Cegueira
Não penso em ti dessa forma. Já és o quinto nesta última semana. Estou interessada noutra pessoa, como deves saber.
Estas são as duas frases que viraram a minha vida de pernas para o ar, mesmo que proferidas da forma mais gentil possível. Graças a elas, aprendi os maus hábitos de não confiar em ninguém, incluindo em mim mesmo, e de me distanciar de tudo e todos para não ter de as ouvir novamente. Entre isto e o facto de a expressão ‘de pernas para o ar’ ser considerada um erro pelo word por se tratar de linguagem informal, e a próprio palavra ‘word’ ser considerada erro porque o ‘w’ não se encontra na sua majestosa forma maiúscula, não sei o que me irrita mais.
Não há dia em que não me recorde da chuva que caía naquele momento mas parecia pairar no ar nos infinitamente grandes segundos entre a minha exposição e a resposta dela, que nos seus olhos brilhava bem antes de ser posta em palavras mas, como bem sabem, cegos não conseguem ver os olhos dos outros. Nem os seus.
Eramos amigos fazia três anos. Ambos músicos desde jovens, devoradores insaciáveis de livros, forasteiros, INFPs, não era de admirar sermos os dois cegos. Só que éramos cegos dessintonizados, que vieram provar que por mais que duas pessoas tenham em comum, isso não fará delas um par.
Peço desculpa por este ridículo desabafo que provavelmente ninguém lerá. Foram só os devaneios de mais um louco entre outros tantos que se cruzam convosco, ou coincidem convosco, e tem de ficar calado numa tentativa de que os outros não conheçam a sua loucura, conseguindo apenas ficar mais loucos. Por um ano, tentei seguir em frente e distanciar-me de tudo isto, juro que sim, mas para onde quer que me vire vejo os mesmos olhos que desviam o olhar à minha loucura revelada. E assim se aprende a usar máscaras, a mentir, a não manifestar a própria opinião, aconteça o que acontecer e digam o que disserem, até se atingir o ponto de rutura.
Falando em pontos de rutura, quanto mais cedo surgirem, menor a pressão acumulada e o abalo sentido no epicentro sísmico. Como já vou um pouco tarde, tive de escrever esta obra de pura lírica existencial negra como o campo de visão de um cego daqueles que não vê tudo branco, mas tudo preto. Espero ter entretido.
A alta estima não se massageia com elogios de pessoas desconhecidas pois não reconhecem sua essência. O desejo pela embalagem lhes cega os sentidos, enganam o coração e sufocam a alma.
A dependência nos consome como africanos até o ponto de sermos escravos da nossa independência.
A cegueira nos cega os corações e nos veste com a escuridão transformando-nos em negros inimigos da paz e da união.
Não se vê a maldade. Não se ouve a maldade. Não se fala da maldade. Mas a maldade existe, não é mesmo? Bem diante dos seus olhos fechados, seus ouvidos tapados e da sua língua muda. E, caso não seja cuidadoso, tal cegueira voluntária pode fazer com que fortunas indignas e imorais sejam obtidas.
"Descobri algo extremamente perigoso nesta vida: o excesso de elogios. Suas prováveis consequências são a vaidade, a arrogância, a cegueira e a queda".
A pessoa que não cultiva um jardim de sentimentos belos no seu interior, se torna cega para o colorido dos sentimentos que florescem ao seu redor.
O pior cego já não é aquele que não quer ver, mas aquele que acha que vê. Não querer ver é opcional, achar que vê é estupidez.
O olhar do fanatismo
só conhece os extremos:
Deus ou diabo,
amor ou ódio,
depois ou antes.
Ele não enxerga
as nuances...
A INGRATIDÃO é algo que vibra no negativo. Muitos vibram dessa forma e é perceptível com um pouco mais de observação. O INGRATO consegue ver um minúsculo 'não-feito' dentro de um 'imenso-feito', esqueceu-se completamente do que possui, é cego fisicamente e espiritualmente e com isso procura te descredenciar, tomando tudo por sua própria incapacidade de visão, esquecendo-se de desenvolver olhos altruístas; toma tudo pela sua própria minúscula régua, pelo seu estreitamento FOCAL e seu egoísmo. O seu SER está no centro de tudo, obstruindo, criando um imenso muro a sua volta e muito maior do que ele mesmo, vê mas NÃO ENXERGA.
Inúmeras vezes não esperamos NADA em troca, mas será que conseguimos continuar doando-nos sem mesmo um obrigado como retribuição.
<Estes dias>
Eu sou os lugares que fui
as pessoas que vi
sou as canções que escutei
as dores que senti.
Eu sou os passos que dei
nos caminhos rudes que percorri
eu sou de longe o melhor dos outros
um pouco de cada um
eu sou o brilho nos olhos da noite
e a cegueira que hora menos hora nos orienta
eu sou o que de bom há nos outros
e o que deles pelas estradas da vida recolhi.
Mas não tenha grandes pretensões a meu respeito!
Tenho em mim o pior das ruas:
- o grito mais ensurdecedor
- a tristeza mais aguda
- o vazio mais estridente...
Tenho em mim todas as dores da alma
e as vezes fico tão insuportável,
que me torno instável, perigoso!
As vezes saio sem rumo, saio do prumo,
desqualifico-me como pessoa, beiro a irracionalidade.
As vezes me sinto perdido, perco o sentido,
decolo em pista curta e pouso no raso do céu.
As vezes... Na maioria das vezes, eu sigo sozinho,
tentando encontrar o caminho de casa.
Mas sem asas, voo pra qualquer direção.
Tem dias que eu encontro o caminho,
e há aqueles dias em que perco totalmente a noção.
A incerteza nos obriga a abrir os olhos e os demais sentidos, o que nos faz parar de avançar às cegas ou movidos pela inércia ou pela apatia.
Às vezes nós estamos tão cegos que é necessário que outra pessoa veja por nós. O que é decisivo é se vamos perceber, pelos olhos dos outros, o que não conseguimos enxergar com os nossos próprios olhos.
''Superioridade parece algo prazeroso, mais na verdade é a maior ilusão para uma queda igualável a inferioridade.Todos vão de encontro a um buraco de 7 palmos.''
Passado, presente e futuro são três peças de roupa que vestimos na nossa trajetória de evolução. Somente despida, a alma pode deixar gradativamente o véu da cegueira espiritual e ir conquistando a visão quântica, ainda escura, a caminho da visão dos puros.
Em terra de cegos, intolerantes e conflitos pipocando por todos os lados, prova de amor é jamais confundir diferenças com indiferenças e desigualdades...