Cantiga de Escárnio
CANTIGA DE GALO
Ê, vida, eu ainda gosto muito de ti.
Tanto e mais que de mim, que sou
Remendos sem necessidades
Porque com a mesma roupa
Que me destes eu vou.
Não minto a ti quando digo: amo
Mas não quero repetir eternizado
E passar o tempo pensando em ti.
Estes pensamentos em, só, em mim
Por que a qualquer direção
Eu me ocupo de ti, roçando
As tuas mãos, esclarecidas
Esquecido de ti nos afazeres.
Eu sou eu porque és vida.
Por ti caminho e corto desvios
Nas estradas de ainda
Das quais nada conheço
Que penso carregado
Como estará a vinda
Se algum passo parti
Ou se outros deixei plainados.
Vida, vida, me prendestes um dia
Por um cordão de em mim
Atado, tive dias assim
Conduzido, puxado por ti
E nos meus movimentos
Nos que penso verdadeiro
E nos que bobeei quando podia te alcançar.
Fostes tu vida, com tua didática
E ainda não queres ser
Uma chispa maravilhosa.
Há dias em que o sol
tem cor diferente...
A brisa cheira a flores
Cantiga de amores
Há dias em que tua
voz chega com o vento
Despertando o sonho azul
que dormia calmamente.
Cantiga do pássaro
Que música
ouvirei cantar
aos meus ouvidos?
Quem sabe!
Este canto escondido agora
No amanhecer ensolarado
Somente entre mim e você
Ofereço- te alento
De asas encarceradas
Porém, perenemente feliz
Quando a noite
Seguindo seu destino
Pela madrugada,
Estarei atenta ao som
Supondo que, talvez,
Em outras manhãs
Não cante mais.
Cantiga de caminho
Sou filho de mãe mineira
meu pai é de Minas Gerais
sei rezar latim pro nobis
sou primo do preto Brás
Sou filho de pai mineiro
mamãe é de Minas Gerais
vou vivendo como vivo
faço o que ninguém mais faz
Desde menino eu misturo
o antes, o agora e o depois
sei somar zero com zero
e ainda divido por dois
Desde menino eu misturo
o antes, o agora e o depois
sempre que posso eu passo
o carro à frente dos bois
Sou filho de pai mineiro
mamãe é de Minas Gerais
sou rosa e pedra no caminho
sou capaz de guerra e paz
Sou filho de mãe mineira
meu pai é de Minas Gerais
dou volta e meia no mundo
e o mundo não acaba mais
amar é um deserto
é um vale de temores,
amar é uma cantiga de ninar
amar é a magia do natal
amar é mistério,
nunca conseguiremos saber o que tem por trás do amor,
o amor é denso
como o mar,
nunca acaba
nunca tem fim,
amar é doloroso as vezes,
e as vezes penso
que quem sabe amar
sabe viver.
[UMA CANTIGA E SUA PEREGRINAÇÃO POR UM MUNDO DE NOVAS ESCUTAS]
A poesia - diante da possibilidade de ser utilizada como fonte histórica reveladora de discursos, informações concretas e expectativas humanas de todos os tipos - deve ser vista como um veículo de expressão e comunicação que, independentemente das intenções de seu autor, pode conter uma pluralidade de sentidos. Para que um novo sentido se desprenda de um poema ou de uma cantiga,é por vezes bastante que a desloquemos no tempo ou no espaço, que mudemos o seu público ou o trovador ou poeta que a enuncia, que a voltemos contra um novo alvo.
Em sua peregrinação por um mundo em permanente transformação, um verso se transfigura a cada instante, a cada leitura e a cada audição. Para compreender isto, é preciso perceber a leitura e a audição como práticas criadoras.O mundo transfigura o poema porque se transfiguram os olhares e os ouvidos que para ele se voltam, e também porque este poema é inserido em novas práticas, é recriado mesmo a partir destas novas práticas.
O encantador paradoxo da poesia está em que esta transmutação se
opera sem que a forma sequer se altere. Enquanto uma narrativa que é trans
mitida por via oral sofre múltiplas interferências, interpolações, reorganizações do discurso– dada a própria natureza do discurso narrativo –, a poesia, mais ainda a cantiga, está aprisionada dentro de uma grade versificatória, de um ritmo, de um jogo combinatório de sonoridades. Não é possível alterar uma palavra, na sua dimensão material, sem que a estrutura poética desmorone. É isto o que assegura, aliás, a passagem de uma poesia através do tempo em toda a sua integridade material.
