Cartas de reflexão
"Aquela menina que o desprezo gerou, aprendeu a ser amor, pois conhecia bem o que era dor. Não usava rosa porque era clichê, gostava do preto e marcava os olhos na frente do espelho, no bolso, carregava abraços apertados pra todos! Aquela menina, era uma mulher, que escondia suas dores pra curar a dor de um outro qualquer."
Héstia e Hermes representam idéias arquetípicas do espírito e da alma. Hermes é o espírito que põe fogo na alma. Nesse contexto, Hermes é como o vento que sopra a brasa no centro da lareira, fazendo-a acender-se. Do mesmo modo, as idéias podem excitar sentimentos profundos, ou as palavras podem tornar consciente o que foi inarticuladamente conhecido e iluminado o que foi obscuramente percebido.
A ideia de autoridade feminina está tão profundamente fixada no subconsciente humano que mesmo depois de todos estes séculos de direitos do pai o filhinho instintivamente considera a mãe como a autoridade suprema. Ele olha para o pai como igual a ele mesmo, igualmente sujeito à regra da mãe. As crianças têm que ser educadas para poder amar, honrar, e respeitar o pai, uma tarefa usualmente adotada pela mãe.
Os Homens insistem que não se importam que as mulheres sejam bem sucedidas contanto que elas conservem sua "feminilidade". No entanto, as qualidades que os homens consideram "femininas": timidez, submissão, obediência, tolice, e auto-depreciação — são exatamente as qualidades mais garantidas para assegurar a derrota da mais talentosa aspirante.
O fato é que os homens necessitam das mulheres mais do que as mulheres necessitam dos homens; e então, ciente deste fato, o homem tem procurado manter a mulher dependente dele economicamente como o único método disponível para ele fazer-se necessário para ela. Como no início a mulher não se tornaria sua escrava voluntária, ele tem feito ao longo dos séculos uma sociedade na qual a mulher deve servi-lo para sobreviver.
Não é com os homens que a maioria das mulheres se preocupam quando elas se levantam em defesa ao status quo. Seu aparente endosso à supremacia masculina é, antes, um esforço patético por auto-respeito, auto-justificação, e auto-perdão. Depois de mil e quinhentos anos de sujeição aos homens, as mulheres Ocidentais acham quase insuportável encarar o fato de que têm sido enganadas e escravizadas por seus inferiores — que o senhor é menos que a escrava.
A disciplina é uma parte importante do processo. As pessoas não gostam dessa palavra, pois associam a disciplina com opressão. Mas na verdade, disciplina tem a mesma raíz de discípulo, que significa se enxergar pelos olhos do mestre que o ama. Temos esse mestre dentro de nós e temos também o animal selvagem que precisa ser disciplinado com amor. Precisamos de sua energia instintiva e sabedoria.
Cultivar a alma é permitir que a essência eterna penetre e experimente o mundo externo por todos os orifícios do corpo: vendo, sentindo o aroma e o sabor, ouvindo, tocando - de tal maneira que a alma cresça durante sua permanência na terra. Cultivar a alma é descobrir-se um ser eterno habitando um corpo temporal. É por isso que sofre e aprende pelo coração.
Quando falo em amor romântico, não estou falando de mandar flores, mas de um amor idealizado, irreal. Você conhece uma pessoa, idealiza e lhe atribui características que ela não tem. Passa a vida toda querendo mudá-la e, no fim, percebe que é impossível. Para piorar, o amor romântico prega uma grande mentira, que é “quem ama não sente desejo por mais ninguém”. Nessa concepção enganosa de amor, não nos apaixonamos pelo outro, mas pela própria paixão.
Até 5 mil anos atrás, os homens não sabiam que tinham participação na geração de uma criança. Para eles, a fertilidade era exclusivamente feminina. Durante milênios, a ideia de casal foi desconhecida. Viviam todos juntos. Quando os homens abandonaram a caça e domesticaram os animais, perceberam que, se as ovelhas se separassem dos carneiros, não geravam cordeiros; porém, após o carneiro cobrir a ovelha, nasciam filhotes. A contribuição do macho para a procriação foi, enfim, descoberta. E ela coincidiu com o surgimento da propriedade privada. O homem passou a dizer “minha terra”, “meu rebanho” e aprisionou a mulher para não correr o risco de deixar a sua herança para o filho de outro, caso ela pulasse cerca.
