Solidariedade com comida
Não existe outra via para a solidariedade humana senão a procura e o respeito da dignidade individual.
Nunca compreendi a solidariedade. Aceitei-a como artigo de fé tradicional. Se tivéssemos coragem de a afastar completamente, livrar-nos-íamos do peso que incomoda a nossa personalidade.
Para quem tem uma boa posição social,
falar de comida é coisa baixa.
É compreensível: eles já comeram.
Com o dinheiro podemos comprar muitas coisas, mas não o essencial para nós. Proporciona-nos comida, mas não apetite; remédios, mas não saúde; dias alegres, mas não a felicidade.
A maior vantagem da comida macrobiótica é que, por mais que você coma, por mais que encha o estômago, está sempre perfeitamente subalimentado.
Entendo que solidariedade é enxergar no próximo as lágrimas nunca choradas e as angústias nunca verbalizadas.
Suprimamos as tarifas, e assim será declarada a aliança dos povos, reconhecida a sua solidariedade e proclamada a sua igualdade.
O Bicho
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
As feridas da alma nunca são curadas com sexo, comida ou poder, e sim com carinho, atenção e paz.
Se temos de esperar,
que seja para colher a semente boa
que lançamos hoje no solo da vida.
Se for para semear,
então que seja para produzir
milhões de sorrisos,
de solidariedade e amizade.