Cartas de Despedida de Clarice Lispector
Não sei expressar-me por palavras. O que sinto não é traduzível. Eu me expresso melhor pelo silêncio. Expressar-me por meio de palavras é um desafio. Mas não correspondo à altura do desafio. Saem pobres palavras. E qual é mesmo a palavra secreta? Não sei e por que a ouso? Só não sei porque não ouso dizê-la?
Uma pergunta que me fez: o que mais me importava – se a maternidade ou a literatura. O modo imediato de saber a resposta foi eu me perguntar: se tivesse que escolher uma delas, que escolheria? A resposta era simples: eu desistiria da literatura. Nem tem dúvida que como mãe sou mais importante do que como escritora.
Eu aqui morro de saudade de casa e do Brasil. Essa vida de “casada com diplomata” é o primeiro destino que eu tenho. Isso não se chama viajar: viajar é ir e voltar quando se quer, é poder andar. Mas viajar como eu viajarei é ruim: é cumprir pena em vários lugares. As impressões, depois de um ano num lugar terminam matando as primeiras impressões.
Fiquei sozinha um domingo inteiro. Não telefonei para ninguém e ninguém me telefonou. Estava totalmente só. Fiquei sentada num sofá com o pensamento livre. Mas no decorrer desse dia até a hora de dormir tive umas três vezes um súbito reconhecimento de mim mesma e do mundo que me assombrou e me fez mergulhar em profundezas obscuras de onde saí para uma luz de ouro. Era o encontro do eu com o eu. A solidão é um luxo.
Se eu ficar sozinha demais procurarei o nosso Consulado. Para rever brasileiros e poder de novo usar a nossa difícil língua. Difícil mas fascinante. Sobretudo para se escrever. Asseguro-vos que não é fácil escrever em português: é uma língua pouco trabalhada pelo pensamento e o resultado é pouca maleabilidade para exprimir os delicados estados do ser humano.
E que eu não esqueça, nessa minha fina luta travada, que o mais difícil de se entender é a alegria. Que eu não esqueça que a subida mais escarpada, e mais à mercê dos ventos, é sorrir de alegria. E que por isso e aquilo é que menos tem cabido em mim: a delicadeza infinita da alegria. Pois quando me demoro demais nela e procuro me apoderar de sua levíssima vastidão, lágrimas de cansaço me vêm aos olhos: sou fraca diante da beleza do que existe e do que vai existir. E não consigo, nesse adestramento contínuo, me apoderar do primeiro regozijo da vida.
Havia a esperançosa ameaça do pecado, eu me ocupava com medo em esperar; sem falar que estava permanentemente ocupada em querer e não querer ser o que eu era, não me decidia por qual de mim, toda eu é que não podia; ter nascido era cheio de erros a corrigir. (...) Tomava intuitivo cuidado com o que eu era, já que eu não sabia o que era, e com vaidade cultivava a integridade da ignorância.
O tempo não existe. O que chamamos de tempo é o movimento de evolução das coisas, mas o tempo em si não existe. Ou existe imutável e nele nos transladamos. O tempo passa depressa demais e a vida é tão curta. Então – para que eu não seja engolido pela voracidade das horas e pelas novidades que fazem o tempo passar depressa – eu cultivo um certo tédio. Degusto assim cada detestável minuto. E cultivo também o vazio silêncio da eternidade da espécie. Quero viver muitos minutos num só minuto. Quero me multiplicar para poder abranger até áreas desérticas que dão a ideia de imobilidade eterna. Na eternidade não existe o tempo.
A. impossibilidade de participar de todas as combinações em desenvolvimento a qualquer instante numa grande cidade tem sido uma das dores de minha vida. Sofro como se sentisse em mim, como se houvesse em mim uma capacidade desmesurada de agir. Entretanto, na parte de ação que a vida me reserva, muitas vezes me abstenho e outras me confundo. […] A ideia de que diariamente, a cada hora, a cada minuto e em cada lugar se realizam milhares de ações que me teriam profundamente interessado, de que eu certamente deveria tomar conhecimento e que entretanto jamais me serão comunicadas — basta para tirar o sabor a todas as perspectivas de ação que encontro à minha frente. O pouco que eu pudesse obter não compensaria jamais esse infinito perdido. Nem me consola o pensamento de que, entrando na confrontação simultânea de tantos acontecimentos, eu não pudesse sequer registrá-los, quanto mais dirigi-los à minha maneira ou mesmo tomar de cada um o aspecto singular, o tom e o desenho próprios, uma porção, mínima que fosse, de sua peculiar substância.
