Cartas
Cartas e flores
Ah! Minha amada,
Se pudesse eu diria hoje mesmo ao teu coração
O que há tanto tempo já lhe falei com cartas e flores.
O quanto eu te amo... o quanto eu te adoro... o quanto eu te desejo,
Só não diria da tristeza e da solidão a que estou recluso há tanto tempo longe de você.
Mas a minha timidez fez das cartas e flores embaixador dos meus dizeres a você,
Palavras que hoje ecoam no eco do vazio da minha alma longe do seu amor,
Porque me privei por capricho da timidez de entrega-las quando pessoalmente lhe dei meu coração.
E nesse pranto de tristeza em que se faz meu coração,
Preso nas tuas mãos, mas longe dos teus sentimentos,
Não há um alento se quer que aplaque a imensidão da minha dor na solidão.
Vejo os meus dias passarem diante de mim
Preso ao passado do dia em que eu te conheci.
Olho para frente tentando seguir,
Mas não encontro outro caminho que não passe por ti.
Edney Valentim Araújo
Sem querer parodiar ninguém, vamos ler a insustentável firmeza do olhar,
pois, assim como as cartas, o olhar não mente jamais...
Osculos e amplexos,
Marcial
O OLHAR NÃO MENTE JAMAIS
Marcial Salaverry
Uma verdade que não pode ser negada, é o fato de que com toda a certeza, existem diversas maneiras de nos expressarmos, seja para declarar amor a alguém, seja para mandar alguém embora, seja para apenas fechar algum negócio, ou simplesmente conversar, trocando idéias soltas no espaço.
Podemos fazê-lo através de letras, antigamente, epistolarmente, hoje, emaillatoriamente. Ou seja, por escrito. Pode-se declarar o mais profundo amor, ou o maior desprezo, mas sempre será "de letrinhas", faltando o toque real e, principalmente, a força do olhar, que é onde podemos descobrir a realidade dos sentimentos.
Nossa amiga L'Inconnue enviou-me uma mensagem muito interessante, cuja autoria é atribuída a Leonardo da Vinci. Não posso afirmar, nem contestar, porque não estava presente quando ele teria dito essa linda mensagem. Vamos a ela, porque vale a pena:
"As mais lindas palavras de amor, são ditas no silêncio de um olhar".
Sem qualqueer sombra de dúvida, é uma verdade incontestável. Quando estamos "olho no olho", é praticamente impossível falsear a verdade. Penso ser impossível nossos olhos acompanharem o calor de uma declaração de amor, se não estivermos sendo sinceros. Da mesma maneira o inverso da situação, assim, se amarmos alguém, não conseguiremos dizer-lhe que não a amamos, sustentando a mentira no olhar.
Poderão argumentar que artistas de cinema e TV o fazem, pois, salvo quando estão contracenando com parceiros da vida real, são sempre romances fictícios. E eles manifestam sua paixão nos olhares candentes que dirigem às parceiras nos filmes ou novelas. Concordo, em parte, pois só os bons artistas conseguem mostrar a emoção da personagem no olhar. Mas os verdadeiros artistas, "vestem" a figura da personagem. Estão sendo realistas em sua representação. Com seu talento, conseguem "sentir" totalmente o personagem. E não é muito fácil encontrar esses realmente bons artistas. Muitas representações se perdem, porque o personagem não está sendo vivido com todo realismo, faltando o calor e a realidade do olhar...
Por vezes, não conseguimos, ou não queremos enxergar a realidade de um olhar, isso acontece quando estamos de tal maneira envolvidos, que não conseguimos vislumbrar o que está indo na alma de quem está conosco.
Realmente, como "os olhos são o espelho d’alma", se soubermos captar a realidade do olhar de quem conosco conversa, poderemos conhecer seus reais sentimentos, e assim podemos constatar que muitas vezes encontramos pessoas melífluas, que evitam encarar-nos "olho no olho" quando conversamos.
Há que se desconfiar, ou pelo menos confiar desconfiando de pessoas assim. Descontando uma eventual timidez, essa "fuga ao olhar" pode denunciar um quê de falsidade. Ou pelo menos um certo receio de expor seus reais sentimentos, denotando alguma insinceridade de atitudes.
