Cem Sonetos de Amor de Pablo Neruda (trechos inesquecíveis do autor chileno)

O amor que enlouquece e permite que se abram intercadências de luz no espírito, para que a saudade rebrilhe na escuridão da demência, é incomparavelmente mais funesto que o amor fulminante.

O único e verdadeiro amor é aquele que se consagra à felicidade do objecto amado.

O amor começa pelo amor; não se pode passar de uma forte amizade senão para um amor fraco.

Aqueles que dispõem de meios pensam que a coisa mais importante do mundo seja o amor. Os pobres sabem que é o dinheiro.

Fazer consistir a força do casamento na do amor é desconhecer o espírito desta instituição.

Diante do amor existem três tipos de mulher: aquelas com as quais nos casamos, aquelas que amamos e aquelas que pagamos. Todas essas podem muito bem estar numa só. Começamos por pagá-la, depois a amá-la e, por fim, casamo-nos com ela.

Considera como maior infâmia preferir a vida à honra / e por amor àquela, perder a razão de viver.

À medida que os sentidos avançam e se desencadeiam numa direcção, o amor verdadeiro exaure e retira-se. Quanto mais os sentidos se tornam pródigos e fáceis, mais o amor se contém, empobrece ou se torna avaro.

Com o amor dá-se o mesmo que com o vinho. Perdoem-me as leitoras o pouco delicado da confrontação; mas bem vêem que ambos embriagam.

Eventualmente, você chegará a entender que o amor cura tudo, e o amor é tudo que existe.

De que pode servir ter lido três mil livros,/Quando já velho se é indigno do amor do povo?

O prazer do amor dura apenas um instante, os desgostos do amor duram toda a vida.

A aurora do amor é a quadra de devaneios e fantasias, em que a vida do coração principia e exerce sobre nós o seu mágico influxo.

A obstinação nas disputas é quase sempre efeito do nosso amor-próprio: julgamo-nos humilhados se nos confessamos convencidos.

A constância no amor é uma bigorna que, quanto mais é batida, mais dura se torna.

É mais fácil perdoar os danos do nosso interesse que os agravos do nosso amor-próprio.

É necessário ter amor pela vida para o prosseguimento vigoroso de qualquer intento.

Um amoroso é um homem que se empenha em ter mais amor do que lhe é possível ter, e essa é a razão por que todos os homens amorosos parecem ridículos.

Passamos muitas vezes do amor à ambição, mas nunca regressamos da ambição ao amor.

Os bens que a ambição promete são como os do amor, melhores imaginados que conseguidos.