Carta ao Pai
C(r)omo somos…
(Nilo Ribeiro)
Meu filho tem Down,
um menino normal,
companheiro legal,
alma angelical
sou muito abençoado,
pois tenho um filho assim,
Deus me deu este legado,
plantou esta flor em meu jardim
uma relação divina,
uma vivência de amor,
agradeço pela minha sina,
Deus me deu um professor
o que é amar
sem ter desafio…???
é ser um mar
sem receber um rio
minha vida ganhou sentido,
pois aprendo todo dia,
meu filho querido,
você é a poesia
orgulhoso e honrado,
minha felicidade eu compartilho,
sou um pai muito amado,
um pai que ama seu filho…
Agradeço por nunca não me enxergar
Pela ignorância que me tratou
Por me impedir de sonhar e sempre que não me apoiou.
Obrigada por não acreditar em mim
Por me negar seu colo
Por não enxugar minhas lagrimas
E por não me estender suas mãos
Sou grata cada vez que me espancou
Por não me fazer sentir um nada
Por toda vez que gritou e me julgou culpada
Obrigada por me tentar derrotar
E por não reconhecer minhas vitórias
Por despertar o pior em mim
Agradeço pelas noites em claro
Pensando em desistir de viver
Pela falta de esperança
Por sentir o seu desprezo
E principalmente pelo seu egoísmo
Afinal, devo minha conduta e formação de opinião aos que cuidaram de mim.
Sou grata por tudo você que não fez;
Pai.
Mulher...
(Nilo Ribeiro)
Mulher não é só imagem,
mulher não é só glamourosa,
ela também é coragem,
ela é graciosa
ela é equilíbrio,
ela é luz,
é mãe, pai e filho,
é a bênção de Jesus
não é só isso,
ela é a bênção materna,
é a obra de Cristo,
é a bênção da Terra...
Então...
Minha juventude foi meia que vigiada
Não que tivesse desgostos ou incertezas
Tive meus dias de segredos e quietudes
Como outros de venturas e alegrias
Lembro que meu pai conversava por gestos
Entendia tudo o que seus braços e mãos diziam
Até mais que sua voz rouca e meio confusa
Sua fala beirava um português desafiador
Me apaixonava facilmente por seres conhecidos
Animais, flores e até pelo que não conhecia
Recitava poesias pra plantas e pra mim mesmo
Residia ali meu atalho às descobertas... à magia
Os dias vividos me trouxeram mais que poesia
Me peguei amando ainda adolescente
Juntei forças e fiz de amor planos de ter um lar
E nele, me perder dos ais e só amar
Que esses olhos nunca deixem de se encarar como agora, que sejam sempre esse olhar cúmplice de admiração e respeito.
Que evolua esse olhar com a vida, passando com o tempo de um olhar de encanto da infância de um e juventude do outro, para um olhar de apoio e gratidão na velhice de um e maturidade de outro.
Pai e filho, amigos e parceiros ... Que assim seja !
Você não precisa acrescentar gostos, crenças, ideológias, flosófias de vida ou costumes de ninguém em sua vida, o que você deve fazer e respeitar, e não questionar o que o outro quer pra si, "somos livres", temos de Deus Pai livre arbítrio, porém cada escolha uma consequêcia, por isso viva à sua maneira e deixe o outro também viver!! Somos o que vivemos, o que damos, plantamos e colhemos.
Bom dia
Quando eu era garoto,eu via os pais dos meus amigos e colegas todas as tardes
irem buscar seus filhos depois das aulas.
Eu retornava pra casa de a pé mesmo,ou de ônibus,quando eu chegavá na frente de casa e la via o belo carro do meu pai parado
Eu perguntava para ele.
Pai porque o senhor nunca me busca na escola ?