Se estamos agindo de boa fé, podemos estar errados, mas com a convicção de nossa certeza, porque não sustentar o olhar?
O olhar, na realidade, diz tudo, se estamos apreciando a companhia, se estamos amando, se estamos odiando, se a piada é boa ou não, se estamos ou não dizendo a verdade...
A indesmentível força do olhar é o melhor detetor de mentiras que existe. Poucas pessoas conseguem vencer o teste "olhometral", e sair incólumes. Geralmente deixam pelo menos a reputação arranhada. Por exemplo, vamos lembrar que é muito raro ver um político que encare o interlocutor nos olhos, francamente, pois geralmente seu olhar "passeia" por todo o ambiente. Quando conversarem com algum, reparem, prestem atenção na "flutuabilidade" de seu olhar. Estará percorrendo todo o ambiente, mas jamais se fixará no seu, e até poderá até dar um ligeiro olhar na sua direção, mas estará falando e seus olhos "passeando"...
Agora, imagine-me olhando firme em seus olhos, enquanto lhe desejo UM LINDO DIA, e sinta que o faço sinceramente.
"A luz que brilha em seu olhar,
Indicará sua sinceridade,
e que está realmente a amar...
Marcial Salaverry"
- Cartas de um bobo – Part.03
Eu adoeci em prantos por uma amada a qual sabia que não era minha,
entristeci pela amada a qual não me pertencia, me joguei em uma paixão que não era me aceitaria.
Meu coração ficou destroçado por que sempre ela estava ao meu lado, ela segurava minhas mãos suadas de nervoso, sentia meu coração acelerado, olhava em meus olhos apaixonados, percebia o arrepiou de minha pele a cada respiração, a cada toque.
Transpirava amor enquanto ela transpirava medo, insegurança, receio, confusão, mesmo assim eu não queria deixar ela, mesmo percebendo que não estava dando certo, queria se entregar mais e mais a cada segundo do seu dia, enquanto ela só se afastava de mim com um triste olhar vazio de que não queria machucar um coração, eu insistia por que eu notava que mesmo assim ela tentava de alguma maneira.
Chegou a certo momento a qual meu coração doía por esse amor, não entendia por que eu fazia tudo por ela e mesmo assim parecia não que te bastava, que fosse pouco, que não preenchia o vazio do peito dela, que não fariam seus olhos se preencherem com o brilho a qual tanto eu esperava, que sua pele também pudesse se arrepiar na mesma velocidade ou intensidade da minha.
Apreendi da pior maneira da minha vida, mesmo morrendo de saudades de tudo o que eu fazia e o que eu não tinha o que significa platônico e deixar ir.
Eu não a culpo por não me amar pela mesma intensidade, eu me culpo por amá-la além do meu ser.
Cartas de amor
Quando amar alguém perca a vergonha
Ame o seu amor com todas as forças...
Mande cartas, telefone - Faça barganha!
Só quem ama consegue falar com confiança
Nunca se envergonhe das suas façanhas
Lute por quem ama, quanto às cartas de amor
Com certeza elas têm uma força tamanha
São corajosas declarações da alma humana
Cada palavra escrita ali tem sabor de lágrimas
Representa sentimentos escondidos no coração
Muitas vezes não ditos! Por pura inibição...
Cartas de amor ou cartas de paixão...
Mexe com o íntimo de qualquer pessoa
Aumenta a auto-estima, consola o coração
Há centenas de cartas deixadas aqui espalhadas pelo chão
Foi o vento quem as trouxe, outra sem rumo nem direção
As palavras formavam frases
Que não cabiam em nenhum lugar
O que descobri se tornou selvagem
Agora já não havia como recuar
Era o amor,que como encarte de primeira buscou ficar.
Cartas
Sempre detestei escrever cartas. No início da década de 90, via Olivetti, caprichei numas dez para a mesma pessoa. Essas missivas, claro, têm enorme valor afetivo e documental para mim. Por isso mesmo, já fiz mil e uma propostas para adquiri-las da minha ex-destinatária. Ela, porém, me olhou com desdém.
Mas continuo querendo muito expor as cartas na retrospectiva dos meus 25 anos de literatura e jornalismo, em 2016.
