Carlos Drumond de Andrade Contagem do Tempo
Há muitas razões para duvidar e uma só para crer.
Tenho apenas duas mãos e o sentimento do mundo.
Nota: Trecho do poema do livro "Sentimento do Mundo", de Carlos Drummond de Andrade.
No adultério há pelo menos três pessoas que se enganam.
Há campeões de tudo, inclusive de perda de campeonatos.
A confiança é ato de fé, e esta dispensa raciocínio.
O cofre do banco contém apenas dinheiro; frusta-se quem pensar que lá encontrará riqueza.
Há livros escritos para evitar espaços vazios na estante.
Não é fácil ter paciência diante dos que a têm em excesso.
A leitura é uma fonte inesgotável de prazer, mas, por incrível que pareça, a quase totalidade não sente esta sede.
O homem vangloria-se de ter imitado o voo das aves com uma complicação técnica que elas dispensam.
Há homens e mulheres que fazem do casamento uma oportunidade de adultério.
Escritor: não somente uma certa maneira especial de ver as coisas, senão também uma impossibilidade de as ver de qualquer outra maneira.
A educação para o sofrimento evitaria senti-lo com relação a casos que não o merecem.
Necessitamos sempre de ambicionar alguma coisa que, alcançada, não nos torna sem ambição.
Nota: Adaptação da frase de O Avesso das Coisas: Aforismos.
Cada nova geração de computadores desmoraliza as antecedentes e seus criadores.
As obras-primas devem ter sido geradas por acaso; a produção voluntária não vai além da mediocridade.
Quem gosta de escrever cartas para os jornais não deve ter namorada.
As academias coroam com igual zelo o talento e a ausência dele.
Convite Triste
Meu amigo, vamos sofrer,
vamos beber, vamos ler jornal,
vamos dizer que a vida é ruim,
meu amigo, vamos sofrer.
Vamos fazer um poema
ou qualquer outra besteira.
Fitar por exemplo uma estrela
por muito tempo, muito tempo
e dar um suspiro fundo
ou qualquer outra besteira.
Vamos beber uísque, vamos
beber cerveja preta e barata,
beber, gritar e morrer,
ou, quem sabe? beber apenas.
Vamos xingar a mulher,
que está envenenando a vida
com seus olhos e suas mãos
e o corpo que tem dois seios
e tem um embigo também.
Meu amigo, vamos xingar
o corpo e tudo que é dele
e que nunca será alma.
Meu amigo, vamos cantar,
vamos chorar de mansinho
e ouvir muita vitrola,
depois embriagados vamos
beber mais outros sequestros
(o olhar obsceno e a mão idiota)
depois vomitar e cair
e dormir.
(Em: Brejo das Almas)
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