É curioso, a alegria não é um sentimento nem uma atmosfera de vida nada criadora. Eu só sei criar na dor e na tristeza, mesmo que as coisas que resultem sejam alegres. Não me considero uma pessoa negativa, quer dizer, eu não deprimo o ser humano. É por isso que acho que estou vivendo num movimento de equilibrio infecundo do qual estou tentando me libertar. O paradigma máximo para mim seria: a calma no seio da paixão. Mas realmente não sei se é um ideal humanamente atingível.
Data daí a opinião particular que tenho do canapé. Ele faz aliar a intimidade e o decoro, e mostra a casa toda sem sair da sala. Dois homens sentados nele podem debater o destino de um império, e duas mulheres a graça de um vestido; mas, um homem e uma mulher só por aberração das leis naturais dirão outra coisa que não seja de si mesmos.
A influência exercida sobre a nossa alma, pelos diferentes lugares, é uma coisa digna de observação. Se a melancolia nos conquista infalivelmente quando estamos à beira das águas, uma outra lei da nossa natureza impressionante faz com que, nas montanhas, os nossos sentimentos se purifiquem: ali a paixão ganha em profundidade o que parece perder em vivacidade.
Mas para isso precisaria de um gênio criador, porque teria de carregar o homem de qualquer coisa, da mesma maneira que eu o carrego de uma inclinação para o mar que fará dele construtor de navios. Só assim cresceria essa árvore que depois se iria diversificando. E ele havia de pedir de novo a canção triste.
E é então que esqueço de tudo e vou olhar nos olhos de minha bem-amada como se nunca tivesse visto antes. É ela, Deus do céu, é ela! Como a encontrei, não sei. Como chegou até aqui, não vi. Mas é ela, eu sei que é ela porque há um rastro de luz quando ela passa; e quando ela me abre os braços eu me crucifico neles banhado em lágrimas de ternura; e sei que mataria friamente quem quer que lhe causasse dano; e gostaria que morrêssemos juntos e fôssemos enterrados de mãos dadas, e nossos olhos indecomponíveis ficassem para sempre abertos mirando muito além das estrelas.
Aprendi muito cedo que o sonho é mais que a realidade. No sonho, o cruel se desfaz com a mudança de foco. É simples. É só deixar de pensar. Se a paixão não convém é só trocar a cara. Fácil de resolver. A imaginação permite retoques, mudanças constantes. De Belo Horizonte a Paris eu levo um segundo. Não pago passagem, nem tenho problema com excesso de bagagem. Eu vou leve. Esqueço as roupas, Volto pra buscar. Troco a cena. Mudo o clima. Faço vir a chuva pra dormir logo. Invoco o sol para o meu mergulho e imagino a neve para amenizar o calor. Acendo lareiras nas noites frias; encontro a promissória perdida; ganho na loteria, e divido o prêmio com os pobres. Na angústia, adio a decisão. Na agonia, antecipo o fim. Na alegria, prolongo o início.
Série Cartas: Carta Dois – Às Claras!
Às Claras!
Meu amor estou aqui de novo, escrevendo alguns rabiscos, onde expresso meus sentimentos, pois um amor não se mede com fita métrica, nem com a duração, muito menos com declarações no facebook e sim pelas dificuldades que nós enfrentamos para ficarmos juntos. Um amor verdadeiro é aquele que a outra pessoa fica feliz e radiante, pelo simples fato de ver a outra feliz.
