"A troca da Roda" Bertolt Brecht

Cerca de 49226 frases e pensamentos para a busca por "A troca da Roda" Bertolt Brecht;

E POR FALAR EM PAIXÃO...

E por falar em paixão,
onde anda você, namorado
da lua? Abra já o teu coração
ao orrfeu negro e o bem amado,
na tonga da milonga do kabuletê
desponte pelos caminhos da vida,
veja muito fogo na terra prometida,
o pato na água de beber e catendê.

Ressuscite agora Vinicius!
No epitáfio chega de saudade
renasça para os nossos delírios
e venha com toda versatilidade
só para viver um grande amor,
na forma e exegese do coração
faça novos poemas em devoção
ao lamento do teu mergulhador.

Poeta! apareça hoje para reviver
essa tua aquarela na instância
de Ariana, a carioca mulher,
e no caminho para a distância
faça canções, sonetos e baladas,
uma modinha na tarde em Itapoã,
com as cinco elegias da manhã
e poemas esparsos às amadas.

Ressurja em versos trovador!
Contemple nossas cores de abril
da pátria minha, reveja o amor
pela luz dos olhos teus de anil
e saiba que a felicidade existe
dentro da regra três e como dizia
o poeta à garota de Ipanema: sorria,
mas veja você que tudo é tão triste.

Venha sem medo vate! Sei lá,
eis que a vida tem sempre razão,
porém, Tatamirô o aguarda por cá
para cantar o samba da bênção,
banha-te na água da lagoa negra
lá no rancho das namoradas,
cante a ternura, tristeza e baladas,
insensatez na ária da pedra preta.

Desperte ao raiar do dia o amor,
deixa acontecer o teleco-teco
no dia da criação e deposite a flor
desse testamento no teu boteco.
O nosso relógio aqui não para,
é de gente humilde por simpatia,
e a morena flor, formosa, seria
a tua rosa de Hiroshima rara.

Ecloda teus versos poetinha!
É preciso dizer adeus e vir
no samba do avião, caminha
pela estrada branca a reluzir
e na balada da flor da terra,
eleva-te como a estrela polar
no tempo feliz ainda a brilhar
ao sol da alegre primavera.

Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019

Inserida por Garfield789

AS TRÊS LÁGRIMAS

Jazia o Rei da Glória em trono excelso,
quando Gabriel, o bel arcanjo reluzente,
apresentando-se qual pássaro fulgente,
ao júbilo de hosanas à Sua face louvou:
– Bendito seja, Criador eterno!, cá estou
a clamar em prol dos seres do Universo:

– na Terra, nato da cepa real e excelente,
geraste o varão a imperar por primazia,
ficando à mera sorte a fauna e alimária,
e sob essa égide ingrata, infame e cruel,
mamíferos, peixes, répteis, aves do céu,
fadados à morte, tornaram no excedente

do cerne sagrado e emanados à vileza?
– Eis que no homem não há a percepção
da natureza divina estampada à criação;
mas a beleza cristalina doada ao animal,
revela-lhe na estirpe toda graça celestial,
invejável encanto a exibir sua grandeza!

– Comparando-os, óh Deus, iremos notar
a magnífica placidez da casta soberana,
e semelhantes às divindades do Nirvana
são eles, mais nobres, dóceis e singelos
do que os monarcas ilhados em castelos!
– Vede a candura dos inferiores a suplicar?

– Pai! Elevaste os seres feros e racionais,
dignos à Vossa Imagem e Semelhança,
e por sábia razão mudaste tal bonança
doada no início aos bichos por ventura,
fixados no paraíso como belas criaturas,
a serem depois presas de seres bestiais?

Deus do magno trono ao arcanjo ajuizou:
– Bem aventurado és, ó iluminado Gabriel!
– Criei mistérios no avejão da Gaia e céu:
saibas que o homem alteia-se e destrói,
mas só o amor vive, permeia e constrói;
assim ele foi levado à senda que optou.

– A ciência do mal escolheu como guarida,
arvorando o livre-arbítrio em seu destino,
destilou na sua essência o sêmen ferino
da serpe, sabor venal e estigma maldito,
a cicuta da ambição e pólen do anticristo
levou à boca, fruto fatal do néctar suicida.

– O homem, resumiu-se no gérmen animal,
cobriu-se com a capa infernal de malícia,
ódios e guerras para revelar sua infâmia,
esteio de pecados, rude cepa e maldade;
sob o manto da cobiça e grada crueldade
tornou-se ente vil, transcendido e mortal.

