Carta de Saudade

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⁠Valette de Paus -

Há sempre um cavaleiro que se espera
vindo de uma bruma de saudade,
alguém a quem dar o coração - ái quem dera -,
que viesse cavalgando p'la cidade ...

Vindo de uma noite perdida
de uma sombra que o acolhe,
alguém que viva além da vida
e abrande o passo quando olhe.

Mas esse oculto dos saraus,
cedo ou tarde, sempre surge e aparece
como um Valette de Paus.

E mais um dia passado,
mais uma noite que acontece
e um destino marcado!

Inserida por Eliot

⁠Nas Curvas do Destino -

Quando penso em ti sinto saudade
vontade de me atirar da ponte ao rio,
o que sinto, meu amor, na verdade
quando falo em ti, é dor e frio ...

Quando fixo os rostos que encontro pela vida,
que cruzam seus olhares com os meus,
só lembro a promessa em vão perdida
dos meus olhos só olharem para os teus.

Não esqueço, meu amor, aquelas tardes delirantes
em que vinhas de mansinho com ternura
e trazias a esperança de, um dia, sermos mais que amantes!

Descalço vou, sozinho, agora, traçando outro caminho,
talvez te encontre, um dia, pela vida, que loucura,
nas estradas ou nas Curvas do Destino ...

Inserida por Eliot

⁠Saudade, Vazio e dor -

As tristezas que me doem São saudades ...
Ó vida, dizei-me, porque tanto me enganais?!
Foram dadas no silêncio das idades
por olhares de quem não torna mais!

E porque partem todos os que amamos
deixando no vazio quem nunca esquece?
Pobre de quem fica pela vida mendigando
esperando o novo dia que amanhece!

Saudade, vazio e dor ...
Aquilo que esperei está tão mudado
que esqueci no peito o que é amor!

Não há esperança p'ra quem perde alguém que ama!
Má fortuna, dor ardente, tempo errado,
um grito de silêncio que por nós ainda chama ...

Inserida por Eliot

⁠Saudade Parada -

Trago a alma já cansada
no viver da madrugada
num sonho que morreu,
trago ao peito uma loucura
no esperar de uma ternura
que da vida se perdeu.

Levo no corpo a solidão
vazio e dor na minha mão
num passar de despedida,
ai minha vida sem nada
minha saudade parada
numa sombra esquecida.

E em cada noite escura
sinto em mim outra amargura
na cama onde me deito,
e adormeço a persistência
de sentir a tua ausência
à deriva no meu peito.

Inserida por Eliot

⁠Miragem de Morrer -

Hoje o dia está cansado
dos meus versos de saudade,
oiço um canto, é um fado
e há silêncio na cidade.

Hoje a noite está perdida
em palavras de amargura
e minh'Alma tão esquecida
no passar da noite escura.

Hoje a morte é só miragem!
P'ra quem tem sorte de morrer
a vida é triste imagem
na vontade de viver ...

Meu destino, nao ter casa,
foi a vida a que me dei,
hoje sinto, não sou nada,
porque o sinto eu nao sei!

Inserida por Eliot

⁠Esta Vida -

Esta vida que Deus me deu
na indiferença e na saudade
fez-me Poeta que viveu
no silencio da cidade.

Passa o tempo de corrida
passa a vida e a vaidade
nas horas da nossa vida
fica sempre uma saudade.

Choro a vida num minuto,
numa hora, num segundo,
das palavras que não escuto
dos cansaços deste mundo.

E embora goste da vida
do Poeta que sofreu
não esqueço a dor sentida
desta vida que Deus me deu.

Inserida por Eliot

⁠Saudade e Desamor -

A saudade vem de longe
como vem a solidão
vem à pressa, vem a monte
no pulsar de um coração.

A saudade é coisa rara
é vazio em pedra fria
é um berço que m'embala
nesta dor em triste dia.

Traz saudade o teu amor
traz silêncio o teu olhar
da saudade ao desamor
é traçado o meu penar.

Não me esqueço da saudade
por não ter saudade tua
já não tenho liberdade
que a saudade continua.

Inserida por Eliot

⁠Saudade que Agito -

Foste embora e morri
dia a dia não te vi
que triste é a nossa vida;
e na saudade que agito
a minh'Alma num grito
pede à vida outra vida!

Mas este canto na voz
não me deixa ficar a sós
e vai falando de ti;
coração do meu coração
que me grita em solidão
no mais calado de mim!

Nos poemas que cantei
quantas horas te esperei
só eu sei o que sofri;
contra ti e contra a vida
contra a dor da despedida
foste embora e morri!

Inserida por Eliot

⁠Só -

Ai esta saudade de mim
cautelosa e serena
esta loucura sem fim
que me enche de pena!

Ai solidão desmedida
que ninguém pode tocar
este estar SÓ na vida
que ninguém pode acompanhar!

Ai esta noite sem Lua
este saber que me perdi
este arrastar pela rua
esta carência de ti!

Ai este silencio vazio
este sofrer no caminho
estas dores do frio
que me deu o destino!

Inserida por Eliot

⁠Visão Errada -

Eu sou a visão errada que há de mim
carregada de silencio e de saudade,
solidão que desde o berço não tem fim
no quarto da minha fria claridade.

Eu ando na vida como nasci - Nu!
Nu de sentimentos! Nu de afectos!
E alguém me escuta?! Sim, talvez tu,
tão longe dos meus sonhos quietos.

Tudo muda ... passa a vida tão depressa ...
... passas tu e passo eu ... cansado ...
... se me escutas - meu amor - regressa.

Já disse adeus, adeus a tanta gente
- tantos corpos que eu amei - Passado -
mas meus olhos, vão querer-te para sempre!