Me ajude a convencer a ex a me ceder as benditas cartas, Bita de Itanhém!
No auge da aversão às cartas, registrei este epitáfio: "Aqui jaz o autodidata que detestava escrever cartas".
Mas o tempo foi passando, passando... eu também, também.
Hoje, nem posso mais ser considerado um autodidata no sentido estreito do termo. Mas sigo detestando escrever cartas. Oh
JOGOS DE AGOSTO!
Eu sempre fui apaixonado por cartas de baralho,
Até o vento me levar um Valete de Paus que eu tinha na mão,
Para os outros era só mais uma carta no meio de muitos outras,
Mais pra mim valia mais que uma Dama de Ouro ou até mesmo Mais que um Ais de copas na ultima partida de Biriba.
Disseram pra mim uma vez que jogar cartas é viciante,
Tantas coisas são viciantes, porque só o meu baralho faz mal e é ruim.
Cada um joga de um jeito tem mais quando se joga de dupla o fim do jogo é sempre mais gostoso.
Eu era viciado nesse Valete,
Ha como era bom tê-lo nas mãos!
Até que apostei tudo e fiquei sem nada.
Eu jogava contra o tempo e o vento ao mesmo tempo.
Me dei mal era mês de Agosto,
Todo mundo odeia agosto!
E eu odeio ainda mais que antes.
E quando venta forte eu penso que meu calendário ta voltando os dias.
Tenho calafrios.
Hoje não jogo mais. Eu leio livros
Mal a noite caia, a menina já corria em busca de suas recordações.
Em meio a tantas letras, cartas e canções, seu coração buscava seu lar. Suas mãos em cada letra desejava se apegar, naquelas canções sua alma encontrava seu lugar.
As horas passavam e seus olhos continuavam ali fixados em cada pedaço de papel repleto de tanta emoção. A cada palavra lida, uma lágrima caia. Às vezes também doía, mas essa dor ela já conhecia. Seu coração por aquela dor ainda precisaria passar. Mas recordar muitas vezes lhe fazia sonhar, e em seus sonhos sua alma era capaz de viajar, de se alegrar, se reencontrar. Em meio a tanta dor, ainda existia muito amor. E era ele que fortalecia a cada dia, aquele coração de menina. Pobre coração, sua dor virou canção.
Eduardo,
De todas as cartas que eu já te escrevi, creio que não foram poucas, essa foi a que eu mais sentira dificuldades. Escassas, pequenas e de pouca relevância são as palavras nesse momento, nem mesmo aquelas mais sublimes encontradas nos mais lindos e emocionantes romances fizeram alguma diferença. Aqui, além de dizer-te os efeitos da sua pessoa sobre a minha, tento descrever a mágica sensação que existe entre nós.
Palavras me fugiram. Tão poucos são os vocábulos. Vi-me angustiado a procura de termos que pudessem exprimir o amor. Separei uma lista enorme contendo os mais belos adjetivos encontrados na nossa língua, tão pequenos e insignificantes perante o sentimento que você fizera surgir.
Pensei em dizer tudo isso em um carro de som, para que todos pudessem ouvir, porém existem empecilhos no pensamento de muitos e eles jamais entenderiam a nossa intensa ligação. Não foi por covardia, nem mesmo vergonha de declarar-me a ti. A possibilidade de algum indivíduo te machucar, te espancar ou até mesmo matar-te ao descobrir e ver quão imenso é esse sentimento que possuímos um para com o outro, me fez desistir de imediato. Se virássemos o mundo de cabeça para baixo para explicar o nosso amor, ainda assim existiriam muitos que jamais entenderiam. Talvez por serem leigos, por não raciocinarem ou nunca terem de fato sentido o amor.