Quero expor sobre esse pedaço de papel rasurado que mil vezes tentei esquecer-te, mas no fim... mil vezes desejei-te tê-la só para mim. Só que uma pergunta me fiz durante nossas discussões: - “Será que vale a pena discutir por bobagem?” Às vezes me repito por diversas vezes que eu a amo para poder dizer pro mundo que eu faço parte de uma maioria que está comprometida... mas isso não vem ao caso. O caso é que já é um fato consumado que estamos bem e felizes ao ponto de querermos viver sob o mesmo teto, dividir as mesmas alegrias e as mesmas preocupações e assim ficar velhinhos um do lado do outro para o resto da vida.
Te amo e não escondo isso, porque eu quero que o mundo saiba que você está aqui ao meu lado. Ah, e me desculpe se eu disse algo que veio a ferir seus mais sinceros sentimentos, não foi a intenção, pois tudo o que faço é para te ver alegre por me ter ao seu lado. Prometo que um dia eu conseguirei suprir todas as tuas angústias e sofrimentos e farei-te esquecer qualquer coisa que te lembre a este passado tão remoto e que ainda se faz presente na sua vida.
Estou aqui escrevendo esta humilde carta expondo meus mais puros e claros sentimentos para você entender que o que eu sinto por você não tem explicação e me deixa sem palavras para terminá-la, então só resta-me dizer que eu a amo mais que tudo e nunca a deixarei só.
Sempre teu,
Amadeu.
ESCREVAMOS COM LUZ
No livro da existência, cada dia é uma página em branco que confiarás ao tempo, gravada com os teus atos, palavras e pensamentos.
Faze da bondade o motivo central de tua movimentação diária, a fim de que a página sublime não se envileça.
Cada frase que imprimas no papel dos minutos falará por ti em milhares de seres.
O teu gesto de compreensão e carinho criará simpatia em teu favor em centenas de criaturas.
A tua palavra de estímulo e entendimento será o apoio abençoado de muitos.
O teu pensamento de auxilio a fraternidade constituirá o amparo de muita gente.
A árvore que plantas será refúgio de reconforto a quem passa.
A fonte que protege representará uma bênção para os viajores do caminho.
A casa que edificas revelar-se-á refúgio e consolo, hoje e amanhã.
O livro de nossa vida influi no destino da comunidade inteira.
Não adotes a perturbação ou a sombra como elementos de materialização de tuas atitudes e resoluções no curso das horas. A breve tempo, a treva dominaria as páginas de tua jornada e te perderias sem luz por tempo indeterminável.
Foge do labirinto.
Escreve com luz a historia viva de tua romagem pela Terra em caracteres claros e acessíveis, porque amanhã, quando a imortalidade exigir...
SONETO DA DESPEDIDA
Do nada, o dia se transforma em noite
Pela mudança climática a tempestade
Da manhã ensolarada ficou a saudade
Um transtorno quase uma maldade.
O que poderia ser felicidade virou sofrimento
Da certeza de um amor lindo verdadeiro
Uma pena eu afirmo neste soneto
Do que era sereno a fúria do vento.
Nada foi pelo acaso do destino
E muito menos um romance de cinema
Não é história, uma rota e não devaneio.
Hoje do amor ficou a lembrança
De uma vida sem importância
É o fim! Separação pela indiferença.
Traçamos um alvo e, com esforços, conseguimos concluir esta pequena etapa da vida de muitas outras que virão. Cada experiência compartilhada, cada elo de amizade formado, é mais um pouquinho da bagagem que será levada para toda a vida. Agradecemos a Deus por ter nos ajudado até aqui. Agradecemos a todos que estiveram presentes, que nos apoiaram nos bons e maus momentos. Agradecemos aos professores, que se empenharam para nos ajudar a seguir em frente. Queremos dividir com todos vocês esta conquista, onde entramos uma pessoa e hoje saímos daqui como grandes técnicos.
Ele partiu num lindo dia de verão; Será que me ocorreu que eu podia estar vendo-o pela última vez? Claro que sim. Foi exatamente o que ocorreu comigo: sim, estou vendo você pela última vez; isso, de fato, é o que eu sempre penso, sobre tudo, sobre todos. Minha vida é uma perpétua despedida de objetos e pessoas, que muitas vezes não prestam a menor atenção à minha amarga, breve, demente saudação
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