Ele respondia-meu filho quando você for um pouco maior E mais velho eu te explico,então você irá me entender
Eu deixava passar
Quando meus
amigos se juntavam pra sair
Eu,eu nao podia ir pois meu mais
me falava sempre as mesmas palavras
Se você quer sair conquiste seu dinheiro
para fazer péssimo aproveitamento
Eu ficava bravo e então não saía
ficava no meu quarto furioso
Fiquei quieto e triste muitas vezes
E ele sempre com as mesmas
Respostas;filho quando você for maiôs e mais velho vai entender quando eu explicar
você vai ver que será diferente de todos os seus amigos e colegas
Hoje todos nós crescemos e nos tornamos adultos.
Alguns amigos da época da escola
ainda moram com seus pais
Não trabalham,e estão sem dinheiro
dependem de seus pais para se vestirem
E para poderem sair
Hoje meu pai me abraça e diz
filho como tenho orgulho de ver
como você aprendeu a nunca depender
dos outros,eu disse que você seria
diferentes de muitos
Amiga, Anjo, Guerreira...
(Nilo Ribeiro)
Expresso meu sentimento
de maneira clara e pura
falo que vem de dentro
com honestidade e candura
amiga, anjo e guerreira
assim lhe concebo
você tem o brilho da estrela,
é realizadora de desejo
a você mulher de luz
que só bem nos faz
a família você conduz
com amor e muita paz
trilhe sempre seu caminho
seja sempre uma lutadora
não perca nunca seu carinho
pois do amor você é condutora
que presente posso te dar...???
as estrelas com seus brilhos
ou a lua com seu luar...???
será um presente com carinho
para iluminar seu caminho
para a realidade enfrentar
um presente do coração
que seja uma declaração
do meu te gostar
e que possa te ajudar
a ampliar sua visão
um presente não caro,
nem mesmo raro,
mas, oferecido com louvor,
um presente com emoção
que lhe dou com todo amor
uma pura e simples oração
Pai nosso que estais no Céu,
santificado seja o Vosso Nome,
venha a nós o Vosso reino,
seja feita a Vossa vontade,
assim na terra como no Céu.
O pão nosso de cada dia nos dai hoje;
perdoai-nos as nossas ofensas,
assim como nós perdoamos
a quem nos tem ofendido,
e não nos deixeis cair em tentação,
mas livrai-nos do mal.
Amém...
Esta é uma oração escrita pelo general Douglas MacArthur, um militar e escritor estadunidense, destacado comandante do exército americano durante a Segunda Guerra Mundial (1939-1945).
Senhor, dá-me um filho que seja
bastante forte para saber quando é fraco
e corajoso o bastante para
enfrentar a si mesmo quando tiver medo;
um filho que seja orgulhoso e
inflexível na derrota inevitável,
mas humilde e manso na vitória.
Dá-me um filho cujo esterno não esteja
onde deveria estar a espinha dorsal;
Um filho que te conheça e que
saiba conhecer-se a si mesmo,
que é a pedra angular do saber.
Guia-o, eu te suplico,
não pelo caminho fácil do conforto,
mas sob a pressão e o aguilhão
das dificuldades e dos obstáculos;
que aprenda a manter-se ereto nas tempestades.
Dá-me um filho de coração puro e objetivos elevados;
um filho que saiba dominar-se
antes de procurar dominar os outros,
um filho que aprenda a rir,
mas que não desaprenda de chorar;
um filho que tenha os olhos para o futuro,
mas que nunca esqueça do passado.
E depois que lhe tiveres concedido todas estas coisas,
dá-lhe, eu te rogo, compreensão bastante
para que seja sempre um homem sério,
sem, contudo, se levar muito a sério.
Dá-lhe humildade, Senhor,
para que possa ter sempre em mente
a simplicidade da verdadeira grandeza,
a tolerância da verdadeira sabedoria,
a mansidão d verdadeira força.
Então, eu, seu pai, ousarei murmurar:
“Não vivi em vão!”
A Luta Nao Pode Esperar
Crônica baseada na morte do estudante de Matemática da UFG, Guilherme Silva Neto de 20 anos.
Por Josielly Rarunny
Imagine um jovem alternativo e revolucionário, desses que defende suas crenças, capaz de lutar até a morte. Literalmente.
