Cartas de Despedida de Clarice Lispector

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Está cheio de brasileiros que infelizmente acreditaram que são vítimas da sociedade, coitados supostamente dentro de uma condição irreversível e que por isso, não sairão do lugar. Infelizmente...
Eu sou primeiro a dizer que a sociedade é hipócrita e nojenta. Mas sou o primeiro a rejeitar veementemente o coitadismo que invadiu o país.
Pense fora da caixinha!
Não siga a boiada!
Não se intimide com o desprezo da sociedade!
Trabalhe, lute, acredite nos seus sonhos e projetos.
Verás que mais tarde essa mesma sociedade que te despreza, vai vir te dar uns tapinhas nas costas!

Amauricio Ochôa de Borba

Nota: Adaptação de texto publicado por Flávio Augusto no "Canal Geração de Valor"

Protesto

Mesmo que voltem as costas
Às minhas palavras de fogo
Não pararei de gritar
Não pararei
Não pararei de gritar

Senhores
Eu fui enviado ao mundo
Para protestar
Mentiras ouropéis nada
Nada me fará calar

Senhores
Atrás do muro da noite
Sem que ninguém o perceba
Muitos dos meus ancestrais
Já mortos há muito tempo
Reúnem-se em minha casa
E nos pomos a conversar
Sobre coisas amargas
Sobre grilhões e correntes
Que no passado eram visíveis
Sobre grilhões e correntes
Que no presente são invisíveis
Invisíveis mas existentes
Nos braços no pensamento
Nos passos nos sonhos na vida
De cada um dos que vivem
Juntos comigo enjeitados da Pátria

Senhores
O sangue dos meus avós
Que corre nas minhas veias
São gritos de rebeldia

Um dia talvez alguém perguntará
Comovido ante meu sofrimento
Quem é que esta gritando
Quem é que lamenta assim
Quem é

E eu responderei
Sou eu irmão
Irmão tu me desconheces
Sou eu aquele que se tornara
Vitima dos homens
Sou eu aquele que sendo homem
Foi vendido pelos homens
Em leilões em praça pública
Que foi vendido ou trocado
Como instrumento qualquer
Sou eu aquele que plantara
Os canaviais e cafezais
E os regou com suor e sangue
Aquele que sustentou
Sobre os ombros negros e fortes
O progresso do País
O que sofrera mil torturas
O que chorara inutilmente
O que dera tudo o que tinha
E hoje em dia não tem nada
Mas hoje grito não é
Pelo que já se passou
Que se passou é passado
Meu coração já perdoou
Hoje grito meu irmão
É porque depois de tudo
A justiça não chegou

Sou eu quem grita sou eu
O enganado no passado
Preterido no presente
Sou eu quem grita sou eu
Sou eu meu irmão aquele
Que viveu na prisão
Que trabalhou na prisão
Que sofreu na prisão
Para que fosse construído
O alicerce da nação
O alicerce da nação
Tem as pedras dos meus braços
Tem a cal das minhas lágrima
Por isso a nação é triste
É muito grande mas triste
É entre tanta gente triste
Irmão sou eu o mais triste

A minha história é contada
Com tintas de amargura
Um dia sob ovações e rosas de alegria
Jogaram-me de repente
Da prisão em que me achava
Para uma prisão mais ampla
Foi um cavalo de Tróia
A liberdade que me deram
Havia serpentes futuras
Sob o manto do entusiasmo
Um dia jogaram-me de repente
Como bagaços de cana
Como palhas de café
Como coisa imprestável
Que não servia mais pra nada
Um dia jogaram-me de repente
Nas sarjetas da rua do desamparo
Sob ovações e rosas de alegria

Sempre sonhara com a liberdade
Mas a liberdade que me deram
Foi mais ilusão que liberdade

Irmão sou eu quem grita
Eu tenho fortes razões
Irmão sou eu quem grita
Tenho mais necessidade
De gritar que de respirar
Mas irmão fica sabendo
Piedade não é o que eu quero
Piedade não me interessa
Os fracos pedem piedade
Eu quero coisa melhor
Eu não quero mais viver
No porão da sociedade
Não quero ser marginal
Quero entrar em toda parte
Quero ser bem recebido
Basta de humilhações
Minh'alma já está cansada
Eu quero o sol que é de todos
Ou alcanço tudo o que eu quero
Ou gritarei a noite inteira
Como gritam os vulcões
Como gritam os vendavais
Como grita o mar
E nem a morte terá força
Para me fazer calar.