Longe de coisas como: você é o ar que respiro, meu amor é do tamanho do universo ou eu te amo do fundo do meu coração. Você não é o meu oxigênio, nem tampouco uma barreira que me impede de respirar corretamente. A única ligação que vejo de você com a minha respiração é o modo lento e profundo que a executo quando passo fortes emoções que envolvam você, sejam elas boas ou ruins. Meu amor não é do tamanho do universo, sei que ele faz parte deste gigantesco, todavia não encontro possibilidades de medi-lo. Por mais que meu coração salte assustadoramente quando estou ao seu lado ou quando ele escuta qualquer coisa relacionada a você, não te amo do fundo dele e sei que não foi lá que o amor surgira. Quem mais vibra e sente sua falta no interior de mim é a minha alma, e sei que é ela a principal parte minha responsável pelo nosso vínculo, ela se vivifica quando sente a sua presença.
Inexplicáveis são os efeitos que o seu corpo causa ao meu. Seu toque espalha uma enorme energia que se expande por toda a extensão da minha pele. Meu coração salta feito um prisioneiro desesperado em busca de liberdade e minha alma sente-se confortada como um filho que volta a sua casa após uma grande jornada.
Eu te amo não seria o termo adequado para expressar todo o meu amor por você. O que sinto por ti está muito além de uma frase, três palavras, sete letras e das definições chulas que muitos deram ao amor.
Do homem que não escolheu te amar, mas que escolheu ser seu por inteiro:
Alex
Quem vale a pena, a gente carrega na alma e não condena.
Ela rasgou todas as cartas. Deletou todas as fotos e arrancou gritando a dor, todos os porta retratos da parede. Ela se apunhalou, sentiu a angústia e chorou. Ela caminhou descontente na desgraça que muitos achavam graça. Ela mergulhou em todas as tentativas fracassadas e se ajoelhou em suas orações suplicando que a livrasse do tedioso sentimento que a fazia desistir de tudo que era bonito. Ela pintou de cinza e cortou as flores do seu mundo. Ela se isolou do universo, se sentiu insignificante e sufocada. Ela sofreu, sorriu na tristeza e mostrou fortaleza. Reconstruiu vários pedaços do seu coração. Venceu o medo de olhar a quem lhe feriu. Se resgatou nas forças ao falar de tudo que lhe feriu e mesmo assim nada acabou. Mesmo com a alma ferida, ela sorriu na grande estrada da vida. O amor a machucou, mas não a matou. Ela desfrutou de outros corpos e se enganou com outros corações. Ela se decepcionou com novas promessas de amor, mas ao deitar o coração que lhe visita é o mesmo que a machucou um dia.
As sogras me amam, os filhos que sempre deixam a desejar.
Entre um dia agitado, meu telefone vibra. Era um número desconhecido e se um dia foi conhecido eu não me recordava. Atendi normalmente e minha voz estava perfeita até que o passado se identificou. Não tive reação para o inesperado, eu havia aguardando por este momento durante muito tempo que as palavras fugiram e eu só conseguia concordar e aceitar o convite que me foi feito. Fui ao encontro de quem já havia me humilhado. Todas as palavras ditas pra mim naquele momento eram em vão, pois somente no olhar eu conseguia entender que era um desespero pedindo o meu perdão. Eu não sabia o que dizer, não entendia porque depois de tanto tempo, havia resolvido me procurar. E mesmo com meus olhos assustados, eu só respondia que estava tudo bem, mesmo regredindo ao passado eu o pedi que não se preocupasse, pois tudo já estava resolvido.
Neste mesmo momento, foi-me feito um pedido para que matássemos a saudade que nos sufoca durante todo esse tempo. Não posso negar que meu coração bateu forte, as pernas tremiam e as mãos suavam. Viajei em todos os sentimentos bons que havíamos passado juntos antes de responder. Mas ao voltar para a realidade, rejeitei. É muito pouco pra mim. Eu desejava te matar por inteiro e não em um quarto qualquer pela estrada. Você só queria um carinho de uma mulher na qual admirava por estar carente e eu não. Hoje, também quero receber. Não aceito as mesmas mentiras e os mesmos erros, não quero me enganar. Gentilmente me despedi com um forte abraço e fui embora com a alma leve e um sorriso no rosto e talvez, para nunca mais voltar.
Eu não mando indiretas. Apenas me inspiro nas atitudes alheias e nas minhas também. Assim, exponho em palavras e letras tudo aquilo que observo. Se a carapuça serviu, isso já não é problema meu.