– Mas aos irracionais foi-lhes dada beleza
invejável a florescer na serena inocência,
assim foram redimidos em magnificência!
– No entanto, o ser humano e sua geração,
para que torne à bela e primaz condição
deverá mirar-se no ente de real nobreza!

– E tu Gabriel, como arauto do céu, levarás
à esfera inferior o édito de luz e redenção,
pois sem a fé e caridade não há salvação
no advento de doação, amor e liberdade!
Paz na Terra aos homens de boa vontade!,
Essa é a notícia de boas novas que dirás.

– Eis que lhes envio o imaculado Cordeiro,
símbolo da justiça e templo de humildade,
levará fogo e cisão à Terra pela verdade;
será sacrificado primeiro na baixa esfera,
seu reinado suscitará uma grande guerra,
todos hão de se ajoelhar ao meu herdeiro!

Saindo diante da excelsa face do Eterno
o arcanjo Gabriel veio à esfera humana,
ditou o divino édito e na tosca choupana
refulgia a magnífica estrela de imane luz,
emergia ali o ingente diamante que reluz
o trono da nova era: paz e amor superno.

Trinta e três anos depois, na atroz colina,
com trevas, coriscos, trovões e vendaval,
o supremo sacrifício se consumou brutal;
naquele árduo momento na sinistra cruz,
eis que fluíram dos olhos puros de Jesus
três lágrimas tão imaculadas e cristalinas:

A primeira, ali rolou solta pelo pelourinho
por amor e aflição aos súplices animais;
A segunda, ele a verteu com seu sangue
por agonia e compaixão aos seus iguais;
E a terceira, o vento a carregou mui longe,
indo cair na gaiola dum triste passarinho!

Do seu Livro "Cascata de Versos" - 201

Inserida por Garfield789

HOJE RADIANTE ESPEREI ESSA FELICIDADE DENTRO DE MIM
Fiquei muito apreensivo de que o amor raiasse assim num redemoinho sem fim

HOJE...
ao abrolhar de um novo dia,
despertei com ótimas notícias:
me avisaram que o amor surgiria
repentino, com acalantos e carícias
para ofertar...

Fiquei muito
RADIANTE...
preparei-me para o acolher;
com grande capricho e poesia
reguei meu jardim com o prazer
de sorrir, bailar e cantar de alegria
para extasiar...

Apreensivo
ESPEREI...
que esse hóspede batesse
à porta do meu ermo coração,
exibisse sua ventura e entoasse
em minh’alma a sua lírica canção
para deleitar...

De que
ESSA FELICIDADE...
viesse desviar-se da estrada
e fosse encontrar outra pessoa
para brindar e fazer a sua morada,
eu então cairia imerso numa mágoa
para lamentar...

Raiasse assim o amor
DENTRO DE MIM...
me faria mui ditoso e risonho,
seja no palco, na apresentação
dum show ou cultivado em sonho,
tal realidade não seria imaginação
para me lançar
Num redemoinho sem fim.

Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019

Inserida por Garfield789

AMOR DE CAMPEONATO

Oh querida!
o nosso amor é um campeonato,
pela conquista da taça do teu beijo
entrei em campo e nesse jogo desejo,
erguer o troféu como vencedor, de fato.

Na partida
vou tocando a bola com categoria,
sou craque e jogo com empolgação,
eu avanço, driblo com raça e emoção,
ouço os brados da galera... que euforia!

Dou de bandeja,
passo a redonda e faço tabelinha,
mas teu peito mata o tiro e rechaça,
espalmando essa minha bola na raça
para salvar tua meta em cima da linha.

No afã da peleja
recebo falta, mas vou jogando fero,
cobro escanteio, porém a trave evita
o gol, e num final de lance o juiz apita
o término da primeira etapa: zero a zero.

Após o intervalo
pego um bom alento e me declaro
para voltar a campo com muita garra,
chuto de longe, mas teu quíper agarra;
vou tocando a bola, me arrojo e não paro.

Nesse embalo
a partida prossegue e bem renhida,
tua zaga afasta meu chute de perigo,
cobro uma falta, mas que cruel castigo!
As minhas bolas não encaixam, querida!

O jogo vai correndo,
resvalo com a boca o lançamento
fatal e assim cometo pênalti na área;
você cobra e a pelota vai por via aérea,
e tua mãe protesta que há impedimento.

Ao sair pedalando
o juiz dá cartão amarelo para mim;
noutra jogada já entro numa dividida,
lanço o balão a meia-lua e na medida,
mas você a desvia com os dedos, enfim.