Guilherme saiu numa manhã de quarta feira após uma briga com o pai, motivada pelo estilo do rapaz, causas sociais e políticas que Guilherme defendia.
O pai, engenheiro de 60 anos, conservador e depressivo não aceitava as atitudes do filho. Proibiu Guilherme de participar da tal reintegração de posse que ocupava universidades e lutava contra as propostas da PEC 241.
Discutiram. Discutiram feio por sinal. Dessas discussões onde se ouve gritos, xingamentos e ameaças. Saíram cada um para um lado.
Guilherme deu as costas e foi a luta.
Que a luta não pode esperar.
Quem sabe ele foi cantando a canção de protesto de Vandré.
Pra não dizer que não falei das flores.
A mãe na sala ao lado ouvia a discussão.
Em oração repreendia e preferiu não interferir.
Vai saber o que se passa no coração de uma mãe.
Aquela dor recolhida, aquele choro engolido, uma aflição que parece não ter fim. Um anseio de ver a paz reinando no almoço em família do dia seguinte.
Um almoço que não acontecerá mais.
O pai tinha o tempo de esfriar a cabeça ou sacar uma arma.
Advinha o que ele fez.
Voltou para casa.
Encontrou apenas aflição e oração em forma de mãe.
O filho não estava mais. Encontrou Guilherme numa praça perto de casa e disparou contra o filho quatro vezes. Houve tumulto e gritaria.
Guilherme conseguiu correr, mas o pai alcançou o filho e com mais disparos o matou.
E com o mesmo tempo que ele levou para sacar a arma, debruçou sobre o corpo do filho, talvez arrependido da besteira feita. Não quis ficar e lutar contra a justiça social e brasileira.
Que por sua vez nem é tão severa assim.
Preferiu antecipar o julgamento e a justiça divina.
Guilherme deu as costas e foi a luta.
Que a luta não pode esperar.
Quem sabe ele foi cantando a canção de protesto de Vandré.
Pra não dizer que não falei das flores.
Ninguém sabe, ninguém ouviu falar.
O que todos sabem é que ele foi.
Infelizmente, pra nunca mais voltar.
Filha, hoje é o seu primeiro aniversário sem o papai e a mamãe, juntos.
Calma, você ainda é uma criança, não entende essas coisas de adulto. Viver cada um em um canto é coisa de adulto. Assim como trabalhar é coisa de adulto. E quando o papai virava a noite, não podia brincar contigo, era coisa de adulto. E quando a mamãe ficava brava porque tinha que se virar sozinha, entenda, era coisa de adulto. Aliás, todas as outras coisas que ela ficava brava com o papai, e eu com ela, tudo era coisa de adulto. E o nosso orgulho, ferido pelas duras palavras que um falava para o outro, bom, quer coisa mais adulta que orgulho? Discussão é coisa de adulto, filha. E quando o papai e a mamãe discordavam sobre tarefas da casa, contas para pagar, as responsabilidades do dia-a-dia, veja, ter responsabilidade é coisa de adulto. E fazer coisas irresponsáveis, acredite, também é coisa de adulto. A consciência pesada que aparece depois? Coisa de adulto. Tensão, coisa de adulto. Pressão, coisa de adulto. Impaciência, coisa de adulto. Estresse, coisa de adulto. Acusação, coisa de adulto. Briga, coisa de adulto. Separação, coisa de adulto.
Um dia você vai ler esse texto do papai. Quando você ficar mais adulta. Ou melhor, um pouco menos criança. De qualquer forma, saiba que escrevi esse texto chorando. Arrependido. Culpado. Decepcionado por seu aniversário ser uma festa fatiada em dois pedaços.
Por isso, ao invés de dar os parabéns, eu peço desculpas. Se um dia você me perdoar, quem sabe eu me sinta menos adulto e mais gente grande".
