdo! o andar mudo!
E as poesias de outrora que nunca foram ditas?
Se calam nas recordações, e morrem na garganta...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
20 de janeiro, 2019
Araguari, Triângulo Mineiro.
Paráfrase Olavo Bilac
A imaginação é o único lugar onde podemos ser o que quisermos. Podemos ser loucos ou lógicos. Nela estaremos seguros em nossos sonhos.
Luciano Spagnol
poeta do cerrado
27/01/2016
Cerrado goiano
MOTIM
No fundo da minha poesia, clamor
E ouço apertos e queixas sangradas
Milhões de aspirações sepultadas
Imaginações submergidas na dor
Às vezes, um vazio, palavras caladas
Mas, de repente, um tumulto estertor
Rangendo dentro do peito a compor
Devaneios, desdando ilusões atadas
Cortejos, motins: uivos e ácido luto
No castigado papel... broto e renovo
Em fermentação, dum estro bruto...
E há na intuição, de que me comovo
E no coro da inspiração que escuto
A magia do espírito num versar novo!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Janeiro de 2019, final
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
REI VERÃO
O teu mandar verão!... Está cheio
Cheio de suor e alta temperatura
Como arde o sol na sua quentura
Que calor estroina e sem receio...
Como brilha o dia sem algum freio
Sob o reflexo do ardor, árida figura
De pé, no cerrado, flagra em fartura
Como um cálido fumoso no enseio
Que abrasador fogo no céu ardente
Morre o desejo, outro almejo roga
Em febre, teima o chão recendente
Reino de suspiros!... incandescente
Reino esbraseante! de picante toga
Sossega este calor, vil e indecente!...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
02 de janeiro de 2019
Cerrado goiano
RELÓGIO
Sou as horas que anda, que anda
Segundos, sem fim, sem dimensão
Vou levando verás, agridoce ilusão
Sonhos, e o teor na sua demanda
Sou o tempo, a correr, indagação
A realidade adestrada da varanda
Do viver, sem fingida propaganda
Minutos no vai e vem da emoção
Ninguém pode parar meus anos
Nascem e morrem, sem medida
Desse modo, acertos e os danos
E não há rebelião pra hora corrida
Há vida, tudo passa, sem planos
Então, não desprezais minha batida...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
2019, fevereiro, 03
Cerrado goiano
Olavobilaquiando
Bem me quer, mal me quer
Bem me quer, tenho aqui o meu cantinho
Mal me quer, ao dormir preciso de carinho
Bem me quer, de amizades não tenho fome
Mal me quer, não sei escrever teu nome
Bem me quer, paternidade é com meu cachorro
Mal me quer, na solidão eu peço socorro
Bem me quer, divido a opinião comigo mesmo
Mal me quer, a partilha permanece a esmo
Bem me quer, amo, a tudo e todos, sou feliz
Mal me quer, tudo é tão rápido, por um triz
Bem me quer, como é bom apreciar o amanhecer
Mal me quer, a cada dia veloz é o envelhecer
Bem me quer, sei mastigar a vida de solitário
Mal me quer, não tenho ninguém no itinerário...
Bem me quer...
Luciano Spagnol
singular
no caminho singular
fui plural
tentando me encontrar
entre o bem e o mal
na variante
do acaso
calmaria e vendaval
ao longo prazo
nunca fui total
no lusco fusco
sou igual
o afeto que busco
fui silêncio e barulho
probabilidade
e neste embrulho
deserto e diversidade
de prosa e verso
realidade
de um comum universo
plural ou singular
existiu amizade
e pude saber o que é amar
só o amor nos faz eternidade!
Luciano Spagnol