O fato que todas nós somos treinadas da infância em diante para sermos mães significa que nós todas somos treinadas para devotar nossas vidas aos homens, quer eles sejam nossos filhos ou não; que todas nós somos treinadas a forçar outras mulheres a exemplificar a falta de qualidades que caracteriza a construção cultural da feminilidade.
Para uma mulher, o amor é definido como sua boa vontade para se submeter a sua própria aniquilação… A prova de amor é que ela está disposta a ser destruída por aquele que ela ama, pelo seu bem. Para as mulheres, o amor é sempre auto-sacrifício, sacrifício de sua identidade, desejo e integridade de seu corpo; para que satisfaça e se redima diante da masculinidade de seu amado.
No tempo em que somos mulheres, medo é tão familiar para nós como ar. É o nosso elemento. Nós vivemos nele, nós inalamos ele, nós exalamos ele, e na maioria do tempo nós nem notamos isso. Ao invés de "Eu tenho medo", nós dizemos, "Eu não quero", ou "Eu não sei como", ou "Eu não posso".
Já discuti muito sobre isso (novamente: não comecei ontem); existe um desafio básico em fazer literatura de gênero e fazer "alta" literatura (sim, ainda acredito nisso). Como respeitar as convenções do gênero sem recorrer (apenas) a clichês, como fazer "alta" literatura sem provocar apenas estranhamento, e sim respostas objetivas (no caso do terror, "provocar medo"). É um desafio que eu mesmo (como autor) acho que não consegui vencer. Mas eu prefiro criar o estranho, a dificuldade, do que recorrer a uma literatura rasa.
Meus temas e meu universo não são convencionais no meio literário. Minha aparência também não. Por um lado, essa desconfiança vem diminuindo, porque já tenho mais de dez anos de carreira, oito livros, não sou mais um garotinho. Mas também me sinto mais confortável para ousar, tanto no discurso, na aparência, quanto no texto.
Minha escrita era mais apaixonada, espontânea. Com o tempo, ficou mais cerebral – atualmente se apoiando mais em pesquisa. Acho os dois momentos importantes. Na literatura valoriza-se muito a experiência, a maturidade, a velhice, mas há algo da paixão, da energia da escrita do jovem, que é fascinante – e isso eu já perdi. Então não tenho nada a ensinar ao meu eu-jovem – talvez ele é que tenha.
Eu precisava renunciar à hipótese de que ele já se situava sob o meu domínio. Se sumisse talvez fosse o melhor. Que eu voltasse à minha solidão sem me abater. Nela tinha as minhas referências todas ordenadas, eu a abastecia com algumas obsessões, como o pensamento sobre o que eu perderia se viesse a morrer nas próximas horas.
Não se trata de subir, velho ídolo mental desmentido pela história, velha cenoura que já não engana o burro. Não se trata de aperfeiçoar, de decantar, de resgatar, de escolher, de livre-abitrar, de ir do alfa ao ômega. Já se está. Qualquer um já está. O disparo está na pistola; mas é preciso apertar o gatilho, e o dedo está fazendo sinais para fazer parar o ônibus ou qualquer coisa assim.
Mudei-me na quinta-feira passada, às cinco da tarde, entre névoa e tédio. Fechei tantas malas em minha vida, passei tantas horas preparando bagagens que não levavam a parte nenhuma, que aquela quinta-feira foi um dia cheio de sombras e correias, porque quando vejo as correias das malas é como se visse sombras, partes de um látego que me açoita indiretamente, da maneira mais sutil e mais horrível.
Em maior ou menor grau, todos travam uma batalha na vida. A dor é uma escola de força. Quando a aceitamos de maneira "saudável", ganhamos um domínio interior importante e fundamental para a vida. Isso tem valor humano e espiritual, enriquece a inteligência, leva-nos a perceber o significado da nossa vida, das nossas convicções mais profundas e ajuda-nos a aceitar as nossas limitações.