Foi-se a Copa? Não faz mal.
Adeus chutes e sistemas.
A gente pode, afinal,
cuidar de nossos problemas.

Faltou inflação de pontos?
Perdura a inflação de fato.
Deixaremos de ser tontos
se chutarmos no alvo exato.

O povo, noutro torneio,
havendo tenacidade,
ganhará, rijo, e de cheio,
A Copa da Liberdade.

Triste Bahia! Ó quão dessemelhante
Estás e estou do nosso antigo estado!
Pobre te vejo a ti, tu a mi empenhado,
Rica te vi eu já, tu a mi abundante.

A ti trocou-te a máquina mercante,
Que em tua larga barra tem entrado,
A mim foi-me trocando, e tem trocado,
Tanto negócio e tanto negociante.

Deste em dar tanto açúcar excelente
Pelas drogas inúteis, que abelhuda
Simples aceitas do sagaz Brichote.

Oh se quisera Deus que de repente
Um dia amanheceras tão sisuda
Que fora de algodão o teu capote!

EU A REDE E A PAZ (Autor: Henrique R. de Oliveira)
Relaxar o corpo numa rede
vagarosamente pra lá e pra cá.
aliar o silencio ao aconchego
para a paz se instalar.

transformar o tarde no cedo
retirando o nunca do pensar
ser coragem sem ser medo
para o sonho se concretizar.

Por mais que a vida exija batalha
vencê-la, sem prejudicar ninguém
do som das teclas ao balanço da rede
eu e a paz no vai e vem.

Ausência

Quero te dizer que você é a minha alegria.Nos meus pensamentos te encontro em cada esquina.
Quando repouso meu corpo, sinto a leveza do meu espírito ,pressinto que logo vai se encontrar com o teu.
Em meio a noite acordo de um sono profundo sentindo que você estás a me fazer carinhos .
Durante a minha vigília, me pego sorrindo pois ,a minha sensibilidade capta a tua presença.
Sinto o teu perfume e compreendo , que por enquanto tenho que conviver com a tua ausência.
Para superar a saudade, tenho ouvido as lindas mensagens que me levam até você.
A tua voz me reporta aos nossos momentos felizes,onde somente as quatro paredes foram testemunhas.
Quero te dizer que ,teu jeito simples, a tua postura e tua inteligência sutil me encantam.
Teus carinhos e tua atenção me embriagam de prazer e me enchem de emoção.
O presente me traz você,tenho rogado aos anjos e ao céu que permitam que possamos usufruir dessa essência juntinhos porque sinto que é recíproco.
Somos afins, a tua ausência te faz presente.
Psiu! preste atenção! Essas palavras são de coração para coração.Se não te sentires incluso apague -as.

Lugar sem comportamento é o coração.
Ando em vias de ser compartilhado.
Ajeito as nuvens no olho.
A luz das horas me desproporciona.
Sou qualquer coisa judiada de ventos.
Meu fanal é um poente com andorinhas.
Desenvolvo meu ser até encostar na pedra.
Repousa uma garoa sobre a noite.
Aceito no meu fado o escurecer.
No fim da treva uma coruja entrava.

Manoel de Barros
BARROS, M. Poesia Completa. São Paulo: Leya, 2011.

SOU COMO VOCÊ ME VÊ
Não sou grande, nem pequena
Não sou forte, mas, também não sou fraco
Sinto medo, mais tem coragem bastante, para enfrentar a mim mesma
Sonho alto, mais mantenho os pés fixos no chão, para não perde fio
Sou real, transparente em tudo, mais, também sou mistério
Sou sorriso da alma, mais também sou lágrimas de saudades
Sou fios frágeis, sou a teia forte, que prende e que solta
Sou o que sou, sou quem sou, sou como eu mesma
Sem desejar ser outro alguém, pois se não sou, quem sou
Certamente não sou ninguém
Sou como você me vê, e mudo com o seu jeito de me enxergar
Dependo do seu jeito, do seu modo de me olhar
Me entender não é fácil, mais também não é difícil
Me conheça, me escute, entre em contato
Me aceite como sou, forte e frágil, pequena gigante
Sorriso e saudade, nessa busca constante de ser
No meu eu melhor a cada novo dia, a cada instante
Sou quem sou, e como sou, basta aqui dentro de mim
Sou como sou, começo, meio e fim.
Mery de Almeida.
Lei de Direito Autoral (nº 9610/98)

