Frases de Caio Fernando Abreu

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Escrever é enfiar um dedo na garganta. Depois, claro, você peneira essa gosma, amolda-a, transforma. Pode sair até uma flor. Pode sair até uma flor. Mas o momento decisivo é o dedo na garganta.

Não sei o que faço, onde fico: tenho muito medo, mas confio em Deus. E apesar do meu medo há em mim uma paz enorme que eu chamo de felicidade.

Penso sempre que um dia a gente vai se encontrar de novo, e que então tudo vai ser mais claro, que não vai mais haver medo nem coisas falsas.

Eu sempre tive essa preocupação idiota de dizer apenas coisas que não ferissem.

Gosto sempre do mistério, mas gosto mais da verdade.

Não adianta. Eu não vou chorar, não vou sofrer, não vou te ligar! Eu te amo, mas também me canso.

Para atravessar agosto ter um amor seria importante, mas se você não conseguiu, se a vida não deu, ou ele partiu – sem o menor pudor, invente um.

Caio Fernando Abreu
Pequenas epifanias. Rio de Janeiro: Agir, 2006.

Nota: Trecho da crônica Sugestões para atravessar agosto, publicada originalmente no jornal "O Estado de S. Paulo", em 6 de agosto de 1999.

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Amanhã é outro dia, aprendi isso ontem.

Dói muito, mas eu não vou parar. A minha não-desistência é o que de melhor posso oferecer a você e a mim neste momento.

Caio Fernando Abreu
ABREU, C. F. Pequenas Epifanias. Rio de Janeiro: Agir. 2006.

O tempo é que mostra o que realmente valeu a pena, o tempo nos ensina a esperar, o tempo apaga o efêmero e acaba com a dúvida.

De alguma forma, todos os dias alguém bate à nossa porta e nos convida a desistir.

- Às vezes sinto falta de mim.
- Eu também, menina.
- Sente falta de si?
- Não, de você. E dói.
[Silêncio]
- Me abraça?
- Sempre!

Eu estou vivendo uma coisa muito boa. Aquela coisa que a gente suspeita que nunca vai acontecer. Aconteceu.

Sossega, o que vai acontecer, acontecerá.

Acordar na manhã seguinte com gosto de corrimão de escada na boca: mais frustração que ressaca, desgosto generalizado que aspirina alguma cura.

Mas ela gosta de colecionar segredos. Coisas grandes, que ela guarda dentro de uma caixinha. É doce, doce, extremamente doce, tão doce. E ela fica ali, mastigando alegrias.

Vai passar, tu sabes que vai passar. Talvez não amanhã, mas dentro de uma semana, um mês ou dois, quem sabe?

Ah, meu amor, meu peito ainda bate pela certeza - meio incerta - de que um dia tudo passa.

A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, dói demais. Mas passa.

- Você está cheio de memórias (…)
- Eu sei. Às vezes acho que não vou esquecer. Mas está passando. Vai passar, vai passar.