Cartas de Deus
Percebo uma analogia entre como as pessoas veem seu relacionamento com Deus e a dinâmica entre um patrão e seu empregado. Algumas pessoas encaram Deus como uma ajuda necessária para auxiliar, organizar e resolver problemas, mas mantêm uma distância que implica certas limitações, tais como não interferir na vida pessoal, não expressar opiniões ou impor ideias, evitando a intimidade e um convívio social e informal, a menos que seja realmente necessário. A relação parece como algo estritamente profissional, sem um vínculo ou participação mais efetiva na vida diária.
Em determinados cenários, tanto a rejeição quanto a aceitação da vontade de Deus podem ser sintomas de falta de fé. A rejeição surge quando não se confia em sua orientação, enquanto a aceitação pode ser uma forma de conformismo e impotência perante uma situação, usando a vontade divina como justificativa.
Atualmente, a pregação da Palavra se transformou em uma manifestação artística, na qual a criatividade define a grandiosidade da obra. Até mesmo um "pé de cadeira" pode ser forçado a se tornar um símbolo sem fundamento real. A ministração possui todos os elementos de um grandioso espetáculo: emoção, criatividade, originalidade e uma oratória impecável. No entanto, falha em transmitir uma lição espiritual sólida, pois carece da revelação do Espírito Santo e do poder de Deus.
Na Bíblia, o símbolo do "vaso" é usado para ilustrar diferentes aspectos da vida cristã, como o processo de formação e desenvolvimento espiritual, a utilidade do cristão e a qualidade de sua fé. Embora esses símbolos — como o vaso de barro ou de ouro — nos ajudem a entender esses conceitos, é importante lembrar que as comparações materiais não podem capturar plenamente as realidades espirituais. Assim, devemos usar essas metáforas com discernimento e não forçar suas aplicações além do que a Escritura nos revela.
Os cristãos se perderam nas interpretações pessoais e teorias complexas que explicam Deus e sua palavra a partir de uma lógica humana, ignorando a revelação do Espírito Santo. Como resultado, o Cristianismo se afastou muito do Evangelho de Cristo e, hoje, suas diversas vertentes muitas vezes se assemelham mais a filosofias cristãs do que a expressões fiéis do ensinamento de Jesus.
Há quem afirme não ter nenhuma crença, mas isso é impossível; todos acabam acreditando em algo, mesmo que seja diferente do que é comum. De maneira similar, defender a quebra total dos padrões e princípios da sociedade é impraticável, pois o que ocorre é a criação de novos padrões e novos princípios. Da mesma forma, as pessoas que dizem "pensar fora da caixa" ou não estarem dentro de uma "bolha" na verdade estão pensando dentro de outra caixa e inseridas em uma nova bolha.
Os escribas e fariseus idealizaram uma figura messiânica e desenvolveram suas próprias interpretações das profecias a respeito dele. Quando finalmente encontraram o verdadeiro Messias prometido, o rejeitaram, pois ele não correspondia às suas expectativas e não compartilhavam as mesmas convicções e opiniões sobre o caminho de Deus.
Embora muitos cristãos reconheçam que Deus não mede o sucesso de sua obra apenas por números ou aplausos, ainda assim se deixam influenciar pela quantidade de pessoas, elogios, popularidade e convites que recebem. Quando se é liberto dessa necessidade de aprovação e se foca em agradar a Deus e cumprir sua vontade, não há mais espaço para emocionalismos ou frustrações.
Embora os ministros do Evangelho, como seres humanos, sejam passíveis de falhas, quando se empenham em viver o que pregam, demonstram de forma prática a verdade e o poder do evangelho. Caso contrário, a mensagem pode parecer algo utópico, distante e inalcançável, já que nem eles conseguem seguir o que ensinam.
Atualmente, a mídia promove fortemente a ideia de enriquecer e alcançar o sucesso. Muitos cristãos se lançam nessa busca frenética pelo sucesso financeiro, muitas vezes sem a estrutura ou a personalidade necessárias para lidar com a riqueza. Assim, acabam esquecendo os ensinamentos de Jesus sobre os ricos e as advertências de Paulo sobre o desejo de ser rico e o amor ao dinheiro.