No entanto, este poema aprisionado em uma grade versificatória, esta cantiga encerrada em uma estrutura melódica, exercem espetacularmente
toda a sua liberdade. Sem mudar uma única palavra, trazem à tona mil novos
sentidos a cada novo contexto de enunciação. A grade de versos e ritmos não é para eles um túmulo, nem a estrutura melódica é para eles um cárcere. É antes um meio de libertação, que os permite incólumes atravessar todos os
tempos. Já se disse que “um livro muda pelo fato de não mudar enquanto o
mundo muda”. Ainda com mais propriedade podemos considerar isto para o poema, este gênero de discurso que, mesmo quando transmitido basicamente pela oralidade – meio transfigurador por natureza – conserva-se a si mesmo sendo já um “outro”. A estrutura singular do discurso poético lhe dá uma imunidade material, ao mesmo tempo em que de fato não o aprisiona, sobretudo em virtude da natureza fluida da linguagem poética
[trecho do artigo 'A Poesia como Arma de Combate - um estudo sobre as múltiplas reapropriações de uma cantiga medieval-ibérica", Revista Letras (UFPR), vol.90, p.41-42, 2014].
Quer ver você cantar
Coral:
Essa cantiga é pro nego vadiar/ canto ligeiro quero você cantar.
Nego balança pula aqui, pula acolá/ se não pode com rasteira, não levanta o pé pra ar.
Coral
Eu vou me embora, não sei quando vou voltar/ voltar do mundo, na volta que o mundo dar.
Coral
Balança nego quando a viola chorar, chora viola, quando o nego balançar.
Coral
Canto ligeiro, canta ai pra povo ver, você e eu, tu e eu, eu e vc.
Coral.
Sandro Capoeira
#CANTIGA
Cenas retratam flagrantes da vida...
Tecendo o tempo...
Desatinos vão se completando...
E assim vamos seguindo...
Ano após ano...
Em olhar meio de lado...
Vez ou outra escuto no bar...
Papo furado...
E com esse enredo...
Cheio de cantos...
Sem culpa e sem arrependimento...
Apenas...
Vivendo...
Da insônia madrugada a fora...
Entre um copo e outro...
Vou jogando conversa fora...
Em tudo que aspiro...
O nada vai levar a nada...
Amanhã, talvez...
Possa esquecer alguma história mau contada...
Sem hora marcada...
Sei que tenho que voltar logo para casa...
Os abraços recebidos...
Nem de todos amigos...
Completaram a lacuna vazia ?
Entoaram alguma cantiga?
Fantasio e invento absurdos...
No que não existe faço acontecer...
Entre bocas ocas...
A conversa fiada me rende...
Sob a lua cheia...
Já tonto...
Me finjo acreditar que isso é viver...
Sandro Paschoal Nogueira
Pestana (Cantiga de Ninar)
-
Venha se juntar ao lado meu.
Quero conhecer o seu melhor.
Faça de conta que sou eu.
Aquele pedacinho de cipó.
Que te levará pra passear.
Na nossa floresta de algodão.
Perto do riacho de morango.
Com cobertura de limão.
Chame o passarinho lá do céu.
Convide o macaco pra dançar.
Vamos dividir os pirulitos.
Com nosso amigo tamanduá.
Só deixe as formigas pra depois.
Por que elas são muito gulosas.
Vão comer todo o chocolate.
Não sobrará nada pra minhoca.
Pegue o pedaçinho de cipó.
Está na hora de voltar pra casa.
O João Pestana já chegou.
Amanha é dia de escola.
Bento.