Sim, encontro-me distante. Desgastei-me de assuntos fúteis, de pessoas sem boas energias e de vidas sem objetivos. Isolo-me e me edifico em tudo que quero conquistar, deixando-me sem tolerância de tudo e todos que não agregam nenhum benéfico para a minha vida.
Eu amo uma, duas ou quantas vezes eu quiser. O coração é meu! E o momento de abri-lo para amar, só quem sabe sou eu.
As rosas....
Nas minhas mãos são...como as saudades de amor
Cartas escritas no desejo do teu corpo aveludado
como as leves pétalas de rosas, seda e cetim...
Feitas em poemas...que repousam ternamente..
Entre as nuvens e afagos da minha dor, do meu amor
Perdidas e esquecidas entre as fragas da vida onde
Os olhos cheios de mar, voz que murmura ao meu ouvido.
Ternamente escrita no teu olhar,acorrentada na minha pele.
Cala a mágoa quando falo de amor, inventa-me e invento-te...
Mãos vazias no silêncio, onde esconde a minha dor, desamor
Palavras que gritam nas noites frias e silenciosas como uma rosa...
Do tempo do amanhecer....escritos no meu coração.
Onde gritam todos os silêncios num doce olhar, sem te prender
Calor da tua voz...a ternura do teu olhar...um instante de paixão.
A tua mão presa na minha mão...o meu corpo ardente no teu...
As rosas....nas minhas mãos são...como as saudades de ti meu amor...!!!
Todos recebiam cartas
e discos pedidos
ao domingo
no Rádio Clube de Huambo
a mais de mil e duzentos quilómetros…
era a emissora que mais se ouvia
Só ele,
porque exatamente ele era só
e de longe
(talvez de lugar nenhum),
o furriel Abreu Gomes
nem uma letra vertida em magra folha de papel
Vingava-se da solidão no cigarro
que um após outro fumava
Enrolava-os com perícia tal
no fino papel de mortalha,
dois a dois de cada vez,
como se ali depositasse os fios da vida
que queimava,
como se estivesse a fechar para sempre
as abas do seu caixão
Aquele livro de mortalhas
e a cinza do cigarro queimado
que lhe morria pendurado na boca,
tinha a brevidade da vida
que ali se vivia a cada hora que passava
In “Há o Silêncio em Volta” (poética de guerra), edições Vieira da Silva do poeta Alvaro Giesta
Leon e eu somos como um castelinho de cartas de baralho, apenas um sopro para tudo se desmoronar.
Quando o vi pela primeira vez, aqueles olhos brilhantes olhando para mim, sabia que ele era cilada e que não deveria me envolver. Ele era presunçoso, metido e cheio da verdade. O rosto dele só descrevia uma coisa, o quanto ele era arrogante. Sempre me questionei como uma pessoa poderia ser tão arrogante assim? O tom de voz dele chegava até me ofender e olha que não precisava falar muita coisa. Aquela mania obsessiva de falar “aham”. Meu Deus como eu odeio pessoas que falam isso! Para mim “aham” não se resume a sim, só mostra a preguiça da pessoa a pronunciar uma simples palavra. E as manias dele não paravam por ai, ele ficava me encarando quase sempre, tirando sarro do meu sotaque de mineira, não tenho culpa se puxo mais o R em algumas palavras. Ele tem muitas outras manias, poderia até escrever um livro só que manias do Leon. Mesmo com tudo isso eu não resisti. A carne é fraca, eu sei. E acabei me envolvendo com ele, gostando dele, de estar com ele, de conversar com ele. Posso até dizer que acabei me apaixonando por ele, coisa que nunca tinha me acontecido antes. Às vezes acredito que me apaixonei pelo Leon que criei em minha imaginação. Em minha imaginação ele é perfeito, muito longe da realidade. Porque como ser humano ele é cheio de defeitos, poderia até dizer que o amo com todos os seus defeitos. Mas acredito que nem todo amor do mundo poderia suportar tantos defeitos, mancadas e vacilos. O amor é uma troca, não se pode amar sozinho. Isso não é egoísmo e nem narcisismo, mas amar sozinho é triste. Perdi a conta de quantas vezes chorei a noite procurando encontrar uma desculpa, um motivo que me fizesse tira-lo da cabeça e ama-lo menos. Não achei motivo algum, mas minhas lagrimas acharam motivo suficiente para caírem sem parar. Quando estava junto de Leon, eu sabia que ele não estava junto a mim, ele nunca esteve. Ele não é daquele tipo que se prende a alguém, ele gosta de ser livre. Liberdade creio eu é sua palavra favorita. Todo cheio da verdade sabia bem o que queria, sabia o que buscava e sabia que comigo não iria encontrar. Meu coração ele despedaçou de todas as maneiras possíveis que um coração pode se despedaçar. Deixou marcas que não sei se um dia poderão ser apagadas. Choros que não sei se um dia serão silenciado. Mas outro dia amanhece e eu tenho que me levantar, com ou sem Leon. O castelinho de cartas de baralho se desmoronou, mas esta na hora de reerguer um novo castelo.