Carta

Há muito tempo, sim, que não te escrevo.
Ficaram velhas todas as noticias.
Eu mesmo envelheci: Olha, em relevo, estes sinais em mim, não das carícias (tão leves) que fazias no meu rosto: são galopes, são espinhos, são lembranças da vida a teu menino, que ao sol-posto perde a sabedoria das crianças.
A falta que me fazes não é tanto à hora de dormir, quando dizias "Deus te abençoe", e a noite abria em sonho.
É quando, ao desperta, revejo a um conto a noite acumulada de meus dias, e sinto que estou vivo, e que não sonho.
(Lições de coisas)

AMOR NÃO CORRESPONDIDO

Um amor não correspondido é como o desagradável cheiro de fio queimado. É como o insuportável silêncio de uma noite invernal. É como sentir que DEUS, anjos, e o bem não existem. É uma apunhalada que talvez um dia você já imaginou, mas mesmo assim não acredita que esta acontecendo. Você pensa: com tantas pessoas... por que eu?
Você entra para o seleto grupo dos santos sofredores e desoladores. Aí faz milagres com seus escritos e conselhos. Amor não correspondido é uma tragédia grega do destino. É uma dor que talvez se leve para até o fim da vida... ou talvez uma dor bastante permanente...
É uma lição dolorosamente profunda. Transforma o ser em um grande filósofo.
Amor não correspondido é a fruta podre da árvore chamada "vida" e que comemos ingenuamente na esperança da glória.

Em 2015, eu desejo tudo de melhor para você. Tudo bem que você descubra o que é “curtir” a vida – sem transgredir princípios e valores morais e espirituais. Tudo bem que você se envaideça de suas conquistas, sejam elas materiais ou emocionais, mas não se esqueça dos seus investimentos e compromissos espirituais. Tudo bem que você ache que é o “máximo”, que compre coisas atuais e elegantes.
Que aprecie seu visual; invista num carro novo ou até mesmo numa bicicleta. Numa boa, vá às lojas, visite museus, vá às bibliotecas; tenha uma cultura vasta até onde os seus olhos e pernas puderem alcançar. Pegue um voo até Paris, Itália, ou até onde você achar que seus horizontes irão alargar; se os considerar não tão significativos, pode ir até a esquina, à vila mais próxima, ou ao bairro vizinho. Compre um iPad, mini iPad, MacBook e tudo o mais... Tenha amigos, namoros, companhia que não falte. Ou, se preferir, fique com o seu sossego.
Tudo bem que faça planos de cescer e evoluir. Que progrida no trabalho e em tudo o que puder... Tenha aquilo mais moderno, uma casa ou tantas mais, lá na praia ou na fazenda, pelos campos ou num vale. Uma lancha, um iate, um veleiro ou mesmo um bote.
Mas não se esqueça do que é mais importante. A ciência e a consciência de que a vida passa logo, rápido, sem sentir. E que a coisa mais bacana é você ficar sabendo que não é dono de nada, nem da roupa, nem do carro, nem da casa, nem do iate, muito menos do bote. O que lhe foi emprestado, logo mais será tomado pelo tempo, pelas circunstâncias adversárias, pela vida que escapa, pela morte. O melhor é o desapego – como bem disse o sábio Salomão - , no final tudo, tudo é correr atrás do vento.
É exato no desejo do “ter” e do “possuir que reside toda a ansiedade, toda a preocupação. E se você não tiver no bolso nem um lenço ou documento, fique certo de que um dia, nem disso lembrará. No entanto comece desde já a pensar nesse assunto. Não há tempo a perder, pois da vida não se sabe o minuto seguinte. Quando perceber de que gosta, em demasia, de um chalé muito charmoso que à beira de um lago conseguiu edificar; que não para de pensar em como foi capaz de morar noutro lugar, já está na hora de saber que aquilo de que você mais gosta, mais valoriza, logo estará sendo usado por alguém ou por quem sequer pensou que um dia chegaria a ser dono do que é seu.
Na manhã em que se olhar no espelho que mais goste, pare e pense, sem piscar, no que certo tem na vida, no quê e em quem pode confiar. Não duvide, não é no efêmero ou no transitório que você vai encontrar o segredo que há muito se persegue na história. A virtude de saber que somente o desapego lhe tratá felicidade.
Em 2015, procure refletir. Saia leve desta vida. Sem mágoas, sem resquícios de sonhos não materializados. O Ano Novo é um momento de olhar para frente, de imaginar o futuro sob uma nova perspectiva, de nos comprometermos com uma visão maior para a vida. Mesmo que esqueça os seus planos e seja tentado a não se preocupar, lembre-se, as resoluções de Deus vão lhe trazer esperança, e, assim sendo, as suas resoluções façam diferença. Talvez você se torne mais gentil, mais consagrada, mais humanizada, mais alegre, mais esperançosa. Com certeza, quando sentir Deus agindo na sua vida, se sentirá revigorado como em uma festa de Ano Novo: cheia de risadas, amigos e contagens regressivas; pois Ele irá sempre estar ao seu lado, cheio de mensagens de esperança, braços abertos com abraços afetuosos, sendo fiel às Suas promessas e concedendo mais uma chance de recomeçar, mais uma vez, mesmo que estejamos no início de mais um novo ano.
Se ainda, mesmo assim, depois de tudo o que você se predispôs a fazer ou refazer não foi bem sucedido – simplesmente não foi reconhecido –, faça como ensinou Jesus aos seus discípulos quando não O aceitaram e nem O reconheceram como deveriam pelos lugares os quais passava: simplesmente “bata o pó” e vá em frente. Como disse anteriormente, a vida passa rápido, e só precisamos fazer o nosso esforço diário para ser feliz. O importante é que você saiba que levará daqui é a sua consciência, e que limpa ela esteja para quando chegar a sua hora, você parta como o brilho de um luar.