Quando a chuva trouxer a solidão,
junto a ela faça uma cantiga,
mesmo num dueto sem afinação
e que seja saudosa, até antiga
Assim lavando a sua alma
em horas de muita paz,
sua mente ficará em plena calma
junto à meditação que a chuva traz
Meu corpo contorce no ritmo da cantiga, percebo meus dedos esfarelar e virar pó, meu rosto é um oco sem fim, eu não tenho nome, sou apenas uma parte deste mundo sem voz, partículas do meu ser são grandes constelações, estou lá e cá, sou a insignificância de uma pedra na altura atmosférica, sou o canto do bosque, tenho fome de sede e sede de fome, vivência enganosa, cá sem querer, querer sem poder, apenas respirando, nas profundezas do meu ser, sem salvamento e sem esperança, só quero me libertar e voar tão alto onde sei que posso chegar, viver conturbadamente viva.
Cantiga do Ódio
O amor de guardar ódios
agrada ao meu coração,
se o ódio guardar o amor
de servir a servidão.
Há-de sentir o meu ódio
quem o meu ódio mereça:
ó vida, cega-me os olhos
se não cumprir a promessa.
E venha a morte depois
fria como a luz dos astros:
que nos importa morrer
se não morrermos de rastros?
Mãe
Mãe é mão estendida por entre o tempo.
Cantiga que ressoa no ir e vir do percurso.
Acalanto que fica na vivência erguida.
Braço estendido para além do sim e do não.
Embora se cresça em tamanho e fazeres,
Mãe é farta em entremear escolhas,
Deixando-nos o amar sem punição,
Que nos faz ser em cada acolhida.
Mãe é terra que em nós frutifica,
Tornando-nos sementes de superação.
É voz que fica na memória sentida,
Tramada de ternura no balbuciar da vida.
Mãe é ventre que embala o que nasce.
Que do pão se reparte mesmo que falte,
Como fermento de amor que sempre fica.
Mãe é palavra maior, que se entrelaça no coração.
Cantiga para Sandra
Hoje a minha amiga Sandra nos deixou subitamente, ceifada pelo mal que aterroriza o planeta.
Voou com a altivez, a maestria e a elegância que lhe eram peculiares, a um plano que até então desconhecemos. E está em paz. E está sem dor alguma. Livre das mazelas e das coisas tristes desse mundo ainda tão incerto.
Sandra, de onde estiver agora, continuará atenta e zelosa ao seu grande e único real companheiro de vida, meu amigo-irmão Claudemir, sempre cuidadosa em absolutamente tudo, e com quem edificou uma história linda, numa casa linda, abençoada por companheirismo e crescimento mútuo. Sandra era aguerrida, destemida, corajosa ao máximo dos níveis.
Sandra vai zelar, com olhos de leoa, por cada mínimo detalhe de sua princesa Helena, seu amor maior e incondicional, agora e para sempre. Sandra vai acompanhar as atividades da escola; a adolescência de Helena que já se inicia; as conquistas, as paixões futuras; a carreira profissional que está fadada ao brilhantismo certo; as frustrações eventuais do dia-a-dia e as superações vitoriosas de sua filhota. Porque Sandra a ensinou a curiosidade, a busca do mais nobre conhecimento, a resiliência, a temperança e a coragem. E porque a Sandra continua aqui conosco - só que Sandra agora é invisível.
Sei que a prova - incontestável, aliás - de que a Sandra vive para sempre não está na bioquímica somente. Sandra é um legado indelével. Uma bela e inesquecível história de momentos desfrutados pelos tantos que tiveram a honra de estar em sua companhia; uma história resumida em sorrisos francos, generosos, típicos dos corações mais nobres.
Sentiremos sua falta em todos os dias de nossas existências.
Foi-se uma grande dama.
(em 27/03/2021)
Cantiga para Viviane
O que dizer daquela que destrona impérios e desacata o tirano mais perverso? Que enfrenta desafios com a altivez e a irretocável elegância da verdadeira dama? Que não perde a perspicácia, emudecendo hipócritas sofistas?
Viviane hoje faz aniversário. Mais um ano enfrentado com coragem e com a audácia da mulher que vive intensamente cada mínimo segundo, permitindo que a natureza seja mais bonita, e que a cidade tenha mais felicidade, e que a esperança não nos abandone nunca.
Segue em seu caminho como a mãe mais amorosa, a executiva mais comprometida e a mulher mais fantástica - e mais deliciosa - que um homem algum dia possa já ter tido em sua vida de pequenas trivialidades, desfrutando de incomparável companhia, de odor inebriante e de um sorriso único, rascante, devastador. E homem nenhum no mundo sobrevive a tão peculiar encantamento...
