Carta de Saudade

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- SAUDADE DO CHIADO -

Que saudade do chiado
Dos seus dias solarengos
Da alegria d'um passado
Que dentro de mim tenho.

Das esplanadas ao vento
E Da beleza dessas ruas
Que saudade desse tempo
Dos poetas, das estatuas.

Da calçada portuguesa
Das igrejas em solidao
Trago a grande singeleza
Do bairro alto no coraÇao.

Trago os dias bem passados
Tantas horas de poesia
Tantos gritos arrancados
À ganância dos meus dias.

Da loucura dos meus sonhos
Tanta coisa foi perdida
Houve dias tão risonhos
Tanta mágoa apetecida.

E Tanta gente que passou
Pela sombra do meu fado
Foi-se embora e não levou
Esta saudade do chiado.

Ricardo Maria Louro
No Chiado em Lisboa

Inserida por Eliot

- O que é isto Senhor?! -

Há um misto de silêncio e de saudade
que dança no peito de todos nós,
tão profundo, sem tempo nem idade,
que muitas vezes nos põe connosco a sós!

Tão quente como o Sol de cada amanhecer
tão frio como a água que cai do Céu
tão escuro como o negro de cada anoitecer
tão forte como Aquele que um dia padeceu!

O que é isto Senhor que sentimos a horas mortas
que nos corroi e esventra o coração?! ...
Tanta gente que passa p'las nossas portas
e nós, tão sós, à mesa com a solidão!

O que é isto Senhor que não nos deixa descansar
e nos arremata a Alma como num leilão?!
Será , talvez, condição ao incarnar
ter que aprender a pacificar o coração ...

Inserida por Eliot

A saudade é indiscreta -

A saudade é indiscreta
Porque chega sem convite
E age sempre como seta
Que atravessa sem limite.

Ela invade o coração
E se espalha pelo corpo
Traz tristeza, desilusão,
Ansiedade e desconforto.

E dos olhos caem sombras
Caem dores, caem lutas
Mas mais tarde voam pombas
Pelo Céu das nossas culpas.

Chega o tempo, passa a vida
Vai passando a nossa idade
Só não passa a despedida
De quem deixou essa saudade.

Inserida por Eliot

Saudade em vão sentida -

Saudade em vão sentida
num adeus sem despedida
quando alguém parte p'ra sempre
e há qualquer coisa de espanto
na voz, no olhar, no canto
na Alma de quem o sente!

Quando alguém nos diz adeus
num momento, a sós, com Deus,
passam noites pela gente,
passa tudo o que fizémos
tanta coisa que dissémos
tudo acaba para sempre!

Só não morre a nossa história
feita de sombras e memória
à luz do sonho e do luar,
as manhãs ficam cansadas
as fontes amarguradas
e nós sozinhos junto ao mar.

E é no cais da despedida
que ao dizer adeus à vida
nos sentimos sem destino
e há um fado e outro fado
um lamento em vão cantado
que deixamos no caminho.

Inserida por Eliot

Linda Leonardo -

Minha vida fez-se grito
Cheia de curvas de saudade
E num pranto entristecido
Atravessou a minha idade.

Veio de longe a solidão
deixando a vida por viver
E num momento sem razão
me dei ao fado sem saber.

E vai chorando o coração
Num anseio sem ter calma
E eu cantando desde então
Tantas penas da minh'alma.

Tanta vida por viver
Tanto fado por cantar
Tantos versos por escrever
E eu sofrendo por te amar.

(Versos que o poeta dedica à amiga e fadista Linda Leonardo)

Inserida por Eliot

Amar sem Medo da Idade -

A manhã está suja de saudade!
E há lá coisa mais bonita
Do que amar sem medo da idade,
Viver, conforme o vento agita?! ...

Pois conforme o vento agita
Também se agita a saudade
E há lá coisa mais bonita
Do que amar sem medo da idade?!

A vida é feita de ansiedades,
Tantas vezes, de sonhos por cumprir,
Mesmo assim, nas dificuldades,
Ela ensina a nunca desistir.

Não importa de onde vimos
Nem tampouco com quem estamos
Só importa o que sentimos
E o lugar onde chegamos.

Inserida por Eliot

Mistério Vulnerável -

Trago uma vaga saudade
Um queixume abandonado
Um mistério vulnerável
Uma pequena ondulação,
cheia de vento e de maré,
que me invade o corpo
que me acorrenta a Alma!

Trago o luar na minha mão
Trago o Sol e trago a chuva
Todos os sonhos do mundo
Todas as esperanças perdidas
Uma vida transformada em morte
Uma morte que se faz vida
num silêncio absurdo e impreciso!

Trago tanta coisa em mim
que não sei bem o que sou
nem o que faço neste mundo!

Inserida por Eliot

⁠Nos meus Lábios de Mágoa -

Nos meus Lábios de Mágoa
Há saudade minha e tua
Trago os olhos cheios de água
Sem destino pela rua ...