Crônica 02
Ontem eu encontrei as cartas que você me escreveu. Em poucos minutos vi acontecer nosso pequeno romance. Vi a minha pressa para escrever uma meia dúzia de termos carinhosos, porque eu sabia que ia você ia gostar. Nada que possa ser chamado de literatura. Eu já não sei o amor é paciente ou a solidão que é exigente.
Relembrei por que gosto de cartas. As imperfeições da letra de cada pessoa ficam marcadas pela tinta, e você não tem a ânsia de mandar o que acabou de escrever para alguém, como em um email. Você pode parar para pensar antes de entregar, mudar as palavras, apagar algumas frases. Quem sabe até nem entregar. Deve ser por isso que os amantes não mais mandam cartas. O silêncio perdeu seu lugar e o amor já virou notícia.
Após terminar a leitura, percebi que nosso romance era mais crônica que poesia. Percebi que algumas coisas mudaram. Agora eu me importo um pouco mais com a minha saúde, comecei a fazer exercícios físicos. Compreendi o real valor da liberdade, descobri que era eu mesmo que criava as minhas prisões, e já consegui sair da maioria. Não é tão fácil demolir uma obra que você levou tanto tempo para construir, e mesmo que você perceba que é algo que te faz mal, o orgulho se separa da razão no momento em que ela destrói suas convicções. Mas isso passa quando você descobre que existe sempre o outro lado.
Apesar das mudanças, algumas coisas continuam iguais. Ainda sou o mesmo bobo de sempre, quase um personagem de uma comédia romântica. As alças da minha mochila permanecem desajustadas, e de vez em quando caem, e eu tenho de arrumar. Continuo acreditando que vale a pena se arriscar por uma ideia, e acredito que se empenhar já é mudar.
A escrita e a fala têm a mesma pretensão tola de sintetizar as emoções, o calor e a frieza de um momento, o modo como você se sente quando o mundo te enxerga. Na escrita você tem a possibilidade de trabalhar as figuras linguagem, como um filtro ou uma lupa para os sentimentos, na inocente certeza de que está alcançando seu objetivo. O que é uma hipérbole comparada ao momento em que você está olhando dentro dos olhos da pessoa amada logo antes do primeiro beijo? Se alguém ironiza a vida, o que é mais irônico que escrever sobre algo que não vale a pena?
Guardei as cartas no fundo da gaveta, enquanto um pequeno sorriso me tomava o rosto pela lembrança do ponto final após o “infinito”.
Dizem ser a vida um jogo de cartas marcadas; nunca soube entender esse ditado.Acho que é porque eu nunca fui boa nisso, não somente de não compreender ditados, mas nunca fui boa com as cartas. Poderia jogar poker só pelo ato de blefar, persuadir, ludibriar, envolver, seduzir, todavia, quanto às cartas eu não saberia dizer, talvez nem saiba quantos naipes um baralho possui.
Na verdade acho que a vida observa o baralho “novo” e em ordem de cada um, embaralha todo ele e espera que nós possamos ou organizá-los de volta ou jogar com o que temos, com o que restou e com as cartas disponíveis.
Há como sentir-se como a Alice no país das maravilhas, no momento o qual as cartas do baralho discutem no jardim enquanto ela observa. Pode-se preferir um outro jogo, não um tabuleiro marcado e pré-destinado a um caminho ou rota, preferir uma mágica, a surpresa, o diferente, o inusitado o original.