Há alguns anos perdi o maior
homem da minha vida,
não teve seu nome impresso em livros,
nunca subiu ao pódio,
nem, tampouco, foi um nome famoso.
Não deixou patrimônios, nem riquezas,
mas deixou o maior tesouro para os seus queridos:
a dignidade. Para esses ele foi um herói.
Jogou no time da honestidade,
fidelidade, justiça, do amor e do trabalho.
Ensinou às pessoas, a quem Deus lhe confiou,
o caminho da verdade, com sabedoria.
Para mim, foi o maior exemplo de amor pela vida.
Saudades de você, meu pai!
O tempo passa, a gente acostuma, mas a dor...

Segredos naturais

Que segredo esconde
A mãe-natureza?
Com tanta beleza
E tanta riqueza

Que segredo revela
O sol na janela?
Essa coisa singela
E tão bela

Que verdade há
Por trás desse ar?
Que embrenha na alma
E te faz respirar

E o que diz da chuva
Que veio pra molhar?
Essa terra fértil
O que faz pra plantar?

E do barulho do mar
O que tem pra contar?
Que mistério tem o vento,
Que inventou o ventar?
E o tempo quem inventou passar?

De onde vem toda essa magia?
Quem explica toda essa alegria
Contida com essa harmonia
Nas flores desse jardim?
Fazendo todo universo
Alegre, fiel e sem fim.

Poema da cachoeira

É a mesma estação rente do trem
Toda de pedra furadinha
Meu pai morou alguns anos aqui
Trabalhando
Um dia liquidou
Ativo passivo
Cinco galinhas
E deram-lhe uma passagem de presente
Para que eu nascesse em São Paulo
Como não houvesse estrada de rodagem
Ele foi na de ferro
Comprando frutas pelo caminho

Oswald de Andrade
ANDRADE, O. Poesias reunidas. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1971

CUIDADO!

Ó namorados que passais, sonhando,
quando bóia, no céu, a lua cheia!
Que andais traçando corações na areia
e corações nos peitos apagando!

Desperta os ninhos vosso passo… E quando
pelas bocas em flor o amor chilreia,
nem sei se é o vosso beijo que gorjeia,
se são as aves que se estão beijando…

Mais cuidado! Não vá vossa alegria
afligir tanta gente que seria
feliz sem nunca ouvir nem ver!

Poupai a ingenuidade delicada
dos que amaram sem nunca dizer nada,
dos que foram amados sem saber!

Guilherme de Almeida
DE ALMEIDA, G. Messidor. São Paulo: O Livro, 1919.

Epitalâmio

O alto fulgor desta paixão insana
Há-de cegar nossos corações
E deserdados da esperança humana
Palmilharemos por escuridões...

Não mais te orgulharás da soberana
Beleza! e eu, minhas cálidas canções
Não mais dedilharei com mão ufana
Na harpa de luz das minhas ilusões!...

Pela realização que ora se ultima
Vai apagar-se em breve o alto fulgor
Que te inflama e ilumina o meu desejo...

Como no último verso a última rima,
Eu deporei, sem gozo e sem calor,
Meu derradeiro beijo no teu beijo!