Trago os sentidos cansados
Trago a Lua sobre os ombros
Trago os meus olhos parados
Na tristeza que hoje somos.

Bate ao longe um coração
Traz saudades a boiar
E no cais da solidão
Vou chorando sem parar.

Passa o vento apressado
Sem vontade de me escutar
Porque amei o amor errado,
Nada resta, há-de passar.

A saudade não passará
Trago os olhos cheios de água
Esse amor só viverá
Nos meus Lábios de Mágoa.

Inserida por Eliot

⁠- Se assim não for -
(Soneto)

Na verdade há mágoas palpitando no meu peito,
há sintomas de saudade de outro tempo,
silêncios adormecidos no meu leito
que se agitam conforme agita o vento!

E há sequelas agarradas à minha pele
incapazes de me deixarem respirar,
talvez um dia sejam brancas como a neve
e me deixem , como Florbela, "amar ... amar!"

Talvez os dias me possam ser mais leves
e os sonhos que hoje correm à minha frente,
ao meu lado, me possam ser mais breves ...

Se assim não for recordarei na minha gente
o amor de quem o sente e não descreve,
porque afinal, quem fala muito, muito mente!

Inserida por Eliot

⁠- Hebe Camargo -
(Que saudade de você)

Que saudade de você
que iluminou tanto
o meu dia...
Anoiteceu, você não voltou mais.
Tudo sumiu - minha alegria!

Que saudade de você ,
do seu olhar, sua risada.
Vem ... toca em mim.
Fica bem dentro do meu coração.
Nao foi o fim!

Que saudade de você
da sua voz cantando ao meu ouvido.
Das mágoas no meu peito
sempre que estava perdido.

Que saudade de voçê
das horas que passaram sem te ver.
O tanto que sofri são rosas brancas
Adeus ... porém
você não morreu!

Onde está você?!
Sua presença
é balsamo sublime ...
Quimera ou silêncio
ninguém vê.
Que saudade de você!

Inserida por Eliot

⁠- Deixo -

Às abandonadas horas fugidías
deixo mágoas cobertas de saudade
mais pesadas que as horas dos meus dias!

Deixo gritos, silêncios, intempéries;
a dor dos partos cheios de magia
que dão vida à vida de todas as mulheres!

Deixo a alegria de me encontrar na dor
quando navego nas suas águas pantanosas
sem vida, sem olfacto, sem tacto nem sabor!

Deixo enfim o que sempre tive horror
do que todo o Ser humano sempre fugiu
nunca encontrar na vida um amor!

Ricardo Maria Louro

Inserida por Eliot

⁠Nevoeiro dos Sentidos -

Os mortos dos meus mortos
trago nos sentidos,
num berço de saudade
os trago adormecidos.
Ai,saudade efemera sem paz
que vive em mim
pobre mortal de Deus nascido!

Minh'Alma sepultada
neste espesso nevoeiro
adormece os mortos
no frio dos meus sentidos,
mas se acordado
os sinto adormecidos,
despertam depois quando adormeço.

E em cada noite que me deito
liberto-me da matéria,
abraço-os, recordo-os...
Esvai-se o nevoeiro espesso
e numa imensidão aerea
sonho, acordo e adormeço.


"quasi madrugada"

Sinto-me um TODO enquanto Alma singular quando atinjo o além-forma. É o extase total desta minha Humana existência...

Inserida por Eliot

⁠Quinta do Malhão -

Saudade, triste saudade,
me ficou no coração
daqueles campos sem vaidade
da Quinta do Malhão ...
Nogueiras, altas Nogueiras,
se erguiam naquelas terras
campos longos de laranjeiras
povoados de tristes pedras!

Ai saudade, triste saudade,
do cheiro a terra lavrada,
da sua infinita bondade
ficou minh'Alma marcada.
Recordo ainda aquela Nora
e seu triste Coração,
os alcatruzes eram fora
chorava a Quinta do Malhão ...

Tanta sombra, tanta Paz,
tantos sonhos e fantasias ...
Quando eu era rapaz
tinha a Alma cheia de Poesias!
E na terra macia
adormecia no chão,
voa, voa Poesia,
sonha, sonha Coração,
era assim que eu vivia
na Quinta do Malhão!

E os primeiros Amores
que minh'Alma encerra
nasceram como as flores
na memória daquela terra ...
Cada canto mos recorda,
cada tronco, a minha infância,
mas sinto ainda uma corda:
apesar já da distância,
passa sempre e morre um beijo
nesta memória em cadência ...

E das Nogueiras, folhas secas,
folhas secas, folhas mortas ...
No chão caidas, que m'importa
se secas estão as folhas mortas!
Nogueiras, altas Nogueiras,
Laranjeiras e Figueiras
que em criança me vistes,
já não podes agitar as altas franças,
guardai então os sonhos tristes
desta triste criança ...

Inserida por Eliot

⁠Senhor, estas rosas que vos trago
são 'inda espasmos de quimera!
Saudade tão profunda,
feita de fria espera,
intima cera ...