Não recuo e luto,
na pequena área sai a jogada feliz,
executo bom arremesso pela lateral;
de calcanhar enfio a bola, lance genial,
É gol! Gol com a mão não vale, diz o juiz.

Minuto a minuto
a nossa refrega vai pegando fogo
e afoito arrisco a jogada da história;
mas quando já tento o lance da vitória,
que bruto azar!... Teu pai encerra o jogo!

Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019

Inserida por Garfield789

A PEDRA QUE CHORA

Pedra de águas,
seixo da vida,
ainda gravita
as suas mágoas
e bem erigida
nos regorgita
risos e lágrimas
em terra viva.

Géia, diva mater,
pangeia in loco
na pira holocena,
seu dragão pater
no imo do orco,
verte a ira insana
e faz ver o mártir,
pó do samouco.

Gaia, mãe Terra,
a filha do Caos,
berço d’enganos,
em lúdica guerra
amortalhas aos
heróis e profanos,
e o resto soterra
com suas mãos.

Pietra de argila,
de sons guturais,
brama, vocifera,
traga e aniquila
os seres animais
e nesta litosfera
de ódios destila
em água teus ais.

Rocha no lagar,
calhaus de ferro,
nêutrons e íons,
a fissão nuclear,
míssil no aterro,
eclodem pítons
no flash estelar,
o aquífero berro.

Roca lacrimal
esturricada
nas penedias;
penha abissal
estratificada
pelas insídias,
chuva do mal,
deslumbrada.

Piatra lúcida,
voraz e maldita,
bate a sua boca
e nos trucida,
devora e excita;
a sua recíproca
efígie suicida,
chora, ri e grita.

Stone das trevas
com isca e anzol,
sobre seu manto
coberto de relvas
fulgura o arrebol
de luz e encanto,
imensas dádivas,
água crista e sol.

Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019

Inserida por Garfield789

A MÁQUINA DE MOER PALAVRAS

Palavras, tiras trituradas por inatos
vocábulos, base de estruturas vitais;
fonemas, timbres das cordas vocais
vertidos pelas turbinas dos palatos.

Vozes, frases laceradas na faringe,
expressões dinâmicas, tons verbais
a esmagar no glote dicções guturais,
concepção da linguagem na laringe.

Mas, a força vital da palavra escrita,
ativa a ordenação do alfabeto pleno,
nos vocábulos e semântica explícita,
há o diálogo das letras no fenômeno.

Nas articulações da boca em lavras,
emana a voz que ri e chora fatalista,
essa é a máquina de moer palavras,
síntese da comunicação humanista.

Em prosa e verso elas se digladiam
num mundo infinito de comunicação,
inscrições e caracteres nos indicam
ação e reação grafados na elocução.

Tal ciência está anexa à expressão,
peripécia dos seres sapiens animais,
calígrafos e escritores de ocupação
fluem palavras e não se calam mais.

Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019

Inserida por Garfield789

A FLOR DO TEMPO

Exultante mocidade! Fluxo de sonhos e emoções,
estampa-te no fulgor da vida à jubilada conquista,
e na candura da flor aromada, o teu ardor otimista
exalta-te ao lesto favônio em estames de paixões.

Extática juventude! Pistilo fecundo de aspirações,
emerge-te no vigor da seiva à tua audaz jornada,
medras e te esparramas nos alfobres da estrada,
arroja-te ao mundo risonha, êxtase das estações.

Gentil maturidade! Escol de aromas e gradações,
aflora-te fascinante ao sol da frenética primavera,
vagas a caçar volições como uma indomável fera,
cinge-te ao universo em anseios de imaginações.

Infausta sazonação! Cálice inerme por ambições,
arrima-te enlaçada à corola a desfolhar no vergel,
obténs notoriedade no auge da luta, faz teu papel,
definha-te ao experimentar toda lufada de ilusões.

Inopinada velhice! Sépala fanada por frustrações,
resta-se de ti, somente uma estampa desfigurada,
sem a magicatura ampla, és crassa e já enrugada,
influi-te no fim para ser a nova florada nos jarrões.

Estéril senectude! Flor estiolada por recordações,
murcha-te pela intempérie dos anos; e desfolhada,
feneces para ser a congérie do nada, e substituída,
torna-te saudade no canteiro dos nossos corações.

Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019

Inserida por Garfield789

A CORTE DO AMOR

No reino dos sentimentos aristocráticos,
os leais súditos do real e soberano amor,
fazem reverência à graça dos estáticos,
apaixonados pela notável estirpe e valor.

Sedutores e incitados, apostam no jogo
dos desejos e querem somente ganhar;
na arena das paixões, brincar com fogo
é arriscar, e para vencer, é preciso lutar.

A inveja é capciosa, a cobiça é cortesã,
o orgulho mui forte, mas o ódio, vassalo
do reino, aspirou derrotar o audaz amor.

O ciúme, por ter sido o boçal contendor,
ficou sendo o bobo da corte e de malsã
consciência, só cantou a vitória de galo.

Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019

Inserida por Garfield789

A BOLHA BAILARINA

No vitral da minha janela
uma sedutora bolha de sabão
pairava viva e fascinante,
semelhante uma estrela,
revelava na fulgente aparição
seu brilho: um diamante.

Infiltrei meus olhos nela
como viajante da imaginação,
divisei na sutil paisagem
uma fulgurante donzela,
pérola alvadia com irradiação
de luzes: plena miragem.

Neste relumbre de auréola,
de belos matizes à percepção,
sua imagem jazia brilhante
tal qual uma leda aquarela;
era uma bailarina no coração
da bolha: a dançar galante.

Num rompante do desejo
eu almejei libertá-la do balão;
soprei-o, vivaz e risonho,
para romper seu lampejo
dourado e extraí-la da prisão,
mas foi tão-só: um sonho.

Eis que a bolha estourou
esvanecendo da minha visão
a radiosa figura que mirei;
somente o seu vulto ficou
a bailar em minha feliz ilusão
quando: do sonho acordei.

Compreendi então o real
sentido dessa fúlgida alegoria;
a bolha foi toda felicidade
perdida; a bailarina jovial
foi apenas uma breve fantasia,
e o sonho: uma saudade.

Do seu Livro "Cascata de Versos" - 2019

Inserida por Garfield789

UMA HERANÇA INESQUECÍVEL

O circo está no sangue de quem herdou dele a beleza e a magia,
é como uma herança inesquecível
que ultrapassa sua eterna essência
no interior da própria consciência,
extravasando a alma no indizível
ritual de imensurável paz e alegria.

O circo está no âmago de quem batizou com fogo sua vocação
de artista, forjou no corpo o ofício
de acrobata, mágico e malabarista,
fez da corda bamba o equilibrista,
domou o tigre e o leão no desafio
da arena e fez o palhaço folgazão.

O circo está no espírito da criança e na conjunção da felicidade;
sem idade, cor ou sexo, só irradia
riso, contentamento, descontração;
somente o circo transmite emoção,
criando no espetáculo sua fantasia,
tecendo da quimera sua realidade.

O circo está no princípio e fim da vida, gênese da divina criação;
arte transmitida dos antepassados
aos herdeiros de palcos, tradições
milenares de gerações a gerações;
o circo é um dos mais consagrados
espetáculos que não sai do coração.

Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018

Inserida por Garfield789

NÃO DEIXE O CIRCO MORRER

Passando pela Fonte dos Desejos lá em Roma,
ali, na bela Fontana de Trevi eu fiz um pedido:
Óh! Hípio, deus do Circo, não o deixe morrer
no abandono da cruel decadência e no axioma
da paixão; possa ele reviver no amplo sentido
da razão com a beleza, alegria e muito prazer.

Que venha o circo sempre nos divertir na vida,
que haja muito espetáculos, a magia, o sorriso
na face de uma bailarina e um engraçado anão;
que se apresentem os malabares e a comitiva;
o mágico com cartola, acrobatas de improviso;
e um palhaço caricato que nos cative o coração.

Que perdure o circo eternamente na memória,
possa ele se elevar como um marco de cultura
a consagrar artistas na sua máxima expressão;
que divirta a toda gente e perpetue na história
dos povos a autêntica beleza igual sua pintura:
esteja exposto a todos para grande apreciação.

Não deixe o circo morrer e tudo ficar perdido
à sombra das futuras gerações; que ele floresça
para encher de fascinação as nossas crianças;
se o circo morrer o mundo ficará sem sentido;
não haverá mais emoção à plateia que mereça
um espetáculo que traga alegrias e esperanças.

Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018

Inserida por Garfield789

QUANDO O CIRCO SE VAI...

Quando o circo se vai,
tudo parece parar no tempo,
é como o pano que cai
no palco e por um momento
encerra tal espetáculo,
dissipando sonhos e ilusões:
esvazia o receptáculo
dos nossos álacres corações.