Essa moça delendou Cartago; essa moça derrubou muros de Tróia. Viviane não se queima com o sol, porque ela própria inventou o sol dos dias e a poesia das noites. Viviane não corre da chuva, porque sabe que a chuva brinda e abençoa o seu espírito que é pura devoção e alegria.
E assim o tempo passa, e todos os dias lhe pertencem. Viviane é una. Viviane é a mulher mais incrível e a mais amada desse mundo - e dos outros mundos todos. A amiga para a eternidade. O consolo de nossas alminhas que têm tanto a aprender com ela.
Viviane é a vida em estado puro.
(Andre R. Costa Oliveira, em 04/2021)
Ouça minha oração que se fez cantiga, canção para cantar, se Deus aceitar cantiga, minha oração Deus, não perderá jamais, e, minha oração, por mais repetitiva que seja, é uma só: Que Deus proteja sempre esse amor de mãe & filha. Porque eu sei que é Ele quem está acima de todas as coisas, então com propriedade posso recorrer a Ele quando meus anseios de te proteger fogem do que eu posso fazer. Que Ele proteja seus passos, todos eles, independente de onde eles estejam te levando, mesmo que os caminhos sejam difíceis, que Ele esteja ali, ao seu lado de vocês. Que Ele interceda quando qualquer mal ousar chegar próximo de vocês, das pessoas que vocês amam e de todos os que te querem bem, que o mal não se propague jamais e se conseguir chegar, que se purifique com coisas boas antes de adentrar teu coração. Que Deus possa soprar em seus ouvidos somente o que lhe for certo, justo, honesto, que aos teus ouvidos cheguem apenas o som de uma melodia pura, transbordando verdade. Eu oro a Deus para que despreocupe teu coração e te faça dormir todos os dias com a certeza de que seu caminho deve ser o que você segue desde o princípio e que ao acordar você possa ter discernimento de que se houverem males ao longo dos dias, Ele já depositou a ti sabedoria para desviar e vencer todas as adversidades do mundo. Em minhas orações, eu peço para que Ele cubram vocês com sua destra fiel para que vocês nunca se sintam desprotegidas. É esse amor que eu quero que vocês recebam, não só de mim, mas de todos. Porque é esse o que vocês me entregam. O seguro, o honesto, o sem maldade ou qualquer coisa que ouse nos machucar. Que Deus protejam sempre vocês, e façam vocês compreenderem o quanto nos faz bem te querer bem.
OUTRA CANTIGA DE CIRANDAR
Fui à Espanha
Buscar meu chapéu
Azul e branco
Da cor daquele céu.
Mas na Espanha
Não encontrei ninguém
Que dissesse onde estava
O chapéu do meu neném.
Olha palma, palma, palma.
Olha pé, pé, pé.
Olha roda, roda, roda,
Caranguejo peixe é.
Bati palma, palma, palma,
Finquei pé, pé, pé.
Dancei roda, fiz ciranda,
Para ver meu bem me quer.
Samba, crioula,
Que vem da Bahia,
Pega a criança
E joga na bacia.
Mas tem cuidado
E carinho com meu bem.
Ele é o meu amado
E outro igual ele não tem.
Nara Minervino
SAUDADES DELA-04/2020 - João Nunes Ventura-04/2020
É na cantiga do cantador violeiro
Que recordo o meu amor primeiro
Na sombra amiga dos coqueirais,
E é no compasso do meu coração
Que escuto os acordes da canção
Saudades dos meus dias de rapaz.
( 012 )
CANTIGA PARA LIANA
Jenário de Fátima
Um riso infinitamente puro,
Na mais perfeita obra de Deus fez.
Como o sol que cortando o escuro
Vem clareando a terra em alva tez
Você é qual a estrela sobre o muro
Que mesmo em tão distante pequenez.
Tem um pulsar constante mas seguro
Igual o amor que vence a insensatez.
Ó pequetita e doce LIANA
Que vida que lhe chega venha plana
E sempre seja tépido o seu ninho
E que lhe cubra de força e coragem
Pra superar agruras da viagem
Que está no marco zero do caminho.
Jenário de Fátima
- Relacionados
- Poemas de amor
- Poemas Cantiga de Amor