Não obstante, existem cartas embaralhadas, às vezes curinga, carta importante saltada diante das outras cartas, eu novamente diria: não sei jogar, você saberia, você ousaria?
Temos que aprender a jogar (a viver) com as cartas que temos, com as que não temos, com as que vamos ter, e com as que perdemos (jogar com o baralho/vida incompleto) mas temos que aprender. Não há manual, mas há VONTADE e a atitude provém daí.
Que tal um poker agora?!
E é assim mesmo. Em matéria de amor, quem dá as cartas de teu sentimento é o teu coração.
Nós, seres físicos, somos reféns dele quando o tema é o amor.
Ninguém ama uma pessoa porque quer, mas porque o coração assim determina.
O amor nasce sem dia, sem horário, sem local, sem que tu tivesses a oportunidade de escolher antecipadamente a pessoa amada, ou seja, se quero desta ou daquela forma;
O amor nasce e, sem que tu percebas, ele já tomou conta de ti.
Do teu corpo, das tuas ações.
E quando tu amas intensamente nada é obstáculo para o teu corpo, porque o comando vem dele e só dele: do coração.
Quem te dirá quanto a isto será o teu coração e tu serás refém da escolha dele, repito.
O coração de cada um, onde só ele tem o condão de definir;
E não te dará a menor satisfação das razões pelas quais levará o teu corpo a este elevado estado de espírito.
Então como eu pensava, sempre como um fogo de palha!
Você veio, embaralhou minhas cartas, minha vida. Como um furacão que passa e deixa marcas, DEIXOU. Agora não consigo me recompor, é cedo pra lembrar o caminho. Foi tão bom lembrar você, viver o sentimento que existia, imaginar coisas que poderia ser … Ah, eu queria mesmo que por poucos momentos ter a vida que imagino ao seu lado.
Os dias passam, daqui há uns meses, anos… Você vem, transforma minha rotina, muda meus pensamentos, meu foco, interfere nos meus sentimentos, revive o que você é pra mim, me vira do avesso e me mostra que o meu lado é esse e tudo o que faço é pra garantir minha sobrevivência.
Até lá, tento fingir a minha existência. Porque só me sinto viva com suas palavras, seus gestos, seus toques, sua presença.
Até.
Eu descobri um baú de infinidades
cheio de cartas, amores, desamores, esperanças, dúvidas... e outros mil sonhos e
desencantos...
Todos os dias abro-o por curiosidade
exceto os dias em que mereço descanso.
Às vezes, quando penso que já não há mais nada
abro novamente e me deparo com criaturas vivas, cheias de palavras, laços, embaraços
inconscientes, espelhos e almas tocantes...
O baú da minha alma
Fonte inesgotável...
Mas o que eu não havia percebido é que,
sem querer, todos os dias, coloco coisas novas nele...
Renovo-o!
Agora entendi, o porque da sua infinidade... repleto de pensamentos e sentimentos...
Uma verdadeira contemplação!
As cartas que você me escreveu
Ontem eu reli as suas cartas
Enquanto as lembranças salgadas
Faziam borrões nos seus escritos
À medida que o tempo corria
A gramática realçava a ironia
De um ponto após o “infinito”
Nem as bordas do papel coloridas
Retomavam as cenas descritas
Por aquele texto estático
E as marcas das nossas escolhas
São as dobras daquela folha
Em um silêncio diplomático
Ontem eu guardei as suas cartas
Enquanto as lembranças fartas
Justificavam o meu ato
Abri a gaveta do criado mudo
E coloquei junto com tudo
Sua foto três por quatro
Não menosprezo a literatura,
Um ideal ou uma musa,
Camões ou Machado
Mas à medida que o tempo caminha
A vida realça a ironia
De um sentimento ser grafado
Espero por você que não vem,
Por cartas que não chegam...
Pelo tempo que custa a passar.
Não é que eu não olhe mais para o céu.
Essa pergunta já me foi feita.
E realmente, eu não posso contar.
Este é o incrível segredo das coisas.
Guardados nessas pequenas mazelas
Que temos de superar.
É por isso que não estou contando e
Nem olhando como via antes.