Quando o circo se vai,
deixa um rastro de saudade;
é o vácuo que não sai
da alma e aflige, na verdade,
saber que uma mágoa
chora no peito bem sentida:
é como a gota d’água
que não cicatriza uma ferida.

Quando o circo se vai,
deixa tristeza e tudo fica frio,
é a beleza que se esvai
dos olhos, tudo parece vazio,
a alegria já desaparece
como uma correnteza no rio:
varre a alma e esvaece
o riso ao naufragar do navio.

Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018

Inserida por Garfield789

AH! QUEM ME DESSE...

Ah! Quem me desse voltar no tempo
os anos indeléveis de menino e correr
para o circo, brincar um passatempo,
renascer como a criança feliz e viver
no palco com meus famosos artistas,
ídolos da arena, campeões de rodeio,
funâmbulos, domadores e trapezistas,
ginetes de raça a voltear no picadeiro.

Ah! Quem me desse comer da pipoca
branquinha e algodão doce no palito,
chupar picolé, saborear a boa paçoca
da vovó, aplaudir e achar tudo bonito,
vibrar com a orquestra e o seu orfeão
de cantores sobre o palco iluminado.
Ah! Quem me desse estar no passado,
de volta ao circo alegrando o coração.

Ah! Quem me desse retroceder a vida,
e olhar o mágico de Oz com a cartola
cheia de pombos e coelhos de corrida,
além do inigualável palhaço Sapatola.
Ah! Quem me desse voltar ao regaço
da minha mãe artista, e bem risonho
ver meu pai por dentro dum palhaço,
seria bem feliz embalado neste sonho.

Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018

Inserida por Garfield789

SOB AS LUZES DA RIBALTA

Sob as luzes da ribalta, nos afãs
dos espetáculos trágicos,
atores e artistas cênicos
aguardam para se exibir aos fãs.
A orquestra marca o compasso
bem atrás dos bastidores,
é aflição dos gladiadores
que se ataviam com embaraço.

Para não perderem a sua forma
eles se aquecem, relaxam
o plexo braquial e rezam
para não caírem da plataforma
elevada na gávea dos trapézios;
outros retraem os braços;
mascaram-se de palhaços
para se exibirem de gaudérios.

No entanto, as luzes da ribalta
que iluminaram o tablado,
ao terminar o seu reinado,
apagam-se no final e nada falta
para encerrar o triste panorama
que abruma o palco vazio.
Cessa então todo o desafio
que perfez o final de um drama.

Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018

Inserida por Garfield789

AS CALÇADAS DO DRAMA

Grandes astros do cinema, teatro, música, rádio e TV,
possuem seus nomes gravados nas calçadas da fama
de Hollywood. Em estrelas de mármore rosa, à mercê
dos olhos no passeio público, são como monogramas
pisoteados e idolatrados por admiradores num ateliê:
embora os contemplem, não sabem do seu amálgama.

As badaladas celebridades artísticas, no seu epigrama
crítico são julgadas e avaliadas dentro do seu clichê
carismático, mais pela promoção do que pela chama
inspiradora do talento, recebem o laurel dum comitê
que os propagam ao galardão deste trivial panorama,
assim ufanam-se pelo nome na calçada, o seu guichê.

Mas os astros do circo estão pelas calçadas do drama,
são estrelas anônimas, irreconhecíveis neste Panteão
de Glória, coexistem obscuras à memória, sem flama,
apagadas ao glamour da história, vagam na escuridão.
Porém, no meio dessa constelação que o piso aclama,
os astros elevados estão no céu e não fixados ao chão.

Desse modo, uma estrela ofusca-se em sua trajetória,
e o artista circense vive e subsiste mais pela vocação,
não deixa seu nome cravado pelas calçadas da glória,
nem se preocupa com o raro brilho visto na escuridão;
sabe que é melhor ser uma ínfima estrela na história,
do que um grande astro que não cintila na imensidão.

Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018

Inserida por Garfield789

CARROSSEL DE ESTRELAS

Em nossos sonhos de infância
onde jamais se apagam as chamas
rubras da charmosa inocência,
um carrossel de estrelas em flamas
girava com a dourada fantasia:
cavalinho à galope, alce que brama,
zebra pintada e girafa simpatia,
coloriam os traços desse panorama.


