Cem Sonetos de Amor de Pablo Neruda (trechos inesquecíveis do autor chileno)
E no céu da minha nação
não há juventude nem sabedoria
se não houver tua companhia.
O outro que és é o longe
que se alonga ao meu encontro.
Vai, meu passarim, segue teu rumo.
Vai e frequenta as esferas que te esperam.
Uma noite teu sonho atravessou minha seara
e foi uma revoada de alegria.
Agora chegou o momento de tua energia
buscar outras vibrações, outros horizontes.
Estende tuas asas pelos azuis que te aguardam.
Eu preciso de um espelho:
olhar no fundo dos olhos
e ver bem dentro de mim:
quero beijar minha sombra
Encravo o meu punhal na tua pequenina porta,
encravo-o com todo gás, com toda força,
e ao realizar essa completa invasão
descubro que a tua pequenina porta
guardava e resguardava um imenso salão.
O que impera em ti
são esses milagres
que são tuas tetas,
dois punhais
que a cada instante
furam minha paz
e que me ensinaram
a amargar
a verdadeira sede.
Assim é a criação,
uma revolta por dentro,
um espetáculo trágico,
um grande acontecimento,
que só encontra sossego
quando se espalha no vento
e alcança todas as plagas
até ser esquecimento.
Vejam, é Linda Soglia.
Seu labirinto - do antes,
durante e agora -
não é feito de teias,
intrigas e horas.
São células de silêncio.
Eu danço como as ondas que são
sugeridas na forma da vida.
A vida gira na alquimia do coração
enquanto algo toma forma na medida.
Aconteceu,o buraco ficou fundo,eu te avisei,buraco fundo é difícil de sair.
Arrebentava minhas unhas cavando paredes até subir de novo, quando eu achava que ia conseguir, escorregava.
Não é de rir,
aí que lástima, não adianta, quando falava demais você criticava , pediu que eu falasse menos:
-observe mais!
-fique mais calado!
Eu então fiquei tão calado,mais tão calado que só observei.
Claro ! -"O bom cabrito não berra"! - Já dizia meu pai
E foi de tanto observar que deixei o buraco ficar muito fundo.e eu,eu dentro dele.
Foi então que cheguei a infame conclusao que sem equilíbrio não tem jeito não , fui fundo no buraco e percebi que o burro também só observa.
Lupaganini
Apaixone-se!
Ame um pouco mais.
Divirta-se!
Brinque um pouco mais.
Porque a vida é curta.
É curta até demais.
424
Havia tecido um dia longo
Um mistério para o físico feminino
Que com o maior refino
Se estrangula em labor
Era um dia triste
Sem cor aparente
Com o desalinho do cansaço
Parti
A noite era chuvosa
E uma chuva tão fininha
Que só reflexo do chão
Não sabia se ia ou vinha
Meus pés doíam
Meu vestido rodado
Em rodado moderado
Mostrava minha vontade
A minha frente duas sombrinhas andavam
Não queria saber quem as conduzia
Minha preguiça em janela
Já debruçava em pensamento
A chuva tão amena e amiga
Trazia bordados em mim
Eu estava feliz com um verde quente
Aquela chuva lavava
Meu cansaço
Minha alma
Meu traço mais perdido
E em desenho invadido
Estampou em mim a paz
E era tanta paz
Que a chuva traz
Que meus olhos irradiavam alegria
Já não via sombrinhas somente
A frente possíveis amores caminhavam
E daí
Como se felicidade caísse do céu
Peguei minha bolsa
E perdidamente zelei pelo próximo
Defina-me
Correntezas passam na minha mente
Sempre e em velocidade constante
Sou um fluxo de emoções
Mas não sei que caminho seguir
Por fora total segurança
Por dentro quem reina é a desconfiança
Olho para tudo
Mas não vejo nada
No escuro é possível
Ter clareza
Minha palavra cresce
como grito que chora
acima das aves e do vento
desde o alvorecer do dia
Minha palavra avança
de grito até as estrelas
de grito até as dores
Minha palavra anima
a pedra que se forma
na porta do invisível