Cerrado
TUDO LONGE (fado)
Tudo longe, tudo vazio, tudo sem encanto
do teu canto, teu olhar, no peito no entanto
que se põe a suspirar... as tuas lembranças!
Que são lágrimas em rodopios e em danças
na minha saudade. Você está ausente!
Só o cheiro dos teus beijos nos lábios presente
Insistente: - num poema, num verso, num canto
uivando o acalanto, tanto, me jogando num canto
Nem o teu calor, o teu amor, aqui posso tocar
Você está longe... como nostálgico não ficar?
Ai está dor, este pranto, este manto, ai...ai... ai...
não me deixes tão distante, solidão... vai... vai...
A dor do amor sozinho, é tristura grande
que invade a alma, de quem é amante
Tudo tão longe, tão grande, tão emudecido
aqui neste gemido em sofrido alarido...
Me ponho ao vento por ti clamar:
- como é bom poder te amar!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
23 de agosto de 2019
cerrado goiano
a chegada
já a quarta estação me rodeia
tece sua cadeia de flores
as trepadeiras na ameia
da temporada dos amores
florescendo toda a aldeia
cada canto, todas as cores
no cerrado o ar perfumado
em um festival derredores
coroando o ciclo propalado
ameno, pintado, amadores
de um tempo dulcificado
mais que bela, quimera
com seus abraços, laços
em botões em espera
da diversidade em maço
a chegada da primavera!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Setembro de 2019
Araguari, Triângulo Mineiro
FISIOTERAPEUTA,
Doutor do movimento,
auxilia na dor, no alívio, alento,
mãos que tocam manobra,
atento.
Ao aflito: regente, presente.
Profissional da saúde,
do amparo, da evolução,
o que está ali em plenitude,
no socorro da superação...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
outubro
Cerrado goiano
dia do fisioterapeuta
Seu cheiro ficou comigo
Após este breve adeus
E ter-te nos braços meus
Ficou a inocência de seu odor
Misturados com seu calor
Nos labirintos do lençol
Enlaçados com a turbação
Do pensamento sem noção
Gravados no sentimento
Inebriando o contentamento
Com resíduos de nossa paixão
Que naufragaram na minha emoção
É pura essência de hortelã
Que bem cedo, ainda pela manhã
Exala por todos os meus poros
Em eternos cânticos sonoros
Dissolvendo minh'alma em ti
Acordando o meu coração
Marejado de saudosa comoção
Da necessidade de você ter partido
Mas, seu cheiro ficou comigo
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
28/02/2019
Rio de Janeiro, RJ
eleitos
no silêncio, predestinação, na solidão
desígnios dos sentimentos estreitos
o mistério do coração
feitos, leitos, imperfeitos...
eu não te aguardava mais
estava sentado no barranco do cerrado
calado, as entranhas prostradas no cais
do fado, e cá nossos olhares acordado
suspirando os mesmos sensos reias
que já a muito sepultado...
e agora fatais.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
14 de outubro de 2019
Cerrado goiano
Violeiro chora a viola
Violeiro, está viola canta
e chora a saudade deste chão
este chão árido que o pranto na garganta
canta os amores nas cordas desta canção...
No meu peito também chora
este choro que não vai embora
junto da viola, que vai no raiar da aurora
Violeiro, chora a viola no meu pranto
deste desencanto que a sorte me reservou
se podes neste canto me consolar tanto
não se acanhe em espantar a solidão que aproximou...
No meu peito também chora
este choro que não vai embora
junto da viola, que vai no raiar da aurora
Violeiro, canta a viola no choro dos amores
se hoje sozinho, tenho ela cancioneiro e senhora
então consola minha solidão e minhas dores
daqui só saio se a viola for embora...
Viola e violeiro deixam eu ter este proveito
do canto e choro da viola, em poesia
pois assim alivia o meu peito...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Maio, 2016
Cerrado goiano
em novembro
vai precisar de festejo
é mês das quarenta velas
assoprar num só bafejo
sem ter parcelas...
são ainda com um tal ensejo
de serem bagatelas
afinal, os primeiros quarenta
e viver se pode, ao dobrar
somado com mais uns “enta”
a vida começa (a)pesar...
coragem e água benta!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
outubro de 2019
para o Márcio Francisco
ego
o poeta, um falsificador
destrincha a escrita
e ele que chora de dor
© Luciano Spagnol - poeta do cerrado - outubro, 2019 - Cerrado goiano
SONETO DO MEU POETAR
Basta-me apenas um verso
Onde seu gesto fale de amor
E comigo venhas sem dor
E nele eu me torne imerso
Pra sempre, sem nenhum pudor
Sem palavras caídas do universo
Do dissabor, e que seja inverso
A trovas desbotadas e sem cor
É só ter um deslize no disperso
Pra que ele fale o que é perverso
Em linhas omissas e sem frescor
E nem por isto deixo de ser diverso
Num poetar que gosta de ter odor
Aos olhos do doce amoroso leitor
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho de 2016
Cerrado goiano
ODISSEIA (soneto)
Minha saudade de querer-te, ideia
Meus dias poetam versos em te ter
Pois vives no meu viver sem tu crer
Numa saudade de vida em odisseia
Não é só uma razão no meu querer
És o enamorar em noite de lua cheia
Mistérios pra que minh'alma te reteia
E contos de amor escritos pra eu ler
Já tantas vezes lidos, no céu, na areia
Relidos nos sonhos do meu entardecer
É tão presente numa clássica epopeia
És o meu amor, a aurora no amanhecer
Quem no meu palco encenou a estreia
Enlouquecendo por inteiro o meu ser
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
16/06/2016, 17'26"
Cerrado goiano
VELHA OPINIÃO (soneto)
Só o tempo é que faz poetar a vida
Harmoniza a esperança e dá ação
Põe o antídoto do amor na questão
E no fado faz estória de vinda e ida
O ser depende do grau da emoção
Em nada se pode ter dor resumida
Ou tão pouco ter ânsia embevecida
E ou descrença sem fé no coração
O eterno desejar uma sorte ungida
Faz da trilha um trilhar na contramão
Pois sempre se tem algo de partida
E no perde e ganha, a voz é da razão
Não se tem a felicidade assim parida
Vem com dose de ventura e aptidão
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
16/06/2016
Cerrado goiano
Adeus junho
Junho, despede-se
Agasalhado no inverno
Vai-se tão terno
Brindado com vinho
Bem de mansinho
Um novo recomeçar
Doce é poder estar
Dádiva da vida a girar
Vivificando a cada manhã
Em um novo amanhã
Adeus junho das festas
Das madrugadas em serestas
Na despedida a evidência
De dia vencidos, reverência
Sai junho, mortulho...