Derretei-a Senhor, derretei-a!
Queimai-a neste altar!
Sequem-se as rosas,
rosas nascidas do meu penar ...

São Rosas, Senhor,
simples rosas, bem o sei!
Vermelhas, escarnecidas
ensanguentadas ...
Rosas que vos trago,
'inda presas-entre-silvas,
por tristes caules,
à brancura do luar!

Colhei-as Senhor!
Colhei-as ao passar!

Mas cuidai,
cuidai que são pejadas
de picos-d'ilusão!
Minha fria-e-funda ilusão ...

E mais do que minh'Alma vos diz,
só o que vós sentis
em meu peito sem chama.

Porem,
já ardem em mim as rosas, Senhor,
ardem, ardem mas não queimam
meu intimo chorar ...

Guardai Senhor, eternamente,
a prece das rosas que vos trago, a sangrar,
junto aos pés da Cruz do Vosso Altar!



(Prece ao Senhor Jesus dos Passos da Igreja da Graça em Lisboa onde deixei um molho de Rosas encarnadas sobre o Altar ...)

Inserida por Eliot

⁠Do Mistério e da Saudade -

Minha saudade é feita de ternura,
delírio intenso, galopante,
igual ao desse cavaleiro - andante
que ainda hoje me murmura ...

Saudade que meus versos transfigura,
quadras d'ilusão, delírio semelhante,
ao da Vida do Poeta, caminhante,
que habita versos de loucura ...

Saudade que as trevas alumia,
que os famintos alimenta, de forma permanente,
quebrando a solidão, matando a agonia!

Minha saudade tolda o Desidério,
torna o Mistério em mim presente
e faz da minha Vida um Mistério!

Inserida por Eliot

⁠Amor e Saudade -

O Amor e a Saudade
são duas águas que nos turvam,
não importa tempo nem idade,
se todos, na verdade, se curvam ...

Pois que Vida sem Amor
é mar sem firmamento,
Verão, entardecer, sem calor,
Poeta sem Pensamento ...

E o Amor vivido sem saudade
que teria d'interesse ou de verdade?!
Seria apenas conta errada ...

Que na Vida, só Ama e é Amada,
a Alma que se entrega, na Verdade,
à Verdade do Amor e da Saudade ...

Inserida por Eliot

⁠Meu Tormento -

Meu corpo sente a tua falta ...
Saudade imensa dos teus braços ...
Meu Sudário, meu punhal - de aço! -
Meu tormento em Maré Alta!

E choro em silêncio - triste penitência ...
Ninguém há que me acalente
em nocturno sofrimento! Persistência
a tua que nada diz ou sente!

Não é Verdade o teu silêncio!
Punhal que cresce e me trespassa ...
Meu pobre Coração cinzento ...

Não é verdade o teu afastamento!
Não passa com o vento - ó Deus - não passa!
É triste, rubro, eterno este tormento ..

Inserida por Eliot

⁠Eco de Saudade -

Sou pedra de silêncio sem sentido
um eco de saudade pela rua
a sombra de um passado, ressequido,
ausência, meu Amor, mas sempre tua.

Sou um longo xaile negro d'ilusão
aos ombros de um destino que é o meu
ó Deus o que será de um coração
que tanto se entregou e se perdeu?!

Duas vidas tão unidas, separadas
dois seres que se amaram, sem sentido
duas Almas incompletas, mal-amadas
dois amantes sem destino, proibidos.

Meus olhos já nem choram esta dor
meu canto já vacila nestes versos
já não sei o que fazer a tanto amor
perdido na carência dos desejos.

Talvez um dia oiças, quem me dera,
o Fado que hoje canto à despedida
de ti meu coração já nada espera
amor que tanto amei além da vida.

Inserida por Eliot

⁠Madrugadas de Lisboa -

Na fria madrugada de Lisboa
meu berço de saudade à beira mar
bebi o cálice do fado, fui à toa
andando p'las vielas sem parar.

Há guitarras a rasgar o coração
esperando de Lisboa num desejo
as colinas são lamento e solidão
nas noites que adormecem sobre o Tejo.

Eu vejo o teu olhar em cada fado
eu sinto-te Lisboa no meu peito
meu corpo como a rua tão pisado
silêncio que adormece no meu leito.

Lisboa porque corres onde vais
à hora de cantar a tradição
que alguém deixou um dia pelo cais
pairando no teu cais de solidão.

Inserida por Eliot

⁠Guitarra -

Uma guitarra gemia
a um canto da saudade
se cantava ou se sofria
ninguém via na verdade.

Numa viela sombria
há um canto peregrino
uma guitarra perdia
o pisar do seu destino.

E num cantar de solidão
há uma voz que se levanta
recostada ao coração
é uma guitarra que canta.

Traz uma glória perdida
nos braços tristes de ninguém
há uma guitarra sofrida
chorando triste por alguém.

Inserida por Eliot