"A troca da Roda" Bertolt Brecht
De quando as tardes eram domingos
O fim de tarde traz os versos de mais um adeus,
até que chegue a hora do último.
Mas,
isto não é o início do fim,
Mas,
o fim de um novo começo,
pois para que ter a tola ideia
de que um dia tudo acaba,
se esse pensamento é tão ruim?
Os caminhos cruzaram
nossas histórias e,
cada vida,
um livro que se escreve
com as lembranças
e a memória,
se encheu de mais palavras
e o horizonte se alargou.
Experiências.
As conversas demoradas,
acompanhadas d'um
bom café quente.
Frases mal elaboradas
que o riso descontraído
o trabalho alegrou.
E viva a vida.
E viva o dia.
Pois ainda que
chegue a hora
do adeus
nunca é tarde
para um novo começo.
E no embalo
destes versos
enfim,
por mim,
eu me despeço.
Criticidade
Aos tolos e iletrados
Falsos leitores de poesias
Julgam-se interpretes inatos
Na sua horrenda analogia.
As artes nascem de esforços hercúleos
Da solidão à perseverança
Engaiolada num verão de janeiro
Desabrocha a criação.
Muitas vezes vivo o que escrevo
Momentos que trago à clausura
Outras vezes do nada sai o pensamento
São palavras que se amoldam com formosura.
Os asnáticos nunca saberão
O que escrevo é somente à minha interpretação
O que eles leem...
Não é mais a minha poesia.
Voltar com a ex é a mesma coisa que colocar água no shampoo quando ele está acabando. Pode até dar certo, mas nunca vai ser como era antes.
Dias de chuva
O brilho dum céu
azul celeste
traz a prece
da redenção.
Uma garoa fina
lava a grama
e faz do verde
a lama que
quer pedir
perdão.
Cada gota
de chuva
cai como
confissão
e pesa
culpa sobre
a minha
cabeça.
Rezo,
portanto,
pela expiação
das minhas
falhas e que
minhas faltas
não sejam
a prova exposta
daquilo que
nem sei.
Essa não é a sua vida
Roubar
Subtrair uma parte qualquer
Da metade do que não é nada
A não ser um pedaço qualquer
De alguém
Matar
Subitamente apagar dessa vida
Um pedaço que é nada mais
Que uma parte qualquer
Da metade do que não é nada
A não ser um pedaço qualquer
De alguém
Viver
Repetir todo o dia a tarefa
De ser um a mais
Uma parte qualquer da metade
Do que não é nada a não ser
Alguém
Morrer
Simplesmente sair dessa vida
E deixar para sempre de ser
Um a mais e de ser
Uma parte qualquer da metade
Do que não é nada
A não ser
Alguém
...
Sentir
Sente-se que a metade
De vinte por cento
Dos vinte milhões de mulheres
No mundo
Não sentem nenhum prazer
Saber
Sabe-se que o total das pessoas
Que sabem o que é o amor
É igual a metade
Dos que já não sabem
O que é amar
Falar
Fala-se que só metade
Dos homens que sabem falar
Realmente não falam aquilo
Que sentem e falam
Pensar
Pensa-se que uma parte
Daqueles que pensam
É só a metade dos vinte por cento
Que pensam naquilo
Que é bom para si
Se estou por cima, não vou desprezar os que estão logo abaixo, pois quem sabe um dia estarei abaixo deles.
Em nosso tempo atual é urgente deixar de semear a culpa e passar a semear a consciência. A primeira paraliza, diminui a auto-estima e deixa o ser infeliz. A segunda realiza, dá um sentido para vida e deixar o ser feliz.
Lógica do louco
Vem..., louco
Atraído pela ira dos desencantos
Em pele de cordeiro
Voz doce
Sonhos a realizar.
Vem..., louco
Amaciando a vítima
Encorajando-a com malícia
Desconcertando o enredo
Espreitando na contramão.
Vem louco, nas suas diferentes formas,
Surpreender com a sua metamorfose
Com sua opaca e colorida aparência,
Tentar através da fresa
Enviar um friso da sua maldita luz.
Vem...
Mais uma vez como veludo,
Emerge do seu submundo com a sua maleficência
A repousar no colo amigo
O seu mundo hostil.
"Me chamem de louco....
Prefiro enxergar de forma clara a minha loucura,
Do que estar cego na sua falsa sanidade!"
Tinha tudo e nada. Felicidade e castigo. Paraíso e inferno. O extremo disso tudo está além. Não tem rotas. Apenas acontece. Não dá para abraçar o que está íntimo e ao mesmo tempo distante. Nessa imensa e inóspita vida, somos gigantes e marionetes ao mesmo tempo.
'VOCÊ'
Tão desconhecida
Mas que existe aqui
Aqui próximo
A latitude pouco importa
O importante é que existe
E pode se tornar extensa
Tão extensa que...