Inserida por Eliot

⁠Olhos de Silêncio -

Nos meus olhos de silencio
há dois ecos de saudade
dois martírios consagrados
pelo peso da idade ...

Nos meus dedos levo a culpa
dos amores que não toquei
e se a culpa me matasse,
estava morto, eu bem sei ...

E porque fomos mal-amados,
nunca fomos bons amores,
só Poetas ilibados ...

Mas "ser Poeta é ser mais alto!"
É ser dono das minhas dores
quando aos versos nunca falto!

Inserida por Eliot

⁠Este Livro -

Este Livro que vos deixo
é de mágoas e saudade
o que há em mim de sem vontade
que tantas vezes está por baixo!

Já não é nenhum segredo
vejam bem que triste sorte
nem me lembro que há a Morte
nem da vida tenho medo!

E às vezes ponho e minto
nestes versos que me dão
o que vivo mas não sinto ...

Pois os versos nunca são
mais que a hora que os pressinto
um travo amargo a solidão ...

Inserida por Eliot

⁠Chorar alguém -

Quem morre ou vai embora
eis que nunca levará
a saudade de quem chora
e se arrasta em vão por cá.

A saudade é triste e sã
porque a morte é longa e fria
mas que loucura tão vã
chorar alguém dia-a-dia.

E já que a morte é nossa
e o silencio que ela traz
que a vida dê mais força
a quem fica só por cá.

Inserida por Eliot

⁠Àquela quina -

Àquela quina da cidade
onde a mágoa se alevanta
moro eu, mora a saudade
e também Florbela Espanca.

É o nome da Praceta
ali de fronte à minha casa
que um dia foi eleita
pelo nome que hoje abraça.

E porque escuto a condenada
que tanto fala na Praceta?!
Tantos versos pela estrada.
Uma voz que não se deita.

Inserida por Eliot

⁠Tempo sem tempo -

A saudade é inocente
face a toda a desgraça
e a dor é permanente
quando a vida a abraça ...

Se tudo me foi vedado
porque fica, não mingúa
a lembrança, o passado
que traz passos de Lua?!

E o que sou porque sou
nem eu sei d'onde vem
onde vou porque vou
nem o sei eu também!

E se vos canto esta dor
é p'ra que fiquem sabendo
que na verdade o amor
traz um Tempo sem Tempo ...

Inserida por Eliot

⁠Outro amor -

Tu foste mentira
Não menos verdade
Mas não era de mim
Que tinhas saudade.

Tiveste saudade
d'Alguém que não eu
Por isso é verdade
Nosso amor morreu.

E morreu o que fomos
Diante do povo
Ser o que somos
É sermos de novo.

E o povo só viu
Que secou uma flor
P'la dor que sentiu
Nasceu outro amor ...

Inserida por Eliot

⁠Saudade entreaberta -

Eu sou a vontade de Ser que não se encontra!
Sou o grito de revolta, a saudade entreaberta,
sou a noite, o dia que se levanta
na Sintra que se ergue e me desperta!

Eu sou a manhã de nevoeiro densa e baça!
A tristeza de uma mãe que se lamenta!
Sou no corpo um silêncio que me abraça!
Um pássaro no céu em rota lenta!

E há sonhos nos meus olhos de mãos dadas,
verdades por dizer, estrelas por brilhar!
Há lágrimas no meu rosto em vão cansadas.

Eu sou o verso d'um poeta solitário!
Um nocturno de Chopin que toca sem parar,
frente ao Cristo, no cimo do Calvário ...

Inserida por Eliot

⁠Saudade de nós -

Chegaste tarde meu amor
E no silêncio desta dor
Nem sei bem o que senti;
Uma saudade de nós
Ou talvez por estarmos sós
Uma saudade de ti.

As andorinhas não vieram
E as pessoas não disseram
Se voltavas p'ra mim ou não;
Grito e ninguém me responde
Oiço-te mas não sei d'onde
Nos confins da solidão.

Passo a passo sem Carinho
Acendo velas no caminho
Virando os olhos p'ra Deus;
Porque não há maior tristeza
Do que trazer a Alma presa
Ao Silêncio de um adeus.

Eu nem sei onde me perdi
Que tudo me fala de ti
Entre a terra e os Céus;
Mas podes sempre voltar
Porque eu vou por ti esperar
Jamais te direi adeus.

Inserida por Eliot

⁠Leme -

Na rua do meu silêncio
há um grito de saudade
é como o Céu tão cinzento
nos dias da tempestade.

Quando sopra qualquer vento
na minh'Alma há muita dor
pois na raiz do pensamento
sempre baila o nosso amor.

E no cais de qualquer porto
há sempre alguém que se demora
bailam saudades no meu corpo
como as dores de quem chora.

Alguém chora e não agarra
este meu sentir tão louco
sou como um barco sem amarra
que se afasta pouco a pouco.

Inserida por Eliot

⁠Barco antigo -

No cais da minha saudade
Atracou num barco antigo
Que julguei não ver jamais;
Um amor de pouca idade
Que o destino decepou
Em agrestes temporais.

A noite calou meu ser
Senti perto dor e perigo
Senti medo do passado;
Era o medo de te ver
Porque em mim nada mudou
Só a voz neste meu fado.

O barco chegou à praia
Fez-se perto aquele grito
Que deu voz ao alto mar;
E na proa que desmaia
Nesse barco que aportou
Vi um braço a acenar.

Nada trouxe de verdade
Afinal estava perdido
E nós ficámos iguais;
Do cais da minha saudade
Foi-se embora o barco antigo
Que julguei não ver jamais.

Inserida por Eliot