Tirésias:
“Afirmo-te, pois: o homem que procuras há tanto tempo, por meio de ameaçadoras proclamações, sobre a morte de Laio, está aqui! Passa por estrangeiro domiciliado, mas logo se verá que é tebano de nascimento, e ele não se alegrará com essa descoberta. Ele vê, mas tornar-se-á cego; é rico, e acabará mendigando; seus passos o levarão à terra do exílio, onde tateará o solo com seu bordão. Ver-se-á, também que ele é ao mesmo tempo, irmão e pai de seus filhos, e filho e esposo da mulher que lhe deu a vida; e que profanou o leito de seu pai, a quem matara. Vai, Édipo! Pensa sobre tudo isso em teu palácio; se me convenceres de que minto, podes, então, declarar que não tenho nenhuma inspiração profética”.
(Édipo Rei)
COISA LINDA
Sabe, agora só me resta saudades daquele tempo que me pegavas no colo...
Que comigo jogavas bola, que ia a rua comprar a coca – cola.
Me deixava pegar o seu carro, me perguntava como iam as garotas e eu convencido daquelas mimadas e adoradas proteções, de repente eu vejo uma traição e do mundo você ir em vão e deixar quebrado o meu coração.
Você, meu melhor amigo, que me ensinou as malícias do viver.
Você, que me deixou à vontade para o meu caminho escolher.
Você, que tudo por mim fez, nunca irei lhe esquecer.
Pai, coisa linda. P de proteção, A de amor e I de irmão.
Pai, eu te amo e sempre te amarei, podes crer, por ti vencerei !
Há muitas formas de não guardar rancor,
Seja nessa vida ou quando eu me for.
Motivos suficientes para causar
O que antes seria capricho falar.
Revelar não só o que convém,
Desejar o bom, praticar o bem.
Voltar a ser o melhor e em comunhão
Com o universo, o Pai, o espírito e a criação.
E, se n'Ele não acreditar, tudo certo!
O inferno é pra passear, pro esperto.
Ser crente não é garantia
De, por falta de ousadia,
Escolher o caminho mais perto.
Se o meu coração falasse
Ele não falaria nada
Por que nada o tem a dizer
Se o meu coração pudesse sorrir
Ele não sorriria
Por que motivo algum faz o rir
Se o meu coração sentisse
Um amor verdadeiro, intenso, e puro
Ele poderia falar da experiência única de um amor assim
Ele poderia sorrir, sorrir bastante
Por ter sentido esse amor.
Eu cresci e ouvi você dizer coisas que jamais vou esquecer...
“Pouco com Deus é muito”
“Ser homem não está no tamanho e sim na qualidade”
“Quem sabe de mim sou eu”
“Seu amigo sou eu”
“Ruim comigo, pior sem eu”
Sim, é muito pior sem você
Você não sabe a falta que faz não te ver
Dirigir por aí, parar em uma padaria e comer
Ouvi tudo que você tem pra dizer
Pai, um dia já é uma eternidade sem você
Um ano é angustiador
As vezes dá vontade de morrer, só pra poder te ver.
BELA CAROL
O meu propósito era te escrever uma linda poesia,
escrevi e reescrevi, apaguei, rasurei muitas vezes,
tornei escrever quase as mesmas coisas, guardei todas as cópias...
definitivamente é difícil descrever em palavras,
é difícil escrever sem olhar nos seus olhos,
Preciso falar, nesse instante falar é bem mais fácil,
entendo que, escrever é destilar belas palavras, criar personagens,
instigar admiração e criar situações imaginárias encantadoras, ou não...
Tenho encontros diários contigo nos meus prensamentos,
sempre um encontro solitário e inventado... mas agradável,
mas na verdade, aguardo silenciosamente... e não vejo a hora!!!
horas a fio, horas vivas e o vazio das horas,
horas extremas, uma ansiosa espera.
Te confesso, o que busco é o presente da sua presença, para ouvir sua voz,
sua risada bem alto, ver seu olhar confiante, construir lembranças, ser necessário, confiável, bom amigo, falar de coisas simples e quem sabe um dia criar afinidades, para te contar minhas historias, umas são até boazinhas...
contar minhas piadas sem graça, encontrar tempo até pra jogar conversa fora.
Carol, creio que, de tudo que tenho a lhe prover, nada lhe falte...
amor, carinho, atenção, dedicação, afeto, apego, ternura, amizade.