Tudo girava colorido, emoções
inesquecíveis e sorrisos galopantes,
no mundo de quantas diversões
tinha no parque de luzes brilhantes.
Ali havia paz e lindas canções,
guloseimas, brinquedos cintilantes,
incomparáveis às imaginações
das crianças em jogos fascinantes.


Eram sonhos reais, extasiantes,
a explosão de cores vivas, alegrias,
lazeres e músicas contagiantes.
Mas nesse mundo belo de euforias,
ainda não haviam degradantes
fantasmas que assombram os dias
no carrossel d’estrelas cadentes:
agora estão apagadas, tristes e frias.

Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018

Inserida por Garfield789

O LEÃO, O DOMADOR E A ARENA

Na grande jaula em que o encerra,
um leão furioso, bem embriagado,
entre açoites e bramidos de guerra,
espera seu algoz para ser domado.

O domador se faz senhor da selva,
enquanto o animal urra e vocifera,
pois sabe que ali não existe a relva
a ocultá-lo de ser visto como a fera.

Mas numa arena a história se altera,
ao carrasco insensível que o espora,
o animal livre e pujante se arremete.

Devorá-lo ferozmente quem o dera?
Porém a fúria do leão não compete
contra o látego cortante que devora.

Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018

Inserida por Garfield789

O LEÃO E A BAILARINA

Sob luzes vermelhas e holofotes brilhantes
uma galharda bailarina riscava seus passos
no tablado envernizado do Circo Radiante.
Malabaristas, mágicos e diversos palhaços
exibiam seus números em pleno picadeiro,
todos eles, conectados ao show extasiante,
não se deram que um leão escapou do laço
enquanto o seu domador oscilava o roteiro,
ele, ao notar a jaula aberta avisou ofegante,
que a fera estava solta e fora do compasso.

Foi um espavento para todo lado, à revelia,
no palco apenas o leão e a audaz dançarina
permaneciam frente a frente, com valentia.
Ela, sem vacilar afagou de leve a sua crina
e começou a bailar perante sua majestade;
o rei das selvas, atônito, sua dança assistia,
bem hirto no tablado, exibia sua disciplina
de espectador domado e sem agressividade,
urrou para ela não parar a dança que exibia;
pois até um leão aprecia uma bela bailarina.

Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018

Inserida por Garfield789

O CONTORCIONISTA SEM CORAÇÃO

Ei-lo, o jovem magro que se curva no tablado,
dobra-se todo, contrai suas juntas e cotovelos,
na juntura de seus ossos, o esqueleto arcado,
encolhe-se a se retrair dos pés até os cabelos.

Ei-lo, a se contorcer, entrar na caixa quadrada,
e dentro dela, a sua pessoa se tornar delgada.
Seria crível que ali coubesse toda sua arcada
constrita numa lata igual sardinha e achatada?

Ei-lo, que fui achá-lo assim todo comprimido
num ínfimo espaço, apenas um pequeno vão
a ser preenchido com algum membro de fora.

Ei-lo, que caberia nela ainda para ser contido?
Isso eu indaguei ao contorcionista nessa hora:
frisou que naquela fresta iria por seu coração.

Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018

Inserida por Garfield789

O SUBLIME MÁGICO

Ao toque dos solenes clarins na alvorada celeste,
anjos e arcanjo se exibem num palco do Nirvana.
São exímios astros envoltos por luzentes plumas,
cingidos ao fantástico trapézio de aura soberana
evoluem com asas de diamantes que as reveste,
voando no espaço sideral sob nuvens d'espumas.

No picadeiro do além, pégasos de suave brancura
cavalgam em círculos levando no dorso querubins,
fazem acrobacias em rodeio, com tons de músicas,
baladas e canções de amor com sonoros cornetins.
Esses seres alados e os serafins bailam na doçura
do celeste espetáculo a se descortinar em súplicas.

Ato contínuo, no fúlgido tablado, um varão mágico
exibe uma cartola estrelada à plateia do outro lado,
dela surgem auríferos passarinhos e saem voando
para o excelso trono ornado de um fogo fantástico;
e ao retumbar a trombeta nesse paraíso iluminado,
sai da cartola em forma de pomba o Espírito Santo.

Perante o magnífico trono cravejado de brilhantes,
o sublime mágico se apresenta ao Todo Poderoso,
ali resplandece sua glória de ouro com imensa luz;
para sua assistência de anjos e seres exuberantes,
ele exibe no seu peito a relíquia de artista glorioso:
a cartola é seu divino coração e o mágico é Jesus!

Do seu Livro "Sua Majestade, o Circo Lírico" - 2018

Inserida por Garfield789