Carteiro
Não sou eu. São as músicas. Eu sou só o carteiro. Eu entrego as músicas.
Quando explicamos a poesia ela torna-se banal. Melhor do que qualquer explicação é a experiência directa das emoções, que a poesia revela a uma alma predisposta a compreendê-la.
Em verdade temos medo.
Nascemos escuro.
As existências são poucas:
Carteiro, ditador, soldado.
Nosso destino, incompleto.
E fomos educados para o medo.
Cheiramos flores de medo.
Vestimos panos de medo.
De medo, vermelhos rios
vadeamos.
Somos apenas uns homens
e a natureza traiu-nos.
Há as árvores, as fábricas,
Doenças galopantes, fomes.
Refugiamo-nos no amor,
este célebre sentimento,
e o amor faltou: chovia,
ventava, fazia frio em São Paulo.
Fazia frio em São Paulo…
Nevava.
O medo, com sua capa,
nos dissimula e nos berça.
Fiquei com medo de ti,
meu companheiro moreno,
De nós, de vós: e de tudo.
Estou com medo da honra.
Assim nos criam burgueses,
Nosso caminho: traçado.
Por que morrer em conjunto?
E se todos nós vivêssemos?
Vem, harmonia do medo,
vem, ó terror das estradas,
susto na noite, receio
de águas poluídas. Muletas
do homem só. Ajudai-nos,
lentos poderes do láudano.
Até a canção medrosa
se parte, se transe e cala-se.
Faremos casas de medo,
duros tijolos de medo,
medrosos caules, repuxos,
ruas só de medo e calma.
E com asas de prudência,
com resplendores covardes,
atingiremos o cimo
de nossa cauta subida.
O medo, com sua física,
tanto produz: carcereiros,
edifícios, escritores,
este poema; outras vidas.
Tenhamos o maior pavor,
Os mais velhos compreendem.
O medo cristalizou-os.
Estátuas sábias, adeus.
Adeus: vamos para a frente,
recuando de olhos acesos.
Nossos filhos tão felizes…
Fiéis herdeiros do medo,
eles povoam a cidade.
Depois da cidade, o mundo.
Depois do mundo, as estrelas,
dançando o baile do medo.
Amor não correspondido é como carteiro: você atende ele na porta, não o convida para entrar, recebe o que ele veio entregar e depois se despede.
Talvez a função do psicoterapeuta ou do psicanalista seja parecida com a de um carteiro que pega cartas embaralhadas, as cartas de nosso destino, e ajuda a entregar as que podem ser entregues, reenviar as que estão sem destinatário e cuidar daquelas que ainda não foram escritas.
Sorria sem motivos, cumprimente o carteiro e não tenha medo de dizer "não" se quiser dizer; só não finja que não é com você, e nao dê ouvidos pra quem não te quer bem.
Viver é uma arte, uma arte que participamos inconscientemente, mas que fica cada vez mais admirável conforme você enxerga cada dia como uma nova aventura.
Dos teus abraços sobraram apenas garranchos em cartas que sempre voltaram. Até o carteiro sentia pena de mim.
Antes esperávamos o carteiro trazer notícias, fotografias e declarações de amor em envelopes gordos de conteúdos ou magrinhos de saudades. Hoje é tudo feito por e-mail, acho que até a saudade chega antes mesmo que possamos senti-la. As fotos já não são reveladas, elas são expostas. As declarações de amor são públicas, até as coisas mais privadas acho que já foram privatizadas. Ainda bem que nossos sonhos e secretos pensamentos ainda não são on-line.
Só desejo que as garrafas com as cartas de amor sejam encontradas, e o carteiro não devolva nenhuma ao remetente.
O carteiro e o poeta
Quando a lua reapareceu depois da ventania
Eu liguei o rádio e adormeci na melodia.
A batida na porta me levou a embriaguez
de mais um dia sem você e, a nossa insensatez
-Foi dona Maria, que pediu minha atenção
Trazia embaixo das axilas:
um envelope lilás, um crucifixo e, um pão.
Era você amor ,que mandava me chamar
Cê mandou avisar que a mainha adoeceu
As portas estão abertas ainda era todo meu.