Mas das coisas que podemos nos proporcionar, nos falta um Instante de felicidade,
Um encontro com nossas verdades.
Mas se pra você seja um momento inoportuno... sim Carol, vou entender !!!
Contigo, não tenho nenhum direito de ser inconveniente.
Minha Bela filha Carol...
Meu querido, já se passaram 2 meses desde que partiste e tudo ainda está confuso para mim. Estou tentando me adaptar a essa situação. Sinto-me feliz porque sei que teu sofrimento (que não foi pouco) chegou ao fim aqui e estás em um lugar muito melhor. Mas a dor imensa de não ter feito mais por ti aqui fica em meu coração, até o dia em que nos reencontraremos, para que possas me perdoar, pois eu mesmo não me perdoarei tão cedo. E sim, eu sei que agora não adianta lamentar.
Nossa conexão não é apenas desta vida, e espero que Deus me dê a oportunidade de viver muitas outras vidas ao teu lado. Ficarão em mim as memórias desde pequeno, das brincadeiras, piadas, histórias, e de quando compravas aquelas 'balas chitas' para me levar à casa da avó, sempre escolhendo as rochinhas, que eram as que eu mais gostava. Ficará em mim o infinito amor e bondade que tinhas por mim, mesmo com tuas limitações, fazendo o impossível para me dar tudo, sempre buscando meu bem-estar e felicidade.
Prometo encontrar meu caminho, vivendo plenamente para descobrir o verdadeiro propósito, fazer o bem e seguir em frente, para que possas se orgulhar de mim, pois sei que estarás me observando de onde estiveres.
Para sempre meu eterno ídolo e parceiro nesta jornada eterna. Te amo.
Ouça as melodias...
Desde pequeno brincava com seus amiguinhos invisíveis e com eles dividia os poucos brinquedos que possuía, eram de madeira, já os pintara várias vezes, ria alto e como se divertia.
Os pais acabaram se acostumando com essas companhias e achavam que com a idade isso passaria, e, com o correr dos anos os brinquedos foram ficaram de lado, já não recebiam muita atenção.
As conversas com seus amigos imaginários não eram mais tão frequentes, vez ou outra parecia que ele só ouvia e acenava com a cabeça, ora sim ora não.
Já adolescente ficava horas em silencio debaixo da velha goiabeira no meio do quintal.
Lá se achegava, deitava no chão e ficava em silêncio, dava para sentir que ele estava longe dali, bastava atentar para o seu olhar, distante e sereno, todos os dias passava um tempo por lá.
Filho único ajudava a mãe nos afazeres da casa e sempre que ela pedia corria até a mercearia para buscar um pouco de tudo, arroz, feijão, café, açúcar, farinha, naquele tempo quase tudo era vendido a granel, até o óleo era tirado na hora de um latão, o dono, um senhor já com certa idade, girava uma manivela e num instantinho o litro de óleo se enchia, não pagava a conta na hora, tudo era anotado numa caderneta e antes de ir embora, ouvia mais uma vez:
- ô piá, continuas a falar sozinho? E dava risada, não fazia por mal e ele não ligava, nunca se incomodara com as brincadeiras dos poucos amigos da vila.
Ao completar dezoito anos ia para a cidade grande, moraria com tios e precisava arranjar trabalho e, se possível, continuar os estudos.
Chegado o dia, os pais repetiram algumas vezes mais todas as recomendações e quando a mãe com ele estava sozinho, perguntou-lhe – meu filho, nunca falei nada nestes anos todos, com quem você brincava e conversava tanto e depois isso parou e você ficava quieto debaixo da goiabeira?
Segurando entre as mãos o rosto de sua mãe, ambos com olhos marejados, disse:
Minha mãe querida, obrigado por todo amparo e ajuda, aprendi muitas lições, visitei lugares distantes, uns diferentes dos outros, conheci muitos amigos mais, agora, para onde estou indo, por lá já estive, fique tranquila, nunca estarei sozinho, sei que tenho algo a fazer, não sei muito bem o que é, mas estou certo, chegará a hora.