Vem julho...
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Junho, 2016
Cerrado goiano
SUSPIROS (soneto)
Um pesar tão mais saudoso, assim não vejo!
Um vazio no silêncio, barulhento, sem pudor
De tão é a infelicidade, que terebrante é a dor
Que vagar algum pode ofuscar o tal lampejo
Dias rastejam, noites em romarias no andor
Da angústia, que enfileiradas num cortejo
Levam preciosos instantes, pra num despejo
Jogá-los ao luar, sem quer um pejo, amor
Ah! Que bom seria, eu ter qualquer traquejo
No dom da oração, e me ouvisse o Criador
Através do meu olhar, rogando por ensejo
Essa saudade tão mais triste, ainda é clamor!
Inda estão nos versos que no poetar eu adejo
Tentando recreio, para os suspiros transpor
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Julho de 2016
Cerrado goiano
RENOVO (soneto imperfeito)
Quisera eu o dissabor fosse menor
que os dias tivessem só harmonia
acalmando meu coração tão aflito
e na convicção ter dito: obrigado!
Quisera ser no fado um reto caminho
de suavidade, além do fatal conflito
necessário pra evoluir na infinidade
do, porém, e portar afeto bem intenso
Quisera que o imenso dom do viver
na magia do é e ser, encantasse
pra eu mergulhar nas glórias da fé
E assim, como errante e reles mortal
no final, o ardor da esperança restar
e todo dia, fosse, renovo neste amor!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Julho de 2016
Cerrado goiano
CHAMAMENTO (soneto)
Mãe Senhora, das boas obras benfeitora
Mãe Senhora, do manto de esperanças
De ti a ternura da graça as almas mansas
De ti o perdão nascido na manjedoura
Doce olhar, e no auxílio não descansas
Em toda a parte, és a virgem protetora
Em teu seio o meio à urgência vindoura
És frugal vereda das bem-aventuranças
A mim, pois, filho de escareado desatino
Que aflige o coração em ingrato engano
Olhai com sua piedade o meu vil destino
Assim, neste chamamento de filho insano
Advogue por este pecador, ao Pai Divino
Soberano, nas aperturas deste mundano
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Julho de 2016
Cerrado goiano
RETORNO (soneto)
De volta à minha vida de outrora
Há inquietude com o meu futuro
Tal, embora, o atual seja escuro
A intuição me diz pra ir embora
É assim, no raiar, uma nova aurora
Vai e vem, prevalece o afeto puro
Só na fé com compaixão é seguro
E na esperança que se faz a hora
Porém, se perde, também se ganha
Nas dores, se bate, também apanha
O próprio tempo que doutrina a gente
Pois no dever cumprido, vem o sentido
Da correlação, e ser mais agradecido
Hoje vou melhor, com amor mais ingente
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Cerrado goiano
copyright © Todos os direitos reservados
Se copiar citar a autoria – Luciano Spagnol
SONETO RESOLUTO
Daí ter que ter decisão, se desejais
Não deixai o sonho vivo na solidão
De que vale de a felicidade ter fração
Se sentado estás na beira do cais
Do anseio e da fé não se abre mão
Qual rumo tiveres, quantos e quais
A sorte conquistada vale muito mais
O que tem importância é a questão
Se contra o vento estão os seus ais
Arremesse as ilusões do coração
Semeie as quimeras de onde estais
Então, só assim, o viver terá razão
Daí o que tu queres, dará os sinais
E numa proporção, terás realização
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
08/08/2016, 06'20"
Cerrado goiano
PAI (soneto)
Trago no coração sinais de abrigo
são sentimentos de protetor laço
num nó em lembranças e abraço
daquele que levo sempre comigo
É quem apoiou o passo no passo
no compasso fora do ter perigo
É o valente amigo até no castigo
que no cansaço expõe o regaço
Eis o lar, pai, que assim eu digo:
o provedor que nunca é escasso
num rude amor, sem ser oligo
O braço em um dilatado espaço
de colunas eretas que bendigo:
- numa saudade que não afaço.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
agosto de 2016
Cerrado goiano
pacote
... cada ruga, um poetar do tempo. Envelhecer é o embrulho do viver. Use papel da gratidão, assim, terás mais o que ser... do que só se ver.
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
20/10/2019
Cerrado goiano
copyright © Todos os direitos reservados
Se copiar citar a autoria – Luciano Spagnol
poeminha para as flores
flor são flores
são primavera
de todas as cores
haste da quimera
poetam os amores
amores à venera
as flores tão belas!
© Luciano Spagnol
poeta do cerrado
Maio, 2016
Cerrado goiano