Frases de Caio Fernando Abreu

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Que meus olhos saibam continuar se alargando sempre.

Veja, os meus cabelos estão molhados, caminhei horas pela chuva querendo e não querendo procurar você.

Nós nos inventamos um ao outro porque éramos tudo o que precisávamos para continuar vivendo.

Me pergunto sempre se você não teceu em volta de mim uma porção de coisas irreais, esperando a minha volta como quem espera a salvação.

Nem é você que eu espero, já te falei. Aquele um vai entrar um dia talvez por essa mesma porta, sem avisar.

Claro, o dia de amanhã cuidará do dia de amanhã e tudo chegará no tempo exato. Mas e o dia de hoje? É agora que quero dividir maçãs, achar o fim do arco-íris, pisar sobre estrelas e acordar serena. Se é para pular, que seja já. porque hoje é hoje; e amanhã, amanhã ninguém sabe.

Com a ponta do dedo indicador, então, sobre a vidraça embaçada, você risca um traço, aparentemente à toa. Como na infância, nos dias de tempestade. Depois você desenha outro, e outro.

Ando com uma felicidade doida, consciente do fugaz, do frágil.

O tempo existe, Pimentinha, e passa, leva no arrastão as coisas, e as pessoas que não morrem: ficam encantadas.

Olhe firme no meu olho, me encara fundo.

Ela explicava, sorrindo - um sorriso diferente dos que costumava sorrir: - Não, gurizinho. Quando a gente gosta mesmo duma pessoa, a gente faz essas coisas.

Eu retribuo o sorriso. Eu correspondo ao abraço. Eu digo sim. Eu quero sim. Eu sinto sins. Só porque estou vivo.

Teu olho bate em mim e logo se desvia, como se em minhas pupilas houvesse uma faca, uma pedra, um gume.

Eu acho então que se escrever te dá um sentido para estar viva (ou a ilusão de um sentido, que importa?), então vai e escreve e diz tudo e rasga o coração, as vísceras expõe tudo, grita, esperneia - no papel.

E vou dizendo lento, como quem tem medo de quebrar a rija perfeição das coisas, e vou dizendo leve, então, no teu ouvido duro, na tua alma fria, e vou dizendo leve, e vou dizendo longo sem pausa - gosto muito de você.

Subi correndo no primeiro bonde, sem esperar que parasse, sem saber para onde ia. Meu caminho, pensei confuso, meu caminho não cabe nos trilhos de um bonde.

Andei pensando coisas. O que é raro, dirão os irônicos. Ou "o que foi?" - perguntariam os complacentes. Para estes últimos, quem sabe, escrevo. E repito: andei pensando coisas sobre amor, essa palavra sagrada.

Projeções: e amanhã, e depois? E trabalho, amor, moradia? O que vai acontecer?

O que invento me ultrapassa sempre. E tem asas.

Te quero imensamente bem, fico pensando se dizendo assim, quem sabe, de repente você até acredita. Acredite.