Mário de Andrade
ANDRADE, M. Poesias completas: Volume 2, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014

Este silêncio é assustador. Não porque talvez ele não seja necessário, mas porque mesmo sendo necessário, ele machuca. E ando muito ferida pra suportar um pouco mais de dor. Então eu queria que alguém me dissesse que vai ficar tudo bem, sabe? Porque esta incerteza toda tem me desnorteado demais. E uma ansiedade aguda toma conta de mim minuto a minuto.E ainda há a saudade.E mesmo que as previsões sejam positivas, tudo ainda me parece tão longínquo!E estou com pressa, e sede e fomes demais. Percebe como minhas palavras estão respirando com dificuldade? Então eu te peço pra não me deixar tão sozinha assim nesta fase. Mesmo que haja sol e as ondas vão e venham incansavelmente me lembrando do movimento da vida, a sua voz me faz tanta falta quanto uma brisa. Não que tenha me faltado companhia, mas em algum momento o abraço termina porque as pessoas têm as suas vidas. E ainda, o barulho das cidades têm me incomodado tanto quanto este silêncio denso. Então eu fico sem saber pra onde ir. E fico tão sonolenta e encolhida no meu canto até que alguém venha me abraçar novamente. E às vezes esse socorro demora tanto por causa da minha necessidade sempre tão urgente de tudo. De paz. Por não querer sufocar ninguém, fico aqui, sufocada.
Só estou te dizendo estas coisas porque acho estranho você não ter a menor curiosidade em saber como tenho me sentido. Depois de tudo. Porque não existe um segundo sequer em que eu não pense e queira saber e deseje que você esteja bem. Só isso.

Este silêncio é assustador. Não porque talvez ele não seja necessário, mas porque mesmo sendo necessário, ele machuca. E ando muito ferida pra suportar um pouco mais de dor. Então eu queria que alguém me dissesse que vai ficar tudo bem, sabe? Porque esta incerteza toda tem me desnorteado demais. E uma ansiedade aguda toma conta de mim minuto a minuto.E ainda há a saudade.E mesmo que as previsões sejam positivas, tudo ainda me parece tão longínquo!E estou com pressa, e sede e fomes demais. Percebe como minhas palavras estão respirando com dificuldade? Então eu te peço pra não me deixar tão sozinha assim nesta fase. Mesmo que haja sol e as ondas vão e venham incansavelmente me lembrando do movimento da vida, a sua voz me faz tanta falta quanto uma brisa. Não que tenha me faltado companhia, mas em algum momento o abraço termina porque as pessoas têm as suas vidas. E ainda, o barulho das cidades têm me incomodado tanto quanto este silêncio denso. Então eu fico sem saber pra onde ir. E fico tão sonolenta e encolhida no meu canto até que alguém venha me abraçar novamente. E às vezes esse socorro demora tanto por causa da minha necessidade sempre tão urgente de tudo. De paz. Por não querer sufocar ninguém, fico aqui, sufocada.
Só estou te dizendo estas coisas porque acho estranho você não ter a menor curiosidade em saber como tenho me sentido. Depois de tudo. Porque não existe um segundo sequer em que eu não pense e queira saber e deseje que você esteja bem. Só isso.

Dedicatória

Cruz
Que este livro galante,
ante
Teus olhos, lembre um dia,
Quem to oferece nesta
Festa
De anos e de alegria.

Pequeno ele é e modesto.
Mesto
Quase sempre e tristonho;
Não roubará, no entanto,
Quanto
Tens de ilusão e sonho.

Aquela, que hás de agora,
Hora
Tirar (sem percebê-lo),
Das que em teus anos verdes
Perdes;
Não perderás ao lê-lo.

Lê com vagar. Repara
Para
A beleza do verso;
Vê como o vate ardente
Sente
O mundo tão diverso!...

Mas, que não te entristeças;
Nessas
Linhas, não há verdade.
Vive sempre a florida
Vida
Entre a felicidade.

Mário de Andrade
ANDRADE, M. Poesias completas: Volume 2, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 2014

Senti o inesperado exercitando o olhar em suas diversas formas de ver, por que sempre há chance de recomeços.
Reconstruir-se em um novo começo, reinventando o antigo no novo.
Renovar-se em simplicidades, re-tocando a vida.
Se adereçando de alegrias e deixar fluir-se no compasso da dança vida.

A morte

A morte vem de longe
Do fundo dos céus
Vem para os meus olhos
virá para os teus
Desce das estrelas
Das brancas estrelas
As loucas estrelas
Trânsfugas de Deus
Chega impressentida
Nunca inesperada
Ela que é na vida
A grande esperada
A desesperada
Do amor fratricida
Dos homens, ai! dos homens
Que matam a morte
Por medo da vida