Mas o rio que corre e em mim mudou a travessia
Eu agora sou poeta
Minhas asas procuram a ventania.
E,quando eu respondi : Maria......
Foi que tudo escureceu:
-Eu disse que não mais voltaria, que
não era mais sua e nem você mais meu.
Nunca mais foi noite ou dia, e Janaína enfureceu
Derrotou homens no mar e, a maresia escondeu.
Quando eu fui embora
A porta nunca se fechou
Eu ainda sabia,que era o mar meu grande amor.
Mas o rio que corre e em mim mudou a travessia
Eu agora sou poeta
Minhas asas procuram o ar
a ventania.
Ser Esnobe, de berço ou chique,,...: é dar bom dia para o carteiro, o empregado, ate pro lixeiro. Ser uma pessoa fina é: é conversar com o varredor de rua, com o porteiro, com algum idoso na rua que espera só que alguem lhe de um pouco de atenção. Ser fino é escutar com atençao as criticas, entende-las e se tornar uma pessoa melhor. Ser fino, ter berço é: Saber ouvir, não falar pelos cotovelos não deixando o outro se expressar. è saber conviver com as diferenças, é se adaptar, e por vezes calar. É honrar sua palavra, pagar suas contas, pagar o 1, 10, 100,00 que se deve, as prestaçoes, é ser grato com quem ajuda, correto com quem se relaciona, e honesto em todo negocio que fizer. Ser fino, ser chic é: expor os sentimentos, nao se fexar, é ser simples, humilde independente das posses. Enfim ser uma pessoa chic é o que a maioria não é mas se acha.
O remédio que estou tomando e quase
nin-guém sabe..
pro carteiro estou bem
bem acima de onde vem
pra roseira estou
só..
de sa-ca--nagem
porque há dias
não a molho de
ver--dade
pro isqueiro eu nem sei..
mas o fogo de onde
vem..
juro que nin-guém
sabe..
O paradeiro
nin-guém
sabe..
nem o porteiro
nin-guém
sabe..
nem o obreiro
sem água, luz..
nada de gato paga..
nin-guém
sabe..
Seu nome inteiro
nin-guém
sabe..
Nem o coveiro
nin-guém
sabe..
nin-guém
sabe..
nin-guém
sabe.. . . .....
Nem o espelho..
Só..
Só.. O mun--do
inteiro.
O Carteiro
Toc, toc.
O Carteiro chegou.
E com ele, nova correspondência.
Uma palavra, uma frase, uma cabeça erguida com um olhar distante e a pensar, um pequeno movimento e quando menos esperamos, aconteceu.
Não veio com manual (nunca tem).
O remetente, um enviado do Além?
Do mar?
Da terra?
Do fogo?
Da água?
Do ar?
Das estrelas?
De mim?
Soube.
O Carteiro chegou com a correspondência.
A brisa que soprou em meu rosto ironizou a minha reação. Ela percebeu a emoção contida com a chegada do Carteiro.
A fina chuva que me acaricia agora, sempre revelou segredos.
Parece lambidas de felinos e cães suavemente a contar os detalhes.
A luz tênue que envolve tudo... Será um complô a seu favor?
A favor do que recebi do Carteiro?
Acabaram de avisar que não aceitam devoluções.
Lí.
Rasguei. Mas a palavra ficou.
Lembranças...são as palavras em ação no meu cérebro.
Se corrosivas ou não O Carteiro não aceita devolução.
Cada uma delas desceu como um belo vinho de açaí.
Manchando boca, enegrecendo minha língua sofrega quando escorreu o líquido gelado e revigorante do gosto de terra adoçado.
Terra que caminho, terra que sustenta o peso dos meus anos.
Ninguém é perfeito de perto. O Carteiro sabe.
Todo louco é normal a um palmo do rosto. O Carteiro viu.
O Carteiro sempre carrega consigo a correspondência que precisamos. Todas repletas de oportunidades.
São as cartas.
O Carteiro partiu.
Sinto saudade de esperar o carteiro.
Do antigo e-mail, com texto criativo, inteligente e pessoal.
Saudade até das mensagens enviadas pelo celular
com conteúdo intenso, bem pensado.