Lembra quando a senhora ficou muito doente e o pai não sabia o que fazer? Meus amigos me tranquilizaram, a senhora ficaria boa e não mais sofreria.
Sei que enfrentarei dificuldades e que a vida não será tão tranquila como a que tive aqui, meus amigos estão me dizendo:
- tenha calma, as viagens cessarão por um tempo, mas continue a ouvir as melodias...
Ana Julia...
Ana Júlia já percebera em seu corpo alguns sinais do tempo, as mulheres são mais atentas, normalmente cuidam-se mais, mas suas mãos evidenciavam o que os afazeres de todos os dias vinham adiando, ter a consciência de que anos se passaram.
Sem saber ainda porque, em plena manhã de domingo, esse olhar mais atento para essa parte de seu corpo fez com que pensasse em como estava sua vida frente aos planos de sua juventude, quando imaginava para si um mundo sem limites e uma certeza de que poderia ser e fazer o que quisesse de sua vida.
Estava só, o esposo e as três filhas, jovens adultas, haviam saído para fazer algumas compras necessárias para uma pequena viagem de fim de semana numa casa de campo cedida por amigos.
Um pouco confusa com essa inquietação aparentemente sem motivo buscou em uma gaveta da cômoda uma delicada caixa de música, cuidadosamente guardada, ainda envolvida em tecido aveludado.
Mesmo sem acionar o mecanismo daquele relicário ouvia a suave música a tocar, lágrimas e uma intensa tristeza a envolveram no mesmo ambiente onde crescera e presenciara a lenta agonia de seu pai, época em que a tuberculose assombrava as famílias.
Nunca o perdoara pela vida boêmia e descuidada que o afetara e também à toda família, só não ficaram sem um teto porque a casa era fruto de herança de sua mãe, que mantinha o básico lavando, passando e costurando roupas para famílias de posse das redondezas, logo que aprendera Ana Julia também participava desse ofício.
O que mais a incomodava naquela época era a postura de sua mãe que, em muitas das noites que passara acordada preocupada com o marido, ficava em oração sem reclamar e de onde se abastecia de toda a energia de que precisava para continuar.
Ana Julia ainda mantinha vivas as lembranças das várias madrugadas quando, acordada e envergonhada, ouvia o pai entoar músicas ininteligíveis, enquanto era uma vez mais carregado pelos amigos da noite casa adentro, com as vestes sujas e cheiro forte de bebida, Ana Julia, observara incontáveis vezes daquele quarto sua mãe, gentil e resignada, o acolher e o acomodar como podia no surrado sofá da sala.
Durante anos e inúmeras noites em que a mesma cena se repetia sua mãe com o passar dos anos adoecera, e, enquanto seu pai estivera vivo, ela, com o que lhe restava de forças, dele cuidava sem reclamar.
Logo após o falecimento de seu pai sua mãe também se despediu de sua vida de entrega e amor, em seu leito Ana Julia a questionara uma única vez, porque permitira tanto sofrimento e humilhação sem reagir ou reclamar, em resposta ouvira, “sempre soube que você esperava uma reação minha, me perdoe, chegará o dia em que você entenderá”.
Ana Julia buscava ainda a compreensão de tanta abnegação, doação e amor em meio à doença, restrições e vergonha ao longo de tantos anos com o consequente afastamento da maioria dos familiares e amigos.
Finda em sua mente a música suave e delicada, com mais atenção olhava para a caixa de música e relia uma frase por seu pai gravada, “Meu amor me perdoe por todo o sofrimento que te causarei”.
Sua mãe fizera uma escolha consciente, sabendo o que enfrentaria na vida ao lado do companheiro que amava.
Iguais à ela quantas pessoas mais possuem essa força que, para quem está de fora observando sem compreender, beira à loucura, à baixa autoestima e ausência de amor-próprio?
Ana Julia, logo após a morte de sua mãe, decidira que não repetiria aquela história e hoje ainda busca a sua resposta, “...chegará o dia em que você entenderá”.
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