Aqueles que se deleitam em ouvir pastores, teólogos e estudiosos da Bíblia na internet, admirando sua aparente sabedoria, correm o risco de serem enganados, ignorando as advertências dos apóstolos sobre a proliferação de falsos mestres e doutores nos últimos dias, os quais são usados sutilmente pelo diabo para distorcer a doutrina de Cristo.
É possível, porém desafiador, encontrar um cristão intelectual e altamente inteligente que viva e compreenda o Evangelho em sua plenitude. Indivíduos muito inteligentes tendem a questionar e buscar explicações lógicas para tudo, o que pode levá-los a entender conceitos espirituais e sobrenaturais de maneira racional e superficial. Isso resulta em uma experiência do Evangelho que frequentemente carece de profundidade e vitalidade espiritual, pois é abordado como uma ciência humana, sem a vivência da revelação do Espírito Santo.
Muitos cristãos intelectuais abordam e estudam o Evangelho como se fosse uma ciência humana, sendo considerados sábios principalmente por suas interpretações inteligentes da Bíblia e discursos bem elaborados. No entanto, suas afirmações carecem de validação divina, e eles desconhecem a verdadeira essência do Evangelho, nunca tendo experimentado a revelação do Espírito Santo.
Muitos cristãos enfrentam quedas espirituais, mas agem como se tivessem caído de pé, recusando-se a reconhecer o fracasso por causa do orgulho. Davi, ao errar, foi humilde e confessou seus pecados. O filho pródigo sequer cogitou recuperar sua posição anterior, oferecendo-se apenas para ser um servo. Pedro, arrependido, chorou amargamente. Contudo, esta geração muitas vezes peca de cabeça erguida, sem quebrantamento e não consegue ter um verdadeiro arrependimento!
A frase "Deus é amor", quando dita sob a inspiração do Espírito Santo, revela a bondade e misericórdia de Deus em harmonia com sua justiça e santidade. No entanto, quando manipulada pelo Espírito do Engano, passa a transmitir uma imagem distorcida de um Deus permissivo e conivente, que anula sua justiça e santidade.
Desde o início, o evangelho nos ensina que, em Cristo, não há distinção de cor ou raça. Todo cristão consciente reconhece tanto o seu valor em Deus quanto o do próximo, sem necessidade de militância na igreja, pois a obra do Espírito Santo é suficiente para convencer, transformar e unir os corações.
Ao abrir a Bíblia, é fundamental deixar de lado preconceitos, ideologias e opiniões próprias. Se você examina as Escrituras com a mente já influenciada por suas crenças e interpretações pessoais, corre o risco de projetar no texto essas ideias, em vez de compreender a mensagem verdadeira e transformadora que Deus revela!
O ser humano tem apenas um vislumbre do que é bom e ruim, do que é um bem ou um mal, mas não consegue compreender a realidade plena, como Deus a percebe. Muitas vezes, o que consideramos mal é, na verdade, um bem, e o que julgamos ser bem pode, na realidade, ser um mal. Por isso, é essencial buscar aprender com Deus, que detém a visão completa e verdadeira de todas as coisas.
Mimados desde a infância, podemos projetar essa mesma expectativa em nossa relação com Deus, esperando que ele sempre nos dê o que queremos, imediatamente. A consequência de um "não" divino é uma intensa frustração e uma reação infantil, uma birra ou pirraça "espiritual", na crença ilusória de que podemos forçá-lo a mudar de ideia.
É curioso ver as pessoas acusarem a religião de fazer "lavagem cerebral", enquanto o mundo impõe seus próprios padrões. Vestem o que a moda dita, ouvem e se apaixonam pelas músicas promovidas pelas grandes mídias, seguem padrões de beleza estabelecidos pela cultura atual, votam no candidato cuja estratégia de marketing mais impactou, adotam ideologias e opiniões que estão em alta, e se alimentam, bebem e se comportam conforme as influências midiáticas. Até mesmo as casas e os veículos que possuem seguem as tendências do momento. E, curiosamente, a cultura chega a influenciar até as próprias religiões e muitas igrejas... Até o ceticismo e a postura anti-religiosa, entre outros conceitos modernos, que se apresentam como formas de resistência, acabam se tornando mais um modismo, impulsionado por uma classe...