Desconhecida será pretérito
Antes de sair a caminho do primeiro que te faça rir,
lembre-se primeiro de agradecer o carinho de quem chora por você!
'PAREDES'
As paredes dizem muitas coisas.
São olhos que rodeiam.
Algumas parecem falar.
Presenciam.
Quando mudamos e elas ficam,
um pedaço fica ali.
Gravado.
Cada parede é um retrato
que tanto presenciou.
E quando se tem uma ligação íntima,
elas fazem parte.
É um velho amigo de infância.
Tantas lembranças vêm.
Algumas estão intactas.
Vigorosas.
Outras caíram.
Rachaduras perceptíveis
quando mal construídas.
Tantas escondem suas vulnerabilidades com tintas.
Têm aquele esplendor aparente,
mas por dentro, apenas resíduos.
Poucos não a percebem.
Ali. Parada. Muda.
O essencial é saber que,
elas permanecem vivas.
Com suas particularidades.
Fazendo parte das nossas vidas.
A maioria delas, sem importância.
'AMOR INDULGENTE'
Quisera descrever o Amor na sua maior extensão. Amor que outrora faz-se tenro. Novo nos corações que suplicam um caminhar aquém.
Ver-se tanta admiração nos equívocos do Amor, que o próprio Amor, deixa de ser peculiar. E vai se transformando nessa dimensão sem precedentes. Ora opaco. Ora lúcido. Sem dissensão. Mas que deixa rastro. Uma trilha que, sem a qual, não se teria muito de significado.
Tantos minutos deteriorados na tentativa de abraçá-lo e outros para deixá-lo ausente. Quando próximo, quis-se distância. Quando distante, quis-se imediato.
Eu te ovaciono. Não pelo que fazes, mas pela autenticidade da tua essência. De estar presente mesmo na ausência. Do poder transformador de dá compreensão ao que no fundo, nunca se compreendeu. O mais admirado e extenso das abstrações que se faz presente. Que esse mundo de confusão te admita e te segure no ombro.
'QUERER'
Queremos tantas coisas. Mas apenas uma é relevante. Custa-nos descobrir o que realmente é. Tem descobertas que assolam. É conveniente guardarmos a sete chaves, pois, pouco importa extravasarmos o que nos pertence. O contíguo sufoca.
Quisera termos a ingenuidade dos loucos. Sim. Desses que não se importam com a chuva e o sol. Temos mundos diferentes, porém, a direção é a mesma. E seguimos... sem saber o que realmente queremos. Sabemos, mas fingimos com habilidade. Que nosso eu extravase. Que sufoque. É isso que nos deixa parcialmente vivos: o querer que inquieta e o extenso caminho a prosseguir.
'PARÁGRAFOS'
Às vezes acordo na madruga e
ponho-me a pensar sobre o universo.
O meu universo.
Tão fechado.
Tão inóspito.
Aos meus tímpanos barulhos vários
e à minha inquietude o frio matinal.
Sou levado a filmes que
repetidas vezes já o assisti.
A melancolia e o desespero assombra-me.
Encoraja-me.
Olho para o reflexo embaçado no espelho.
Penso: já não sou o mesmo do café da manhã de ontem.
A cama há muito está vazia, exceto por uma sombra
que durante décadas não se achou.
Encontra-se perdida.
É uma alma penada com decreto temporário.
Aprisionada.
Não a prisão destinada aos malfeitores.
Quisera fosse.
É a prisão do inacabado.
Do incômodo.
Do inconformismo.
'CORAÇÃO?...'
Meu Coração
Sem Cor
Sem Ação
Mórbido
Diluído
Com presságios
Sem canções
Que não me levam
Olhar inerte
já cansado
Sem Reflexo
Que não é sábio
Que vive
Que não vive
Quebrado
'ELA'
A conheci. Foi assim que aconteceu.
Não tínhamos a chama que abrasa.
Tampouco a sensação que estarrece.
Olhares que não se atraem.
Invólucro que aquece.
A incidência diria que ela não iria fazer parte.
Destino insignificante e controverso.
Escória dos que esperam.
Foi assim que ela se apresentara.
Não perguntou se eu desejara ou se tinha remorsos.
Ficamos amigos. Não tinha outra saída a não ser
fingir-lhes amigos de sangue.
Nesses entraves, pouco lembro-me dela.
Gostaria de lembrar mais vezes, tê-la em meus
pensamentos com afinco, ultrapassar a mera visão
de mortal que és. Tê-la sôfrega aos desejos que aspiro.
Resultado do inesperado, ela representa pouco.
O pouco que imortaliza. Temos um pedaço em comum
que mais atraí que repulsa.
É isso que faz a heterogeneidade da vida.
A vida que não pedi, mas que agradeço.
Tenho aprendido tanto que, se me perguntarem quem sou, digo que não me conheço. Sou metade humano, outra metade tropeços.